No Limiar do Desejo - Eve Berlin





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Eu sabia que queria levar uns tapas desde que me deparei com a ideia ao ler uma
romance vitoriano da minha avó. Todas aquelas anáguas de seda franzidas ao redor da cintura
da heroína, enquanto o herói a segurava com firmeza sobre seus joelhos, a mão dele caindo com
força sobre a bunda rosada, a reclamação da moça soando falsa até os seus ouvidos juvenis e,
mesmo assim, de alguma forma tornando tudo ainda mais delicioso.

A descrição me deixava molhada.

Ainda me deixa.

Entretanto, não passa de uma fantasia não realizada que mantenho em segredo.

Se já não suspeitasse disso, as palavras cruéis ditas por Jake quando finalmente admiti
meus desejos foram uma comprovação. É melhor deixar algumas coisas ocultas. Mesmo
quando fazem parte do lado mais verdadeiro de uma pessoa.



DO DIÁRIO DE KARA CRAWFORD




UM



NÃO HAVIA MOTIVOS PARA KARA ESTAR PENSANDO EM LEVAR
UMAS PALMADAS na festa de inauguração da nova casa de Lucie, sua
melhor amiga, muito menos no que escrevera no diário na noite anterior. A
não ser, talvez, porque ela tinha tomado vinho demais por ainda sentir pena
de si mesma, quase seis meses depois de se separar de Jake. Ela voltou a
encher a taça mesmo assim e estava dando um gole quando o avistou do
outro lado da sala lotada.

Dante De Matteo.

Ela não o via desde a última semana do penúltimo ano do colegial.
Pouco depois de ele meter a porrada no cretino do sei então namorado.
Brandy fez por merecer. Ela o flagrou traindo-lhe e , quando foi tirar
satisfação, ele reagiu agarrando seu braço, machucando-a e gritando na cara
dela. E se já não tivesse uma paixão maluca pelo Dante antes desse incidente,
com certeza o fato de ele vir salvá-la como se fosse seu próprio cavaleiro de
armadura branca teria contribuído para isso.

Ela se lembrava do rosto do rosto do Dante quanto Brandy gemia no
chão e dois professores corriam para segurá-lo, provavelmente para impedi-
lo de bater novamente no outro. Lembrava-se de seus olhos escuros, de como
eram tristes. Ferozes. Vulneráveis, quando ele olhou para ela, coisa que a
surpreendeu. Ela desejava falar alguma coisa. Agradecê-lo. Perguntar por
que a tinha defendido. Mas ela era jovem demais para saber como lidar com
aquilo.

Depois Dante levou uma suspensão. E logo a seguir foi embora fazer
faculdade, e ela nunca mais o viu.

Já haviam se passado mais de doze anos, mas ainda o reconheceria em
qualquer lugar. Ele ainda tinha aquele rosto bonito, como que esculpido à
mão, ombros largos, músculos grandes e delgados, mas tudo ficara muito
mais refinado, elegante. O cabelo castanho-escuro que costumava cair sobre o
rosto agora estava curto. E aqueles olhos... Para ela, a maioria das pessoas
diriam que eram castanhos, mas ela se lembrava de como brilhavam
dourados no sol.

Logo começou a sentir a pele esquentar, como se fosse engolida por
chamas. Sensações a mil. Precisava olhar para o outro lado. E ir embora dali.

Eu desisti dos homens. Desisti!

Ela abaixou a cabeça e foi em direção à porta dos fundos, com a taça de
vinha firme na mão. Ela não iria pensar no quanto desejara Dante anos atrás,
à época do colegial. E, pela forma como o coração estava disparado,
aparentemente ainda o desejava.

Do lado de fora, a noite de começo de janeiro era fria e úmida, mas ela


estava acostumada, pois crescera em Mercer Island, do outro lado da ponte
de Seattle, onde Lucie e a colega e quarto, Tyler, agora moravam. E Kara
precisava do frio para sossegar o corpo, a cabeça.

Nada de homens agora.

A vida estava muito mais calma desde o fim do último relacionamento.
Nada de drama. Nada de expectativas. Tudo legal e tranquilo, e ela gostava
desse jeito. Ou, ao menos, era o que vivia se repetindo. Era a forma de
explicar para si mesma por que praticamente não saíra desde o rompimento,
algo que não era típico dela. Kara teve muitos homens antes de Jake. Ela não
queria pensar em como aquela relação a tinha afetado, abalando sua
confiança.

Então, o vibrador era seu melhor namorado. E daí? Ela podia voltar para
casa, pegar o amigo plástico cor-de-rosa e imaginar que Dante De Matteo
estava no meio das suas coxas...

Ela estremeceu, apertou as pernas e suspirou.

Sentou-se no balanço da varanda, as ripas de madeira mordiam as coxas
pelo vestido de tricô. Acomodada sobre uma pequena pilha de almofadas,
respirando o ar revigorante da noite, ela tomou um grande gole de vinho
tinto e cruzou as pernas.

Estava bêbada o suficiente para logo voltar a se ressentir por estar
sozinha. Todas as de Lucie e Tayler estavam felizes com seus pares, ao menos
aparentemente, a casa cheia de casais abraçados. Até o Dante chegar. Ela
percebeu que ele parecia estar sozinho. Feito ela.

Não que não estivesse melhor sozinha agora. Talvez para sempre. Ainda
tinha se passado muito pouco tempo após o desastre com Jake para ela estar
de outra forma, para desejar viver um relacionamento de novo. Ainda não
tinha se livrado por completo da amargura.

Ela ficou se ressentindo por mais um tempo, ignorando o quanto estava
abalada por rever Dante. Ou assim fingia. Então ouviu passos nas tábuas
rangentes da varanda. Ela olhou para cima e viu uma silhueta alta, um
contorno escuro contra a luz saindo pelo vão da porta. Alto cheio de
músculos e gostoso pra caramba.

Dante.

O corpo inteiro estremeceu

- Kara? É você mesma?

- Dante. Oi. O que está fazendo aqui?

Ele chegou mais perto, sob a luz da varanda. Estava bem-vestido, com
calças escuras e um suéter que parecia ter sido feito sob medida para seu
corpo. Talvez fosse mesmo. Ele parecia bem demais.

- Topei com a Lucie um dia desses e ela me convidou pra festa. Eu não te
vejo desde o fim do colegial. Você fez o curso de artes que tanto queria?


Ela deus de ombros, tentando parecer calma, tentando manter a calma.
No entanto, flagrar aqueles mesmos olhos a encará-la com uma admiração
descarada, como ela fantasiava desde os catorze anos, aquilo tudo era
demais.

Respirou fundo, tentando se acalmar novamente.

- Fiz várias aulas de artes na faculdade, mas meus pais não queriam
muito que eu seguisse essa carreira. Depois de um tempo eu abandonei.

- Se bem me lembro, você era uma boa pintora. Você não expôs num
concurso estadual durante aquela época?

- Não acredito que se lembre disso. – Ela sentiu as bochechas
esquentarem.

Ele se inclinou contra a esquadria da porta, numa pose que somente os
homens mais confiantes poderiam manter e ainda transparecer a mais
completa naturalidade e relaxamento. – Eu me lembro de muita coisa sobre
você, Kara.

- Lembra?

Ele sorriu, mostrando as covinhas. Como é que um homem podia
parecer tão sossegado e, ao mesmo tempo, exibir toda uma meninice? Ela
conseguia ver o adolescente que ele fora sob os traços mais masculinos do
rosto. Embaixo do visual mais sofisticado, as roupas imaculadas, ele
continuava sendo o velho Dante, disso ela estava certa. Ele sempre foi gentil.
Até mesmo durante o colegial, quando a maioria dos garotos é idiota. Dante
era o tipo de cara que falava com todos na escola, não apenas com os atletas
ou os caras maneiros. Que defendia os menores atormentados por valentões.
Ele tinha defendido ela. E ela estava enfeitiçada por ele como sempre.

- Eu me lembro de você dirigindo um fusca velho -, ele falou, se
aproximando. – Era azul bebê. Você ainda tem?

- Quê? Não, é claro que não – ele riu.

Meu Deus, ele era lindo. Maravilhoso. O suéter combinava perfeitamente
com os ombros largos, delineando toda sua extensão. Sem dúvidas, havia
muito músculo ali embaixo.

- Hoje em dia valeria muito – ele continuou.

- Eu vendi depois do colegial e comprei algo mais maduro – ela
respondeu, sorrindo.

- Eu fiz a mesma coisa. Vendi meu Camaro antigo e comprei um sedan
compacto logo depois da faculdade. É engraçado como a gente tinha um
monte de ideias sobre o que significava ser adulto. Eu gostaria de ainda ter
aquele carro.

- O que você fez depois da faculdade, além de vender seu possante?
Você ia estudar direito, né? Sua família inteira se mudou, não é mesmo?

- Eu estudei em Yale, fiz direito lá. Morei uns tempos em Nova York,


onde trabalhei numa empresa. Meus pais se aposentaram e mudaram para o
Colorado bem na época em que terminei a faculdade. Mas o Lorenzo, meu
irmão, ainda mora em Seattle. Lembra dele?

- Ele é um pouco mais velho do que você, né? Acho que ele se formou
quando eu estava no primeiro ano do colegial. Ele se parecia bastante com
você.

Dante concordou com a cabeça.

Ele é engenheiro civil, se casou no ano passado. Somos muito unidos.
Voltei para Seattle já faz uns anos. Pensei que seria legal ficar perto da
família. A sua família ainda mora aqui?

- Meus pais nunca saíram da ilha, embora os dois ainda trabalharem na
cidade.

- Você não tinha irmãos né?

- Não. Era somente eu.

A mãe dela, dona de um dos maiores escritórios de arquitetura de
Seattle, nunca teve tempo para mais de um filho. Ela nunca teve tempo
mesmo para Kara. Já o pai, homem severo e desaprovador, era dono de uma
empresa de advocacia, coisa que significava longos expedientes. Ainda que a
personalidade deles tivesse a ver com ter filhos, isso não acontecia com os
empregos.

Ela tinha escolhido um homem igualzinho ao pai quando ficou com Jake.
Ríspido. Crítico. Idêntico ao Brady no colegial, pensando bem.
Aparentemente, o pai arruinou sua capacidade de escolher um homem.
Outro bom motivo para querer distância deles. E ela manteria aquela
inclinação. Até mesmo com Dante De Matteo, sua paixonite desde a
adolescência, parado do ladinho dela. Falando com ela. Observando-a com
um olhar de aprovação e sorrindo, fazendo-a latejar inteirinha.

- Então, nada de diploma de arte, Kara? O que você faz da vida?

- Também terminei cursando direito. Estou é surpresa de nunca termos
nos esbarrado.

- Eu também. E levou um tempão até eu encontrar a Lucie, mas ainda
bem que a encontrei – as covinhas voltaram a faiscar para Kara -, e ela me
convidou para vir aqui, para finalmente, topar com você. – Gesticulando com
o queixo, ele perguntou: - Posso me sentar com você?

O corpo dela sentiu outra onda de calor.

- Sim. Pode se sentar.

Ele caminhou pela varanda e ficou diante dela após dar passos largos,
recostando o corpo alto e delgado ao seu lado no balanço da varanda. Ela
sentiu seu aroma, algo sombrio e masculino, com um toque de almíscar que a
fez tremer por dentro. E ela percebia o calor emanando dele. Ou, quem sabe,
o calor fosse o dela, crescendo, espiralando, com ele ao seu lado.


- Você exerce a profissão? – ele questionou e, a seguir, fez que não com a
cabeça. – Sempre a vi como uma artista.

- Eu também, durante um bom tempo...

Para Kara, era tão estranho ouvi-lo falar essas coisas. Uma artista... Era o
que ela sempre quis ser. Como ele podia se lembrar do quanto a arte era
importante para ela? A ideia fez o coração se acelerar um pouco mais.

Ele a observava, com um olhar sombrio, intenso.

- Você devia correr atrás do que deseja, Kara.

Ela cruzou as pernas, colocou a mão sobre o joelho, onde o vestido justo
mostrava um pouco da coxa nua entre a bainha e a parte de cima da bota de
camurça marrom de cano alto.

- Acha mesmo? Nem sempre é tão simples quanto parece.

Teve a nítida impressão de que ele a estava paquerando. E, claramente,
ela correspondia.

Ele concordou com a cabeça. – Uma oportunidade perdida só causa
remorso.

- Concordo.

- Sempre gostei de você no colegial - ele disse de repente, num tom de
voz mais baixo.

- Gostou?

- Sim. Sempre. Eu me lembro de você com catorze, quinze anos. Que
pernões...

Ele mexeu o joelho, encostando contra o dela. Ela se esquentou todo,
sentindo uma onda agradável de calor.

- Ei, vocês dois aí! Querem mais bebida? – Lucie trazia uma garrafa de
vinho na mão. O cabelo louro estava arrumado sobre a cabeça, as bochechas,
rosadas, brilhando graças ao frio ar noturno e, provavelmente, a algumas
taças de vinho. – Quase me esqueci que vocês se conhecem da escola.

- Era disso mesmo que estávamos falando. Não vou beber hoje. Quer
mais vinho, Kara?

Dante se ofereceu, pegou o capo, seus dedos tocaram os dela. Ele pegou
a garrafa de Lucie, encheu o copo de Kara e devolveu. Desta vez ele se
demorou, seus dedos se encostaram por um longo momento. Ele sorriu para
ela. Ela se esquentou toda, uma fornalha fumegando de puro desejo.

- Está bem, então... Eu vou... entrar. – Lucie falou, desaparecendo dentro
da casa.

Mas Kara mal a ouviu. Ela inspirou profundamente e tomou outro gole
de vinho.

Preciso me acalmar.

O sorriso dele era deslumbrante. Não havia outra palavra para descrevê-
lo. O rosto era cheio de ângulos e planos masculinos; um queixo belamente


esculpido, bochechas altas, quase agudas. A boca era toda suculenta.
Generosa. E as covinhas... Quando ele sorria, o corpo inteiro de Kara derretia.
Ela se sentia novamente uma adolescente, pasmada com aquele sorriso.

Levantou a taça e bebeu, percebendo somente após haver engolido todo
o vinho que não estava tão bêbada quanto pensava. Quem sabe o choque de
ver Dante, seu comportamento em reação a ela, a tivessem deixado sóbria.

- Você continua linda como sempre, Kara – Dante falou do nada, com
aquele olhar dourado sobre ele. – Tomara que não se importe com minha
palavras.

Ela fez que não.

Fale, Kara.

- Obrigada.

- Linda mesmo – ele murmurou.

Ele a encarava. O rosto dela esquentou ainda mais, aquele ponto caloroso
e carente entre as coxas.

- Você vai corar ainda mais se eu perguntar se é solteira?

- Sim – suspirou.

- Ah, desculpe. Não é da minha conta. Perdão.

Seus modos eram à moda antiga. Sempre foi assim: um cavalheiro, até
mesmo no colegial. Ela adorava, e continuou adorando.

- Não, digo, sim, sou solteira. Terminei com uma pessoa faz uns seis
meses. Bem, ele terminou comigo.

- Ele foi um tolo.

Ela deu de ombros. – Talvez. E você? É casado?

- Não, nunca me casei. E estou... na minha.

- Ah. – De repente, ela se sentiu embaraçada. Geralmente, Kara não tinha
problemas para conversar com as pessoas. Ela se considerava extrovertida.
Era advogada de tribunal, pelo amor de Deus! Por que não conseguia falar
duas frases inteligentes em sequência?

- Kara, estou te deixando incomodada? Não queria fazer essas perguntas
pessoais. É que faz tanto que não nos vemos. Quero ficar a par de tudo.

- Não, tudo bem. Sem problemas. – Ela deu uma risadinha. – Não sei o
que deu em mim. Acho que bebi vinho demais. – Era mentira. Kara sentia
apenas os primeiros prenúncios de uma bebedeira, mas uma desculpa
conveniente. – Eu também quero botar as fofocas em dia.

Ele sorriu para ela, as covinhas formavam pregas nas bochechas e
aceleravam ainda mais o coração. Depois, ele esticou a mão e esfregou as
costas dos dedos sobre seu pulso, quase de forma distraída. Só que, quando
olhava para ele, Dante a observava, com aquele brilho dourado voltado para
ela. O rosto dele possuía uma expressão curiosa e demorou um tempo até
Kara reconhecer se tratar de puro desejo. Mesmo com as roupas que vestia,


ela sentia o calor proveniente dele, propagando-se feito um pequeno choque
por causa de sua mão no braço dele.

Ela inspirou fundo, tonta com aquela sensação.

Isso não pode está acontecendo.

Só que estava.

Era apenas química. Ela tinha uma queda pelo Dante há anos, e aqui
estava ele, como num passe de mágica. Mais bonito do que nunca. E ele era
legal. Inteligente. Fácil de falar. Era uma reação perfeitamente normal. Uma
mulher teria de ser cega e completamente frígida para não reagir a Dante de
Matteo.

Kara tinha certeza de nunca ter sido tocada por ele antes. Ela queria que
ele repetisse a dose.

Ela se concentrou em sua boca um instante, depois levantou o olhar até o
dele. Ah, sim, dava para ver a fome. E algo mais... Como uma pergunta não
verbalizada.

Engoliu em seco, lançou o olhar para a escuridão do quintal e, além dele,
na rua, o brilho âmbar dos postes iluminando a cerração.

- Kara? Eu disse algo errado?

Ela se voltou para ele. – Quê? Não, é claro não. É que... é meio estranho
ver você de novo.

- Sim. Estranho, mas bom.

Ele sorriu, um sorriso de mil watts. Havia um convite nele.

Ela começava a se esquecer exatamente por que não queria mais saber
dos homens. Não era como se ela fosse se envolver com o Dante. Sem dúvida
alguma, ela não estava aberta a um relacionamento. E nem era inibida. Talvez
estivesse na hora da seca imposta por ela chegar ao fim. Se ele estava
interessando e ela também, então não via nada errado em deixar rolar um
pequeno flerte. Quem sabe levando a algo mais...

Ela acompanhava enquanto ele observava. E estava contente por sempre
vestir uma lingerie bacana. Kara decidiu que se a noite terminasse com ela
levando Dante para casa, quem sabe aquilo fosse melhor do que ficar sentada
sentindo pena de si mesma. E com Dante por perto, não haveria nada a
lamentar.

Kara retribuiu o sorriso, exibindo olhos convidativos.



Olhos como aqueles eram metálicos, feito de prata, ouro, guarnecidos de verde...

Dante se sentia atordoado por ela. Ele não a via há 12 anos, mas o corpo
reagia igualzinho a quando era adolescente. O pulso estava quente,
acelerado. Ele precisava controlar o desejo dentro de si, tentar não ficar
excitado. Mas a garota com quem sonhara durante os dois últimos anos do
colegial estava sentada ao seu lado.


De repente, Dante se lembrou do choque no rosto dela quando ele socou
o safado do Brady Metcalf. E do jeito como aquele choque se transformou
num sorriso brilhante, somente para ele. Por causa daquele sorriso, tinha
valido a pena ser suspenso na última semana de aula do colegial. Ele teria
agido assim de qualquer forma. Brady estava sendo bruto com ela, e, sem
sombra de dúvida, ele não deixaria acontecer alguma coisa com Kara. Mas
nunca se esqueceu daquele sorriso.

Naquela época, ela era jovem demais, e ele nunca se atreveu a ter nada
com Kara. Ela ainda estava no colegial enquanto ele se preparava para ir
embora e cursar a faculdade. Contudo, agora ela estava crescida. Calorosa e
feminina, com a pele clara iluminada pela luz âmbar da varanda. Enquanto
conversava, ela foi se inclinando em sua direção, dando um sinal sutil. E
agora seu sorriso – doce e sensual, refletindo o mesmo desejo que ele sentia
como uma corrente viva fluindo pelo organismo – praticamente o nocauteou.

O cabelo castanho-claro dela era comprido, como nos tempos do colegial,
formando madeixas encorpadas e suaves de fios brilhantes. Ele desejava tocá-
los. Ele desejava tocá-la.

Ele a desejava.

Pega leve, parceiro.

Seu corpo não queria esperar, mas ela era alguém que ele conhecia havia
anos, não uma garota qualquer para catar num bar ou no Pleasure Dome, o
clube de escravidão sexual e sadomasoquismo que frequentava há vários
anos. Não era uma mulher para ter um lance rápido e jamais voltar a ver.
Kara era praticamente uma vizinha. E ele sempre tomava muito cuidado com
garotas .normais.. Não que não curtisse transar com uma mulher
desinteressada nos seus joguinhos brutos. Ele curtia. E muitas vezes transava
com elas. Porém, esse tabu deixava tudo mais excitante. Contar aquilo para
uma pessoa nova sempre era uma situação delicada. Abrir o jogo para
alguém que conheceu na adolescência, então... Mas eles não eram mais
garotos.

Nossa, ele estava pensando como se ela já se tivesse se oferecido para
passar a noite com ele, se entregando a ele numa bandeja de prata.

Não que se importasse se ele agisse assim.

Sentiu tesão ao pensar naquilo. E não consegui evitar.

Relaxa.

Ele inspirou profundamente o frio ar noturno e exalou.

- Quer que eu vá buscar mais vinho pra você? – Dante indagou,
pensando que alguma distração poderia ser uma boa ideia, um momento
dentro da casa no qual pudesse se acalmar.

- Não, eu não quero mais. Obrigada.

Ela colocou a taça no chão da varanda. Sorriu novamente para ele.


Aquela boca doce. Os lábios deveriam ser tão macios... E, de repente, ele não
conseguia pensar em nenhum motivo para não se inclinar e beijá-la.

Foi o que Dante fez, com uma das mãos tocando o rosto dela, ele foi
chegando cada vez mais perto, dando-lhe a chance de escapar. Porém, tudo
que Kara fez foi abrir os lábios, com os grandes olhos castanho-claros a
encará-lo, fechando-os quando ele se aproximou.

