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Artigos de 21-6-13


** Globo- Coluna do Ancelmo

Um pinguim apareceu ontem na Praia do Arpoador, no Rio.
Foi resgatado pela ONG SOS Aves e Cia. Em homenagem aos protestos ganhou o nome de Manifesto.


** Estadão- Tutty Vasques
Má notícia é a maior diversão

- Em baixa
Que diabos aconteceu com as máscaras do Joaquim Barbosa vendidas em grande quantidade no Carnaval?
Nenhuma delas voltou para as ruas nas manifestações desta semana contra tudo-isso-que-aí-está em todo o País.
O ministro deve estar preocupado com a situação!

- Conto do vigário
O carioca que pagou os olhos da cara para lotar o Maracanã esperando ver a Espanha de Xavi e Iniesta teve que engolir o time reserva da Fúria surrando o Taiti.
Ou seja, estão abusando da paciência do torcedor!
Depois quebram os estádios e vão dizer que é preciso ouvir a voz das arquibancadas.

- Vandalismo financeiro, não!
Os vândalos do mercado financeiro não perdem por esperar: Guido Mantega revelou dia desses que o governo tem "muita bala na agulha" para conter a volatilidade do
dólar.
O ministro não confirmou - mas também não desmentiu - se sua estratégia de enfrentamento prevê o uso de spray de pimenta e de gás lacrimogêneo quando o comportamento
do câmbio passar dos limites.
Não é só pelos 20 centavos acima dos R$ 2 na cotação oficial da moeda americana. O brasileiro não pode mais viver dia após dia na expectativa de que a qualquer momento
os investimentos estrangeiros vão quebrar o País.
Basta! Com tanta bomba de efeito moral pipocando por aí, o ministro da Fazenda não deve hesitar em fazer uso de umas e outras para combater a fuga de capitais.
Sabe Deus quantas balas de borracha a tropa de choque financeiro do governo tem na agulha, mas, se for para afastar o monstro da inflação das ruas, a hora é essa:
fogo neles, Mantega!
Abaixo o vandalismo financeiro!

- Pé- frio
Pelé tem dito por aí que está torcendo pelas manifestações de rua em todo o País!
Isso quer dizer o seguinte:
A possibilidade de acabar dando tudo errado é enorme!

- Marca registrada
Já se fala na Secretaria de Segurança do Rio na criação de uma UPP dos Protestos para pacificar as manifestações no centro da cidade!

- Protesto antigo
Tem cartaz novo nas ruas de São Paulo:
'Fora Borba Gato!'
Por precaução, a polícia reforçou a guarda em torno da estátua do bandeirante na Av. Santo Amaro!


** Folha- Eliane Cantanhêde
No colo de Dilma

Brasília - Os governos recuaram, mas a guerra continua, mais forte do que nunca.
Os manifestantes se descobrem com imenso poder, multiplicam-se pelo país, desdenham os partidos e, ontem, ameaçaram cercar o Palácio do Planalto.
As tropas fiéis à presidente Dilma Rousseff tiveram de montar duas trincheiras: uma de defesa do Planalto, fisicamente; outra da própria presidente, politicamente.
Enquanto os policiais fazem um cordão de isolamento para evitar que os manifestantes batam às portas ou nas vidraças do Planalto, os (poucos) políticos realmente
dilmistas tentam neutralizar a base aliada e buscar um rumo para a presidente. Mas quem está no comando é Lula.
O núcleo do poder já discute a conveniência, ou a emergência, de jogar o ministro Guido Mantega às feras, antes que as manifestações e as notícias desastrosas da
economia se embolem numa só bomba e caiam dentro do Planalto, no colo de Dilma.
As ruas do país estão em chamas, enquanto a Bolsa derrete, o dólar dispara e o índice de emprego --que se mantém muito bom-- já não dá para o gasto político. Foi
engolido pelas más notícias na economia e pela frustração popular.
O curioso é que, saia Mantega ou não, a protagonista é outra e o filme está ficando repetitivo. Em janeiro, como escrito neste espaço, a ordem de Lula era "destravar"
a economia e o governo ou, quem sabe, destravar a própria Dilma. Cinco meses depois, lê-se na própria Folha que agora Lula quer dar uma "chacoalhada" no governo
(ou, quem sabe, chacoalhar a própria Dilma?).
De lá para cá, a coisa desandou rápida e surpreendentemente. A acusação a Dilma é que, em dois anos, ela torrou o patrimônio político, econômico e social que herdou
de Lula. A família lulista está tão em pé de guerra quanto os manifestantes que, por pouco, não subiram a rampa do Planalto na quinta-feira de fúria. Até o fechamento
desta edição.


