Mundo Celestrin ENC: Leituras de 19 e 20/05/12

 

Esta mensagem contém as leituras, reflexões, comentários e meditações dos dias 19 e 20 de maio (sábado e domingo).


Desde a última sexta-feira e em preparação à celebração de Pentecostes, as meditações de cada dia vêm trazendo considerações a respeito dos dons do Espírito Santo, sendo que, para este domingo, além do texto referente ao dom da Sabedoria, há também, inicialmente, uma meditação que trata da Ascensão do Senhor, solenidade celebrada pela Igreja neste dia.

 


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ANO LITÚRGICO "B" – VI SEMANA DO TEMPO PASCAL 

 

Sábado, 19 de maio de 2012

 

Branco - Ofício do Dia

 

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Antífona da Entrada: Povo resgatado por Deus, proclamai suas maravilhas: ele vos chamou das trevas à sua luz admirável, aleluia! (1Pd 2,9)

 

Oração do Dia: Ó Deus, inspirai aos nossos corações a prática das boas obras para que, buscando sempre o que é melhor, vivamos constantemente o mistério pascal. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

Oração sobre as oferendas: Dignai-vos, ó Deus, santificar estes dons e, aceitando este sacrifício espiritual, fazei de nós mesmos uma oferenda eterna para vós. Por Cristo, nosso Senhor.

 

Antífona da Comunhão: Pai, aqueles que me deste, quero que estejam comigo onde eu estiver, para que contemplem a glória que me deste, aleluia! (Jo 17,24)

 

Oração depois da Comunhão: Tendo participado do sacramento do Corpo e do Sangue do vosso filho, nós vos suplicamos, ó Deus, que nos faça crescer em caridade a eucaristia que ele nos mandou realizar em sua memória. Por Cristo, nosso Senhor.

 

 

Primeira Leitura: Atos 18, 23-28

Leitura dos Atos dos Apóstolos:

 

18 23 Paulo se demorou aí apenas por algum tempo, partiu de novo e atravessou sucessivamente as regiões da Galácia e da Frígia, fortalecendo todos os discípulos.

24 Entrementes, um judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, homem eloqüente e muito versado nas Escrituras, chegou a Éfeso.

25 Era instruído no caminho do Senhor, falava com fervor de espírito e ensinava com precisão a respeito de Jesus, embora conhecesse somente o batismo de João.

26 Começou, pois, a falar na sinagoga com desassombro. Como Priscila e Áquila o ouvissem, levaram-no consigo, e expuseram-lhe mais profundamente o caminho do Senhor.

27 Como ele quisesse ir à Acaia, os irmãos animaram-no e escreveram aos discípulos que o recebessem bem. A sua presença (em Corinto) foi, pela graça de Deus, de muito proveito para os que haviam crido,

28 pois com grande veemência refutava publicamente os judeus, provando, pelas Escrituras, que Jesus era o Messias.


Palavra do Senhor.

Graças a Deus!

 

 


Salmo Responsorial: 46/47

 


O Senhor é o grande rei de toda a terra.

Povos todos do universo, batei palmas,
gritai a Deus aclamações de alegria!
Porque sublime é o Senhor, o Deus altíssimo,
o soberano que domina toda a terra.
 
Porque Deus é o grande rei de toda a terra,
ao som da harpa acompanhai os seus louvores!
Deus reina sobre todas as nações,
está sentado no seu trono glorioso.

Os chefes das nações se reuniram
com o povo do Deus santo de Abraão,
pois só Deus é realmente o Altíssimo,
e os poderosos desta terra lhe pertencem!

 


Evangelho: João 16, 23-28


Aleluia, aleluia, aleluia.

Saí do Pai e vim ao mundo, eu deixo o mundo e vou ao Pai (Jo 16,28).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João:


Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 16 23 "Naquele dia não me perguntareis mais coisa alguma. Em verdade, em verdade vos digo: o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo dará.

24 Até agora não pedistes nada em meu nome. Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja perfeita.

25 Disse-vos essas coisas em termos figurados e obscuros. Vem a hora em que já não vos falarei por meio de comparações e parábolas, mas vos falarei abertamente a respeito do Pai.

26 Naquele dia pedireis em meu nome, e já não digo que rogarei ao Pai por vós.

27 Pois o mesmo Pai vos ama, porque vós me amastes e crestes que saí de Deus.

28 Saí do Pai e vim ao mundo. Agora deixo o mundo e volto para junto do Pai".


Palavra da Salvação.

Glória a Vós, Senhor!

 

 

O próprio Pai vos ama... (Jo 16, 23b-28)

 

        Sim, Deus tem por todos nós um amor incondicional. Deus não nos ama porque nós somos bons, mas porque ELE é bom. Nem ele esperou que nós o amássemos, pois, como diz S. João em uma de suas Cartas, "Deus nos amou primeiro". (1Jo 4,19.)

 

        No entanto, no Evangelho de hoje, Jesus nos apresenta uma "razão" para o Pai ter por nós um amor de predileção: "É o próprio Pai que vos ama, por vós me terdes amado e haverdes acreditado que Eu vim de junto de Deus". O discípulo convive com Jesus, chega a amá-lo e, por isso, desperta ainda mais o amor do Pai.

 

        Claro que o Pai já nos amava bem antes. Afinal, Deus ama tudo o que ele criou, mesmo os filhos rebeldes, conforme ficou explícito na parábola do filho pródigo, ou melhor, do "Pai amoroso" (cf. Lc 15,11ss.). Entre o Artista e as obras por ele criadas há um amor de "paternidade". Mesmo aqueles que pintam para vender suas telas, experimentam certo sentimento de perda ao se desfazerem delas. E nós não somos telas pintadas: somos criaturas vocacionadas à filiação!

 

        Decerto, há uma gradação no amor de Deus por suas criaturas: não amaria no mesmo grau uma rocha, um colibri e um bebê. Este último é dotado de uma alma imortal (exclusiva dos humanos), "capaz de Deus", e veio à vida como alguém chamado à amizade e à comunhão com Deus em um patamar que está fora do alcance dos seres irracionais. Esta descoberta ajuda a entender que o Filho de Deus tenha morrido por nós, para a nossa salvação.