Os lábios dela eram macios, mais até do que imaginara. E ela foi se
entregando por inteira, com o corpo relaxando inclinando-se sobre ele.
Submissão era algo que Dante reconhecia facilmente. E essa mulher tinha
isso, essa capacidade de se entregar, sabendo disso ou não.

Kara abriu os lábios e ele dez a língua escorregar para dentro. Ela tinha
gosto de vinho, líquido e doce. E ela retribuía o beijo, recebendo-o com a
boca. Atraindo-o para dentro.

Ela gemeu baixinho, e ele reagiu como se levasse um choque. Dante
continuou a beijá-la, somente a beijá-la, e estava duro como se ela o segurasse
com as mãos, ou o envolvesse com a maravilhosa boca.

Nossa.

Ele recuou, e ela se manteve completamente parada, de olhos fechados, a
boca ainda levemente aberta. Os lábios dela eram aveludados, meio inchados
por conta do beijo. Ele desejava beijá-la outra vez, mas temia que, se o fizesse,
poderia pressioná-la demais, e rápido demais. Porque, na verdade, ele queria
tirar a roupa dela, deitá-la de costa sobre o estreito balanço da varanda e
mergulhar nela. Fazendo tudo com que sempre sonhara no colegial. E outras
coisinhas aprendidas desde então.

Ele suspirou.

Os cílios dela se estremeceram; seus olhos se abriram.

- Dante?

Sim. Preciso me desculpar?

- Não. A culpa foi tão minha quanto sua.

- Alguém aqui precisa levar a culpa? – ele perguntou, precisando saber,
para ter certeza de não haver imaginado que Kara o desejava.

- Acho que não.

Aquele sorriso doce reapareceu. Meu Deus, ela era fabulosa.

Dante percebeu ainda estar com a mão no rosto de Kara. A bochecha era
suave ao toque da palma, a pele sedosa e fria no gelado ar noturno.

- Está com frio? – ele quis saber.

- Não estou, não. Tudo bem.

Ela parecia meio entorpecida. Parecia estar exatamente do jeito que ele se
sentiu. Tomado pela luxúria.

Nunca uma mulher tinha causado esse efeito nele, não que pudesse
recordar. Seria por causa do despertar daquelas fantasias adolescentes presas


há tanto tempo? Ou era simplesmente por causa dela?

Ele ficou meio incomodado, mas não o bastante para dar meia-volta e ir
embora. Dante somente conseguia pensar no corpo dela nu deitado sob o
dele. Melhor ainda se ela o deixasse fazer as coisas que mais adorava. Bater
nela. Levá-la ao orgasmo com aquele excruciante mistura de prazer e dor. No
entanto, como tocar no assunto com ela? Era muito mais fácil com as
mulheres que conhecia no Pleasure Dome. Lá, todo mundo sabia o que
esperar. Ninguém frequentava o maior e mais refinado clube de BDSM da
cidade sem nem ao menos ter uma ideia do que rola lá dentro. Sem ter os
mesmos tipos de desejo.

Mas no fim das contas, ele estava tão atraído por ela que a queria
independentemente do sexo redical. Agora, isso não era tão importante
quanto costumava ser. Tanto quanto deveria.

O que aquilo significava?

Ele não queria questionamentos em excesso. Simplesmente queria ela.
Descontrolado, feito um adolescente tomado pelos hormônios. Dante a
desejava como nunca quis outra mulher antes. Depois de quinze minutos de
conversa com ela. Depois de todo esses anos.

Eu preciso possuí-la.

Depois, pensaria no que estava acontecendo com ele.

- Kara. Vou fazer uma pergunta e não que se ofenda, mas eu serei curto e
grosso.

- Tudo bem...

Ele se inclinou, mantendo a voz baixa.

- Não acredito que topei com você hoje, depois de todo esse tempo.
Preciso dizer uma coisa, se estivéssemos no colegial, teria sido a realização de
um sonho. O Simples fato de beijá-la. Mas sou adulto agora. Você também. E
eu quero mais.

Os olhos dela se arregalaram, o hálito saia numa pequena lufada de ar
quente. Depois, ela sorriu novamente e ele percebeu que estava tudo bem.
Kara se voltou para ele, olhou para Dante através das longas pestanas
escuras. Era o olhar de uma sedutora, mas, mesmo assim, ainda havia algo
doce, quase inocente nela.

- Nós dois somos adultos, Dante. O que você quer?

Ele pegou a mão dela, entrelaçando os dedos. – Eu quero você. Queria
tanto que não consigo esperar pela conversa educada de praxe. E esta não é
uma cantada ensaiada. Eu não acredito nessas coisas, de verdade. Eu
apenas... Desejo você.

Kara prendeu o fôlego. A honestidade brutal parecia algum tipo de
afrodisíaco maluco. Aquela sinceridade e a forma como ele a encarava, com a
boca macia aberta e ainda úmida por beijá-la.


O cara sabia beijar. Sem dúvida. Ela desejava outro beijo. Queria que ele
não ficasse apenas no beijo. E ela queria já.

Kara deu de ombros, tentando manter a naturalidade, mesmo quando o
coração tremia de vontade. – Então me possua, Dante.

Ele sorriu para ela, tomado de calor e por um prazer cozinhando a fogo
brando.

Dante se levantou e a ajudou a ficar de pé. Ele ficava ainda mais alto
quando parava ao seu lado, fazendo seu 1,72m parecer menos. Ela adorava
aquilo, amava se sentir pequena e feminina ao lado dele. Inspirou
profundamente, inalando o aroma misterioso e almiscarado que vinha dele.
Um tremor a percorreu, um prazer estremecendo feito uma nota musical
longa e continua que percorria seu corpo.

Sim, eles eram adultos. E talvez fosse justamente disso que ela
precisasse. Talvez ele fosse a solução. Ela tinha ficado se remoendo tempo
demais.

Dante De Matteo, depois de todos esses anos. Uma fantasia prestes a se
realizar.




DOIS



UMA PARTE DELA NÃO CONSEGUIA ACREDITAR QUE ESTAVA
FAZENDO AQUILO, indo embora de uma festa acompanhada por um cara
com quem não encontrava havia anos. Um cara que não tinha conhecido
direito no colegial, com quem não tinha mais contato. Mais ela se sentia
segura com ele. Inexplicavelmente, talvez, exceto pelo fato de Lucie e Tyler
também o conhecerem, o que dava um pouco mais de segurança.

Kara tinha ido à festa com uma amiga que ela e Lucie a muita já
conheciam; se despediu delas rapidamente enquanto entrava no BMW prata
de Dante. O carro combinava com ele. Era elegante. Sofisticado. Veloz.

Ela se virou para ver o perfil de Dante enquanto ele cruzava a ponte,
voltando à cidade. Ele era muito europeu, com o cabelo escuro e pele morena,
queixo marcante e harmonioso. Dante daria um modelo perfeito para a GQ.
Quase havia beleza nele, tirando o fato de os traços serem tão angulosos. Tão
puramente masculino. No entanto, as covinhas suavizavam o visual. E aquela
boca...

Ela estremeceu, querendo se esticar, para tocar os lábios dele com as
pontas dos dedos. Simplesmente querendo tocá-lo.

Ah, mais ela o tocaria. E ele a tocaria...

Ela esfregou as mãos contra as coxas, alisando o tricô roxo do vestido
macio.

Calma.

- Está com frio? – ele perguntou, ligando o aquecimento do carro.

- Não, estou bem. – quente demais talvez. – O aquecimento do banco
funciona muito bem.

Ele se virou e sorriu para ela por um instante, antes de voltar a olhar
para a estrada. Meu Deus, até o jeito de ele reduzir a marcha enquanto se
aproximavam do lado de Seattle era sexy. O corpo inteiro dela gemia por
antecipação.

- Tudo bem se eu não falar muito? – Dante perguntou, trocando a
marcha novamente para acelerar. A rodovia estava praticamente deserta, o
céu trazia uma serie de camadas escuras de nuvens. Logo iria chover. – Não é
que eu não queira conversar com você.

- Sem problemas. Você precisa prestar atenção na estrada.

- Não é isso.

- Não? Então o que é?

Ele deu outra olhada nela, rapidamente, com os olhos escuros cintilando
sob a luz âmbar do painel de instrumentos. Um leve sorriso se deixava
entrever no canto da boca. – Sinceramente, sou péssimo na hora de bater
papo. E não quero falar nada tão estúpido que a faça mudar de ideia.


- Você não me parece o tipo de cara que teria problemas para bater papo.

- Geralmente, não. Mais preciso dizer uma coisa, Kara... – sua voz ficou
mais baixa, num ronco surdo de fumaça e desejo. – Se eu não te levar logo
para minha casa, se eu não tiver você nos próximos minutos, vou perder a
cabeça. Então vou ficar de boca fechada até te levar pra casa. Tirar sua roupa.
Te tocar com minhas mãos.

- Ah...

Ela não sabia o que responder. Estava atordoada pela necessidade que
tomava conta de seu corpo. De forma tão rápida, tão intensa. Ela estava
entorpecida com aquilo.

Tirar sua roupa. Tocar-te com a minha mão.

Ah, sim. Era exatamente o que desejava mais ela não podia dizer aquilo.
Ela estava molhada, ansiosas. Dentro de sua cabeça, uma frase se repetia sem
parar, até não conseguir pensar em outra coisa.

Preciso dele agora...

Ele observava a estrada com cuidado enquanto atravessavam a cidade.
Ambos estavam quietos quando ele saiu da interestadual 90 e seguiu rumo ao
norte. Ela não se importava com o fato de não conversarem. Não havia nada
de desconfortável nisso, como poderia acontecer com outra pessoa. Ela não
sabia por que, Kara somente sabia que o silencio e as expectativas estavam
misturadas, deixando-a com uma impressão de estarem dentro de um tipo de
bolha. Afastados do resto do mundo. E ela gostava.

A chuva começa enquanto cruzavam as ruas, passando por prédios
comerciais, restaurantes, bares. A iluminação publica brilhava na calçada
úmida, jogando luzes e sombras pelas janelas do carro. E o aquecedor do
banco, confortável a principio, quase adorável, parecia forte demais agora
que a necessidade crescia em seu corpo, aquecendo-a por inteiro.

Enfim, eles entraram no estacionamento de um dos novos prédios da
Avenida Elliot. Os imóveis daqui eram caros. Ela se recordava vagamente de
Dante ser um dos meninos mais ricos do colegial. Não que ele se gabasse,
mais Mercer Island era uma comunidade pequena, e todo mundo da escola
sabia alguma coisa dos outros.

Nada disso tinha importância alguma para ela. Kara nunca saiu com um
homem por causa do seu dinheiro, embora preferisse homens com um pouco
de ambição. Entretanto, agora ela só queria saber de estacionar o diabo do
carro e entrar. Ir para um lugar fechado. Com ele.

Quando foi a ultima vez que ela sentiu essa urgência com um homem,
mesmo sem ter sido beijada ou tocada por quase uma hora? Em
circunstâncias normais, o limiar agudo do desejo já teria se esgotado a essa
altura. Mais não hoje. Não com Dante.

Ele entrou nos estacionamento, desligou o motor e, a seguir, olhou para


ela. Uma olhada rápida, com aquele sorriso breve e devastador. Num
segundo ele estava fora do carro, abrindo a porta para ela, agarrando-a em
seus braços.

Ela podia sentir seu perfume novamente, aquele adorável e misterioso
aroma de carne masculina limpa, misturado com um pouco de escapamento,
de óleo de motor e dos pneus da garagem, que apenas o deixavam mais
essencialmente masculino.

Ele era tão alto, e a abraçava tão perto, que ela tinha de inclinar a cabeça
para trás para olhá-lo nos olhos. Os deles também estavam carregados com a
mesma carência propulsora que Kara sentia no corpo. Formigando. Dando
choques.

Se ele pelo menos a beijasse...

- Vamos te levar lá pra cima.

O braço dele não saiu de sua cintura enquanto a levava ao elevador, e
eles subiram um andar depois do outro. Ele olhava para o rosto dela o tempo
todo, os olhos de um castanho- dourado chamuscavam os dela.
Hipnotizando.

Ele se inclinou e murmurou ao ouvido, encostando o rosto em seus
cabelos. – Estamos quase lá. Você não faz ideia do quanto eu te desejo, Kara.
Nem me atrevo a te beijar, ainda. Se eu te beijar, vai rolar aqui mesmo no
elevador.

- Eu não me importaria – ela respondeu baixinho, sorrindo, deslumbrada
por ele.

Ele riu, com um som grave e rouco. – Agente pode deixar isso pra mais
tarde, quando os vizinhos estiverem todos dormindo. Mas eu adorei você não
ser contra a ideia de sexo no elevador. Em algum lugar onde possam ver
agente.

- Parece... excitante.

Qualquer coisa com o Dante parecia excitante. Tudo.

As portas se abriram, e ela estava quase sem fôlego enquanto caminhava
pelo corredor, ele abria a porta e a deixava entrar.

O apartamento era um desses lofts espaçosos, com janelas indo do chão
ao teto com vista para a cidade. A casa estava escura, mais havia luz o
suficiente vindo da rua para iluminar a silhueta dos moveis. Porem, Kara não
tinha tempo para olhar, não estava interessada. Dante pôs as mãos sobre ela e
a empurrou de costa contra a porta da frente. Ela só conseguia pensar numa
coisa: Sim. Agora. E ele inclinou a cabeça para beijá-la.

Sua boca era a um só tempo áspera e macia. As mãos de Kara tocaram
seus ombros, a cabeça estava a mil. Ela estava debilitada pelo desejo, as
pernas começaram a tremer imediatamente. Kara esperou ele se afastar o
bastante para tirarem os casacos e jogá-los no chão; as bocas não se


separaram.

Ele continuou a beijá-la, a beijá-la, e ela escorou as mãos na porta atrás
dela enquanto ele a apertava. O corpo dele era feito de músculos rígidos,
coxas fortes, o peito, os ombros largos. E aquele pau fazendo pressão em sua
barriga. Duro, grande e, ah...

Ela estava ofegando quando ele liberou sua boca e começou a despi-la.
Em segundos, assim pareceu, ela estava só de sutiã e calcinha, sem nem saber
como aquilo aconteceu exatamente, com o vestido e as botas fazendo uma
pilha no chão.

- Não saia daí – ele falou num baixo tom de comando, e algo dentro dela
reagiu, reverberando com aquela voz.

Ele se afastou e tirou a roupa, observando-a. ela mal conseguia distinguir
o brilho escuro de seus olhos, mais o sentia feito brasa, aquecendo a pele,
queimando-a.

- Dante...

- Shh. Eu sei do que você precisa Kara. Não se mexa. Deixe-me te olhar.
Tocar-te. Eu farei o resto.

Ela sentiu o corpo inteiro se soltando. Havia algo nas coisas ditas a ela,
na forma como proferia as palavras, que a deixavam... entregue. Era
esquisito. Normalmente, ela era agressiva em termos sexuais. Só que, com ele,
não sentia nenhuma necessidade de ser assim. Nadica de nada. Como se
pudesse obedecer facilmente as suas ordens. Não se mexer. Deixar tudo com
ele.

Ela não compreendia. Não era preciso.

O ar era fresco na pele quase nua, a madeira da porta dura e fria nas
costas. Mais o contraste só aumentava o calor irradiado pela ponta do dedo
dele enquanto traçava uma longa e lenta linha atravessando a barriga dela.
Ela estremeceu, tentando não se mexer. Ele chegou a parte de cima da
calcinha, e ela suspirou baixinho.

- Gosta quando te toco Kara?

- Gosto – ela sussurrou.

- Kara. Fale alto para eu te escutar.

- Sim – ela respondeu, com a voz escoando no apartamento de pé- direito
alto, soando alto demais para seus ouvidos.

Ela estava derretendo por dentro. Uma sensação estranha ligada à forma
como ele a tratava. Como se Dante estivesse completamente no comando.

E estava.

Ela sabia. E alguma coisa dentro dela adorava a sensação.

Não pense nisso. Não questione.

A mão dele subiu mais alto, até o dedo se aninhar no estreito espaço
entre seus seios. Os mamilos enrijeceram.


- Não aguento ficar sem te tocar. Tocar-te de verdade. Mais é bom
demais me torturar desse jeito. – ele fez uma pausa. – Está sentindo Kara? O
quase insuportável prazer de esperar? – outra pausa. Ela não conseguia
recuperar o fôlego para responder. – Não precisa me dizer. Eu sinto na tensão
de seu corpo. No jeito como você ficou em silêncio. Sinto no calor da sua pele.

Um desejo intenso se formou entre suas coxas. Sim, quase insuportável.

- Dante, por favor...

- Por favor, o que? – ele perguntou num tom tão baixo que ela mal ouvia.

- Por favor, me toque agora.

Ele deu uma risadinha, mais não havia nada condescendente nele. Dante
estava apenas satisfeito. E ela se excitou ao saber que ele assim se encontrava.

O que estava acontecendo com ela?

- Você pede tão delicadamente – ele falou. – Tão docemente. Mas seu
corpo será ainda mais doce sob as minhas mãos. A minha boca. E você está
bem aqui, simplesmente a minha espera...

Um suspiro, depois dois, enquanto ambos permaneciam perfeitamente
estáticos. Ela somente conseguia ouvir a respiração dos dois. Num instante,
ele a tocava. Uma das mãos pegou o cabelo, agarrando as longas madeixas
diretamente no couro cabeludo. Os lábios tocaram o pescoço dela, quentes e
macios, depois úmidos quando a língua apareceu, lambendo a pele.

- Ah, Dante...

Ele chegou mais perto, pressionando o corpo no dela, e através do macio
algodão da cueca boxer, e a ereção era sólida, pressionando a carne nela.

Meu Deus senti-lo dentro dela...

Porém, naquele exato momento, ela estava quase distraída demais com o
que ele fazia: chupava seu pescoço, lambendo, com os dentes afundando na
medida certa. As mãos dele não ficavam quietas nos flancos, nas coxas,
depois soltando o sutiã. Ele encheu as mãos com sua carne e ela se projetou
sobre ele, os mamilos enrijecidos contra as palmas.

- Nossa – ele murmurou, tirando a boca do pescoço dela, fazendo uma
pausa para olhar seus seios durante um bom tempo. A seguir, ele abaixou a
cabeça e abocanhou um mamilo.

- Ai, meu Deus, Dante... Isso!

As mãos de Kara tocaram os cabelos dele, tão macios e sedosos. E não o
soltou, manteve-o agarrada a ela enquanto a língua passeava pela carne
ansiosa. Dante lambeu sem parar aquele botãozinho duro, fazendo o desejo
fluir feito luz pelo seu corpo. O sexo dela estava úmido e pulsando. Carente.

- Vem, Dante.

Ela não sabia ao certo o que pedia. Apenas mais.

- Shh. Quieta, Kara.

A ordem a deixou mole, com os músculos relaxados e quentes. Sim,


simplesmente para entregar tudo a ele. Deixá-lo no comando...

Ele a empurrou contra a porta usando as mãos: uma nos ombros, outra
na barriga. Depois, ele mexeu as mãos para tirar a calcinha.

- Você é tão linda – ele falou baixinho. – Tão, tão linda.

Ele se ajoelhou e, mais uma vez, pressionado-a com força contra a porta
com uma das mãos no quadril, ele empregou a outra para abrir suas coxas.

Ele sentia seu respirar quente na parte de cima das coxas. E enquanto ele
se inclinava, o sexo dela se contraiu em expectativa.

- Quer sentir minha boca em você, Kara?

- Sim, Dante... Ah...

A língua saiu da boca, dando uma lambida breve sobre o botão rígido do
clitóris.

- Ai, meu Deus...

Ele a segurou com mais força contra a porta. Inclinou-se e lambeu. Uma
lambida longa e lenta por toda a extensão daquela abertura molhada.

O prazer gemia, uma corrente penetrante a fazia arquear o corpo.
Subindo do sexo para a barriga e seios. Ele lambeu novamente e, uma vez
mais, outra descarga de outro prazer.

- Você tem gosto de mel, Kara. Eu juro – ele murmurou contra carne
desejosa.

Ele lambeu de novo. E novamente. A língua era macia, sedosa e quente.
O movimento a queimava por dentro. De prazer. Com uma necessidade que
ia crescendo, subindo mais e mais. A língua dele se mexia mais rápida,
deslizando sobre os lábios de seu sexo, pelo clitóris rijo. Mais ela precisava de
mais. E sem Kara falar nada, ele pareceu perceber.

Afastando-se, ele lhe disse: - Abre as pernas para mim, agora. Isso, desse
jeito. Perfeito. Nossa você está tão molhada... Tão perfeita.

Ele usou os dedos para abrir os lábios da boceta e até a forte pressão dos
dedos na carne era deliciosa.

Ficou melhor ainda quando ele inclinou a cabeça novamente, abocanhou
o clitóris e o chupou.

- Ah!

Ela pensou que ele faria uma pausa, para provocá-la. Em vez disso,
Dante se entregou ao trabalho, chupando, chupando o clitóris. A língua
deslizando pelo botão duro, para frente e para trás. Ela iria gozar a qualquer
momento.

Quando ele enfiou dois dedos dentro dela, a sensação foi chocante.
Intensa. Ela havia segurado o clímax, desejando apenas sentir tudo: a boca, os
dedos dentro dela, começando agora a bombear, feito um pequeno pau.

Ela respirou profundamente, tentando não gozar, mais estava tomada
pela sensação. Ele meteu os dedos mais fundo, sugou-a, bebeu-a. e o clímax a


fez tremer por dentro como as janelas de um trem de carga quando escutam
um trovão. Prazer e prazer. Sensação após sensação. Tudo aquilo no fundo
do sexo, no fundo do ventre. Sentiu as pernas fracas demais para segurá-la,
mais a mão de Dante continuava em seu quadril, forçado-a contra a porta.