** Folha- 'It's revolution, baby', anunciam cartazes na avenida Paulista
Marcelo Coelho

No estacionamento, perto da estação Vila Madalena, o manobrista foi avisando. "Hoje ficamos abertos até as nove da noite." Acrescentou sorrindo, com sotaque bem
nordestino: "É por causa da revolução".
Na Paulista, alguns manifestantes pareciam concordar. Só que o cartaz era em inglês: "It's revolution, baby". Imagino que não tenha sido por acaso, também, que um
garoto estivesse de camiseta preta, com o célebre lema da Nike: "Just do it".
Bandeiras do Brasil, entretanto, predominavam, e como nos velhos tempos, muito estudante pintou a cara de verde e amarelo.
Cantou-se o hino nacional. Hino nacional? A passeata prosseguia, e os cartazes mudavam de tom. "O hino nacional não me representa. Representa a burguesia, os coxinistas
e a violência."
Enquanto eu me perguntava o que serão os "coxinistas", outro cartaz, já no meio do bloco dos trotskistas (acho), ia mais longe.
"Nacionalismo é o caralho, este país é violento e sanguinário." As palavras do cartaz eram gritadas por vários manifestantes.
Mais difícil de ser gritado era o lema de outro cartaz, agora em sentido inverso.
"A política de importação está acabando com as indústrias do Brasil."
Será isso um exemplo de "coxinismo"? Se a palavra tem a ver com "coxinha", o que no meu tempo queria dizer "mauricinho", havia poucos engravatados, apesar de alguns
idosos e crianças, na manifestação.
Duas senhoras de moletom pink esperavam instruções. Outra, mais ousada, apareceu com seus dois cachorrinhos brancos, não sei se poodles ou lulus. O agasalho dos
"pets" eram duas pequenas bandeiras nacionais.
Ainda no capítulo mais comportado do evento, uma estudante postou-se em cima do canteiro, com um cartaz bem elaborado. "Direitos constitucionais com qualidade. Precisamos
de líderes competentes e honestos." Arrém, arrém. "O jovem neste país está sendo levado a sério!" Arrém, de novo. No outro extremo, havia lemas mais concisos. "Meu
cu é laico."

Tanto quanto Dilma, Alckmin e Haddad, um dos grandes vilões da passeata foi o pastor Feliciano. Também Renan Calheiros e, especialmente, a PEC 37 (que tira poderes
do Ministério Público) estavam entre os alvos mais frequentes. Havia o convite para que o país parasse se a emenda constitucional for aprovada. Será possível? Tudo
é possível, atualmente, com a mobilização facilitada pela internet.
"Saímos do Facebook", orgulhavam-se diversos cartazes. "Corruptos, vocês se preparem, vão cair um por um." De forma mais visual, um grupo apareceu de guarda-chuvas
abertos: "está chovendo porco".
Contra a corrupção, pela reforma política, contra o capitalismo, não faltaram generalidades desse tipo. Solitário, um manifestante foi mais específico: "Voto distrital".
E ponto final.
Para comentaristas mais idosos, como eu, isso até que era fácil de compreender. Menos clara foi esta mensagem: "O inibidor do MID já caiu". Explicaram-me que é referência
a um videogame. Do lado libertário, gritou-se muito que "o povo unido não precisa de partido". E também se pediu "um país sem catracas".
Enquanto outros manifestantes diziam "eu SEI por que protesto", um homem sozinho carregava um vasto cartaz de papelão, dizendo apenas uma palavra. "Lost".
Perdido? Havia palavras contra muita coisa, mas não é culpa de ninguém se, da Copa à conta de luz, há tanta coisa para ser contra. Todo manifestante, afinal, quer
se manifestar. Mesmo que seja apenas para dizer, como em outro cartaz: "Mãe, não me espera para a janta".