 

        Amor e fé andam juntos. Quem ama, aposta sua vida no amado. Aliás, como se lê no título de um livro do teólogo suíço Hans Urs von Balthasar, "só quem ama merece nossa fé, nossa confiança". A criança confia nos pais quando se sente amada por eles. Na tradução de von Balthasar, S. João diz: "Re-conhecemos o amor de Deus por nós e, então, pudemos crer". (1Jo 4,16.)

 

        Nossos atos de fé – em especial aqueles que se manifestam por nossas escolhas, nosso abandono à missão apresentada por Deus – "estimulam" o amor de Deus por nós. É isso que os mestres espirituais tentam dizer quando afirmam: "Deus não se deixa vencer em generosidade!" Amor pede amor. Amor puxa pelo amor.

 

        Que posso fazer para mostrar ao Pai que eu amo a Jesus?

 

Orai sem cessar: "Só em Deus repousa a minha alma." (Sl 62, 2)

 

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança

 

santini@novaalianca.com.br     www.novaalianca.com.br

 

 

 

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Comentário ao Evangelho do dia feito por:


São Fulgêncio de Ruspe (467-532), bispo no Norte de África
Carta 14,36; CCL 91, 429

«Nesse dia, apresentareis em Meu nome

os vossos pedidos ao Pai»

Em conclusão das nossas orações, dizemos: «Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho» e não «pelo Espírito Santo». Esta prática da Igreja universal não deixa de ter uma razão. A sua causa é o mistério segundo o qual o homem Jesus Cristo é o mediador entre Deus e os homens (1Tm 2,5), Sumo Sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedec, Ele que pelo Seu próprio sangue entrou no Santo dos santos, não num santuário feito por mão de homem, figura do verdadeiro, mas no próprio Céu, onde está à direita de Deus e intercede por nós (Heb 6,20; 9,24).

É a pensar no sacerdócio de Cristo que o apóstolo diz: «Por meio d'Ele ofereçamos sem cessar a Deus um sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o Seu nome» (Heb 13,15). É por Ele que oferecemos o sacrifício de louvor e a oração, porque foi a Sua morte que nos reconciliou quando éramos inimigos (Rm 5,10). Ele quis sacrificar-Se por nós; é por Ele que a nossa oferenda pode ser agradável aos olhos de Deus. Eis por que motivo São Pedro nos adverte nestes termos: «E vós mesmos, como pedras vivas, entrai na construção de um edifício espiritual por meio de um sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais que serão agradáveis a Deus, por Jesus Cristo» (1Pe 2,5). É por esta razão que dizemos a Deus Pai: «Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho».

 

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TEMPO PASCAL. SEXTA SEMANA. SÁBADO

 

88. O DOM DA CIÊNCIA      

 

Por Francisco Fernández-Carvajal, sacerdote

 

– Faz-nos compreender o que são as coisas criadas, segundo o desígnio de Deus sobre a criação e a elevação à ordem sobrenatural.


– O dom da ciência e a santificação das realidades temporais.


– O verdadeiro valor e sentido deste mundo. Desprendimento e humildade necessários para podermos receber este dom.



I. "AS CRIATURAS SÃO como que vestígios da passagem de Deus. Por esses vestígios rastreia-se a sua grandeza, poder e sabedoria, bem como todos os seus atributos"1. São como um espelho em que se reflete o esplendor da sua beleza, da sua bondade, do seu poder: Os céus narram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos2.


Não obstante, muitas vezes, por causa do pecado original e dos pecados pessoais, os homens não sabem interpretar esse rasto de Deus no mundo e não conseguem reconhecer Aquele que é a fonte de todos os bens: Não souberam reconhecer o Artífice pela consideração das suas obras. Seduzidos pela beleza das coisas criadas, tomaram essas coisas por deuses. Aprendam então a saber quanto o seu Senhor prevalece sobre elas – diz a Escritura – porque Ele é o criador da beleza que as fez3.


O dom da ciência permite que o homem veja mais facilmente as coisas criadas como sinais que levam a Deus, e que compreenda o que significa a elevação à ordem sobrenatural. Através do mundo da natureza e da graça, o Espírito Santo faz-nos perceber e contemplar a infinita sabedoria de Deus, a sua onipotência e bondade, a sua natureza íntima. "É um dom contemplativo cujo olhar penetra, como o do dom do entendimento e o da sabedoria, no próprio mistério de Deus"4.


Mediante este dom, o cristão percebe e entende com toda a clareza "que a criação inteira, o movimento da terra e dos astros, as ações retas das criaturas e tudo quanto há de positivo no curso da história, tudo, numa palavra, veio de Deus e para Deus se ordena"5. É uma disposição sobrenatural pela qual participa da ciência de Deus, descobre as relações que existem entre todas as coisas criadas e o seu Criador e em que medida e sentido estão a serviço do fim último do homem.


Uma manifestação do dom da ciência é o Cântico dos três jovens, como o lemos no Livro de Daniel, que muitos cristãos recitam na ação de graças depois da Santa Missa. Pede-se a todas as coisas criadas que louvem e dêem glória ao Criador: Benedicite, omnia opera Domini, Domino...: Obras todas do Senhor, bendizei o Senhor; louvai-o e exaltai-o pelos séculos dos séculos. Anjos do Senhor, bendizei o Senhor. Céus... Águas que estais sobre os céus... Sol e lua... Estrelas do céu... Chuva e orvalho... Todos os ventos... Frio e calor... Orvalhos e geadas... Noites e dias... Luz e trevas... Montanhas e colinas... Todas as plantas... Fontes... Mares e rios... Cetáceos e peixes... Aves... Animais selvagens e rebanhos... Sacerdotes do Senhor... Espíritos e almas dos justos... Santos e humildes de coração... Cantai-lhe e dai-lhe graças porque é eterna a sua misericórdia6.