Era a tempestade repentina que sacudia a porta? Ou era ela? Ainda
estremecendo pelo gozo em pequenas espirais fugidias pelo corpo.

- Ai, meu Deus – ela sussurrou, com a cabeça caindo contra a porta.

- De novo, ele ordenou.

- Quê? Eu não consigo. Vamos, Dante. Leve-me para a cama.

- Ainda não. Quero fazer você gozar de novo. Aqui.

- Ah...

Ela quis protestar, mais a boca novamente a tocava, uma mão acariciava
o seio, envolvendo-o por completo e amassando com carinho. E a boca... a
boca esta mais suave desta vez, adivinhando que ela estava bastante sensível
após o clímax. Deu uma lambida gentil no clitóris e se abaixou para penetrá-
la. Ela abriu mais as coxas, apoiada nos ombros dele para se firmar. Kara
tinha consciência da forma fantástica como a pele dele era macia contra suas
mãos. Ela queria tocá-lo, no peito, no pau. Mas depois. Depois que ele
terminasse aquilo. Depois de ele a fazer gozar novamente. O que se daria em
breve.

A língua se mexia dentro dela, entrando e saindo. A sensação era
incrível. O prazer, inegável. Depois, Dante fez algo que ela nunca tinha
experimentado. Ele voltou a enfiar os dedos dentro dela, levando-a até o
ponto G. ela arqueou as cadeiras e gemeu. A seguir, deslizou a língua
exatamente contra a fenda, assim ficava difícil saber onde os dedos
terminavam e começavam a língua. Ele remexia os dois em movimentos
ondulantes suaves. O quadril arqueava seguindo seu ritmo. E o prazer brotou
novamente, de forma rápida e diferente.

Quando ela gozou desta vez, não foi tão agudo quanto antes, mais veio
de maneira mais profunda, estrondando por dentro, com o clitóris pulsando
no ritmo. O prazer parecia um núcleo solido em seu corpo, espesso e doce
feito mel se espalhando pelo corpo. Tomando contra dela.

- Ai... Ai...

Ela só conseguia gemer, movendo o quadril contra seu dedo, sua boca.
Ela estava entorpecida. As pernas bambearam, e ela se sentiu caindo.

- Eu estou te segurando.

De alguma maneira, ele a segurou e a colocou no chão, deitada sobre
seus joelhos. Seus braços a envolviam com firmeza. Ela ainda se arrepiava
com o orgasmo, como se ele tivesse deixado algo para trás. Uma fagulha de
luz viajando por dentro dela, incendiando-a pelo seu interior.

Ela olhou para ele no cômodo praticamente às escuras. O olhar dele era


quente, ardendo em meio à luz difusa a invadir as janelas. A pele era quente
ao toque, o corpo, músculos sólidos. Ela somente conseguia descansar os
braços, tentando recuperar o fôlego.

- Deus do céu, menina. – as palavras saíram num sopro arfante. Cheio de
desejo. Baixo e fumegando. – Foi lindo. Eu preciso repetir a dose. Comer
você. Fazer-te gozar. Sem parar. Sim... eu preciso fazer você gozar de novo.

Gemer era a única coisa que ela conseguia fazer.

Ele a segurou enquanto se levantava, levantando-a consigo. E antes que
Kara pudesse reclamar dizendo que era capaz de andar, Dante a carregava
pelo cômodo. Ela conseguia escutar os pés se arrastando suaves sobre o chão
de madeira polida. Ela vislumbrou novamente a paisagem arrebatadora da
janela enquanto era carregada por trás da cortina e deitada numa cama
grande.

- Espera ai.

Ele se inclinou sobre a cama e puxou o cobertor, colocou-a sobre os
lençóis frescos e depois foi se juntar a ela, deitando o corpo totalmente nu
sobre o de Kara.

- Eu preciso entrar em você, Kara. Quero foder você com força. Você
aguenta?

- Sim.

- Fala o que você quer.

Meu Deus, o corpo dele parecia seda ardente contra o dela. A pele tão
macia. O pau tão duro, pousado entre as coxas dela.

- Fala Kara – ele ordenou.

- Sim, eu aguento. Eu quero com força. Eu quero com força.

- Uma foda com força? Ou mais?

- Mais? – Porque o fôlego se prendeu na garganta quando ele fez aquela
pergunta? Ele estava pensando mesmo aquilo que ela pensava? – Dante?

Ele beijou a nuca, com lábios firmes e suaves. Deu uma mordidela, e a
dor se mostrou apenas u prazer agudo. Ele tracejou os lábios gentilmente
com as pontas dos dedos e Kara podia sentir seu próprio aroma de oceano.
Esse homem era feito de contradições. Ela adorava aquilo. Amava ser tocada
por inteiro ao mesmo tempo. Uma sobrecarga de sensação.

- Curto uma sacanagem meio bruta – ele lhe disse, beijando mais uma
vez a nuca e, a seguir, a curva do queixo.

- Ah...

- Você ficou chocada?

- Não. Pouca coisa me choca.

- Gosta da ideia, Kara? Pois eu acho que gosta. Quando eu falo isso, seu
corpo inteiro se soltou.

- Meu Deus, Dante. Eu... Sim. Eu gosto. É o que desejo. Justamente o que


desejo.

Foi à vez de ele gemer. – Ah, você é perfeita – Dante falou. Então, após
mais alguns instantes esbaforidos, ele repetiu: - Eu gosto quando é bruto.
Gosto de meter com vontade. De morder. Beliscar os mamilos.

- Isso...

Nossa, ele estava falando aquelas coisas? Suas fantasias mais selvagens
se concretizando. As que fizeram o ex-namorado, Jake, correr dela, acusando-
a de louca. Que esquisitice. Mais ela não desejava pensar nele agora.

Dante falou baixinho: - Meu maior desejo é cobrir você de palmadas.

- Ah!

- Agora, sim, eu choquei você.

- Não. Nada disso.

- O que foi?

- Isso é... o que sempre sonhei. Ansiei.

Ele sentiu um tremor atravessá-lo. Ocorreu uma longa pausa antes de ele
voltar a falar: - Então, vai ser muito bom. Eu prometo Kara.

O corpo inteiro dela tremia. Esperando. Ela estava completamente
encharcada. Desejando. Deslumbrada. E nem sequer acontecera ainda.

Mas estava prestes a acontecer.

Dante a observava de perto, mais tudo o que via e sentia nela era puro
desejo. O corpo de Kara queimava de febre sobre o dele. Os seios, a curva
rasa da barriga. Estava quente e úmido o pequeno sexo dela. Pronto para ele.
Dante nunca esteve tão duro em toda sua vida.

Ele desejava vê-la gozando novamente. Sem parar. Nada o excitava mais
do que a visão de uma mulher gozando. Sentir o coração pulsar dentro dela.
Ouvindo seus gemidos e gritos de prazer. E nunca com mais intensidade do
que com aquela mulher.

Kara.

Talvez por obra daquela paixão escolar. Ele não sabia. Agora, pensar era
difícil demais, com o corpo dela ali do seu lado. Não, ele precisava tocá-la.
Provar sua pele. Deslizar dentro dela e meter até ela gritar...

Ele passou a mão entre o corpo dos dois e a enfiou em seu sexo, fazendo-
a ofegar. Ela estava tão molhada. Ele mal conseguia resistir. O aroma de seu
gozo...

Novamente.

Sim, ele a faria gozar novamente.

Dante escorregou pelo corpo dela, abriu as doces coxas com as mãos. E
ela permitiu, não tentou resistir e nem controlar nada. Perfeito.

Ele parou diante do sexo aberto de Kara, olhando para ela sobre a luz
fraca nevoenta da lua, prata perfurando a camada de nuvens, o brilho turvo
da iluminação da rua.


Ela estava praticamente toda depilada. Somente uma tira estreita de
pelos, bem do jeitinho que ele gostava. Quase pelada. Tentadora. E quando
usou os dedos para abrir aqueles lábios rosados e aveludados, viu a brilhante
carne interna.

- Adoro o formato de uma mulher – ele disse, com a voz brotando de um
fôlego áspero. – É lindo demais.

Ele se inclinou e passou a língua da abertura, adorando o tremor da
reação. Ele adorava chupar uma mulher. Amava aquele sabor esfumaçado de
desejo. Ele a lambeu novamente, com suavidade. Sabia que Kara estaria
sensível, um tanto estimulada em excesso. Mais ele poderia fazê-la gozar
novamente, se fizesse a coisa certa.

Ele a faria gozar de novo.

Dante pressionou a língua sobre o grelo, circulando em giros lentos.
Enquanto assim procedia, as coxas dela se retesavam, elevando o quadril ao
encontro da boca que a buscava. Ele deixou a língua mergulhar fundo nela,
depois sair e correr pelo botãozinho rígido do clitóris. E de novo, e de novo.

Ele ouviu a respiração arquejante dela, sentiu as mãos agarrarem seu
cabelo. E quando mergulhou dois dedos dentro dela, ela gozou, gritando. O
corpo tremia. Ele adorava o gosto dela na língua, quente, doce e picante.

Enfim, ela parou de apertar seus dedos, mais continuava com aquela
maciez incrível por dentro. Inacreditavelmente quente.

Se ele não ficasse dentro dela nos próximos segundos, iria perder a
cabeça.

Ele sentou, esticou-se sobre o corpo flácido e ofegante dela para pegar
uma camisinha na caixa laqueada em cima da mesa de cabeceira. Mantendo-
se de joelhos, ele se vestiu. Ela o observava com os olhos indo do rosto para
as mãos e o pênis. Kara lambeu os lábios. Eles estavam opacos, inchados,
embora ele quase não a tivesse beijado. Não tanto quanto desejava.

Quando foi que ele teve essa necessidade violenta de simplesmente
beijar uma mulher?

É só comê-la. Estar dentro dela. O resto se resolve sozinho.

E recomponha-se. Mantendo a garota sobre controle. Sob seu comando.

Ele agarrou suas coxas, com os dedos afundando na carne.

- Pronta para mim Kara?

- Sim, estou.

- O que você quer?

Ele já tinha perguntado isso a outras mulheres. Porque agora parecia
uma espécie de teste?

- Quero você. Quero apenas... mergulha dentro de mim, me come com
força. Faz... essas coisas que me falou. Me morder, me beliscar...

- Bater?


Ela ficou em silencio por um instante, e ele esperou a resposta como se
ambos estivessem suspensos no tempo.

Era importante demais, caramba.

Finalmente, ela suspirou: - Isso, Dante. Eu quero. Quero que você me
bata. Nunca fiz isso antes, mais é algo que sempre desejei. Sempre.

Ele deu um gemido.

Essa garota seria perfeita pra cacete. Ele sentia suas tendências à
submissão. Dante costumava acertar, mais com Kara ele estava um tanto
inseguro. Desconcertado com a força de sua atração por ela. O sexo teria sido
bom mesmo sem o resto das coisas. Da sacanagem. Da troca de poder.

Porém, agora ele sabia. Ela queria. E seria perfeito pra cacete. Ela seria
perfeita.




TRÊS



KARA ESTAVA EXAUSTA. FRACA. MAS DE ALGUMA FORMA
QUERIA MAIS. Principalmente se ele fosse bater nela... Ah, sim, aquilo a
acendeu por dentro deito uma noite de réveillon, toda fogo brilhante e
cintilando luz. Apenas com a ideia.

Ela gemia suavemente enquanto Dante a virava com facilidade, como se
fosse uma boneca em suas mãos grandes. Ele botou um travesseiro debaixo
da barriga dela, deitando-a em cima dele.

- Abre as pernas para mim, Kara. Assim, desse jeito.

Ele a ajudou a separar as coxas. Ela já ansiava por ele, mesmo tendo
gozado várias vezes. Tantas vezes que os orgasmos se fundiam. Um
momento interminável de sensações. Intenso. Entorpecendo-a.

Mas agora aconteceria algo completamente diferente.

Finalmente.

As mãos acariciaram a bunda, no meio das coxas, esfregando-se contra o
sexo. Ela percebeu não saber se ele a espancaria ou comeria primeiro,
deixando tudo ainda mais excitante. Além de estar nervosa, mas de um jeito
bom. Ela não conseguia pensar direito.

- Kara, me escuta. Respire. Devagar e profundamente. Deixe o ar sair.
Bom. De novo.

A voz era suave, ajudando a mente a se acalmar. Devagar e
profundamente, como se ela pudesse cair naquele som. E as mãos dele se
moviam sobre o corpo dela, aquecendo sua pele, seu sexo.

Agora, ele massageava a carne firme da bunda e das coxas, com as mãos
fortes, enquanto verbalizava ordens.

- Quero que fique paradinha para mim. Não importa o que eu faça - ele
afirmou.
Havia um quê de ameaça nessa frase? Mas era adorável. Emocionante. Ela
inalou profundamente o ar outra vez e soltou. Tremia de desejo.

- Vou bater em você agora – ele disse baixinho. E antes mesmo que
pudesse entender, a mão desceu estalando forte na carne.

- Ah!

- Eu a surpreendi, Kara? É justamente o que desejo. Pra você ficar se
perguntando. Na expectativa. E levar.

Ele bateu novamente nela, uma pequena palmada que ecoou no frio ar
parado. E embora existisse um pouquinho de dor, o prazer era ainda mais
forte, um minúsculo arco elétrico estremecendo na pele.

- Respire, Kara. Continue respirando.

Ela fez como pedido, sem questionar. Nada dentro dela desejava
questioná-lo, desafiá-lo.


Outro tapa, mais forte desta vez. Porém, ela simplesmente respirou,
esperando a ferroada se transformar em prazer.

- Lindo – Dante murmurou, golpeando outra vez a pele: na bunda, nas
coxas, mergulhando fundo entre elas. - Você tá tão molhada... Menina linda.

Ele enfiou dois dedos dentro tão inesperadamente que ela saltou.

- Ah, paradinha, Kara. Boa menina.

Ela mal conseguia aguentar. O prazer era muito agudo. Muito novo. Dor
e prazer misturando-se em seu corpo de um jeito com o qual ela somente
fantasiara. E alguma coisa estava acontecendo dentro da cabeça. Algo no qual
não queria pensar. Um soltar-se. Uma estranha forma de confiança.

As mãos dele eram suaves na pele dela, deslizando, se mexendo. Ela se
acalava enquanto ele a acariciava. Quando ele se inclinou e deu um beijo na
parte um pouco antes da bunda, ela se arrepiou toda. E estremeceu.

- Você reage tão bem – Dante falou, a voz mais parecendo um sussurro. -
É inacreditável para quem nunca fez isso antes.

A mão dele desceu com tanta força, tão inesperadamente, que ela saltou
de novo. Kara não conseguia se segurar.

- Ah!

Ele deu uma risadinha. Para ela, isso indicava que Dante estava satisfeito
com ela, e a ideia a excitou.

- Como está se sentindo, Kara? Bem?

- Sim. Bem. Eu...quero mais.

- Eu também. Eu quero você. Não se mexa.

As mãos dele tocaram suas coxas, abrindo-a, depois, ele ficou atrás dela,
com os quadris pressioná-la, o pau duro posicionado na sua entrada. Ela
deveria ter se voltado contra ele, ela o queria, mas se sentia imobilizada. Pelo
desejo de permanecer imóvel. Pelo desejo dela por ele.

Ele mexeu o quadril e o pau escorregou para dentro. Somente a cabeça,
mas o prazer a percorreu como um choque.

- Ai, que gostoso...

- Shh – ele falou

Ele ficou parado durante uma respiração, duas. Então, meteu fundo nela.
Tudo de uma vez, resoluto. Duro e potente, até o final.

- Ai, meu Deus, Dante!

- Que delícia! Você é tão gostosa, menina bonita.

Ambos estavam arquejando. Então, ele começou a se mexer. Uma
estocada forte após a outra, o pau grosso e desejado dentro dela.
Machucando um pouco, ele era tão grande, mas gerando um prazer ainda
mias profundo. Ele mantinha a mão sobre as costas dela, pressionando-a para
baixo. Ela adorava aquilo, adorava tudo.

Ele investiu com mais força, e ela estava indefesa debaixo dele. Mole,


largada, mesmo enquanto suas entranhas se revolviam, comprimidas com
desejo, levando-a novamente àquele limiar.

Um tapa forte na bunda, e ela quase ultrapassou esse limite.

- Ai, Dante!

Ele começou a bater nela de verdade. Uma sequencia de pequenos
golpes no mesmo ritmo dos quadris. Ele estava fodendo, espancando. Ela iria
explodir.

- Dante... por favor...

- Por favor o quê? - ele disse, ofegante, num tom áspero.

- Por favor... não pare.

- Ah, eu não vou parar.

Ele metia nela, o pau era um ponto grave de prazer entrando no corpo
de Kara. Os tapas queimavam a pele. Mas ela adorava. Ela precisava.

Mais um estocada, uma porrada e ela caiu, trôpega, naquele lugar
sombrio. Luzes piscavam atrás de seus olhos. O prazer rosnava pelo
organismo. E, enquanto o sexo se contorcia numa agonia deliciosa, Dante se
retesava atrás dela.

- Ai, meu Deus, Kara...estou gozando!

Ele bombava nela. A mão pressionava suas costas, e Kara adorava ouvir
seus gemidos e fritos. Sabendo que ele gozava dentro dela.

Quando terminou, ele caiu sobre ela. A respiração era quente na nuca de
Kara. Ela estava meio entorpecida. Mal conseguia pensar. Incapaz de se
mexer.

Depois de vários minutos, ele se mexeu, caindo de lado e a trazendo
consigo. Ela aninhou a cabeça no peito dele. O coração dele martelava em sua
bochecha.

Aquilo havia acontecido mesmo?

Havia sido, de longe, a melhor transa de sua vida. Em parte por causa da
realização de suas fantasia: fazer sexo com uma paixão juvenil. Os tapas.
Porém, em parte, fora simplesmente ele.

Dante.

Não vá ficar piegas.

Não, ela não faria isso. Não por um bom tempo, se é que voltaria a
acontecer. Kara tinha pagado caro demais por causa disso no passado. Com
sua noção de si mesma. Ela não estava disposta a se entregar a nenhum
homem. Já seu corpo... Bem, essa era outra história. Ela havia adorado essa
parte. Mais do que teria imaginado.

O que aquilo dizia a seu respeito? Ela estava cansada demais,
completamente exausta, para pensar. Raciocina no quanto havia confiado em
Dante, dando-lhe permissão para fazer tais coisas com ela. Kara não entendia,
mas agora somente desejava curtir estar ali, com o quente e sólido corpo de


Dante próximo ao dela. Com o perfume dele na sua cabeça. O aroma do sexo.

Haveria tempo de sobra para questionar tudo depois. Amanhã, se ele a
deixasse passar a noite ali. Dante não parecia inclinado a levá-la para casa no
momento. Por ela, tudo bem. Ela estava feliz ali.

Feliz... pela primeira vez em muito tempo.

Quando ela abriu os olhos foi porque o sol brilhava, pálido e dourado,
por entre as pálpebras fechadas. Ela as abriu lentamente, deixando que se
ajustassem à luz do dia.

Estava um tanto nublado lá fora, o céu de Seattle carregado de nuvens e
sol matinal rompendo-as aqui e ali. Nada incomum para um mês de janeiro
nesta cidade. Incomum era a maneira com ela se sentia.

Kara estava um tanto dolorida, por dentro e por fora, mas era gostoso. E
o corpo de Dante próximo ao dela era melhor ainda. Também era estranho o
fato de ela ter dormido a noite inteira. Um sono profundo, não interrompido
por sonhos. Ela não dormia bem. Geralmente era pior quando tentava dormir
com um namorado. Kara ficava deitada acordada durante horas, levantava
meia dúzia de vezes à noite, muito consciente o tempo todo do som de outra
pessoa respirando. Que estranho haver dormido pesadamente com Dante.

Dante.

Ela se virou de lado para olhá-lo e o encontrou fazendo o mesmo.?

O coração dela disparou.

Havia ainda mais dourado no castanho de seus olhos à luz do dia
enquanto ele encarava. Minúsculas pintas douradas cercando os centro
escuros, ganhando um tom castanho vivo, feito uísque, nas pontas das
pupilas. E as pestanas eram tão escuras, tão grossas.

- Oi. - A voz dele estava áspera de sono.

- Oi.

Ela sorriu. Kara não conseguiu evitar. Nem sequer cogitaria se tratar de
uma daquelas estranhas manhãs seguintes. Contudo, ele sorriu de volta. O
corpo dela estremeceu. Com necessidade e um repentino anseio quente que
nada tinha a ver com sexo.

Será?

Ele se apoiou num braço, olhando para ela. Durante um instante, ela
pensou se estava descabelada, se a fronha tinha deixado marcas na cara.
Porém, estava fascinada demais por ele, pelas covinhas marcando as
bochechas, pela barba rala escura sombreando o queixo, deixando-o ainda
mais belo e masculino do que nunca. Era difícil pensar em outra coisa. Era
difícil sentir vergonha sob seu olhar.

Aqueles olhos, castanho-dourados estavam cheios de desejo. E quando
ela percebeu, ele a puxou para perto com um pequeno gemido, a ereção
pressionando os quadris.


Ela ficou molhada num instante.

- Kara... - Ele beijou a bochecha, a boca. - Espero que goste de sexo
matinal.

Ela riu, virou de lado e pressionou os quadris nos dele.

- Entendo sua resposta como um sim, mas, diga-me uma coisa, está
dolorida?

- vai ser difícil sentar direito durante um dia ou dois, mas tudo bem. Eu
gosto. Eu sinto... - Ela fez uma pausa, tentando escolher o que falar. - Como se
o dolorido fosse... um distintivo de coragem. Marcado por você.

- Ah... Eu não tinha pensado nisso.