** Folha- Grupo religioso desiste da 'cura gay' e pede desculpas

O Exodus International, grupo cristão norte-americano que tinha como objetivo oferecer uma "cura" para a homossexualidade, anunciou ontem que encerrará as suas atividades.
Em um comunicado divulgado no site do grupo, o Conselho de Administração da organização anunciou sua decisão, depois de quase 40 anos de atividades.
"Uma nova geração de cristãos busca por mudanças - e eles querem ser ouvidos", disse Tony Moore, membro da organização.
O grupo divulgou um comunicado pedindo desculpas à comunidade gay por anos de julgamento indevido.
Segundo o comunicado, a instituição estava presa em uma visão de mundo "que não estava honrando o ser humano nem a Bíblia".
No ano passado, o presidente da instituição, Alan Chambers, decidiu parar de endossar a prática da "terapia reparativa" (nome oficial da "cura gay") para os homossexuais.
Chambers não é o único membro do Exodus que demonstra arrependimento com seu passado.
Em abril, John Paulk, ex-presidente da instituição e coautor de um livro sobre como dois gays teriam sido "curados" pelo amor de Deus, disse que não mais acreditava
nessa possibilidade. Durante dez anos, Paulk foi um porta-voz e defensor do que é conhecido como o movimento "ex-gay". Ele foi casado com uma "ex-lésbica" durante
cerca de 20 anos e tinha com ela três filhos.
Parte dos integrantes do Exodus International pretende agora lançar um novo grupo, que promete ser mais acolhedor para pessoas de todas as orientações sexuais.
No Brasil, o debate sobre a "cura gay" vem causando bastante polêmica no Congresso Nacional, especialmente após a aprovação de um projeto pela Comissão de Direitos
Humanos da Câmara dos Deputados, na última terça-feira.
O projeto vem sendo um dos alvos da onda de manifestações de rua que ocorrem pelo Brasil desde a semana passada.


** Época- Ruth de Aquino
O outono da ignorância

Até demorou. Não se dizia que os brasileiros eram passivos demais, sem consciência política? Um povo inebriado por futebol, Carnaval e cerveja, que só se aglomerava
em show, bloco e passeata gay ou evangélica? Agora, uma fagulha, o aumento das tarifas de ônibus, incendiou multidões. São especialmente jovens. Como em qualquer
lugar do mundo. Entre os que protestam pacificamente com flores na mão, há os vândalos que, rindo e xingando, depredam o patrimônio, quebram lojas, incendeiam ônibus.
Alguma novidade? Sempre foi exatamente assim, em Paris, Londres, Buenos Aires ou Istambul.
Os excessos devem ser repudiados, os vândalos detidos. Mas a reação truculenta das tropas de choque e as declarações de prefeitos e governadores de todos os partidos
mostram algo preocupante: o poder - no Brasil, como na Turquia - não faz a menor ideia de como coibir com eficácia protestos que resvalem para a violência. Policiais
e políticos igualam-se aos arruaceiros na ignorância, tornam-se delinquentes por trás de armaduras e gravatas, tacham de ilegítimas todas as manifestações, não param
para escutar, entender ou negociar. O resultado é este: cidadãos encurralados na volta do trabalho, crianças atemorizadas. Os jornalistas são feridos pela polícia
com balas de borracha, bombas de gás e spray de pimenta nos olhos. São coagidos e xingados por jovens mascarados e desinformados.
Os preços sobem, a inflação está em alta, os impostos absurdos não revertem em saúde, moradia, transporte e educação para a população, os empregos para a juventude
começam a minguar, as empresas demitem em massa sem repor vagas. A presidente Dilma diz que a economia está sob controle. A farra nos Três Poderes continua. Ninguém
aperta o cinto de couro em Brasília. O noticiário continua coalhado de mordomias no Legislativo, Judiciário e Executivo.
No Brasil, o poder não faz a menor ideia de como coibir protestos que resvalem para a violência
O jornalista Zuenir Ventura um dia cunhou a expressão Cidade Partida para se referir à divisão entre asfalto e morro, no Rio de Janeiro. Hoje, está claro que vivemos
num País Partido. O Brasil dos que produzem e trabalham quase cinco meses só para pagar impostos... e o Brasil dos que mamam nas tetas do Estado, com aposentadorias
vitalícias polpudas e múltiplas, e ainda têm a cara de pau de discutir o rombo da Previdência. É corrupção, nepotismo, promiscuidade, formação de quadrilha nas altas
esferas, desmoralização dos sindicatos que se lambuzam com o melado federal. A casta superior do País Partido insiste em ignorar o sentimento de vulnerabilidade
da população assalariada.
Com a ditadura, o Brasil se desacostumou a conviver com manifestações e greves. Tudo vira sinônimo de anarquia. Estava em Londres em 1979, no "winter of discontent",
o inverno da insatisfação, que encheu a cidade de lixo e mau cheiro e derrubou os trabalhistas, abrindo o caminho para Margaret Thatcher. Trafalgar Square equivale
simbolicamente à Praça Taksim, de Istambul - mas com os bobbies (policiais ingleses) protegendo os manifestantes.
Estava em Paris no outono de 2005, quando jovens da banlieue (a periferia) invadiram a Rive Gauche e saíram quebrando tudo, em protesto contra a situação de jovens
imigrantes nos subúrbios. Foram 19 noites de distúrbios na França, 9 mil carros queimados, 3 mil jovens presos. Essa revolta saiu de controle. A "manif" já faz parte
da cultura parisiense - quase como a praia no Rio de Janeiro e o restaurante em São Paulo. Não há fim de semana em que avenidas não sejam bloqueadas por protestos.
As tropas de choque se organizam, com o objetivo de garantir a passeata, e não de fomentar a violência.