Este cântico admirável de toda a criação, de todos os seres vivos e de todas as coisas inanimadas, é um hino de glória ao Criador. "É uma das mais puras e ardentes expressões do dom da ciência: que os céus e toda a Criação cantem a glória de Deus"7. Em muitas ocasiões, poderá também ajudar-nos a dar graças ao Senhor depois de participarmos na obra que mais glória lhe dá: a Santa Missa.


II. MEDIANTE O DOM DA CIÊNCIA, o cristão dócil ao Espírito Santo sabe discernir com perfeita clareza o que o conduz a Deus e o que o separa dEle. E isto no ambiente, nas modas, na arte, nas ideologias... Verdadeiramente, esse cristão pode dizer: O Senhor guia o justo por caminhos retos e comunica-lhe a ciência das coisas santas8. O Paráclito previne-nos também quando as coisas boas e retas em si mesmas se podem converter em nocivas porque nos afastam do nosso fim sobrenatural: por um desejo desordenado de posse, por um apego do coração que não o deixa livre para Deus, etc.

O cristão, que deve santificar-se no meio do mundo, tem uma especial necessidade deste dom para encaminhar para Deus as suas atividades temporais, convertendo-as em meio de santidade e apostolado. Mediante esse dom, a mãe de família compreende mais profundamente que a sua tarefa doméstica é caminho que leva a Deus, se a realiza com retidão de intenção e desejos de agradar ao Senhor; assim como o estudante passa a entender que o seu estudo é o meio habitual de que dispõe para amar a Deus, desenvolver a sua ação apostólica e servir a sociedade; e o arquiteto encara da mesma maneira os seus projetos; e a enfermeira, o cuidado dos seus doentes, etc. Compreende-se então por que devemos amar o mundo e as realidades temporais, e como "há algo de santo, divino, escondido nas situações mais comuns, que cabe a cada um de vós descobrir"9.

Deste modo – continuam a ser palavras de Mons. Escrivá –, "quando um cristão desempenha com amor a mais intranscendente das ações diárias, está desempenhando algo donde transborda a transcendência de Deus. Por isso tenho repetido, com insistente martelar, que a vocação cristã consiste em transformar em poesia heróica a prosa de cada dia"10. Esse verso heróico para Deus, nós o compomos com os episódios corriqueiros da tarefa diária, dos problemas e alegrias que encontramos à nossa passagem.


Amamos as coisas da terra, mas passamos a avaliá-las no seu justo valor, no valor que têm para Deus. E assim passamos a dar uma importância capital a esse sermos templos do Espírito Santo, porque "se Deus mora na nossa alma, tudo o resto, por mais importante que pareça, é acidental, transitório. Em contrapartida, nós, em Deus, somos o permanente"11.


III. À LUZ DO DOM DA CIÊNCIA, o cristão reconhece a brevidade da vida humana sobre a terra, a relativa felicidade que este mundo pode dar, comparada com a que Deus prometeu aos que o amam, a inutilidade de tanto esforço se não se realiza de olhos postos em Deus... Ao recordar-se da vida passada, em que talvez Deus não tenha estado em primeiro lugar, a alma sente uma profunda contrição por tanto mal e por tantas ocasiões perdidas, e nasce nela o desejo de recuperar o tempo malbaratado, sendo mais fiel ao Senhor.


Todas as coisas do mundo – deste mundo que amamos e em que nos devemos santificar – aparecem-nos à luz deste dom sob a marca da caducidade, ao mesmo tempo que compreendemos com toda a nitidez o fim sobrenatural do homem e a necessidade de subordinar-lhe todas as realidades terrenas.


Esta visão do mundo, dos acontecimentos e das pessoas a partir da fé pode obscurecer-se e mesmo apagar-se em conseqüência daquilo que São João chama a concupiscência dos olhos12. É como se a mente rejeitasse a luz verdadeira, e já não soubesse orientar para Deus as realidades terrenas, que passam a ser encaradas como fim. O desejo desordenado de bens materiais e a ânsia de uma felicidade procurada nas coisas da terra dificultam ou anulam a ação desse dom. A alma cai então numa espécie de cegueira que a impede de reconhecer e saborear os verdadeiros bens, os que não perecem, e a esperança sobrenatural transforma-se num desejo cada vez maior de bem-estar material, levando a fugir de tudo aquilo que exige mortificação e sacrifício.


A visão puramente humana da realidade acaba por desembocar na ignorância das verdades de Deus ou por fazê-las parecer teóricas, sem sentido prático para a vida corrente, sem capacidade para impregnar a existência de todos os dias. Os pecados contra este dom deixam-nos sem luz, e assim se explica essa grande ignorância de Deus de que sofre o mundo. Por vezes, chega-se a uma verdadeira incapacidade de entender ou assimilar aquilo que é sobrenatural, porque os olhos da alma estão completamente obcecados pelos bens parciais e enganosos, e fecham-se aos verdadeiros. Para nos prepararmos para receber este dom, necessitamos de pedir ao Espírito Santo que nos ajude a viver a liberdade e o desprendimento dos bens materiais, bem como a ser mais humildes, para podermos ser ensinados acerca do verdadeiro valor das coisas.


Juntamente com estas disposições, devemos fomentar os atos que nos levam à presença de Deus, de modo a vermos o Senhor no meio dos nossos trabalhos; e fazer o propósito decidido de considerar na oração os acontecimentos que vão determinando a nossa vida e as realidades do dia-a-dia: a família, os colegas de trabalho, aquilo que mais nos preocupa... A oração sempre é um farol poderoso que ilumina a verdadeira realidade das coisas e dos acontecimentos.


Para obtermos este dom, para nos tornarmos capazes de possuí-lo em maior plenitude, recorremos à Virgem, Nossa Senhora. Ela é a Mãe do Amor Formoso, e do temor, e da ciência, e da santa esperança13. "Maria é Mãe da ciência, porque com Ela se aprende a lição que mais interessa: que nada vale a pena se não estivermos junto do Senhor; que de nada servem todas as maravilhas da terra, todas as ambições satisfeitas, se não nos arder no peito a chama de amor vivo, a luz da santa esperança que é uma antecipação do amor interminável na nossa Pátria definitiva"14.