Ela se contorceu, tentando olhar sobre o ombro, precisando ver.

- Isso a preocupa? Preciso tomar mais cuidado com você?

- Não. Não, tudo bem.

Como ela conseguiria lhe dizer que esperava ser marcada? Que adorava
essa ideia? Que adorava até mesmo a palavra?

Ele se esticou e a virou de bruços, passando a mão sobre a bunda nua. -
Existem alguma contusões pequenas. - Ele esfregou novamente a mão dela.
Sua voz era grave, baixa. - Eu sinto você tremer quando a toco, Kara. Quando
encontro nas marcas que deixei na sua pele.

- Eu gosto. Não sei por quê.

- Acho que eu sei.

Ele a rolou, até ficarem novamente cara a cara. A boca era suave e
suculenta. Havia desejo nela. E algo mais. Algo que ela não conseguia
identificar, mas pulsava em seu corpo.

- Kara, eu devia ter te contado, provavelmente deveria der dito na noite
passada, que não curto apenas dar uns tapas.

- Como assim?

- Sou um dominador. Um dominador sexual. É uma coisa que pratico.
Faz anos. Não quis que se assustasse e fugisse, mas eu deveria ter aberto o
jogo quando vi que você queria apanhar. Pra mim não se resume a isso, não
se trata apenas de um joguinho para apimentar as coisas no quarto. Eu
frequento clubes. Vou ao Pleasure Dome, aqui em Seattle, em particular.
Tenho amigos lá. Uma comunidade. Foi onde conheci meu melhor amigo,
Alec, anos atrás.

Eles estavam mesmo deitados na cama rendo aquela conversa? Ela
estava fascinada.

- Isso não me assusta, se era esse o seu temor.

- Que bom. Fico feliz em ouvir. Tem alguma pergunta? Sobre o que eu
faço?

Por onde começar? Ela andou lendo algumas coisas. Muitas, na verdade.
Todavia, ela não entendia direito como a ficção excitante que lia se traduzia


na vida real.

- Não sei muito bem o que significa ser um dominador sexual. Quem é o
tipo de frequentador desses clubes. Mas pela história que li, o significado é
um pouquinho diferente pra cada pessoa.

- É verdade.

- O que significa pra você, Dante?

- Pra mim significa que sou honesto comigo mesmo em relação a quais
são os meus desejos. Desejos dos quais tenho consciência desde a
adolescência e, de formas estranhas, até antes. Tinha uma pequena emoção
em brincar de pirata quando criança. Amarrar alguém numa árvore. Mandar
outros meninos andarem na prancha ou qualquer outra brincadeira. Existem
muitas pessoas interessadas na cena da escravidão sexual e do
sadomasoquismo com histórico similares. Não significa necessariamente que
sexualizamos essas coisas quando crianças; geralmente isso acontece depois.
Porém, como eu disse, a emoção sempre esteve presente.

- Acho que tive alguma dessas experiências bem cedo. Entendo o que
quer dizer.

Era uma revelação para ela, explicava tanta coisa a forma pela qual
percebia determinados aspectos da vida.

- Muita gente deixa terminar aí – ele disse, dando de ombros. - Talvez
tenham uma vida de fantasia ativa, mas para mim, é algo que busco
continuamente, embora não exija.

- mas você prefere. Fazer sexo com alguém... Não sei bem como chamar.

- Jogo de poder. Trocar de poder. Porque é uma troca. Não se resume
simplesmente em eu ser um dominante, querer te bater ou qualquer que seja
o desejo em particular. O mundo BDSM não é um ato solitário. As
necessidades do bottom, o seu poder, entram em cena na mesma medida que
as minhas. Mais até, na verdade. É dai que vem a emoção. O verdadeiro
poder.

- Já ouvi esse termo, .bottom.. Submisso. É isso que eu sou, então?
Porque gosto dos...tapas?

- Você não precisa se rotular, se não desejar. Certamente, você tem
tendências submissas. Notei isso de cara. Desde o momento em que a toquei
pela primeira vez, mas ainda é preciso saber até onde isso vai. Se decidir
seguir nesse caminho.

Ela concordou. A cabeça estava girando. De certa forma, era um alivio
ter um nome para colocar nos desejos. Uma forma de identificá-lo. Uma
maneira pela qual as outras pessoas identificam desejos semelhantes. Ela se
sentiu menos solitária.

- Obrigada, Dante.

- Pelo quê?


- Por... me deixar explora isso. Por fazer ser tão gostoso pra mim.

Ele sorriu, um sorriso largo cheiro de covinhas e charme de menino.
Estranho, como ele podia ser tão completamente masculino e dominante sem
deixar de transparecer aquela meninice. Fazia parte de seu charme.
Devastador.

- Dante...

- Sim?

- Gostaria de repetir a dose.

- Ah, eu também. E já.

Ele correu a mão pelo cabelo dela, os dedos agarrando com firmeza,
puxando com a força certa para ela entender novamente que ele detinha
comando absoluto sobre ela. O prazer a percorreu, um estremecer de luz e
calor.

Dante pressionou o corpo contra o dela novamente. Ele continuava duro.
O sexo se encharcava de desejo, só de pensar nele entrando nela. Quando ele
dedilhou o mamilo, as entranhas se contorceram.

- Dante... vem

Ele deu uma risadinha. - Logo, logo, meninas bonita.

Então, ela soube que ele a provocaria, se demoraria. Controlando o
ritmo.

Sim.

Ela ofegou quando ele beliscou o mamilo, o prazer corria pelo corpo
como um choque adorável.

- Você já gozou somente assim? - ele questionou, novamente assumindo
um tom áspero. - Apenas com alguém brincando com os seus mamilos?

- Não. - Meu Deus, ela já mal conseguia respirar. Somente com aquela
pergunta dele!

- vamos tentar?

Ela só conseguia gemer quando ele ficou de joelhos ao lado dela para
poder usar as duas mãos. As coxas nuas eram fortes, musculosas, cobertas
com um pouco de pelo escuro e macio. E, entre elas, o pau era uma lança de
maravilhosa carne dourada. Ela mal conseguia acreditar que ele estava duro
novamente. A visão daquela carne sólida lhe deu água na boca, mas Kara
estava distraída demais por aquelas mãos nos seios.

Ele acariciava a carne: a face interior, a elevação no alto dos seios,
traçando o contorno. Mantendo-se longe dos mamilos. Eles latejam pela
ansiedade de serem tocados. Torturados. Mas ele mantinha os dedos
caminhando por todas as partes, menos ali.

- Dante. - Ela arfou, com o corpo retesando em suas mãos.

- Não, Kara. Fique quieta. Respire. Relaxe.

Ela quase quis choramingar, mas adorava demais a autoridade naquele


tom de voz para não obedecer.

Ela respirou. Ele continuava acariciando a pele. Insuportável, mas
maravilhoso. Os mamilos latejavam. O sexo pulsava até doer, inchado e cheio
de necessidade. Ela desejava apertar as pernas para reduzir a dor, mas
mordeu o lábio e permaneceu imóvel.

Por fim,ele esfregou os dedos nos dois mamilos e ela ofegou.

- Gostou? - Ele perguntou.

- Ah, sim!

- Não quero que se preocupe com isso, sobre se pode ou não gozar.

Quero apenas que aproveite o momento, concentrando-se apenas no
prazer. Vamos ver no que vai dar. Deixa rolar, Kara.

Seu olhar dourado mirava os seios dela. A língua dardejou para lamber o
lábio e ela desejou levar a sua até lá, mas não ousou se mexer.

Ele esfregou novamente os mamilos, num toque muito leve. O prazer
lembrava uma chama queimando sem pressa, num crescendo, num novo
quente e grave pulsando dentro dela. A intensidade era inacreditável
simplesmente com Dante tocando seus seios. Sendo o centro de sua completa
atenção. Ela não se lembrava de homem algum se concentrando tanto nela.
Kara não sabia como viveria sem aquilo.

Ela não tirava os olhos do rosto dele. Dante era o homem mais lindo que
já vira. E aquilo somente aumentava o desejo.

Ele mantinha ritmo, com os dedos suaves, mas os mamilos enrijeceram
tanto que o menor toque parecia uma abrasão. Porém agradável,
maravilhosa. A sensação crescia, intensificada a cada carícia. Ela gemeu.

- Tá ficando mais intenso? - ele perguntou.

- Sim, Sim...

- Bom.

De repente, ele beliscou com força e o corpo dela se arqueou na cama.

- Ah!

A dor foi acompanhada por uma onda de prazer.

- Gosta disso, não é, Kara?

- Sim. Por favor, Dante. Eu quero mais.

Ele sorriu, beliscando novamente. Outra vez mais, o corpo dela se elevou
da cama, o prazer feito uma corrente elétrica. Chocante. O corpo inteiro
formigava. Intensificado quando ele utilizava a mão para prendê-la ao
colchão.

Ela adorava a sensação de estar sendo controlada. Kara não conseguia
pensar por quê. Não fazia sentido para ela. Entretanto, ela estava entregue
por demais aquilo tudo para questionar de verdade. E somente, sabia que era
boa.

Ele se inclinou e sussurrou – Vou botar dentro da minha boca agora. - E


ele fez justamente aquilo, tocando a ponta úmida da língua num mamilo e no
outro, antes de chupar a carne inflamada.

A boca era quente, sedosa. Os mamilos estavam duros feito pedras. O
prazer era ainda mais intenso, como algo sólido a se movimentar dentro dela.
O sexo pulsava no fundo do corpo, uma sensação estranha, diferente de tudo
que já tinha experimentado, numa estranha combinação de Dante
manipulando os mamilos e da sensação de estar sob suas mãos, sob seu
controle.

Ele não parava, chupando, mordendo, beliscando as laterais dos seios.
Ela não sabia quanto tempo tinha passado – podia muito bem ser uma hora.
A pele era toda umidade, a respiração, um ofegar áspero aos ouvidos. A
sensação escalava pelo corpo. Inacreditável.

Ela ia gozar.

- Dante... Falta tão pouco...

Ele chupou com mais força, dor e prazer se misturavam até ela não saber
onde um começava e o outro terminava.

- Ai, meu Deus...

O corpo pairava naquele delicioso limiar.

- Por favor, Dante...

Ele levantou a cabeça e murmurou: - Você se saiu muito bem, menina
bonita. Goza agora.

A boca caiu novamente sobre o mamilo e o prendeu. E a mão desceu
entre as coxas, agarrando o clitóris e esfregando-o entre os dedos.

- Ai, meu Deus!

O orgasmos disparou através dela, forte, intenso. Quase demais para
aguentar. Ela berrou, o corpo inteiro arqueou, se contorcendo num prazer tão
forte que mal conseguia suportar.

Ela ainda estava estremecendo quando ele montou sobre ela, o pau
deslizando por entre as coxas para dentro dela.

Ela se sentia indefesa debaixo dele, quando começaram as estocadas.
Deliciosas.

Bombando dentro dela, o pau era uma sólida flecha de carne. Justamente
como ela precisava. E, a exemplo da noite anterior, ele estabeleceu um ritmo
forte e violento, socando dentro dela.

Os quadris dos dois se batiam. O prazer do corpo dele no dela era quase
tão grande quanto aquele pau, escavando uma sensação mais e mais
profunda. Até que Kara sentiu novamente o começo das contorções, outro
orgasmo a percorrê-la.

- Nossa, garota... você é tão linda. Tão gostosa...Ah!

Ele estremeceu, com a boca apertando o pescoço dela enquanto gozava.
E ela ficou quietinha, com os braços ao redor do seu.


Ela tentou pensar no que eles haviam conversado. De como seu comando
sobre ela a afetava, deixando o sexo tão intenso. Mas ela estava cansada
demais exaurida demais. Fechou os e, com ele amolecendo dentro dela,
adormeceu.




QUATRO



Dante abriu os olhos, esforçando-se para ver o relógio na mesa de
cabeceira. Eles dormiram um tempinho. Já era começo da tarde. E ele estava
morrendo de fome.

- Kara.

Ela não se mexeu.

Ele a observou dormindo, como fizera antes. Por que estava tão
fascinado por aquela mulher?

Ela era maravilhosa. Ele adorava seu corpo firme e delgado, as pernas
infinitamente longas. A curvatura perfeita da bunda. A pele aveludada e
pálida. Amava seu longo e sedoso cabelo, da maneira como a luz o fazia
parecer um entrelaçado de ouro e bronze.

Caramba, de repente ele tinha virado poeta. Que diabos acontecia com
ele?

Ele passou a mão sobre a barba rala, pensando. Ou, quem sabe, tentando
não pensar. Ele precisava parar de meditar e desfrutar da presença dela ali.
Em sua casa. Na sua cama. Era sábado, Quem sabe ele conseguiria mantê-la
ali o fim de semana inteiro. Comê-la novamente. Bater nela...talvez algo mais.

O pau acordou, mas ele estava faminto demais para lhe dar bola.
Primeiro, comida. Depois, sexo. Se ela estivesse disposta.

Ele daria um jeito para que estivesse.

- Ei, Kara. – Ele tocou a bochecha, e as pálpebras se abriram, para depois
fechar. – Está na hora de acordar.

- Hum, quê?

Ela levantou os olhos castanhos semicerrados até ele. Havia algo doce
nela, todo sonolenta assim. Vulnerável. Tão vulnerável como quando ele
batia nela.

- Eu preciso comer. Você consumiu com todas as minhas reservas – ele
brincou.

- Garanto que você consumiu sozinho. – Ela bocejou, esticou os braços
sobre a cabeça, enquanto o lençol caía dos seios soberbos. Os mamilos
enrijeciam, ficando escuros; era impossível não notar.

Comida

- De toda forma, estou pronto para abrir mão de comer – ele disse. – Para
ficar com você.


Ele a fez rolar de lado, dando uma palmada na bunda, fazendo-a rir.

- Se formos sair daqui, um chuveiro viria a calhar, senão for um
problema – ela disse, sentando ereta na beira da cama.

- Eu vou cozinhar.

- De verdade? – Ela olhou para ele por sobre o ombro.

Caramba, os cílios dela eram os mais longos que ele já vira.

Pare, controle-se cara.

- Sim, de verdade. Acha que não sei cozinhar?

- Você não parece muito acostumado com gente te esperando.

- Tô acostumado. – Ele cruzou os braços sobre o peito. – E também faço
as melhores panquecas que você já comeu.

- Está me parecendo um desafio.

- Experimente.

Ela sorriu ironicamente. Ele não queria pensar por que aquilo o deixara
tão feliz. Bem, talvez não feliz. Animado.

Algo...

Algo em que não iria pensar agora.

Ele se levantou, desviando o olhar dela para se distrair. Pegou as calças
de um pijama na cômoda e o vestiu. – Nós podemos tomar banho mais tarde.
Está com fome?

Ah, sim, levá-la para o chuveiro...

Ele tinha uma queda pelo chuveiro. Ver uma mulher molhada, com água
correndo pelo corpo. O vapor subindo ao redor enquanto ele a inclinava e
deslizava para dentro... Ele tinha um ótimo banheiro para o sexo. Era grande
o bastante para dar uma festa dentro dele. Todo liso, granito claro, com um
banco, três duchas, uma fileira vertical de jatos corporais. Ele endurecia ao
pensar em Kara no chuveiro, com o corpo molhado...

- Que bom que está planejando me alimentar – ela falou, arrancando-o
de sua fantasia. – Estou com tanta fome que poderia comer um boi.

- As panquecas terão que servir. Tome, isso será mais confortável do que
o vestido.

Ele lhe deu a parte de cima do pijama, que nunca usava. Ela deslizou a
flanela azul-marinho pela cabeça. Ficou enorme nela, com a barra roçando
nas coxas; a parte da frente formou um grande decote em V entre os seios.
Kara ficava muito melhor no pijama do que ele. Ela estava incrível. Sexy pra
caramba.


- Está quentinho? – ele perguntou, tentando se lembrar que deviam
comer.

- Sim. Legal. – Ela ficou ao lado dele. Kara continuava alta, mesmo sem
os saltos. Aos seus olhos, as pernas pareciam particularmente nuas abaixo da
barra da camisa do pijama.

- Para a cozinha, mocinha. Você vai me ajudar.

- Você é mandão, né?

Virou-se para ela, fixando o olhar. – Sim. Eu sou, sim.

Ela sorriu. Porém, ele viu suas feições tomarem um ar mais suave com
esse pequeno lembrete da natureza do relacionamento entre os dois.

Não que fosse um relacionamento. Não, ele somente se referia à dinâmica
do sexo. Sim, era isso. Era somente aquilo para ele. Era melhor assim.

- Tomara que você goste de xarope de bordo de Vermont. Venha comigo.

Ele a conduziu pelo apartamento, com o piso escuro parecendo fresco
aos pés descalços. A luz da tarde brilhava através das altas janelas, que
abriam uma janela inteira para a cidade e outra para uma vista na baía de
Elliott.

- Que vista incrível – Kara falou, ao acompanhá-lo.

- Foi por isso que comprei o apartamento. Principalmente por isso. – Ele
lhe mostraria o banheiro mais tarde, quando terminasse de comer. – Gosto de
ver a água durante o dia. E a cidade, à noite.

- Dá pra ver tudo daqui, pois fica numa esquina. Nossa, sua cozinha é
fantástica!

Eles passaram para o outro lado do alto balcão, e Kara correu a mão
sobre o granito preto e cinza. Para ele, os armários pretos reluzentes e os
utensílios de aço escovado eram bacanas, mas Dante sempre desejou algo um
pouquinho mais caloroso.

- Na verdade, andei pensando em dar uma reformada – ele falou.

- Não sei por quê. É maravilhoso.

Ele deu de ombros, colocando pó na cafeteira e ligando. – É que não faz
bem meu estilo. É meio frio, não acha?

- É lindo, mas acho que entendi sua posição. É tudo bem liso, lustroso.
Como é a cozinha dos seus sonhos, Dante? – Kara indagou enquanto ele
pegava ingredientes do guarda-louça e da geladeira, uma grande tigela e o
mixer.

- Gosto de madeira. Algo mais orgânico. Também gosto da estética


moderna, mas precisa ter equilíbrio.

Ele mediu a farinha, quebrou os ovos, acrescentou baunilha e os
ingredientes restantes. E lhe entrego a tigela. – Tome, prepare a mistura
enquanto esquento a chapa.

Ele pegou e ligou o mixer. Eles ficaram em silêncio enquanto o aparelho
funcionava, a cozinha ressoava o zumbido grave da máquina, os aromas
quentes da baunilha e do café. Com uma sensação envolvente de
familiaridade.

Ele estava muito à vontade com ela. Não que chegasse a se sentir
incomodado com alguém. Ele não era assim. No entanto, havia uma camada
extra de conforto com ela.

Dante abanou a cabeça, tirou o xarope do armário e botou numa panela
com água quente para aquecer em banho-maria. Pegou os pratos, talheres,
canecas e jogos americanos de uma gaveta. – Você pode pôr a mesa no balcão
– ele disse, tentando retomar parte do controle. Tentando não se distrair
demais com as pernas longas dela, com o cabelo um tanto despenteado,
balançando as maçãs do rosto enquanto se movimentava.

Ele derramou a massa na chapa e a observou criar bolhas, virando as
panquecas num prato quando ficavam prontas e despejando café nas canecas.

- Você parece saber o que está fazendo – Kara comentou, pegando a
caneca e bebendo.

- Eu falei que gosto de cozinhar. E sempre sei o que estou fazendo.

Ele olhou para ela, que abriu um sorriso largo. Kara estava sentada em
um balcão alto, com os cotovelos sobre o balcão. Ela estava um tanto
desgrenhada, com as bochechas rosadas. Ele gostava de vê-la assim. E
gostava do fato de ela não ser o tipo de mulher que ficava calada após o sexo.
Deixando tudo mais importante do que deveria ser. Kara se sentia à vontade
com ele.

Perfeita pra cacete.

Dante precisava parar de pensar naquilo Ninguém é perfeito. Ele não
estava atrás da perfeição.

Não estava em busca de nada. Nunca esteve. Sua experiência com Erin
tinha dado a ele uma bela lição anos atrás. Não era capaz de ser responsável
por outra pessoa. Nada disso. Não, ele somente desejava a responsabilidade
temporária a acompanhar o jogo BDSM . E quando a noite, o fim de semana
ou até mesmo alguns meses terminassem, todo mundo faria as malas e


voltaria para casa. Mas ele poderia curtir aquilo enquanto rolasse. Era sua
intenção.

Terminou a porção de panquecas e as colocou nos pratos, sentando ao
lado de Kara, no balcão. Ela caiu matando. Ele também gostou daquilo, de ela
não ser uma garota que come feito um passarinho ou, ao menos, assim finge.
Ele gostava até da umidade de sua boca ao comer.

- Isso tá muito gostoso, Dante! Não me lembro da última vez em que
comi panqueca. Nunca comia quando criança, então eu não me lembro
direito.

- Nunca comia panqueca quando era criança?

Ela deu de ombros, dando outra dentada e mastigando por alguns
instantes. – É que... Meus pais não eram muito de... Eles não curtiam esse
lance de serem pais. Minha mãe não cozinhava de verdade... Eu tive uma
infância estranha.

- Você parecia bastante normal no colegial.

- Parecia? Que bom, acho. Meus pais não eram esquisitões nem nada. Só
estavam absorvidos pelo trabalho. Concentrados. Quem sabe isso levou a
exclusão do resto. Só acho que... a cabeça deles funcionam num ritmo
incrível, e os dois não sabem desacelerar. Eles são brilhantes, os dois são.

- Filho de peixe, peixinho é.

Ela enrubesceu. – Nada disso. Meus pais são gênios de verdade. Eu não
herde o QI genial. Foi uma grande decepção para eles. – Ela abaixou o garfo,
limpando a boca cuidadosamente.