No Brasil, o Movimento do Passe Livre é o estopim, ou a parte visível de um descontentamento que não pode ser minimizado. O péssimo serviço de ônibus, metrôs e trens,
aliado a aumentos nas passagens, é, sim, revoltante. Ouvir de Sérgio Cabral, Geraldo Alckmin e Fernando Haddad que os protestos "têm motivação política" causa risos.
É lógico que protestos sejam políticos. Não existe crime nisso. Ouvir das autoridades que os manifestantes são mauricinhos causa desconforto. É preciso ser prostituta
para defender os direitos da classe nas ruas? É preciso ser povão para protestar contra a indignidade dos trens?
Torço para que os manifestantes expulsem de suas alas os marginais que aterrorizam exatamente aqueles que mais se servem do transporte público. Espero que os governos
não mandem às ruas policiais despreparados, brutamontes e enraivecidos, que atacam pelo prazer da repressão. "Baderna é inaceitável", diz Alckmin. Concordo. Mas
os piores baderneiros são os armados pelo Estado. Deslizes policiais e insensibilidade governamental podem nos lançar ao caos.


** Folha- Turismo
Livraria de bairro sobrevive a crises e chega aos 75 anos em Buenos Aires
Sylvia Colombo

Um casal sai discutindo pela calçada. Poderia ser uma briga comum, mas, de suas bocas, sai um diálogo escrito pelo norte-americano David Foster Wallace (1962-2008).
O transeunte desavisado pensa que aquele homem e aquela mulher são um casal de verdade e desvia, incomodado. Olha de soslaio e então vê, através da vitrine, um monte
de olhos voltados para a mesma cena, atentos. Para uns minutos para ver como termina o episódio e, pouco depois, junta-se aos aplausos dos que assistiam do lado
de dentro.
A passagem ocorreu há alguns dias, na livraria Clásica y Moderna, na calle Callao, 892, no bairro da Recoleta, em Buenos Aires. Tratava-se de uma cena da peça "Breves
Entrevistas com Homens Hediondos", dirigida por Marc Caellas.
Montagens pouco convencionais como essa são comuns e dão personalidade ao tradicional espaço literário e de espetáculos, que agora completa 75 anos.
De segunda a sexta, a Clásica y Moderna tem uma ativa programação de leituras, palestras e montagens teatrais, tornando-se uma referência entre as livrarias portenhas.
A Clásica, como é mais conhecida, é um espaço de paredes de tijolos vermelhos.
Num primeiro ambiente, está o café, com os jornais do dia de vários países disponíveis aos visitantes. Um pequeno palco dá lugar às apresentações noturnas. Ao fundo,
quase como se fosse a entrada de uma caverna, está a livraria, especializada em literatura, artes e psicanálise.
"Somos uma livraria que está ligada à história de Buenos Aires", explica Natu Poblet, filha e neta dos livreiros que deram origem ao negócio.
O avô e o pai de Natu chegaram de Vigo, Espanha, de navio, em 1911. Vinham atraídos por aquela cidade que vivia a euforia do primeiro centenário do país e de seu
súbito enriquecimento por causa da exportação de carne.
Mudanças urbanas, abertura de cafés e formação de um público refinado davam às livrarias um status especial.
Pai e filho trabalharam em alguns endereços, depois abriram a livraria Acadêmica, que funcionou em alguns locais do centro. Até que, em 1938, compraram o espaço
onde hoje é a Clásica.
"Isso fez toda a diferença, pois o fato de possuirmos o imóvel nos permitiu atravessar todas as crises que a Argentina viveu desde então", conta Natu.
Hoje em dia, as livrarias de bairro portenhas têm muita dificuldade para resistir - por causa da expansão das grandes lojas, como a Ateneo, e por conta dos altos
aluguéis, afetados pelo dólar paralelo, que não para de aumentar no país.
"É praticamente impossível pagar um aluguel em lugar nobre de Buenos Aires vendendo livro. É preciso vender coisas caras ou mesmo armas, senão não dá", diz, em tom
de brincadeira.
Devido a restrições às importações, a Clásica tem trabalhado com títulos editados na Argentina. De vez em quando, porém, Natu traz alguns volumes de viagens à Espanha.
"É uma livraria muito querida dos estrangeiros. Nesse sentido, cumpre um pouco com seu destino histórico desde que abriu", diz Natu.