(1) São João da Cruz, Cântico espiritual, 5, 3; (2) Sl 19, 1-2; (3) Sab 13, 1-5; (4) M. M. Philipon, Los dones del Espíritu Santo, pág. 200; (5) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 130; (6) cfr. Dan 3, 52-90; (7) M. M. Philipon, op. cit., pág. 203; (8) Sab 10, 10; (9) São Josemaría Escrivá, Amar o mundo apasionadamente, in Questões atuais do cristianismo, n. 114; (10) ib.; (11) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 92; (12) 1 Jo 2, 16; (13) Eclo 24, 24; (14) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 278.

 

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ANO LITÚRGICO "B" – VII SEMANA DO TEMPO PASCAL 

 

Domingo, 20 de maio de 2012

 

ASCENSÃO DO SENHOR

 

Branco – Glória – Creio – Prefácio da Ascensão -Ofício da Solenidade

 

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Antífona da Entrada: Homens da Galileia, por que estais admirados, olhando para o céu? Este Jesus há de voltar do mesmo modo que o vistes subir, aleluia! (At 1,11)

 

Oração do Dia: Ó Deus todo-poderoso, a ascensão do vosso filho, já é nossa vitória. Fazei-nos exultar de alegria e fervorosa ação de graças, pois, membros de seu corpo, somos chamados na esperança a participar da sua glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

Oração sobre as oferendas: Ó Deus, nós vos apresentamos este sacrifício para celebrar a admirável ascensão do vosso filho. Concedei, por esta comunhão de dons entre o céu e a terra, que nos elevemos com ele até a pátria celeste. Por Cristo, nosso Senhor.

 

Antífona da Comunhão: Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos, aleluia! (Mt 28,20)

 

Oração depois da Comunhão: Deus eterno e todo-poderoso, que nos concedeis conviver na terra com as realidades do céu, fazei que nossos corações se voltem para o alto, onde está junto de vós a nossa humanidade. Por Cristo, nosso Senhor.

 

Primeira Leitura: Atos 1, 1-11

Leitura dos Atos dos Apóstolos:


1
1 Em minha primeira narração, ó Teófilo, contei toda a sequência das ações e dos ensinamentos de Jesus,

2 desde o princípio até o dia em que, depois de ter dado pelo Espírito Santo suas instruções aos apóstolos que escolhera, foi arrebatado (ao céu).
3 E a eles se manifestou vivo depois de sua Paixão, com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas do Reino de Deus.

4 E comendo com eles, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem o cumprimento da promessa de seu Pai, "que ouvistes", disse ele, "da minha boca;

5 porque João batizou na água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo daqui há poucos dias".

6 Assim reunidos, eles o interrogavam: "Senhor, é porventura agora que ides instaurar o reino de Israel?"

7 Respondeu-lhes ele: "Não vos pertence a vós saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou em seu poder,

8 mas descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até os confins do mundo".

9 Dizendo isso elevou-se da (terra) à vista deles e uma nuvem o ocultou aos seus olhos.

10 Enquanto o acompanhavam com seus olhares, vendo-o afastar-se para o céu, eis que lhes apareceram dois homens vestidos de branco, que lhes disseram:

11 "Homens da Galileia, por que ficais aí a olhar para o céu? Esse Jesus que acaba de vos ser arrebatado para o céu voltará do mesmo modo que o vistes subir para o céu".


Palavra do Senhor.

Graças a Deus!

 

 

Salmo Responsorial: 46/47

 

Por entre aclamações, Deus se elevou,
o Senhor subiu ao toque da trombeta!

Povos todos do universo, batei palmas,
gritai a Deus aclamações de alegria!
Porque sublime é o Senhor, o Deus altíssimo,
o soberano que domina toda a terra.

Por entre aclamações, Deus se elevou,
o Senhor subiu ao toque da trombeta.
Salmodiai ao nosso Deus ao som da harpa,
salmodiai, ao som da harpa, ao nosso rei!

Porque Deus é o grande rei de toda a terra,
ao som da harpa acompanhai os seus louvores!
Deus reina sobre todas as nações,
está sentado no seu trono glorioso.

 

 

Segunda Leitura: Efésios 1, 17-23

 

Leitura da carta de São Paulo aos Efésios:
 
Irmãos, 1 17 "rogo ao Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê um espírito de sabedoria que vos revele o conhecimento dele;

18 que ilumine os olhos do vosso coração, para que compreendais a que esperança fostes chamados, quão rica e gloriosa é a herança que ele reserva aos santos,

19 e qual a suprema grandeza de seu poder para conosco, que abraçamos a fé. É o mesmo poder extraordinário que

20 ele manifestou na pessoa de Cristo, ressuscitando-o dos mortos e fazendo-o sentar à sua direita no céu,

21 acima de todo principado, potestade, virtude, dominação e de todo nome que possa haver neste mundo como no futuro.

22 E sujeitou a seus pés todas as coisas, e o constituiu chefe supremo da Igreja,

23 que é o seu corpo, o receptáculo daquele que enche todas as coisas sob todos os aspectos.

 

Palavra do Senhor.

Graças a Deus!

 

 

Evangelho: Marcos 16, 15-20

 

Aleluia, aleluia, aleluia.

Ide ao mundo, ensinai aos povos todos; convosco estarei, todos os dias, até o fim dos tempos, diz Jesus (Mt 28,19s).


Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos:


16 15 E disse-lhes Jesus: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura.

16 Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado.
17 Estes milagres acompanharão os que crerem: expulsarão os demônios em meu nome, falarão novas línguas,

18 manusearão serpentes e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal; imporão as mãos aos enfermos e eles ficarão curados".

19 Depois que o Senhor Jesus lhes falou, foi levado ao céu e está sentado à direita de Deus.

20 Os discípulos partiram e pregaram por toda parte. O Senhor cooperava com eles e confirmava a sua palavra com os milagres que a acompanhavam.


Palavra da Salvação.

Graças a Deus!