- Deve ser muito difícil crescer em um ambiente desses. – Ela olhou para
ele. Querendo ver se ele sentia pena dela, Dante pensou. Não era o caso. –
Desculpe. Não queria abrir uma velha ferida.

- Não, tudo bem. Não me importo em contar. Não como antes. Quero
dizer, não costumo falar muito dessas coisas... Deus do Céu, nem sei o que
estou dizendo.

Ele abaixou o garfo. – Kara, ontem à noite rolou sua primeira experiência
com o jogo da dor. Às vezes, isso abre a pessoa. Acontece muito. Talvez você
se sinta mais vulnerável hoje. Quem sabe tocando em questões antigas.
Algumas pessoas até choram.

Ela balançou a cabeça. – Não é nada disso. Não me sinto mal nem
assustada. É só... alívio. Libertação. Como se tivesse superado alguma coisa.
Aquela abertura. Está me deixando mais leve. Faz sentido?


- Faz, sim. Estou feliz que você se sinta bem com isso, porque significa
que, provavelmente, vai querer repetir a dose. – Ele abriu um sorriso largo, e
ela retribuiu. Um sorriso maravilhoso. – Mas me avise se isso mudar.

- Pode deixar.

Kara ainda não entendia por que tinha começado a contar para Dante
sobre os pais, a infância. Ela não era assim. Não com um homem. E,
principalmente, não depois do Jake. Abrir-se com ele o fizera fugir. É lógico,
porém, que Dante curtia, era adepto daquela prática, justamente o motivo por
que Jake a condenara. Mesmo assim, a parte emocional era diferente. Kara
costumava abordar esse tipo de assunto com Lucie, sua melhor amiga, não
com um homem.

- Dante... desculpa.

Ele pôs a caneca de café no balcão. – Pelo quê?

- Por contar essa história dos meus pais. Meus problemas com eles.
Garanto que você não está nem um pouco interessado nisso. Desculpa por ser
tão menininha.

Ele abriu um sorriso largo. As covinhas voltaram, estimulando-a a tocá-
las. – Gosto que seja uma menina.

- Mas eu não sou assim. Não precisamos ter essa discussão depois do
sexo. Esse lance de vamos nos conhecer melhor. Podemos nos resumir ao
sexo. Para mim, não tem problema.

- Está bem. – Ele estava desconfiado, como se não acreditasse na
realidade.

- Eu falo sério, Dante.

Ele concordou com a cabeça. – Tudo bem, mas eu sou bom de papo. No
mínimo, faz parte de ser um bom dominador. Mesmo que sejam apenas uns
tapinhas, nada muito pesado. Conversar me ajuda a entender como a sua
cabeça funciona. Como pode reagir a coisas diferentes.

- Então essa coisa, o que estamos fazendo...

- BDSM -, ele completou a frase dela.

- Sim. Parte desse jogo é psicológica? É o que você tá afirmando?

- Sim, em sua maior parte. – Ele mastigou o último pedaço da panqueca.
– Pense nisso. No sentido de libertação, de alívio. Faz anos que não te vejo,
mas só de conversamos alguns minutos eu sei que você provavelmente
controla muito bem seu dia a dia. É confiante. Competente. Alguém que
enfrenta tudo. A pessoa a quem os outros recorrem em busca de conselhos ou


quando algo precisa ser feito. Estou certo?

- Sim, com certeza.

- Se entregar para mim é uma vazão natural para você. Não apenas se
entregar a mim, mas ao processo. Você não precisa decidir nada. Não precisa
fazer nada. Você simplesmente se deita e deixa rolar. Você pareceu ter
entendido tudo de imediato, o que me faz acreditar que você precisava muito
disso.

- Talvez. – Ela fez uma pausa, tentando processar toda aquela
informação, como aquilo se aplicava a ela. – Mas em grande parte isso se
deve ao fato de você curtir tanto essas coisas. Você não me julgou, nem por
um segundo se quer.

Ele concordou. – O que nos traz de volta a psicologia. – Ele fez uma
pausa, abaixando o tom de voz. – Por que é tão importante não ser julgada,
Kara?

Ela congelou. Não desejava discutir o assunto com ele. Sobre a verdade
que o namoro com Jake tinha deixado. A vergonha sentida com tanta
frequência enquanto crescia com os pais brilhantes e para lá de bem-
sucedidos.

Nunca boa o bastante.

Porém, ali, com ele, ela se sentia muito bem. Pela primeira vez. Era
demais para assimilar. E era apenas sexo casual. Kara precisava parar de
pensar nisso em termos tão sérios. Ele chamava de .jogo.. Não passava disso.

- Muito bem – ele disse após um minuto. – Você não precisa me contar.
Eu tenho tendência a fazer exigências, mas consigo controlar.

Ele sorriu para ela , e Kara sentiu que a mudança era para deixa-la mais à
vontade.

- Você é um homem bacana, Dante.

Era verdade. Ele era um bom homem. Um dos melhores que ela
conhecera. Kara sabia disso durante o colegial. A tendência parecia apenas
haver se acentuado.

- Menos quando estou sendo malvado – ele provocou.

- Não exatamente malvado. Apenas... perverso.

- Mas você gosta disso.

Ele alcançou o pulso dela, levantou-o e deixou um suave beijo nele.
Mordeu sua carne, somente para ela sentir a ponta aguçada dos dentes.

- Eu gosto – ela respondeu, tentando conter, sem sucesso, o tremor da


luxúria na voz.

Ela voltou a se incendiar por dentro, seu sexo quente outra vez. E ela via
o desejo puro e simples no rosto dele.

- Já comeu o bastante, Kara?

- Por ora.

O tom de voz dele caiu uma oitava. – Então, por que não te carrego para
o chuveiro?

Ele não esperou a resposta. Pegou sua mão, enlaçou o outro braço ao
redor da cintura dela e a conduziu ao banheiro, um dos poucos cômodos com
paredes, ocupando boa parte dos fundos do loft.

Ele tirou a camisa do pijama e ela ficou nua, os mamilos endureceram
com o ar frio e excitação, enquanto ele entrava no boxe e abria o chuveiro. Ele
abaixou as calças, abriu uma gaveta do moderno armário de madeira bordô e
puxou um pacote de camisinhas.

- Ah, espero que você pretenda usar todas -, ela falou, enquanto o sexo
ficava úmido.

Ele abriu um sorriso largo, arreganhando dentes fortes e brancos,
covinhas se mexendo e um desejo suave em torno da boca suculenta.
Olhando para baixo, ela o viu duro, pronto. Kara estremeceu.

- Pretendo fazer um monte de coisas com você ali – ele retrucou,
puxando-a para perto.

Inclinou-se para beijá-la, com a boca recendendo café quente e xarope de
bordo. Forte e doce, exatamente como ele. E, Deus do céu, ele sabia beijar. Os
lábios eram macios, mas exigentes. A língua deslizou para dentro e tomou
conta da boca, fazendo-a tremer de desejo, pequenas ondulações
propagando-se pelo corpo de Kara. O peito dele era uma parede dura de
músculos contra os seios. O abdome dele era igualmente sólido. E o pau
rígido pressionando a barriga dela.

Ele afastou os lábios dos dela o suficiente para chegarem ao chuveiro. E,
então, tudo estava quente e úmido enquanto a água caía, aparentemente de
todos os lados ao mesmo tempo. Ela somente sábia que eles estavam se
ensopando, com os corpos coladinhos. Pele escorregadia, um aroma cítrico e
algo sombrio... o almíscar que ele exalava, ela concluiu. Seu sabonete. O mero
perfume dele fazia o corpo dela se incendiar, o sexo latejava de desejo.

- Nossa, você fica linda assim, Kara – ele disse. – Adoro isso. Ver sua pele
molhada. Coberta de água. O chuveiro é outro fetiche meu. A água em si. –


Ele correu um dedo entre os seus seios, descendo para o centro da barriga
dela. – Pele molhada. Eu deveria ter colocado você aqui numa de minhas
camisas sociais brancas. Adoro isso. Observar o tecido ficando opaco... – Ele
tocou a ponta de um dos mamilos como dedo. – Mas isso também é bom. Ver
você endurecer. Observar o rosa escurecer quando você fica mais excitada.

Ela tomou fôlego. Adorava ouvi-lo dizer aquelas coisas.

- Dante...

- O que foi?

- Vem...

Ele riu, num tom grave e sensual. – Vem pra onde?

- Vem me tocar de verdade. Quero sentir suas mãos em mim. Quero
sentir como é diferente na água.

Ele riu novamente, um riso baixinho. – Perfeitos pra cacete – ele
sussurrou ao envolver ambos os seios com as mãos, deslizando-as pela pele.

- Ah, isso é bom... – Ela fecho os olhos, se entregando a sensação.

Era diferente. Ela já tinha transado debaixo de um chuveiro, mas nunca
se concentrado naquele aspecto escorregadio antes. Na diferença. Não com
nenhum outro homem.

Dante a fez ver as coisas de outra forma. Enxergar as coisas sob uma
nova luz. E era esplêndido.

- É assim que eu gosto – ele falou. – Não abra os olhos, Kara. Não se
mexa.

Ela se derreteu toda com a autoridade naquela voz. Com o fato de ouvir
ordens. Talvez ele tivesse razão em relação aos efeitos em sua mente, mas ela
não conseguia pensar nisso. O desejo era uma maré, fluindo por ela em ondas
como a água que corria sobre sua pele.

- Fique aí, isso... e abra as coxas para mim. Boa menina.

Um pequeno tremor ao ouvir aquilo.

Boa menina.

Ela não conseguia avaliar por que adorava ouvir tanto essas palavras.

Mas ela não conseguia pensar em nada ao sentir um jato de água contra
sua fenda.

- Ah...

- Parada, Kara – ele repetiu, e ela se esforçou a parar de se contorcer.

Ela deixou os olhos bem abertos por um momento, viu-o se ajoelhando
diante dela, com o reluzente chuveirinho cromado numa das mãos e um


sabonete na outra. E quando Kara fechou os olhos novamente, Dante
começou a lavá-la.

Ela nunca tinha experimentado algo do gênero. Ele a ensaboou com as
mãos, os dedos escorregadios. Gostoso. Massageou os lábios da boceta até ela
pensar que morreria de sensação. Kara precisou morder o lábio para
conseguir ficar parada como ele mandou. A respiração estava pesada,
arquejante e estridente no peito.

- Você gosta disso – ele disse. – Eu sinto sua carne inchando ao toque. Tô
vendo como seu grelo tá grande. Tão lindo.

Ele massageou o clitóris, e ela arfou.

- Ai!

- Shh, Kara. Quieta. Fique paradinha para mim. Você consegue.

O jato de água quente lavava a abertura, e o prazer era feito de seda.
Macio, sinuoso, trêmulo pelo corpo.

Ela respirou e segurou, enquanto ele afastava a água e retomava o
trabalho com a mão escorregadiça.

- Abra mais – ele ordenou, e ela abriu as pernas sem hesitar.

Ela percebeu a mente se dirigindo a algum lugar nebuloso, meio que se
esvaziando. Ficando em silêncio. Feito um ruído branco suave dentro da
cabeça.

- Bom, Kara – Dante falou. – Fique quietinha.

Novamente um jato de água no alto das coxas, mas desta vez mais forte,
o martelar duro do ciclo de massagem direto no clitóris.

Ela tinha de trancar as pernas, tinha de conter o clímax.

- Você precisa gozar? – ele perguntou.

- Sim... agora!

- Agora não, Kara. Controle-se. Segure-se nesse limiar. Segure até eu
dizer que quero ver você gozando.

- Ai, meu Deus...

Mas ela engoliu seco, concordando. Juntou suas forças contra o ataque
violento da sensação.

- Pense em tudo que está sentindo. Diferencie cada sensação – ele
instruiu, com voz suave. – A água do chuveiro lá em cima. Minha mão em
você. Minha voz. A textura do sabonete. Já sentiu algo tão escorregadio na
vida? Eu não. No sabonete e no quanto sua boceta está molhada agora. É
incrível.


Ela tentou obedecer a ordem. Dentro da cabeça, Kara dedicou um tempo
para reconhecer cada sensação por si só. O ato parecia tudo se intensificar, se
multiplicar. Ela respirou profundamente, segurando o ar nos pulmões.

- Boa menina, Kara. Isso. Pense no prazer crescendo dentro de você.
Segure-o, contenha-o. Por mim, Kara.

- Sim – ela sussurrou. – Por você.

- Ah, é exatamente isso o que desejo de você.

Um aumento de prazer no tom de sua voz. Por saber estar fazendo o que
ele queria, o que exigia dela.

- Vou deixar você gozar num instante – ele falou.

- Ah, por favor...

Ele correu os dedos pelo seu sexo, o sabonete tornava o toque
insuportavelmente escorregadio ao mover a mão para cima e para baixo.
Mais e mais rápido.

- Dante!

- Segure, Kara!

- Meu Deus...

Ele continuou esfregando, a mão deslizante enviando desejo através
dela, furando-a. Era incrível como o prazer era nítido ao toque da maciez dos
dedos ensaboados. O clímax parecia um muro de prazer, esperando para
desmoronar sobre ela.

- Dante, por favor. Por favor – suplicou.

- Quase, minha menina bonita.

Os dedos dele deslizaram sem parar sobre o duro e desejante botãozinho
de carne. Depois, ele parou. Um respiração, duas. Ele beliscou com força.

- Ah!

- Dói, né, Kara?

- Sim – ela ofegou.

- O que mais? – ele perguntou, novamente num tom autoritário.

- A sensação... É tão gostosa...

Ele beliscou mais ainda, puxando com força ao mesmo tempo.

- Ai, meu Deus, Dante! Eu não consigo...

- Respire, Kara.

Ela respirou, puxando o ar vaporoso para os pulmões, o corpo suspenso,
ansioso.

- Agora, Kara. Goze para mim, agora.


Os dedos dele começaram aquele adorável deslizar novamente, e ela
gozou quase na mesma hora em que ele deu a autorização. Parecia uma luz
branca tremeluzindo dentro dela, fazendo o corpo se arquear, em choque.

Ela gritou enquanto caía, e ele a segurou em seus braços. Ela ainda
estava gozando. Tremendo. Os dedos dele continuavam a trabalhar entre as
coxas.

Ele sussurrou ao pé do ouvido dela: - Boa menina. Minha menina bonita.
Muito bem, Kara.

Quando os tremores mais fortes pararam, ela percebeu estar sentada no
colo dele no chão do boxe. Os braços dela agarravam-se forte ao seu pescoço.
E os braços de Dante a continham com força.

Ela ainda tremia um pouco, o último dos minúsculos estremecimentos
do orgasmo rolando dentro de si. Ela se sentia maravilhosa. Tirando uma
pequena parte do cérebro dizendo que aquilo era bom demais. Bom demais
para durar. Bom demais para ela.

O sexo.

Dante.

Não pense. Não pense.

Ela mal conseguia raciocinar. A mente estava entorpecida demais para
processar uma ideia por completo.

- Ei, tudo bem, Kara? O que está acontecendo com você? – Dante
perguntou.

- Sim. Sim. Tudo bem.

Desde que ela não fosse àquele lugar onde não era boa o suficiente.

- Você é mais do que boa – ele afirmou, num tom de voz baixo e cheio de
névoa. – Você é fantástica. Gozou tão forte. Eu adorei você ter simplesmente
ter desmoronado assim.

Nossa, ele falou a coisa perfeita, exatamente o que ela precisava ouvir.
Aquela aprovação cristalina na voz.

- Só que agora eu preciso comer você, Kara. - Ele pegou a mão dela e
abaixou entre eles, enrolando seus dedos em volta de seu pau grosso. – Tá
sentindo como eu tô duro por sua causa? Vem, faz um carinho nele.

Ela o acariciou, movendo a mão por toda a sua extensão. O pau era
grande, a carne pesada, inchada. Ela lambeu os lábios, outra fagulha de
desejo a incendiá-la como uma sequência de minúsculos fogos de artifício
explodindo por dentro. Ela adorava tocá-lo. Adorava senti-lo pulsar na


palma. O poder consistia em ser capaz de lhe dar prazer. Em satisfazê-lo ela
mesma.

- Ah, como é bom – ele sussurrou, com as mãos movendo-se sobre ela. –
Mas eu preciso ficar dentro de você.

Ele se pôs de pé, agarrou-a e a levou junto. Pegou uma camisinha do
pacote deixado numa das prateleiras embutidas no granito claro do boxe e,
abrindo com os dentes, ele pegou a bainha de látex e a deslizou sobre a
ereção.

Ela não conseguia acreditar em como aquilo era completamente sensual,
ao vê-lo manusear o pênis com tamanha habilidade. Enxergando como ele
estava duro.

- Abre as pernas para mim, Kara. Isso, desse jeito.

Ela separou as coxas, e ele pegou uma das pernas dela e passou ao redor
da cintura, abrindo-a. Ela se segurou nos ombros fortes dele, e, enquanto a
água corria sobre o corpo dos dois, ele meteu fundo dentro dela.

- Ai, Dante!

- Que delícia. Nossa, Kara...

O prazer era tão líquido quanto a água caindo do chuveiro: tão quente e
sinuoso. A sensação se movia pelo corpo dela, em ondas, depois num
crescendo enquanto ele metia nela, sem parar. A boca de Dante estava sobre a
de Kara, a beijá-la, dando mordidinhas nos lábios. E a cada fincada dos
quadris dele, cada mordida dos dentes afiados parecia um pequeno orgasmo
em si mesmo.

Era deliciosa a sensação dele entrando e saindo dela. Arrebatadora. Além
disso, o corpo dela ainda sussurrava com o orgasmo. A cabeça zunia com as
coisas que aprendera sobre si mesma, sobre a troca de poder que ele tinha
tentado lhe explicar, a qual ela finalmente começava a entender.

A pele dele era incrivelmente macia sob suas mãos, e ela agarrava os
ombros dele cravando as unhas na carne. Ela precisava disso, de alguma
forma. Era intenso demais; ela não conseguia evitar. Não conseguia controlar
a respiração resfolegante, seu quadril se arqueando ao encontro dele,
querendo levá-lo ainda mais fundo.

Enquanto o vapor crescia ao redor deles, envolvendo-os num abraço
quente, os dois gozaram. Um dizia o nome do outro, com os quadris se
batendo. Era uma mistura de necessidade e satisfação destruidora. Carne
molhada e prazer espantoso, puro. E Kara largou mão de tudo – do corpo, da


mente – e se deixou levar. Pra dentro do Dante. Pela primeira vez, ela se
deixou ficar completamente perdida.




CINCO



Kara se sentou à escrivaninha no escritório, bebendo o latte duplo,
tamanho extra, tão necessário naquela manha. Ela estava cansada, exausta e
um pouco machucada após o fim de semana com Dante.

Dante...

Meu Deus, o homem era insaciável. E ela também. Eles mal deixaram a
cama durante o fim de semana inteiro, nem o chuveiro, onde transaram pelo
menos umas quatro vezes. Dante tinha mesmo uma coisa com água. Ela não
se importava. Na verdade, adorou. Adorou o aroma de limpeza do sabonete,
do ar vaporoso. Ele a ensinou realmente se ligar na sensação, e a água era
incrível na pele dela. O simples fato de tomar banho de manhãzinha depois
que ele a deixou tinha tomado uma aura sensual.

Fora um fim de semana incrível, e, quando ambos acordaram no começo
desta manhã, ela não desejava que terminasse. Porém, era segunda-feira, e
hora de trabalhar. Não que ela conseguisse se concentrar em alguma coisa.
Ela quase não tinha dormido, estava acabada, suas zonas erógenas doíam. E
pensando no Dante.

Ele também não estava pronto para sua partida. Aquilo ficou cristalino
quando ele a acordou às 5h30 para transar. Invadindo-a quando ambos ainda
estavam grogues, sonolentos; os quadris dele bombeando até os dois
gozarem, ofegando seu prazer no silencioso ar matinal.

Independentemente de quantas vezes tivessem transado no fim de
semana, ele continuava duro por ela. E havia alguma coisa que ela adorou
naquele sexo antes do amanhecer, quando ambos ainda estavam quase
dormido. Ele estava irresistível, com o cabelo desgrenhado, a barba rala,
escura e áspera no queixo. Dante parecia mais masculino. Mais primitivo.
Avia um quê quase surreal naquilo. Quase romântico.

Não comece.

Ela engoliu o café, deixando o calor relaxá-la um pouco, Não era uma
garota do tipo romântico. A última parte desse outro .eu.tinha se aniquilado
com Jake. Não importava o quanto o sexo era voluptuoso com Dante, ela se
lembraria de que se tratava apenas daquilo, de sexo.

O sexo mais picante e intenso que ela já pode experimentar.

Mas, ainda assim, nada além de sexo.

Não se importava com isso. Era apenas uma intensa ligação química.


Sem amarras. Como se conheciam havia tempo, também era confortável
mesmo que eles não tivessem mantido contato. Ele era familiar o bastante
para não provocar a impressão de ela ter dormido com um estranho
completo. Amistoso e casual, nada além disso. Porém, ela estava contente por
Dante haver dito que lhe telefonaria hoje, que voltariam a se ver.

Ela se afundou na cadeira, tomando outro gole de café, e olhou pela
janela que dava para o centro de Seattle.Ainda chovia um pouquinho. Kara
não se importava. Aquilo lhe dava a sensação de estar protegida, de alguma
forma. Olhando para baixo, ela via os guarda-chuvas movendo-se pela
calçada, com as pessoas escondidas sob ele.

Por que esta vista familiar parecia diferente hoje? Por que ela se sentia
tão diferente? Seria o efeito colateral psicológico de que Dante tinha falado?
Ela não se sentia mal. Apenas... um pouco mudada.

Correu os polegares pelo grosso copo de papel, aproveitando o calor.
Lembrando-se do calor das mãos de Dante na sua pele.....

Dante....