** Carta Capital - Crônica do Villas
Conversa de botequim

Leiteiro não existe mais. Aquele senhor que todos os dias bem cedinho, antes mesmo do sol raiar, ia de porta em porta recolhendo o litro de vidro vazio e deixando
no lugar um branquinho cheio de leite, esse nunca mais vi. Como o tintureiro. O último que tenho notícia é seu Valdivino, um homem franzino que percorria os bairros
do Carmo, Sion, Anchieta e Serra recolhendo roupa suja na segunda para devolver lavada, passada e perfumada na sexta.
Nesses tempos modernos, profissões vão mesmo desaparecendo e não adianta chorar o leite derramado. Os últimos lambe-lambes, por exemplo, talvez ainda resistem lá
na pracinha da Igreja de Santa Rita de Cássia, em Cataguases, fazendo chapas de mocinhas casadoiras e jovens servindo o Tiro de Guerra. Aqui na cidade grande eles
sumiram do mapa.
E datilógrafo? Lembra dos anúncios que exigiam candidatos que soubessem bater à máquina e aqueles que batiam com rapidez e sem olhar para o teclado eram chamados
de "exímios datilógrafos?"
O telegrafista, responsável por transmitir e receber mensagens por meio do código Morse, esse também nunca mais vi. Bem como o pianista de cinema. Na verdade, pianista
de cinema nunca vi um mas o meu avô contava que no tempo dele, na era do cinema mudo, um pianista era contratado para tocar enquanto as cenas em preto e branco iam
sendo exibidas na tela, tela de cinemas que tinham nomes como Odeon, Pathé, Metrópole e Brasil.
Nesses últimos dias o que mais ouço dizer é que a profissão de jornalista está acabando. Isso me assusta sabe por quê? Porque sou jornalista há mais de trinta anos.
Andam enxugando redações, fechando revistas, encolhendo jornais e os pobres jornalistas estão todos indo pro olho da rua. Um amigo meu postou ontem no Facebook que
o editorialista de um jornal de Santa Catarina virou garçom.
Não passo um dia sem ouvir a ladainha de que as revistas vão acabar, os jornais vão fechar e que esse mundo moderno não comporta mais essas coisas velhas e ultrapassadas.
Tudo agora é digital e se ainda existe um mundo, esse é virtual. Adeus redação!
Aquela redação barulhenta de Remigtons e Olivettis ficaram na lembrança. Redação esfumaçada, de telex, cheia de laudas por todos os lados e xícaras de café espalhadas
pelas mesas acabou. A última onde trabalhei foi lá no Estadão, nos anos 80 do século passado.
Fico aqui pensando o que um pianista de cinema, um leiteiro ou um tintureiro ainda vivo escreve no quesito profissão quando preenche uma ficha. Ex-pianista de cinema?
Ex-leiteiro? Ex-tintureiro? E o bobo da corte? Sim bobo da corte era profissão. Era um funcionário encarregado de distrair o rei e a rainha e fazê-los rir. Se bem
que, pensando bem, ainda temos muitos bobos da corte por ai fazendo chefe rir só que não é mais profissão, é, digamos, um jeitinho de se manter no emprego. Mas isso
é outra história.
Fico aqui pensando também que outras profissões correm o risco de acabar. Cobrador de ônibus? Contínuo de repartição pública? Frentista? Na Europa já não existe
mais frentista. Como não existem mais porteiros de prédio nem empregadas domésticas que dormem no trabalho.
Só sei que já estou me preparando para quando a profissão de jornalista acabar. Vou virar garçom! Garçom como aquele editorialista lá do sul, amigo de um amigo meu.
E confesso que vou ficar feliz da vida quando um cliente chegar e dizer: Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa uma boa média que não seja requentada, um
pão bem quente com manteiga à beça, um guardanapo e um copo d'água bem gelada. Feche a porta da direita com muito cuidado que não estou disposto a ficar exposto
ao sol e vá perguntar ao seu freguês do lado qual foi o resultado do futebol.

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