 

 

E o Senhor cooperava com eles... (Mc 16,15-20)

 

        O "último desejo" de Jesus foi exatamente a missão confiada a seus discípulos: ir por todo o mundo e anunciar o Evangelho. Da Judeia para a Palestina, da Palestina para "o mundo todo". Tal amplitude como campo missionário deveria parecer aos discípulos uma tarefa fora de propósito. Afinal, eles eram um bando de lavradores, pescadores, um ou dois zelotas, um cobrador de impostos aposentado... Que belo exército!

 

        Só que este raciocínio não leva em conta um fator essencial para a missão: o Espírito Santo lhes seria dado em Pentecostes. Com o "poder do alto" (Lc 24,49), veriam suas faculdades humanas potencializadas e suas deficiências mais que compensadas. De fato, o roceiro mostra-se poliglota, o covarde se faz ousado, o capiau se revela cosmopolita. Eram homens novos, forjados no fogo do Espírito.

 

        Hoje, sob o impacto de terríveis tsunamis morais, diante da invasão do consumismo e do ateísmo, a Igreja poderia sentir-se incapaz de levar adiante sua tarefa evangelizadora. Mas ela sabe da assistência do Espírito Santo em sua navegação espiritual. Eis o que escreveu o Papa João Paulo II em sua magnífica Encíclica sobre a "validade permanente do mandato missionário":

 

        "No ápice da missão messiânica de Jesus, o Espírito Santo aparece-nos, no mistério pascal, em toda a sua subjetividade divina, como Aquele que deve continuar agora a obra salvífica, radicada no sacrifício da cruz. Esta obra, sem dúvida, foi confiada aos homens: aos Apóstolos e à Igreja. No entanto, nestes homens e por meio deles, o Espírito Santo permanece o sujeito protagonista transcendente da realização dessa obra, no espírito do homem e na história do mundo." (Redemptoris Missio, 21)

 

        E mais: "Verdadeiramente o Espírito Santo é o protagonista de toda a missão eclesial: a sua obra brilha esplendorosamente na missão ad gentes, como se vê na Igreja primitiva pela conversão de Cornélio (cf. At 10), pelas decisões acerca dos problemas surgidos (cf. At 15), e pela escolha dos territórios e povos (cf. At 16,6ss). O Espírito Santo age através dos Apóstolos, mas, ao mesmo tempo, opera nos ouvintes: pela Sua ação, a Boa Nova ganha corpo nas consciências e nos corações humanos, expandindo-se na história. Em tudo isto, é o Espírito Santo que dá a vida." (Idem)

 

        Vivo entre nós, o Espírito Santo nos impele à missão...

 

Orai sem cessar: "O Senhor sustenta os que vacilam." (Sl 145,14)

 

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança

 

santini@novaalianca.com.br      www.novaalianca.com.br

 

 

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Comentário ao Evangelho do dia feito por:


Concílio Vaticano II

Constituição sobre a Igreja «Lumen gentium», §32 (trad. © Libreria Editrice Vaticana)


«Pai santo, Tu que a Mim Te deste,

guarda-os em Ti, para serem um só»


A Santa Igreja, por instituição divina, é organizada e governada com uma variedade admirável. «Assim como num mesmo corpo temos muitos membros, e nem todos têm a mesma função, assim, sendo muitos, formamos um só corpo em Cristo, sendo membros uns dos outros» (Rm 12, 4-5).


Um só é, pois, o Povo de Deus: «um só Senhor, uma só fé, um só Batismo (Ef 4,5); comum é a dignidade dos membros, pela regeneração em Cristo; comum a graça de filhos, comum a vocação à perfeição; uma só salvação, uma só esperança e uma caridade indivisa. Nenhuma desigualdade, portanto, em Cristo e na Igreja, por motivo de raça ou de nação, de condição social ou de sexo, porque «não há judeu nem grego, escravo nem homem livre, homem nem mulher: com efeito, em Cristo Jesus, todos vós sois um» (Gl 3,28 gr.; cfr. Cl 3,11).


Portanto, ainda que, na Igreja, nem todos sigam pelo mesmo caminho, todos são, contudo, chamados à santidade, e a todos coube a mesma fé pela justiça de Deus (cfr. 2 Pe 1,1). Ainda que, por vontade de Cristo, alguns sejam constituídos doutores, dispensadores dos mistérios e pastores em favor dos demais, reina, porém, igualdade entre todos quanto à dignidade e quanto à atuação, comum a todos os fiéis, em favor da edificação do corpo de Cristo.

 

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TEMPO PASCAL. ASCENSÃO DO SENHOR

 

86. JESUS ESPERA-NOS NO CÉU

 

Por Francisco Fernández-Carvajal, sacerdote

 

– A exaltação de Cristo glorioso culmina neste mistério.


– A Ascensão fortalece e estimula o nosso desejo de alcançar o Céu. Fomentar esta esperança.


– A Ascensão e a missão apostólica do cristão.

 

I. SEGUNDO O EVANGELHO de São Lucas, o último gesto de Jesus Cristo na terra foi uma bênção1. Os Onze tinham partido da Galiléia e ido ao monte que Jesus lhes indicara, o monte das Oliveiras, perto de Jerusalém. Os discípulos, ao verem novamente Aquele que havia ressuscitado, adoraram-no2, prostraram-se diante dEle como seu Mestre e seu Deus. Agora estão muito mais profundamente conscientes daquilo que já muito tempo antes tinham no coração e haviam confessado: que o seu Mestre era o Messias3.

 


O Mestre fala-lhes com a majestade própria de Deus: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra4. Jesus confirma a fé dos que o adoram e ensina-lhes que o poder que irão receber deriva do próprio poder divino. A faculdade de perdoar os pecados, a de renascer para uma vida nova mediante o Batismo... são o próprio poder de Cristo que se prolonga na Igreja. Esta é a missão da Igreja: continuar para sempre a obra de Cristo, ensinar aos homens as verdades sobre Deus e as exigências que essas verdades trazem consigo, ajudá-los com a graça dos sacramentos... Jesus diz-lhes: O Espírito Santo descerá sobre vós e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até os confins do mundo.