Kara podia descrever seu profundo olhar castanho, olhos tão intensos
que ela, as vezes, mal conseguia suporta-los, mas, ao mesmo tempo, a
atraiam. A boca era realmente suculenta demais para um homem. Ela gostava
de como suavizava os traços angulosos, adorava o contraste da coisa, E as
ordens autoritárias partindo daqueles lábios delicados...Era bom demais.

Ela também se lembrou de como ele usava a boca. Por toda a pele dela,
no meio das coxas.

Suspirou, ficou excitada. E saltou quando o celular tocou.

Ela passou a mão sobre o cabelo, como se alguém pudesse vê-la, antes de
pegar o aparelho.

-Alô?

- Kara.

- Sim, é. Como vai?

- Cansada, mas bem.

- Dolorida?

- Sim, um pouco.

- mas você gosta. – Era uma afirmativa, não uma pergunta. Ela também
gostava daquilo.

- Sim. – Ela riu. - Gosto bastante.

- Que bom, então ainda está interessada em repetir a dose?


- Talvez esteja.

- Ah, é tarde demais para bancar a tímida comigo. Eu te vi gozar em
minhas mãos hoje cedo.

O corpo dela pegou fogo só de ouvir aquelas palavras.

- Dante...

-Sua mão ta descendo para aquele lugar agora mesmo, né menina
bonita? Mas vou parar por aqui. Sei que precisa trabalhar.

Ela respirou fundo tentando se acalmar.- Também esta no trabalho?

- Sim. Primeiro dia num emprego novo. Belo escritório. Acho que vou
gostar daqui. E existem ótimos lugares para comer neste bairro. Talvez
possamos nos encontrar para almoçar essa semana. Algum restaurante com
toalha de mesa comprida. Tenho a fantasia de te fazer gozar debaixo da mesa.
Em algum lugar meio público. O que me diz?

Nossa, ela estava se encharcando.

- Acho que é ... muito interessante.

Ele riu, parecendo satisfeito.

- A que distancia você trabalha? – ele perguntou. – Acabei de perceber
que nunca perguntei o nome da empresa onde trabalha. Nós nos ocupamos
demais com outras coisas.

- É...- O ramal dela tocou. – Desculpe, Dante. O telefone da minha mesa
está tocando. Pode esperar um momentinho?

- Sem problemas. Vou te deixar com esse pensamento e retorno a noite.
Tenho uma reunião em questão de minutos.

- Ok.

- Tenha um bom dia. E, Kara, pense naquele almoço.

- Hum, eu vou pensar.

Eles desligaram, e ela pegou o telefone em cima da mesa.

- Oi Ruby. O que foi? – ela perguntou à secretária.

- Eu fiquei de lembrá-la sobre a reunião que começa em cinco minutos na
grande sala de reuniões.

- Ah, eu tinha me esquecido disso. Estou meio devagar hoje. Obrigada,
Ruby. Já tô indo para lá.

Ela engoliu um pouco de latte, abriu o espelho compacto que guardava
na mesa para retocar o batom, se levantou e ajeitou a saia cinza. Hora de
esquecer o Dante e se concentrar no trabalho.

Ela abriu a porta da sala e entrou no corredor, os saltos ecoavam no


assoalho. O escritório da Kelleher, Landers & Tate localizava-se num belo
prédio clássico de tijolos, com janelas altas e toda magnífica arquitetura
antiga preservada. Kara gostava das molduras com formato de coroa no roda
teto, do piso de tábuas largas e do fato de sempre mobiliarem o escritório com
antiguidades ou, pelo menos, suas reproduções, dando a impressão de um
ambiente da década de 1940 não fossem os computadores em cada mesa. O
ambiente de trabalho se tornava mais aconchegante do que os escritórios
muitas vezes estéreis e tão comuns em outros lugares.

Enquanto entrava na sala de reuniões, ela se lembrou que iriam
apresentar um novo sócio minoritário naquele dia. Tinha se chateado com
isso na semana passada. Para ela, seria mais justo contratar alguém da
empresa. Não que estivesse qualificada; tinha pouco tempo de casa. Contudo,
várias pessoas poderiam ser escolhidas. Theresa Jackson estava ali havia
anos, fazendo muita hora extra. O mesmo também se dava com Gary
Auerbach. Aparentemente, o novo sujeito era um bambambã roubado de
outra firma, e por isso, imaginava, ainda não haviam anunciado quem era.

Ela acenou com a cabeça para os outros advogados presentes no recinto e
encontrou um lugar vago na enorme mesa de carvalho. Ruby entrou logo
atrás dela e ficou contra a parede, bloco de notas na mão. Ela sorriu para
Ruby, que retribuiu com uma piscadela. Ruby era a mais jovem das
secretárias e estava havia pouco tempo no escritório, mas sua eficiência era
impressionante. Ela trabalhava para vários advogados da firma, mas sempre
estava disponível quando Kara precisava de alguma coisa – ela era uma
dessas pessoas incríveis. Kara gostava dela; as duas almoçavam juntas de vez
em quando. Ruby era boa companhia.

Kara pegou a jarra d'água no centro da mesa, encheu um copo e bebeu.
Quase cuspiu a água quando o novo sócio minoritário entrou na sala
acompanhando o chefe, Lyle Kelleher.

Dante.

Ela tomou outro gole de água, tentando não tossir nem atrair atenção
para si mesma.

Puta que...

Ela engasgou, fazendo força para engolir, e Dante a viu. Ele levantou a
sobrancelha, mas, tirando isso, o rosto permaneceu naquilo.

Respire, Kara!

Ela inspirou, observando-o enquanto ele se sentava na outra ponta da


longa mesa.

Ao seu lado Theresa perguntou; - Você está bem, Kara?

- O quê? Sim. Eu estou bem. Obrigada.

Porém, por dentro, ela estava pegando fogo. Queimando com
quantidades iguais de luxúria e ansiedade.

Ele não podia ser o novo sócio minoritário. Ela não deveria gostar do
novo sócio minoritário . Ele era o inimigo. O homem que tinha tirado o
emprego de duas pessoas admiradas por ela e que mereciam ser promovidas.

Sem sombra de dúvida, ela não deveria dormir com o novo sócio
minoritário .

Que diabos ela iria fazer?

Kara deu uma olhada para Theresa, cujo rosto permanecia calmo.
Entretanto, Theresa sempre parecia calma; era um das características a torna-
la uma advogada tão boa. A única coisa que traiu sua expressão serena e a
aparência impecável era o brilho nítido nos olhos castanhos e um leve tremor
no coque perfeito.

Kara estava tremendo por dentro. Ela entrelaçou as mãos no colo e
tentou respirar profundamente.A cabeça estava a cem por hora.

Não podia ser o Dante, mas Lyle o levava para se sentar ao seu, a
cabeceira da mesa. O velhote estava sorrindo, com ar de satisfação,
balançando a cabeça grisalha enquanto cochichava algumas palavras com o
novo sócio minoritário.

Merda.

Os demais entraram e se sentaram, e Lyle se levantou. Ele estava perto
de 70, mas se mantinha empertigado, um homem elegante e poderoso. -
Gostaria de lhes apresentar Dante De Matteo, o mais novo sócio minoritário
da Kelleher, Landers & Tate.



Todos aplaudiram quando Dante se levantou e sorriu para a o pessoal.

Kara também tentou sorrir, mas sabia estar com o rosto congelado. Dante
deu uma olhadinha nela, mas afastou o olhar rapidamente. Sua expressão
não revelava nada. Certamente ele estava tão perplexo quanto ela?

Lyle continuou. -Dante tem um currículo espantoso para um homem de
sua idade e experiência. Tivemos muita sorte ao convencê-lo a se juntar a nós.
Sei que vocês farão o possível para recebê-lo bem, ajudando-o a se acostumar
a nossa empresa. E garanto que ficarão tão contentes quanto eu com sua


presença. Esperamos grandes coisas deste rapaz. Grandes coisas. -Lyle sorriu
com satisfeita.

Ah, sim, grandes coisas, no que dizia respeito a Dante...

Meu Deus, ela não deveria pensar assim no trabalho! Mas ela não se
conteve. Enquanto o ressentimento pelo cargo não ia para Theresa ou Gary se
diluía pelo organismo, sem falar no choque de ver Dante na sua empresa, o
desejo tomava corpo em suas veias.

Ele estava maravilhoso no terno cinza escuro. A camisa era de um
branco absoluto, a gravata de um âmbar vivo, brilhante, fazia seus olhos
quase parecerem ouro líquido.

O homem sabia se vestir. E como sabia.

Ela cruzou as pernas, tentando ignorar o repentino e agudo latejar entre
eles.

Isto não era aceitável. Ela não podia desejar um homem com quem ela
trabalhava. Ela certamente não podia ver mais ele. O caso estava fadado ao
desastre. E ela era um sócio minoritário, ou seja, trocando em miúdos, ela era
sua subordinada.

Merda de novo.

Ela precisava se acalmar. Resolver a questão. Devia voltar a sala dela,
ligar para Lucie e discutir o assunto. Kara não era o tipo de mulher que
habitualmente dizia à melhor amiga todos os detalhes de sua vida sexual,
mas ela não conseguia lidar com a situação.

Um desastre. Era isso mesmo.

Lyle terminou de falar. A seguir os outros sócios, Edward Tate e Charles
Landers, um de cada vez, se levantaram e elogiaram as virtudes de Dante,
antes de a reunião terminas e todos poderem se apresentar e apertar sua mão.

Kara se afastou, pressionando as mãos nos quadris para não terminar
contorcendo os dedos como uma velhinha ansiosa.

Ruby se aproximou.- Sei que ficou com raiva por Gary ou Theresa não
receber a promoção,- disse ela, mantendo a fala baixa, - mas você parece
muito chateada, Kara.

- Quê? Eu estou bem. É que... Sim, eu estou chateada. Por eles.

Ruby assentiu com simpatia, os cachinhos castanhos acariciando suas
bochechas. - Talvez ele meta os pés pelas mãos e os chefes vejam o equivoco.

Kara fez que sim com a cabeça, sem tirar os olhos sobre Dante, que
conversava confiante com o pessoal. - Não. Acho que não.


- Você está bem? Ruby perguntou.

- É claro.- Ela se virou para a colega. – É melhor eu ir dar um Olá.- Kara
sorriu languidamente e foi em direção do pequeno grupo reunido ao redor de
Dante.

Ele captou o olhar dela enquanto se aproximava, lançou-lhe um breve
sorrio.

Então, ele estava levando numa boa. Boa idéia, ela sabia. Ainda assim,
sentia um pequeno frio na barriga. Algo dentro dela desejava que ele a
reconhecesse de alguma outra forma.

Deixa de ser boba.

Ela não podia contar com isso. Tratava-se do seu trabalho, de sua
carreira. Um caminho desejado mais pelos pais dela do que por si mesma,
mas ela deu sangue na faculdade e depois para passar no exame da ordem,
conquistando-o. E não seria agora que ela faria besteira ou arriscaria o seu
trabalho por causa de um homem.

Theresa, de pé ao lado de Dante, agarrou a mão de Kara. - Dante, esta é
Kara Crawford.

- É um prazer revê-la – ele falou suavemente.

Ela precisou engolir em seco, captando a dica. – Igualmente. Faz
bastante tempo. O colegial terminou a mais anos do que eu gosto de pensar.
Tomara que goste daqui.

Ele sorriu, as covinhas marcavam a bochecha. Lindo e charmoso como
sempre. – Garanto que sim.

Por que diabos ela se sentiu tão abalada? Apenas alguns minutos atrás,
eles estava se provocando pelo telefone.

Poucas horas atrás os dois rolavam nus na cama dele.

Ele era apenas um homem. Somente outro homem.

Mentirosa, mentirosa. . .

Ela tinha que sair de lá.

Seu nariz está crescendo...

- Se vocês me derem licença, preciso ligar para um cliente - ela conseguiu
balbuciar.

Kara acenou com a cabeça, abaixou o olhar cabeça e saiu da sala de
reunião, indo o mais rápido possível à privacidade de sua sala. Fechou a
porta atrás de si, estava inclinando-se contra ela por alguns momentos,
tentando recuperar o fôlego. Depois foi até a mesa, pegou o telefone e discou


o número de Lucie.

Ela ouviu a linha chamando, o coração disparado,torcendo para Lucie
não estar ocupada e poder conversar. A amiga tinha ampliado havia pouco
tempo o serviço de bufê, Luscious, e vinha passando horas coordenando a
remodelação da cozinha nova que alugara, um passo enorme, Kara sabia.

- Anda vamos logo – ela sussurrou, caminhando pela sala, o telefone
agarrado aos dedos.

- Alô?

- Lucie! Graças a Deus você atendeu.

- Minha nossa, Kara, você está bem?

- Todo mundo fica me perguntando isso.

- Certo, e você tá bem?

- Sim. Eu estou bem. Pelo menos eu acho. Ela fez uma pausa, respirou
profundamente. - Não sei como estou.

- Pode ser mais clara? Tem algo a ver com um hospital?

- Quê? Não, nada disso. Nada é nada sério. Digo, é sério, mas não tem
ninguém morrendo. Exceto eu.- Ela foi para trás da mesa e se sentou na
cadeira, tirando o cabelo do rosto.- Desculpe. Acho que não estou sendo
clara, né?

- Não. Pode tentar ser? - Lucie perguntou.

- Tudo bem. Tudo bem.- Kara pegou a garrafa de água engarrafada que
mantinha na mesa e tomou um gole. – Você se lembra daquela noite na festa
na sua casa?

- Bem, eu tomei muito vinho. Do que estamos falando especificamente?

- Dante De Matteo.

O simples fato de falar seu nome a esquentava toda.

- Ah, sim. Vocês dois estavam na varanda conversando, eu saí e. . . Eu
interrompi alguma coisa? - Lucie parecia triunfal.

- Não muito. Não naquela hora.

- Desembucha, Kara. O que aconteceu entre vocês dois? E nem tente
negar que não rolou nada. Dá para sentir na sua voz.

- Oh, eu não estou negando. Estou ligando para falar sobre isso. Eu só. . .
Estou um pouco sem fôlego.

- Foi tão bom assim?

- Lucie...

- E aí, foi? Lucie a pressionou.


Kara gemeu. – Sim.

- Então, vocês dois tiveram um pouco de sexo selvagem juntos? Não tem
nada de mais. Você não é virgem, e nem eu. Eu não vou julgar você, querida.

- Não é isso. - Kara deu outro gole na garrafa de água, desejando um café
fresco. Ela pegou a xícara do latte, sacudiu-a, e, como estava vazia, a colocou
de volta na mesa, dando um pequeno suspiro. - Passamos o fim de semana
inteiro na casa dele. E foi... incrível. Não tô dizendo que eu estou apaixonada
pelo cara nem nada, apenas que o sexo foi incrível. Nós ficamos de nos ver
outra vez. E então esta manhã... Oh Deus.

Kara fechou os olhos, pressionando a testa latejante com a mão.

- O quê foi? Ele deu uma de cretino? Eu não me importo se nós éramos
todos amigos no colegial,não será nenhum problema ligar para ele e soltar o
verbo.

- Ele não foi um cretino, e me deixou em casa pela manhã. Depois de
fazermos sexo no início da madrugada. Pela centésima vez. Então, vim
trabalhar... e ele está aqui.

- Na sua sala? Ele passou no seu trabalho?

- Não. Ele simplesmente estava... aqui. Ele trabalha aqui, Lucie. Não
apenas trabalha aqui como também é o novo sócio minoritário.

- O que? Lucie tinha ouvido Kara reclamando por semanas sobre a firma
se recusar a promover algum funcionário, então ela sabia o peso daquele
cargo para ela. – Você tá brincando.

- Eu desejaria que fosse brincadeira.

- Deve ter sido um choque e tanto. E você não pode nem odiá-lo, porque
ele foi ótimo na cama. Né?

- Não. - Kara suspirou. De Jeito nenhum. Por outro lado, também não
posso voltar a vê-lo.E nós temos que falar sobre isso. Acho que hoje a noite
depois do trabalho. Não tô muito animada com a perspectiva. E trabalhar
com ele vai ser realmente desconfortável. Principalmente porque... eu
realmente adoraria continuar transando com ele.

- Foi tão bom assim? De verdade?

- Foi.

- Uau.

Mesmo naquele instante ela conseguia se lembrar, sentindo o martelar
do coração, da sensação do corpo a pressioná-la. O cheiro masculino intenso
de sua pele. As mãos de Dante a tocá-la. Sua boca. . .


- Então você vai falar com ele hoje à noite?

- Hmm? Ah, sim, eu preciso. Falaria com ele antes, mas ele é a estrela do
show agora. Os sócios estão exultantes, apresentando ele como se fosse um
cavalo premiado. Todo mundo está bajulando. E eu estou trancada na minha
sala, para não precisar encará-lo diante de todos.

- Vai ficar muito mais fácil depois de você conversar com ele.Diga
apenas que, como trabalham juntos, namorarem seria má ideia.

- É ruim, né, Lucie? Kara perguntou baixinho.

- Sim. Você não está pensando em...

- Não! Claro que não. Nem se ele a beijasse até ela perder o fôlego. Ainda
que simplesmente estar ao lado dele fosse tão bom. Maravilhoso. Fosse estar
segura, por um motivo que ela não entendia. Ela olhou para a janela,
lembrando-se da sensação de proteção com ele, durante o fim de semana
inteiro em seu apartamento, com o mesmo céu nublado lá fora. Lembrou-se
como as mãos dele eram quentes e fortes na carne dela. Sem sombra de
dúvida.

- Ligue depois de conversar com ele, Kara. A gente pode marcar um
almoço um dia desses.

- Você está livre? Sei que você tá envolvida até o pescoço com a reforma.

- É claro. Os caras podem passar sem mim por uma hora.Além disso, tá
quase ficando do jeito certo. Eles estão provavelmente cansados de eu
controlar cada detalhe. E a nova cozinha não fica tão longe de você.

- Isso seria ótimo. Eu apenas sinto... um pouco abalada com tudo isso. Eu
não sei por quê.

- A gente se fala pessoalmente. Falando nisso, alguns dos operários são
muito bonitinhos. Que tal se eu arrumar um deles para você? Dizem que não
há melhor maneira de superar um homem do que com um novo.

- Não tô a fim, mas obrigada, Lucie.

Ela ouviu a amiga provocá-la: - Você tá caidinha.

- Eu vou te ver em breve.

- Tudo bem. Aguente as pontas, querida. Tchau.

Elas desligaram o telefone, Kara ligou a tela do computador e começou a
examinar os e-mails.

Lucie estava certa. Ela ia superar isso. Não se tratava de ela querer algo
além de um pouco de sexo ótimo. Era mais agradável estar com lá biblioteca
de robin conhecido, e só, Era confortável.


Confortável, não, seguro. Mas segurança não significava que ele não
fizesse o pulso dela disparar, o coração bater com algo além de mera luxúria.

Não. É apenas química, nada mais. Dante apenas tinha o aroma certo.

Ela fez que não. Ela realmente tinha que parar de pensar nele assim, e
mais como um colega de trabalho.

Um que ela veria todo santo dia.

Ela suspirou mais uma vez. Isso não ia ser fácil.

Concentrou-se no monitor e na sua caixa de entrada. Duas mensagens de
clientes. Vários de outros advogados da firma com quem dividia casos. Uma
série de e-mails de Ruby lembrando-lhe de chamadas que ela deve fazer,
novos compromissos para anotar na agenda. E um de Dante, enviado há
poucos instantes.

Droga.

Ela mordeu o lábio e clica nele.

Almoça comigo?

Estava assinado "D".

Ela começou a digitar que não seria uma boa idéia deixar o escritório
saber que já se conheciam, depois de fingirem não se ver desde o colegial, de
como tinha certeza de que os sócios gostariam de almoçar com ele para
celebrar seu primeiro dia, afinal, e de como provavelmente não deveriam
almoçar juntos, nunca. Depois, ela apagou tudo e recomeçou. Kara
simplesmente escreveu que ela não achava que fosse uma boa idéia e eles
deveriam conversar mais tarde.

Muito curto? Mas ele era um homem; eles geralmente gostavam de ir
direto ao ponto em vez de ter uma conversa longa, demorada. E ele não
ficaria magoado. Ela estava certa de que tinha sido apenas sexo para ele,
também. Principalmente depois de contar sobre aquele estilo de vida.
Provavelmente ele ficaria aliviado ao se livrar de uma enrascada sem precisar
ter "a conversa" com uma mulher chorosa a respeito de como as coisas não
estavam dando certo.

Ela se viu fechando a cara.

Não queria que ele se sentisse.

Impossível.

Nada mais iria acontecer entre ela e Dante. Era melhor assim. Afinal, iria
terminar cedo ou tarde.

Porém, sem sombra de dúvida, ela iria sentir falta do sexo. Do sexo


fodidamente quente que serviu para realizar todas as fantasias sombrias que
já tivera. Com o cara que sonhara desde o colegial. E, no fim das contas, se
revelou ainda melhor do que ela jamais ousou imaginar.

Ela mordeu o lábio e clicou em .enviar..




SEIS



Dante estava sentado no escritório novo, olhando a tela do computador.

Ela havia mesmo dito não?

Isso pegou ele de surpresa, encontrar Kara no escritório, descobrir que o
novo emprego era na firma onde ela trabalhava. Porém, para ele, tinha sido
uma surpresa agradável. O único problema foi tentar transparecer que sua
cabeça foi imediatamente tomada por fantasias com ela se inclinando sobre a
mesa...

Está certo, trabalhar com uma mulher com quem você dorme poderia ser
complicado. Contudo, por ora, ela lhe parecia do tipo lógico. Não das que se
envolvem demais. Emotivas. Não que ela fosse fria. Nada disso. Ele percebeu
nela uma independência que combinava com a sua. Tinha certeza que ela
saberia manter tudo casual entre eles. E continuava a pensar assim.