 


Dizendo isto, elevou-se da terra à vista deles, e uma nuvem o ocultou
5. Assim nos descreve São Lucas a Ascensão na primeira leitura da Missa de hoje.

 


Foi-se elevando pouco a pouco. Os Apóstolos permaneceram um longo tempo olhando para Jesus que ascendia ao céu com toda a majestade, enquanto lhes dava a última bênção, até que uma nuvem o ocultou. Era a nuvem que acompanhava a manifestação de Deus6: "Era um sinal de que Jesus tinha entrado já nos céus"7.

 


A vida de Jesus na terra não termina com a sua morte na Cruz, mas com a Ascensão aos céus. É o último mistério da vida do Senhor aqui na terra. É um mistério redentor, que constitui, com a Paixão, a Morte e a Ressurreição, o mistério pascal. Convinha que os que tinham visto Cristo morrer na Cruz, entre os insultos, desprezos e escárnios, fossem testemunhas da sua exaltação suprema. Cumprem-se agora diante dos seus olhos as palavras que um dia o Senhor lhes tinha dito: Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus8.

 


Contemplamos a Ascensão do Senhor aos céus no segundo mistério glorioso do Santo Rosário. "Jesus foi para o Pai. – Dois anjos de brancas vestes se aproximam de nós e nos dizem: Homens da Galiléia, que fazeis olhando para o céu? (Act., I, 11)

 


"Pedro e os restantes voltam para Jerusalém – cum gaudio magno – com grande alegria (Luc., XXIV, 52). – É justo que a Santa Humanidade de Cristo receba a homenagem, a aclamação e a adoração de todas as hierarquias dos Anjos e de todas as legiões dos bem-aventurados da Glória"9.

 


II. "HOJE NÃO SÓ FOMOS constituídos possuidores do paraíso – ensina São Leão Magno nesta solenidade –, mas com Cristo ascendemos, mística mas realmente, ao mais alto dos céus, e conseguimos por Cristo uma graça mais inefável que a que havíamos perdido"10.

 


A Ascensão fortalece e estimula a nossa esperança de alcançarmos o Céu e incita-nos constantemente a levantar o coração a fim de procurarmos as coisas que são do alto, como nos sugere o Prefácio da Missa. Agora a nossa esperança é muito grande, pois o próprio Cristo foi preparar-nos uma morada11.

 


O Senhor está já no Céu com o seu Corpo glorificado, com os sinais do seu Sacrifício redentor12, com as marcas da Paixão que Tomé pôde contemplar e que clamam pela salvação de todos nós. A Humanidade Santíssima do Senhor tem já no Céu o seu lugar natural, mas Ele, que deu a sua vida por cada um, espera-nos ali. "Cristo espera-nos. Vivemos já como cidadãos do céu (Phil III, 20), sendo plenamente cidadãos da terra, no meio das dificuldades, das injustiças, das incompreensões, mas também no meio da alegria e da serenidade que nos dá sabermo-nos filhos amados de Deus [...]. E se, apesar de tudo, a subida de Jesus aos céus nos deixar na alma um travo de tristeza, recorramos à sua Mãe, como fizeram os Apóstolos: Tornaram então a Jerusalém... e oravam unanimemente... com Maria, a Mãe de Jesus (At I, 12-14)"13.

 


A esperança do Céu encherá de alegria o nosso peregrinar diário. Imitaremos os Apóstolos que "tiraram tanto proveito da Ascensão do Senhor que tudo quanto antes lhes causava medo, depois se converteu em gozo. A partir daquele momento, elevaram toda a contemplação das suas almas à divindade que está à direita do Pai; a perda da visão do corpo do Senhor não foi obstáculo para que a inteligência, iluminada pela fé, acreditasse que Cristo, mesmo descendo até nós, não se tinha afastado do Pai e, com a sua Ascensão, não se separou dos seus discípulos"14.

 


III. ENQUANTO OLHAVAM atentamente para o céu à medida que Ele se afastava, eis que lhes apareceram dois homens vestidos de branco que lhes disseram: Homens da Galiléia, por que ficais aí a olhar para o céu? Este Jesus que acaba de vos deixar para subir ao céu voltará do mesmo modo que o vistes subir15.

 


"Tal como os Apóstolos, ficamos meio admirados, meio tristes ao ver que Ele nos deixa. Na realidade, não é fácil acostumarmo-nos à ausência física de Jesus. Comove-me recordar que Jesus, num gesto magnífico de amor, foi-se embora e ficou; foi para o Céu e entrega-se a nós como alimento na Hóstia Santa. Sentimos, no entanto, a falta da sua palavra humana, da sua forma de atuar, de olhar, de sorrir, de fazer o bem. Gostaríamos de voltar a vê-lo de perto, quando se senta à beira do poço, cansado da dura caminhada (cfr. Jo 4, 6), quando chora por Lázaro (cfr. Jo 11, 35), quando se recolhe em prolongada oração (cfr. Lc 6, 12), quando se compadece da multidão (cfr. Mt 15, 32; Mc 8, 2).

 


"Sempre me pareceu lógico – e me cumulou de alegria – que a Santíssima Humanidade de Jesus Cristo subisse à glória do Pai. Mas penso também que esta tristeza, própria do dia da Ascensão, é uma manifestação do amor que sentimos por Jesus, Senhor Nosso. Sendo perfeito Deus, Ele se fez homem, perfeito homem, carne da nossa carne e sangue do nosso sangue. E separa-se de nós, indo para o céu. Como não havíamos de notar a sua falta?"16

 


Os Anjos dizem aos Apóstolos que é hora de começar a imensa tarefa que os espera, e que não devem perder um só instante. Com a Ascensão termina a missão terrena de Cristo e começa a dos seus discípulos, a nossa. E hoje, na nossa oração, é bom que ouçamos de novo as palavras com que o Senhor intercede diante de Deus Pai por nós: Não peço que os tires do mundo, do nosso ambiente, do nosso trabalho, da família..., mas que os preserves do mal17. Porque o Senhor quer que cada um no seu lugar continue a tarefa de santificar o mundo, para melhorá-lo e colocá-lo aos seus pés: as almas, as instituições, as famílias, a vida pública... Porque só assim o mundo será um lugar em que se valoriza e se respeita a dignidade humana, em que se pode conviver em paz, com essa paz verdadeira que está tão ligada à união com Deus.

 


"Recorda-nos a festa de hoje que o zelo pelas almas é um mandamento amoroso do Senhor: ao subir para a sua glória, Ele nos envia pelo orbe inteiro como suas testemunhas. Grande é a nossa responsabilidade, porque ser testemunha de Cristo implica, antes de mais nada, procurar comportar-se segundo a sua doutrina, lutar para que a nossa conduta recorde Jesus e evoque a sua figura amabilíssima"18.

 


Os que convivem ou se relacionam conosco devem aperceber-se da nossa lealdade, sinceridade, alegria, laboriosidade; temos de comportar-nos como pessoas que cumprem com retidão os seus deveres e sabem atuar como filhos de Deus nas pequenas situações de cada dia. As próprias normas correntes da convivência, que para muitos não passam de algo externo, necessário apenas para o relacionamento social – os cumprimentos, a cordialidade, o espírito de serviço... – devem ser fruto da caridade, manifestações de uma atitude interior de interesse pelos outros.

 


Jesus parte, mas permanece muito perto de cada um. De modo especial encontramo-lo no Sacrário mais próximo, talvez a menos de uma centena de metros do lugar onde vivemos ou trabalhamos. Não deixemos de procurá-lo com freqüência, ainda que na maioria das vezes só possamos fazê-lo com o coração, para dizer-lhe que nos ajude na tarefa apostólica, que conte conosco para estender a sua doutrina por todos os ambientes.

 


Os Apóstolos voltaram a Jerusalém em companhia de Santa Maria. Juntamente com Ela, esperam a chegada do Espírito Santo. Disponhamo-nos nós, nestes dias, a preparar a próxima festa de Pentecostes muito unidos a Nossa Senhora.

 

(1) Lc 24, 51; (2) cfr. Mt 28, 17; (3) cfr. Mt 16, 18; (4) Mt 28, 18; (5) At 1, 7 e segs.; (6) cfr. Ex 13, 22; Lc 9, 34 e segs.; (7) São João Crisóstomo, Homilias sobre os Atos, 2; (8) Jo 20, 17; (9) São Josemaría Escrivá, Santo Rosário, IIº mist. glorioso; (10) São Leão Magno, Homilia I sobre a Ascensão; (11) cfr. Jo 14, 2; (12) cfr. Apoc 5, 6; (13) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 126; (14) São Leão Magno, Sermão 74, 3; (15) At 1, 11; (16) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 117; (17) Jo 17, 15; (18) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 122.

 

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TEMPO PASCAL. SÉTIMO DOMINGO

 

89. O DOM DA SABEDORIA

 

Por Francisco Fernández-Carvajal, sacerdote

 

– Este dom confere-nos um conhecimento amoroso de Deus, bem como das pessoas e das coisas criadas na medida em que se referem a Ele. Está intimamente unido à virtude da caridade.

 

– Mediante este dom, participamos dos mesmos sentimentos de Jesus Cristo em relação aos que nos rodeiam. Ensina-nos a ver os acontecimentos dentro do plano providencial de Deus, que sempre se manifesta como nosso Pai.

 


– O dom da sabedoria e a vida contemplativa na nossa vida corrente.

 



I. EXISTE UM CONHECIMENTO de Deus e do que se refere a Ele a que só se chega pela santidade. O Espírito Santo, mediante o dom da sabedoria, coloca-o ao alcance das almas simples que amam o Senhor: Eu te glorifico, Pai, Senhor do céu e da terra – exclamou Jesus diante de umas crianças –, porque escondeste estas coisas aos sábios e prudentes e as revelaste aos pequeninos1.

 

É uma sabedoria que não se aprende nos livros, mas que é comunicada à alma pelo próprio Deus, que ilumina e ao mesmo tempo cumula de amor a mente e o coração, a inteligência e a vontade; é um conhecimento mais íntimo e saboroso de Deus e dos seus mistérios. "Quando temos na boca uma fruta, apreciamos o seu sabor muito melhor do que se lêssemos as descrições que dela fazem todos os livros de Botânica. Que descrição se pode comparar ao sabor que experimentamos quando provamos uma fruta? Do mesmo modo, quando estamos unidos a Deus e o saboreamos por íntima experiência, isso nos faz conhecer muito melhor as coisas divinas do que todas as descrições que os eruditos e os livros dos homens mais sábios possam fazer"2. Este é o conhecimento que se experimenta de modo particular pelo dom da sabedoria.

 

De uma maneira semelhante à de uma mãe que conhece o seu filho pelo amor que lhe tem, assim a alma, mediante a caridade, chega a um conhecimento profundo de Deus que obtém do amor a sua luz e o seu poder de penetração nos mistérios. É um dom do Espírito Santo porque é fruto da caridade infundida por Ele na alma e nasce de uma participação na sua sabedoria infinita. São Paulo orava pelos primeiros cristãos, para que, poderosamente robustecidos pelo seu Espírito [...], arraigados e alicerçados na caridade, possais compreender qual a largura e o comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer enfim a caridade de Cristo, que desafia todo o conhecimento3. É um compreender alicerçados na caridade; é um conhecimento profundo e amoroso.

 


Não podemos aspirar a nenhum conhecimento mais alto de Deus do que este conhecimento saboroso, que enriquece e facilita a nossa oração e toda a nossa vida de serviço a Deus e aos homens por Deus: A sabedoria – diz a Sagrada Escritura – vale mais do que as pérolas, e jóia alguma a pode igualar4. Eu a preferi aos cetros e aos tronos, e considerei a riqueza como um nada em comparação com ela [...]. Todo o ouro ao seu lado é apenas um pouco de areia, e a prata diante dela é como lama [...]. Com ela vieram-me todos os bens [...] porque é a sabedoria que os traz [...]. Ela é para os homens um tesouro inesgotável; e os que a adquirem preparam-se para ser amigos de Deus5.