Eles transaram o fim de semana inteiro. Na cama, no chuveiro, no tapete
da sala...Ele bateu nela, beliscou, meteu com tanta força que a região da pélvis
estava dolorida. E ela havia adorado tudo. Kara nunca se mostrou carente,
nunca pediu nada dele. Foi ele que sugeriu que mantivessem contato,
encontrando-se naquela semana. O que tinha dado nela agora?

Deve ser a questão do trabalho. Porém, desde que ambos concordassem
com nada além de um pouquinho de sexo amigável – está bem, mais do que
um pouquinho – não precisaria haver problemas. Eles poderiam ser discretos.
Talvez até servissem para manter as coisas interessantes.

Muito interessantes...

Ele quase desejava que ela fosse sua secretária, em vez de uma advogada
da firma. Seria outra fantasia envolvendo o desempenho de um papel com
que já brincara antes. Mas ele precisava admitir também que existia algo de
atraente no poder da posição dela. Ele sempre preferia uma mulher tranquila,
que fosse semelhante a ele em todos os aspectos. Levá-la à submissão no
quarto tinha sido ainda mais satisfatório com aquele tipo de mulher.
Vencendo sua força. Era aí que o verdadeiro jogo de poder acontecia para ele.

Kara era forte. Ele percebia isso dentro dela.

Agora, ele queria vê-la em sua sala, pelada, deitada no seu colo...

Sorriu para si mesmo enquanto digitava no teclado:

Inaceitável, Nijo Sushi à uma da tarde. Espero ansioso. D.

Ele enviou o e-mail e recostou-se na cadeira, feliz consigo mesmo.


Kara pode ser forte, mas ele também conhecera o seu lado submisso. E
ele sabia como ela reagiria à mensagem, mesmo não querendo. Agora ele só
precisava esperar até a hora do almoço, quando poderia vê-la. Falar com ela.

Era um tanto ridículo ele se esforçar tanto com essa mulher, mas aquele
tipo de sexo não aparece todo dia. Quente, primitivo e … de certa forma fácil
entre eles.

Não complica, cara.

Ele correu a mão pelo queixo.

Não precisa ser complicado. Então, eles trabalhavam juntos. E daí?

O que acontece quando acaba e vocês precisam se ver todo dia?

No entanto, ele não queria pensar nisso. Não conseguia. Somente podia
pensar em ver Kara, tirando a beijos a teimosia da sua boca. Quem sabe lá no
restaurante, com sushi e chá.

Ele lidaria com o resto conforme as coisas fossem acontecendo. Por ora
estava tudo bem. Tinha um novo emprego excelente, novos chefes que
pareciam gostar dele, Kara Crawford somente a algumas portas de distância.
E o cheiro dela ainda estava sobre ele, mesmo depois do banho matinal.

Legal.

Ah, sim, ele iria gostar dali. E Kara iria gostar da sua presença. Ele faria
de tudo para que fosse assim.

Dante chegou ao Nijo Sushi alguns minutos antes do combinado. Ficava
longe o bastante do escritório para ter quase certeza que não seriam avistados
juntos, o lugar ficava perto demais da orla turística para a maioria dos
empresários. Ele tinha encontrado o melhor amigo, Alec, para jantar no
mesmo restaurante poucas semanas atrás e apreciado a comida e a elegante
decoração urbana.

A recepcionista o instalou numa mesa no fundo do recinto e ele pediu
um bule de chá verde para o garçom. Queria saquê, mas era um dia de
trabalho. Geralmente não bebia durante o expediente. Ele não sabia ao certo
por que a ideia tinha cruzado a sua mente agora. Exceto pela vaga sensação
de precisar se acalmar.

Ela é apenas uma mulher, como qualquer outra.

Aquilo era besteira. Ela não se parecia com ninguém que conhecia.
Contudo, ele conhecia a Kara desde o colegial. Doce, inteligente e linda. Esses
aspectos dela não haviam mudado. Agora, ela era uma mulher completa.
Mais forte. Mais experiente. Mais bonita do que nunca.


E ele estava bancando o idiota. Que diabos estava errado com ele?

Quando o garçom voltou com o chá, ele pediu o maldito saquê.

Olhou o relógio. Era uma hora e cinco minutos. Cedo demais para saber
se ela viria.

Ele tamborilou os dedos sobre a mesa, olhando distraído o recinto,
absorvendo as paredes de tijolo à vista, a iluminação suave, as outras pessoas
almoçando, conversando. Havia um bom número de pessoas, mas ainda
assim existia algo tranquilo e íntimo no lugar, um dos motivos pelos quais ele
o escolheu.

Quando o saquê chegou, ele ignorou o chá, verteu a bebida gelada do
decantador de porcelana branca num copo pequeno e tomou um gole. Olhou
novamente o relógio: uma e dez.

Será que ela o derrotara, afinal? Se fosse o caso, qual seria o próximo
passo lógico? Certamente era uma experiência nova para ele, acostumado a
estar no controle. De tudo. Ele preferia assim. Gostava, talvez necessitasse,
estar no controle das coisas. Tudo funcionava melhor desse jeito. Chega de
histórias tristes como aquela com Erin na faculdade. Nada de dar chance para
aquilo acontecer. Desde que ele tivesse no controle, poderia se
responsabilizar por tudo. Ser homem não se resumia a isso? Exatamente
como seu pai tinha ensinado. Na verdade, martelado nos ouvidos. Porém,
apesar das chantagens emocionais do pai sobre Dante e o irmão, Lorenzo, o
coroa estava certo. Responsabilidade era o mesmo que controle. Era mesma
ideia, uma maneira de viver a vida. Método praticado por ele sem falha
desde a morte de Erin.

Ele sentiu uma leve pontada no peito ao pensar em Erin. Tomou outro
gole de saquê. No fim das contas, aquilo terminaria passando, ele pensou. Por
que estava pensando naquilo tudo agora? Na austeridade do pai, na
namorada da faculdade, na culpa antiga.

Bastava dar um jeito nas coisas – em Kara – e ele estaria bem.
Simplesmente bem.

Ele olhou o relógio. Uma e quinze.

Droga.

Esvaziou o copo de saquê e encheu outro. Procurou o garçom para fazer
o pedido. E a avistou parada do outro lado da mesinha.

Kara estava meio despenteada, com o sedoso cabelo castanho
desgrenhado. As bochechas se mostravam rosadas, provavelmente por conta


do frio. Igualzinho a quando estava na sua cama. Pelada e ruborizada por
conta do orgasmo.

Ele ficou de pau duro no ato. Só de ver Kara ali de pé, com os olhos
brilhando de puro aborrecimento. Com a boca convidativa pronta.

Ah, ela estava chateada. O que lhe deu mais satisfação do que deveria.

Dane-se. Ela comeria direitinho em suas mãos, afinal.

Ânimo, amigo.

Ele se levantou, deu a volta na mesa e puxou a cadeira.

– Não vai se sentar, Kara?


Ela o encarou, tirou e lhe entregou o casaco, depois se jogou na cadeira e
sentou-se também.

– Pedi chá para você. Ou prefere saquê?
– Não costume beber durante o expediente – ela falou, ainda com
uma expressão fechada.


Ele nunca a vira zangada antes. Havia algo naquilo que ele achava
atraente.

- Nem eu. Geralmente

- Mas? - ela o desafiou.

- Mas...- Ele deu de ombros. - Estou comemorando. O primeiro do meu
novo emprego. Pensei que também gostaria de comemorar comigo.

Ela deu um longo suspiro. - Minha nossa, Dante, por que eu iria querer
comemorar? Nós estávamos perfeitamente bem até você entrar valsando na
minha firma hoje cedo, o novo sócio minoritário. E agora nós simplesmente
devemos... terminar. E por mim tudo bem, mesmo. Mas você não pode... me
convidar para almoçar.

Ela cruzou os braços sobre o peito.

Ele se inclinou para frente e colocou o chá no pequeno copo esmaltado,
empurrando-o ao longo da mesa até ela. - Beba um pouco de chá, Kara. Você
precisa se acalmar.

- Estou bastante calma. Só estou pedindo que respeite o fato de que,
como colegas de trabalho, nós não podemos ter... um caso.

- Por que não? Você parecia muito contente com isso hoje cedo.

As bochechas dela se incendiaram, e ele adorou vê-la se iluminar
daquele jeito, quer fosse por raiva ou paixão. Quem sabe um pouco de cada.
Seja como for, ela era uma mulher maravilhosa.

- Dante, você realmente não entende o problema? Vamos nos ver cinco


dias por semana. É por isso que quem trabalha junto não deve transar.
Quando tudo acabar, o ambiente de trabalho ficará desconfortável para os
dois.

- Mais desconfortável do que será agora, terminando desse jeito?

Kara recostou-se na cadeira, bufando, dissipando parte da raiva.

Ele tinha razão?

Ele estava tão bonito, sentado ali na frente com o perfeito terno sob
medida, numa pode casula e relaxada. O homem tinha a tendência de se
jogar sobre os móveis como se fosse o dono deles. Ele tinha o costume de se
comportar como se tudo lhe pertencesse. E se safava com isso.

O que deixava ainda mais atraente.

Kara mordeu o lábio, tentando compreender tudo aquilo.

-Dante, namorar colega de trabalho nunca é boa ideia – ela tentou
protestar, mas pareceu uma desculpa meia boca até mesmo para ela.

Ele inclinou-se, tomou a mão dela, com o polegar afagando o pulso. Sua
voz era tão baixa que ela precisou se inclinar para ouvi-lo. - Então não
namoramos. Vamos apenas ter o sexo mais incrível, safado e quente possível.
Na minha casa. Na minha cama. No tapete persa da sala de estar. No balcão
da cozinha. U quem sabe no clube, aonde eu adoraria levá-la. E se for muito
boazinha, minha menina bonita, na mesa do meu escritório.

- Dante! - Ela puxou a mão de volta, com a pele pegando fogo. Kara não
podia mentir para si mesma dizendo que o calor era outra coisa além de puro
desejo.

Ele sorriu, um pequeno levantar arrogante no canto da boca.- Ah, tô
vendo que gosta de ideia. Não venha dar uma de santinha para cima de mim
agora, Kara.

Ela fez que não. - Você é incorrigível.

O sorriso se espalhou, fazendo as covinhas piscarem. - Mas você gosta
disso em mim.

Meu Deus, ela gostava de tudo nele, mas nunca iria lhe confessar aquilo.
Ou que seu corpo inteiro estava se derretendo depois de ver aquelas
covinhas, escutar o tom baixo sexy da sua voz. E, principalmente, o fato de
ele não aceitar um não como resposta.

Queria odiar ele por isso. Por fazê-la amar suas ordens, até mesmo agora.
Por fazê-la necessitar disso, mas era impossível.

Bebeu o chá tentando ganhar tempo, acalmar o pulso acelerado. A raiva


se derreteu junto com o seu corpo, fundindo os dois num calor líquido
extremo que ela não negava e não sabia ao certo como lidar.

Dante se aproximou, pôs a mão novamente sobre seu pulso. Para ela, o
gesto pareceu inacreditavelmente íntimo. Ele falou baixinho: - Eu tô vendo,
sabia? Sinto o seu pulso. Bem aqui debaixo dos meus dedos. - Ele pressionou
suavemente a pele. - A voz ficou ainda mais baixa. - Você é muito persuasiva,
não é, Kara? E pode fingir que tudo isso é raiva, mas não passa de uma
bravata, não é? Não precisa me dizer para eu saber no que isso vai dar.
Talvez existam brincadeiras mais agressivas entre nós. Ou talvez não neste
momento. E, assim, vamos continuar exatamente de onde paramos hoje cedo.
Dá para acreditar que ainda nesta manhã você tava pelada na minha cama?
Gritando de prazer? Dizendo meu nome? Implorando por mim, Kara.

Os olhos brilhavam enquanto falava. Tão sexy que ela mal conseguia
aguentar. E emanavam poder. Ela queria resistir a ele. Concentrar-se em
todos os motivos pelos quais não seria uma boa ideia, mas Kara não era
capaz de desviar os olhos dele. Era tortura. Desejá-lo. Saber que ela não
deveria fazer isso...

- Ah, sim – ele continuou. - Você implorou para eu e comer, para eu te
fazer gozar. E você adora implorar tanto quanto eu. Ouvir aquela entrega na
sua voz.

Ela puxou o braço.

- Dante, nós devemos dar um fim nisso. Você precisa parar.

Ele discordou, balançando a cabeça. - Só se for o seu desejo, mas creio
que seja o caso.

- Você é advogado. Encontra um jeito de defender qualquer coisa.

- O mesmo também se aplica a você.

Ela olhou pra ele, esfregando o pulso, onde os dedos dele encostaram
poucos momentos antes. Era como se ele ainda a tacasse. Como se tivesse
deixado uma maca, queimada a fogo.

- Então, vamos continuar discutindo, Kara? Porque, como você bem
disse, posso continuar o dia inteiro com esse esquema. E você também. Mas
porque desperdiçar nossa energia numa discussão? Nós dois queremos a
mesma coisa. Foi assim desde o começo. Talvez até mesmo no colegial. Só
que não admitíamos naquela época. Eu posso admitir agora. E você?

Começou a fazer que não com a cabeça, mas havia alguma coisa no tom
baixo e sereno da sua voz, no controle absoluto pelo qual se expressava,


tocando fundo dentro dela, abalando-a a sua alma.

Ele tinha razão. Ela o desejava. Queria as coisas que fizeram juntos. E era
por isso que estava tão irritada. Porque parecia um rico manter a relação.
Sim, porque trabalhavam juntos. Só que havia algo a mais... um elemento de
perigo com ele que Kara não pretendia analisar a fundo.

- Diga-me o que está pensando, Kara – ele perguntou. Exigiu.

- Que você... tem razão.

Ela levantou os olhos para ele, mas não havia tripúdio em sua expressão.
Não existia nada além de puro prazer em seu rosto, em seu sorriso.

- Eu esperava que você reconhecesse o erro no seu comportamento.

- Agora você tá me provocando. - Mas ela não se importava.

- Sim. Eu não consigo evitar. Você fica corada tão belamente. Lembra a
cor da sua bunda quando eu bato nela.

- Dante, precisa falar isso?

- Ah, sim. - Ele abriu um sorriso.- Sem a menor dúvida.

- Você é homem mau – ela afirmou, com um sorrisinho.

- Eu me esforço.

Kara sacudiu a cabeça. - Não vou almoçar, né?

- Vou pedir alguma coisa. Quero esteja bem alimentada para o que tenho
reservado para mais tarde.

Era muito perigosa a forma que o corpo dela se incendiava com uma
necessidade pura, ansiosa, simplesmente ao pensar em ir para casa dele,
ocupar novamente a sua cama. Ou o balcão de sua cozinha, ou o piso da sala
de estar...

- Talvez a gente devesse...pensar melhor nisso, Dante.

- Talvez você pense demais.

- Hum, bem, sim.

Ele pegou novamente a mão dela, levou até os lábios depositou um beijo
suave na palma aberta. - Mais tarde, quando ficarmos sozinhos, verei o que
posso fazer para essa sua mente brilhante reduzir o ritmo. Ficar vazia. Uns
bons tapas parecem fazer isso com você, mas talvez esteja pronta para algo
mais.

- Tá tentando me assustar?

- Tá funcionando?

- Talvez.

Ele sorriu satisfeito consigo mesmo.


- E talvez não – ela acrescentou. - Não tenho medo do que eu quero.

- Não tem? Não foi isso que te impediu de correr atrás dos seus desejos
todos esses anos?

- Não tenho mais.

Mas era mentira. Ela desejava Dante. Mais do que gostaria de admitir. E
isso a matava de medo.

Contudo, ela o desfrutaria. E pensaria tudo aquilo mais tarde.

- Vamos alimentá-la. - Ele soltou a mão dela, acenou para o garçom e
pediu sem olhar o cardápio.

- Sempre faz isso? - ela indagou.

- O quê?

- Assumir o controle de qualquer situação?

A pergunta pareceu surpreendê-lo. - Sim. Tem algum problema se eu
pedir para você?

Ela relaxou na cadeira, a madeira espetava um pouco os pontos
machucados na bunda, fazendo-a sentir uma estranha descarga de prazer. Ela
deu de ombros, desconsolada. - Eu gosto. Odeio admitir, mas gosto.

Ele sorriu para ela. - Nós vamos nos dar muito bem. - Ela fez uma careta
de aborrecimento, provocando uma risada dele. - É verdade. E tenho certeza
de que temos muitas outras coisas em comum.

- Tipo o quê?

Ele deu de ombros. - Nós dois somos advogados, então passamos pelo
inferno que é o exame da Ordem.

Foi a vez de Kara rir. - É verdade.

A comida chegou. Ele pediu sushi de enguia, sashimi de salmão, salada
de lula. Ela gostava de tudo. Os dois colocaram porções nos pratos, junto com
finas lascas de gengibre picante. Numa tigela, Dante misturou o molho de
soja, wasabi e empurrou para dentro do prato dela. Ela pensou em
questionar. Kara já começava a se acostumar com ele assumindo o comando.

Meio assustador, mais ela gostava.

Não pense nisso. Aproveite. Aproveite-o.

- Então, o que mais? - Ele perguntou enquanto comia.

- Como assim? - Ela engoliu o sashimi. - Ah, como isso é bom!

- Do que mais você gosta? Além de sexo safado? - Ele sorriu, as covinhas
faiscaram e os olhos cor de uísque cintilaram.

- Um monte de coisa.


- Arte ?

- Sim. Sempre – ela respondeu. - Mas você já sabia disso. E você? Pelo
que vi no seu apartamento, tem um olho bom para as coisas. A não ser que
tenha contratado um decorador.

- Não, as escolhas, boas e ruins, são todas minhas. Gosto um pouco de
tudo. Gosto de misturar as coisas. Não sei se alguém mais acha que funciona.
Mas não me importo. Eu gosto. - Ele fez uma pausa para comer ouro sushi. -
Estou começando a me interessar por escultura moderna ultimamente. Obras
abstratas. Eu não entendo. Só sei que gosto.

- Pra mim não é preciso entender a arte. Ela deveria ser mais...
experiencial do que isso. Somente é preciso saber o que se gosta, como você
disse. Acontece o mesmo com os filmes, eu acho.

- Concordo. Existe algo para todos, e ninguém mais pode julgar. Eu
gosto e assistir filmes. Sempre gostei. Eu curto os velhos clássicos do cinema
noir, fitas dos anos quarenta e cinquenta.

- Sério? Esses estão entre os meus favoritos. - por que a surpreendia eles
terem tanto em comum? Ela ficava surpresa e excitada. - Cidadão Kane, O
falcão maltês. E tantos desses filmes noir centrados em uma mulher de moral
questionável, o que me atrai, por algum motivo.

- Sem dúvida, pacto de sangue. Lana Turner em O destino bate a sua porta.
Há quem ache que o ritmo é lento. É mais devagar. O estilo dos filmes
mudou, mas às vezes acho que preciso de ritmos mais lentos, mesmo. Gosto
do contraste do preto e branco no cinema da mesma forma que gosto em
fotografias. Quando fico acordado até tarde da noite, vivo trocando de canal
até encontrar um dos velhos clássicos. Ou pego um DVD da minha coleção.

- Também faço isso- ela disse. - É relaxante. Reconfortante. Há um quê de
aconchegante e solitário ao mesmo tempo em filme antigo às três da
madrugada.

Ele concordou com a cabeça. - Verdade. Tarde da noite ou, às vezes, de
manhãzinha. Não sei por quê. Gosto dessas horas silenciosas, do clima delas.
Às vezes levanto bem cedo, tipo às cinco, e saio de moto. Só vou
rodando...pra qualquer lugar. Geralmente sozinho, mas às vezes convenço o
Alec a me acompanhar.

- Vocês tem moto?

- Foi uma das coisas que nos uniram. Além da sacanagem – ele abriu um
sorriso maroto. - O problema é ele ter um gosto deplorável por motos. Sou fã


da BMW, e ele tem um gosto bizarro pela Ducati, mas, tirando isso, é um
ótimo sujeito. Já viajamos para todo canto juntos, em trilhas pelo interior ou
cruzando o país. Ele me convenceu a fazer umas maluquices. Mas gosto dele
provocar isso em mim. E não existem muitas pessoas que me acompanhariam
para mergulhar em um penhasco no México.

- Acho isso empolgante?

- Acha?

- Sim, sem dúvida nenhuma. Sempre quis fazer algo do gênero. Um
desafio de verdade. O que mais? - ela perguntou. - Diga no que mais está
interessado.

- Fazendo exigências, Kara? - ele a provocou. Ela sabia que era
provocação pelo brilho nos olhos dele, o sorrisinho brotando nos cantos da
boca. - Tentando mudar o equilíbrio do poder?

Por que aquilo a fez corar? E rir. - Seria tão ruim assim?

- Desde que você saiba que o poder sempre voltará para mim.

- Ah, não esquenta. Não duvidaria disso nem por um segundo.

Ele abriu um sorriso largo novamente, com as covinhas acentuando o
viço masculino da boca. Ele não conseguia esperar até ficarem sozinhos, até
ele a beijar novamente. Tinha acontecido mesmo naquela manhã? Kara quase
havia de esquecido de ter ficado com raiva dele, de pensar que não poderiam
mais se ver. Ela não conseguia esperar. Não conseguia se imaginar nunca
mais sentindo o seu toque.

Ele bufou ao ouvir o telefone tocar. - Droga. Desculpe. Eu preciso
atender. - Colocou o telefone na orelha. Dante falando... Oi, Ruby... Quê?
Não, eu não esqueci. Já estou voltando. Me dá quinze minutos.

Desligou e falou para Kara: - Eu me esqueci. Você me distrai demais.
Não que eu me importe, mas tenho uma reunião com Ed Tate para conhecer
os casos que vai me passar. E já me avisaram que provavelmente será uma
noite longa. Ou seja, teremos que esperar para ficarmos juntos. E amanhã a
noite já tenho compromisso.