 


II. INTIMAMENTE UNIDO à virtude teologal da caridade, o dom da sabedoria confere à alma um conhecimento muito especial de Deus, que a leva a possuir "uma certa experiência da doçura de Deus"6, em si mesmo e nas coisas criadas, enquanto se relacionam com Ele. "Entre os dons do Espírito Santo, diria que há um de que todos nós, cristãos, necessitamos especialmente: o dom da sabedoria, que nos faz conhecer e saborear Deus, e nos coloca assim em condições de poder avaliar com verdade as situações e as coisas desta vida"7. Com a visão profunda que este dom confere à alma, o cristão que segue de perto o Senhor contempla toda a realidade com um olhar mais alto, pois participa de algum modo da visão que Deus tem de todas as coisas criadas. Julga tudo com a clareza deste dom.

 


Os demais homens são então para ele uma oportunidade contínua de praticar a misericórdia e de exercer um apostolado eficaz aproximando-os do Senhor. Compreende melhor a imensa necessidade que os seus parentes, colegas e amigos têm de ser ajudados a caminhar para Cristo. Vê-os como pessoas urgentemente necessitadas de Deus, como Cristo as via.

 


Iluminados por este dom, os santos entenderam no seu verdadeiro sentido os acontecimentos desta vida: tanto os que consideramos grandes e importantes como os aparentemente pequenos. Por isso, não chamaram desgraça à doença e às tribulações que tiveram que sofrer; compreenderam que Deus abençoa de muitas maneiras, e freqüentemente com a Cruz; sabiam que todas as coisas, mesmo aquelas que são humanamente inexplicáveis, cooperam para o bem dos que amam a Deus8. "As inspirações do Espírito Santo, que este dom faz acolher com docilidade, esclarecem-nos pouco a pouco sobre a ordem admirável do plano providencial, mesmo e precisamente naquelas coisas que antes nos deixavam desconcertados, nos casos dolorosos e imprevistos, permitidos por Deus em vista de um bem superior"9.

 

Através do dom da sabedoria, as moções da graça trazem-nos uma grande paz, não somente para nós, mas também para o nosso próximo; ajudam-nos a semear alegria onde quer que estejamos e a encontrar a palavra oportuna que ajuda a reconciliarem-se os que estão desunidos. É por isso que este dom está em correspondência com a bem-aventurança dos pacíficos, daqueles que, tendo paz em si mesmos, podem comunicá-la aos outros. Esta paz, que o mundo não pode dar, é o resultado de se verem os acontecimentos dentro do plano providente de Deus, que em momento algum se esquece dos seus filhos.

 


III. O DOM DA SABEDORIA concede-nos uma fé amorosa, penetrante, uma clareza e segurança absolutamente insuspeitadas na compreensão do mistério inabarcável de Deus. Assim, por exemplo, a presença real de Jesus Cristo no Sacrário produz em nós uma felicidade inexplicável por nos acharmos diante de Deus. A pessoa "permanece ali sem dizer nada ou simplesmente repetindo umas palavras de amor, em contemplação profunda, com os olhos fixos na Hóstia Santa, sem cansar-se de fitá-lo. Parece-lhe que Jesus penetra pelos seus olhos até o mais profundo dela própria..."10

 

O normal será, no entanto, que encontremos a Deus na vida diária, sem quaisquer manifestações especiais, mas envolvidos pela íntima certeza de que Ele nos contempla, de que vê as nossas tarefas e nos olha como filhos seus... No meio do nosso trabalho, na família, o Espírito Santo ensina-nos, quando somos fiéis às suas graças, que todas as nossas ocupações são o instrumento normal que Deus põe ao nosso alcance para que possamos amá-lo e servi-lo nesta vida e depois contemplá-lo na eternidade. À medida, pois, que vamos purificando o nosso coração, entendemos melhor a verdadeira realidade do mundo, das pessoas (que olhamos e tratamos como filhos de Deus) e dos conhecimentos, participando da própria visão de Deus sobre as coisas criadas, sempre dentro dos limites da nossa condição de criaturas.

 

Esta ação amorosa do Espírito Santo sobre a nossa vida só será possível se cuidarmos com esmero das normas de piedade através das quais nos dedicamos especialmente a Deus: a Santa Missa, os momentos de meditação pessoal, a Visita ao Santíssimo... E isto tanto nos dias normais como naqueles em que temos um trabalho que parece ultrapassar a nossa capacidade de levá-lo adiante; quando a devoção é fácil e simples ou quando chega a aridez; nas viagens, no descanso, na doença...

 


E juntamente com o cuidado em viver com esmero esses momentos mais intensamente dedicados a Deus, não nos deve faltar o empenho por conseguir que o pano de fundo do nosso dia esteja sempre ocupado pelo Senhor. Presença de Deus alimentada com jaculatórias, ações de graças, pedidos de ajuda, atos de amor e desagravo, pequenos sacrifícios que surgem no nosso trabalho ou que procuramos por nossa conta.

 


"Que a Mãe de Deus e Mãe nossa nos proteja, a fim de que cada um de nós possa servir a Igreja na plenitude da fé, com os dons do Espírito Santo e com a vida contemplativa. Realizando cada um os deveres que lhe são próprios, cada um no seu ofício e profissão, e no cumprimento das obrigações do seu estado, honre gozosamente o Senhor"11.

 

(1) Mt 11, 25; (2) L. M. Martinez, El Espíritu Santo, 6ª ed., Studium, Madrid, 1959, pág. 201; (3) Ef 3, 16-19; (4) Prov 8, 11; (5) Sab 7, 8-14; (6) São Tomás, Suma Teológica, 1-2, q. 112, a. 5; (7) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 133; (8) cfr. Rom 8, 28; (9) R. Garrigou-Lagrange, Las tres edades de la vida interior, 4ª ed., Palabra, Madrid, 1983, pág. 82; (10) A. Riaud, La acción del Espíritu Santo en las almas, 4ª ed., Palabra, Madrid, 1983, pág. 82; (11) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 316.

 





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