- Ah, sem problemas.

Kara não gostou do enorme fluxo de decepção que perpassou por ela.

Ele é apenas um cara. Somente sexo.

Mas sabia que era mentira. Uma mentira que não estava pronta para
encarar.

Ele se esticou, pegou sua mão e nela esfregou o polegar. O calor se


espalhou pela pele de Kara. - Então, quarta à noite – ele disse, mais uma
ordem.

- Quarta-feira está bem.

Ele sorriu novamente para ela. - Excelente.

Dante pagou a conta e eles saíram, encarando o frio da tarde de janeiro.
O céu estava nublado, pesado, prometendo chuva, mas por sorte ainda não
começara. Ela estava apressada demais para deixar a sala e ir ao encontro
dele para se lembrar de levar o guarda-chuva. Muito excitada, um pouco
chateada por ter sido convocada por ele. O aborrecimento, no entanto,
desapareceu com se nunca tivesse existido.

Dante chamou um taxi e abriu a porta para ela. - Presumo que prefira
manter as coisas no sigilo. Eu pego outro.

- Obrigada. Pelo almoço. É por ficar atento à... minha reputação. - Ela riu.
- Meu Deus estou falando como uma debutante dos anos cinquenta!

Ele sorriu inclinou-se e a beijou no rosto, somente um mero roçar de
lábios. Ela começou a queimar por dentro no ato. - De nada. Nós nos vemos
na firma. E na minha casa, quarta-feira à noite. Chegue as sete.

Ela concordou com a cabeça, e ficou muda pelo desejo pulsando no
corpo.

Dante a ajudou a entrar no táxi, e ela voltou ao trabalho, cruzando e
descruzando as pernas, tentando diminuir aquele desejo agudo causado pelo
beijo, latejando no ventre.

São apenas dois dias.

Esses dois dias vão parecer uma eternidade.

De volta ao amigo vibrador, ela supôs. Porém, Kara sabia que ele apenas
serviria para conferir o alívio mais básico. Nada ajudaria a acalmar o calor
assolando o seu corpo. Nada além do toque do Dante.

Dante.

Ela não deveria desejá-lo tanto. Certamente não deveria necessitar tanto
dele. Mas assim o era. Tinha medo de ser mais do que os beijos exigentes, seu
toque talentoso. O jeito como ele sabia do que ela precisa instintivamente. O
sexo safado e fantástico. Mas Kara estava com medo de parar e analisar tudo,
pois, se o fizesse, teria que encarar o fato de Dante De Matteo ser um homem
pelo qual ela se apaixonaria.

Ela não pretendia se apaixonar mais. Kara havia se saído otimamente
bem nesse quesito até agora. Mesmo com Jake, tinha mais haver com ser fácil,


descomplicado. Antes de qualquer coisa, tinha sido algo com que eles
acabaram se deparando. Foi conveniente.

Não havia nada de conveniente no Dante. Ele a desafiava.

Ela adorava esse aspecto nele.

Entretanto, não significava que ele iria se apaixonar por ele. Kara não era
desse tipo de garota. Nunca tinha sido nem seria agora.

Só não pare de ficar repetindo isso para si mesma.




SETE



Kara não sabia como conseguiu vencer os dois últimos dias. Na segunda-
feira, Dante desapareceu na sala de Ed Tate depois de almoçar com ela, e os
dois continuaram lá dentro quando saiu da empresa.

Ontem, Dante mandou uma mensagem pedindo seu e-mail particular, e
ela o enviou, mas não teve mais notícias dele. Agora era o fim do expediente
na quarta-feira, e Kara se preparava para deixar o escritório. Ela conferiu o e-
mail pela última vez, esperando alguma mensagem dele, ainda que fosse
apenas uma confirmação do encontro daquela noite.

Não havia nada na caixa de entrada.

Droga.

Por que ela estava agindo feito uma adolescente fascinada por um ídolo?
Ela nunca tinha sido o tipo de mulher a esperar ao lado do telefone – ou do
computador – por um homem. Nem com o Jake. Logo no início do seu
relacionamento, ele lhe contou que um dos motivos pelos quais se sentira
atraído por ela fora sua independência. Jake gostava de ter de correr atrás
dela, de Kara nem sempre ter tempo para ele.

Talvez ela estivesse dando mole demais para Dante. Quem sabe devesse
recuar um pouco. Dizer que estava ocupada aquela noite e que não poderia
encontrá-lo.

Ela sabia muito bem que não faria aquilo, pois mal se aguentava de
vontade de vê-lo. Praticamente, ela tremia inteira de desejo. De vê-lo. De ele
tocá-la. De simplesmente voltar a estar com ele.

Ridículo.

Mas ela não conseguia se controlar.

Suspirando, pegou o casaco, a bolsa e saiu para o corredor. Kara não
conseguiu se conter e olhou a porta fechada da sala de Dante a caminho do
elevador.

Então ele ainda estava trabalhando. Bom saber.

O celular tocou, e ela atendeu sem ver o identificador de chamadas. Kara
ainda não havia despregado o olhar da porta dele no fim do longo corredor.

- Alô?

- Kara, você já saiu do prédio?

Dante. A barriga dela gelou, as pernas bambearam. A mesma
necessidade instantaneamente se incendiava entre suas coxas.


- Oi. Não, ainda estou aqui – ela falou. – Eu estava de saída.

- Não saia.

- Hum... Está bem. Vai fazer serão?

- Talvez fique até mais tarde. Ainda tem alguém aqui?

- Sim, algumas pessoas.

- E Ruby? – ele indagou.

- Saiu faz mais ou menos uma hora. Por quê?

- Porque quero que venha à minha sala.

- Agora?

- Sim, Kara. Agora.

Não havia como argumentar contra aquele tom de voz. Ela não queria. E
compreendia que ele não planejava rever casos com ela. Ela engoliu seco.

- Está bem. Já estou indo.

Kara deu uma olhada ao redor da empresa. A porta de Gary estava
aberta e ela o viu lá dentro, conversando com o assistente.

Respirando fundo, ela voltou pelo corredor a caminho da sala de Dante.
E quase esbarrou em Theresa, saindo de sua sala, enquanto vestia o casaco.

- Vai trabalhar até mais tarde, Kara?

- Ah, não. Bem, talvez. Eu só... preciso ver uma coisinha.

- Seguro o elevador para você?

- Quê? Não. Não, obrigada. Não precisa ficar esperando. Deve demorar
uns minutinhos.

- Está bem. Até amanhã.

- Boa noite.

Ela entrou em sua sala, contou até trinta e espiou para saber se Theresa
havia ido embora. Kara se sentia uma criança bisbilhotando depois da aula
algo curiosamente excitante. Porém, a excitação tinha tudo a ver com Dante.

Dante.

Uma nova onda de desejo a inundou enquanto caminha pelo corredor
até a porta dele, abria e entrava, e depois a fechando em silêncio.

Ele estava sentado atrás da mesa, lindo pra caramba num terno preto, a
camisa azul-escura contrastava com o castanho-dourado de seus olhos. Um
sorriso lento iluminou sua face, e ele acenou com a cabeça para ela.

- Tire o casaco, Kara.

Nenhum cumprimento. Tão somente aquela ordem simples.

Ela adorou.


Deslizando o casaco dos ombros, Kara o colocou sobre o sofá de couro
marrom recostado na parede, deixando a bolsa ao lado.

- Vem cá – ele falou baixinho.

Ele a observou atravessar a sala. Ela sentia o corpo esquentando sob seu
olhar penetrante. Kara lambeu os lábios, aproximando-se da mesa.

- Você fica ótima nessas saias justas – ele disse, com a voz fumegando de
calor. – Esse visual sexy de mulher de negócios combina com você. – Ele se
levantou, chegou perto, fazendo-a segurar o fôlego. – Sua bunda fica
maravilhosa, mas quero uma visão melhor.

Ele a segurou pela cintura e a girou até ela ficar de costas.

- Isso – ele falou baixo. – Agora, incline-se e coloque as mãos sobre a
mesa.

Ela se viu atendendo ao comando, enquanto a mente se esvaziava numa
velocidade alarmante.

Não pense. Não pode pensar agora...

- Linda, Kara. Perfeita. A curva da sua bunda nessa saia é... perfeita.

Ele se aproximou dela por trás e deslizou a mão sobre o quadril. Ela
sentia o calor emanando dele pelo algodão fino e macio da saia. Já estava
molhada, o sexo palpitava sombrio no meio das coxas.

Ele se inclinou até o hálito esquentar a bochecha dela. Dante sussurrou: -
Agora não se mexa.

Um tapa forte estalou, e ela gemeu.

- Eu te surpreendi? Você deveria saber o que eu ia fazer quando te
reclinei sobre a mesa.

- Ainda tem gente aqui – ela disse, numa voz pequena, um quase
protesto.

- Sim, o que apenas deixa tudo mais excitante.

- Não tranquei a porta da sala.

- Ninguém vai entrar. Deve confiar em mim, Kara. Você confia em mim?

- Sim – sussurrou.

Ela confiava. Era preciso. Ela já estava entregue ao ataque do desejo,
afogando-se nele.

- Bom. Muito bom.

Ele deu outro tapa, a sensação era suavizada pelo tecido entre a mão dele
e a bunda dela.

- Ah!


- Shh, Kara. Dante cochichou. Ele afastou os cabelos dela e beijou a nuca,
fazendo-a estremecer. – Caramba, sua pele tá tão quente. Eu preciso tocá-la.
Tocar você...

Ela o sentiu recuar um momento enquanto levantava a saia, deslizando-a
ao redor da cintura.

- Ah, eu devia saber que você tava com essa tanguinha debaixo dessa
saia justa. Adoro essa combinação com as botas. Ainda vou te comer com
você só de botas.

Ela tremia antes mesmo de ele a tocar. Depois, Dante passou suavemente
a palma da mão sobre a bunda, e ela ficou toda molhada. Kara precisava se
segurar na beira da mesa, se forçar a ficar parada.

Ele continuou correndo a mão sobre a carne nua, numa sensação suave e
doce. Mas ela queria o toque mais forte.

- Dante, por favor...

- Ansiosa, menina bonita? Gosto disso. Mas você precisa esperar até eu
ficar pronto. Inspire, expire. E espere.

Kara gemeu baixinho. Ele deu uma risadinha perversa. Dante se
manteve acariciando a pele dela, com a palma da mão e os dedos. Era
maravilhoso. Era uma tortura.

- Mergulhe no meu toque – ele disse. – Continue respirando. Isso, desse
jeito.

Ela tentou fazer como mandava. Depois de alguns instantes percebeu o
que estava fazendo. Mergulhando. À deriva. De olhos fechados.

Encolheu-se com a pancada pesada. Dessa vez ela estava preparada.
Mesmo assim doeu. Mesmo assim era maravilhoso. Feito algo que ela exigisse.

Ele fez uma pausa para roçar aquela carne flamejante com a palma da
mão, depois bateu outra vez. E de novo, e de novo. Com força suficiente para
doer, para a ferroada reverberar nela com pequenas ondas de prazer...

- Meu Deus, Dante...

- O que foi, Kara? – ele perguntou, enquanto a mão segurava os cabelos
dela. Dante enterrou os dedos neles, agarrou firme junto ao couro cabeludo.
Até mesmo aquilo foi puramente erótico para ela, aprofundando ainda mais a
sensação dentro do corpo ansioso.

- Por favor, Dante, me toque. Por favor.

- Adoro que peça assim, com tanta gentileza. – Ele deslizou a mão pela
cintura, a deixou escorregar e envolveu seu púbis.


- Ai, Dante...

A voz dele era um sussurro em seus ouvidos, seu hálito lhe aquecia a
pele. – É disso que você precisa, menina bonita?

Depois, ele deslizou os dedos sob a renda da calcinha, sentindo seu calor
úmido.

- Ai!

- Você é tão escorregadia, tão molhada – ele segredou, enquanto os
dedos subiam e desciam pela fenda, tateando sua abertura e voltando a
acariciar as pregas inchadas. – Gosta disso, Kara? Responda.

Céus, aquele tom autoritário.

- Sim, sim!

Ele encontrou o duro botão do clitóris e esfregou a ponta com os dedos.
Os quadris se mexiam num ritmo próprio, arqueando ao seu toque.

- Ah, isso é bom, Kara. Dá sua carência para mim. Se entrega para mim.

Ele pressionou o grelo e o prazer a invadiu, a respiração se tornou difícil,
composta de arquejos irregulares. Quando Dante começou a esfregá-lo entre
os dedos, ela mal conseguia respirar.

- Dante... eu vou gozar.

- Ainda não.

Ele deu uma porrada com a mão livre. O estalo pesado na bunda a fez
morder os lábios para não gritar. A ardência aguda, somente serviu para ela
sentir mais nitidamente o limiar do prazer, elevando-o.

- Espere, Kara. Espere. Pode gozar quando eu mandar – ele falou, com
um desejo intenso na voz.

Dante começou a bater de verdade, numa sequência de golpes rápidos.
Nem alto nem forte demais, mas o ritmo enterrou a ardência no fundo da
pele. E ele não descuidou do clitóris. Tudo parecia se fundir ao mesmo
tempo: a mão na bunda, os dedos no grelo, a pequena e pecaminosa ameaça
de serem pegos. Era uma sobrecarga de prazer que ela mal conseguia
controlar. No entanto, Kara só poderia gozar quando ouvisse a ordem. Ela
não gozaria. E aquilo era um prazer diferente em si.

Ele bateu mais forte, e o desejo a levou a uma altitude estonteante. Ela se
equilibrava ali. Doloroso. Delicioso.

- Dante...

- Você está pronta?

- Por Deus, sim!


- Então, goza, Kara. Goza pra mim.

Ele pressionou o clitóris, esfregando, esfregando, batendo a carne nua
com a outra mão. Dor e prazer reunidos, fundidos numa sensação pura que a
deslumbrou, cegando-a ao gozar. Espasmos duros, ininterruptos. Teve de
morder o lábio para não gritar, para conter o grito que lutava com força para
escapar da boca cerrada. Quando acabou, ela tremia, mal conseguindo ficar
de pé, a beirada da mesa machucava a palma das mãos.

Dante beijou sua nuca, afagou os cabelos com uma das mãos enquanto a
outra, envolvendo a cintura, a mantinha em pé. – Muito bom, Kara. Incrível.
Tô cheio de tesão por você, mas não vou te comer aqui. Vai ter de vir comigo.
Agora mesmo.

- Agora? – ela questionou, ainda sem fôlego.

Ele a girou nos braços, esticando a bainha da saia sobre as coxas. Os
olhos estavam escuros, cintilando em tons de dourado e castanho. Ele parecia
perigoso, maravilhoso.

- Ah, você tá tremendo pra valer, gostosa... Sabe o que isso faz comigo?

Ela tinha acabado de gozar, mas ouvi-lo falar assim fazia ela querer mais,
precisar dele. Se ao menos ele a jogasse sobre a mesa outra vez e deslizasse
dentro dela...

Mas o que ele fez foi quase melhor. Ele inclinou sua cabeça e a beijou,
invadindo de verdade a sua boca. Os lábios dele abriram o dela, a língua a
invadiu. Dura e exigente. Escorregadiça e doce. Ela julgou ser capaz de gozar
uma vez mais com o beijo. Não fazia sentido. Nem precisava.

Ele a trouxe para perto, esmagando o corpo dela contra si. A ereção
pressionava a coxa dela. Nossa, ela o desejava. Queria tocá-lo como ele a
tocava. Queria pôr as mãos em volta daquele pau grosso e arregaçá-lo até
gozar. Ela o queria dentro de si.

Dante se afastou. Estava respirando pesado. Exatamente como ela.

- Preciso que saia daqui agora – ele afirmou.

- Sim.

Ela estava empolgada por ele se mostrar igualmente ansioso. Dante a
encarava com aquele olhar. Procurando. Concentrado. As sobrancelhas
escuras retesadas.

- Porra, Kara!

- O que foi?

Ele ia mudar de ideia? Lembrou-se de outra reunião perdida? O coração


dela disparou.

- Não consigo acreditar no quanto eu preciso de você. É uma puta
maluquice.

Ela se sentiu aliviada. – É, sim. Não me preocupo.

- Nem eu.

Ele a puxou e a beijou outra vez. E ela jurava ser capaz de sentir o
martelar duro do coração dele dentro do peito, pressionando com força
contra o dela.

- Me leva para a casa, Dante. Agora.

Ele concordou, simplesmente.

Era a primeira ordem dada a ele. E poderia muito bem se a última. Ela
não queria nem saber. Só pensava em senti-lo dentro dela. Em ele espancá-la
novamente. Beijá-la. Abraçá-la. Fazer de tudo sem qualquer limite além dos
impostos por ele sobre ela para realizar os desejos dos dois.

Era loucura. Talvez ela estivesse perdendo a cabeça. Perdendo-se em
Dante. Mas estava perdida demais para se preocupar.

Dante não se lembrava direito como chegaram à sua casa. Ele dirigiu, é
claro. Provavelmente distraído demais pela necessidade pulsante, aguda, que
sentia por ela para estarem inteiramente seguros.

Não era de seu feitio correr riscos que envolvessem alguém além de si
mesmo. Pilotar a moto. Como as loucuras cometidas por ele e Alec nas
viagens. Mergulhar com tubarões. Voa de asa-delta. Ele não deveria arriscar o
bem-estar de Kara naquele momento, mas se sentia tomado demais pela
vontade para se sentir cuidadoso. Dar um tempo para relaxar.

Afinal, ele não sossegaria. Não até tê-la, nua e se contorcendo por causa
de suas mãos, debaixo dele. Até fazer ela gozar, gozar e gozar. Até ele mesmo
gozar no corpo macio e maravilhosa dela.

De algum jeito, eles estavam no elevador do prédio, e Dante não
conseguia desgrudar as mãos dela nem por um segundo sequer. Levá-la
para casa e tirá-la do carro já tinha demorado tempo excessivamente longo. O
pau bem mais do que a meia-bomba nesse tempo todo.

Ele a trouxe para perto, com o braço ao redor da cintura delgada,
parando o suficiente para olhar seus brilhantes olhos cor de caramelo. Eles
estavam mais para a prata do que para o dourado. Cintilando de calor. A pele
ruborizada, as bochechas, rosadas. Os lábios estavam vermelhos, inchados,
como se ele já a tivesse beijado como pretendia.


Ele a apertou com mais força, inclinando a cabeça e pressionando os
lábios contra os dela.

Ah, eram doces pra cacete. E havia algo selvagem nela. A forma como ela
beijava, os braços se juntando no pescoço dele e se pendurando. Algo
diferente das mulheres submissas comuns que tinha conhecido. Ele não
conseguia pensar em mais ninguém agora.

Somente em Kara.

Impaciente, ele abriu o cinto do casaco dela e enfiou as mãos por baixo.

Precisava tirar logo aquela droga de roupa.

O elevador parou suavemente, a campainha soou e ele se afastou dela.
Uma puta tortura.

Tomando-a pela mão, ele a conduziu pelo corredor até a porta do
apartamento, virando a chave na fechadura. Entraram a seguir, e ele ligou a
luz do hall.

Dante se recordou da primeira vez em que a levou para casa. De cair de
boca nela contra a porta. Do gosto do oceano de Kara nos seus lábios.

Novamente.

Ela ficou em silêncio enquanto Dante tirou seu casaco e, a seguir, o dele.
Kara permaneceu de pé sem falar ao ser desnudada, revelando a pele branca
sedosa uma peça de roupa por vez: saia, sutiã, tanga rendada, botas de
camurça de cano alto. Dante a pegou nos braços e a levou ao sofá – a cama
estava longe demais – e ela enlaçou novamente os braços ao redor do seu
pescoço, pendurando-se. O corpo dela estava tão quente nos seus braços. Tão
doce contra ele. Deixando-o duro feito aço.

Ele a deitou no sofá, tentando ser gentil quando tudo o que queria era
jogá-la e envolvê-la por inteiro com as mãos. Com a boca.

Sim.

- Fique deitada, Kara – ele falou, com voz áspera. – Eu me encarrego de
tudo. Tudinho...

Ela obedeceu, com o cabelo castanho macio levemente desalinhado sobre
as almofadas. Os olhos dela eram um raio metálico por entre as pálpebras
abaixadas. Ele sabia que Kara estava mergulhando fundo ao subspace, naquele
espaço bruto e flutuante dentro da cabeça onde o submisso costumava entrar.
Ela era suscetível para cacete. Muito mais submissa do que pensava. Porém,
havia uma força inegável nela para deixá-lo fazer isso, comandá-la dessa
forma.


Mas Dante estava pensando demais.

Basta tocá-la. Possuí-la.

Ele pôs as mãos nas coxas, ela as abriu. Foi abrindo as pernas até ele
enxergar o rosa molhado de sua boceta.

Nossa.

Ele não se daria ao trabalho de tirar a roupa. Dante lambeu os lábios.

Lindo demais.

Ajoelhou-se no chão ao lado do sofá e se inclinou para saboreá-la.

Ela se mostrou doce e fumegante enquanto Dante arrastava a língua
numa longa lambida ao longo da abertura. Ele a ouviu respirar fundo. O
suspiro silencioso ao soltar o ar. E degustou novamente.

Dante empurrou mais fundo entre as dobras, achando sua entrada.
Afastando mais as pernas, ele a abriu; Estendeu as pregas macias dos lábios
íntimos. E enfiou a língua dentro dela.

A respiração de Kara se transformou num arfar informe, abafado,
enquanto ele passou a fodê-la com a língua. Os quadris se arquearam para
cima, na direção do rosto dele, e ele os segurou com ambas as mãos,
mantendo-a abaixada. Quando fez isso, Kara ficou inacreditavelmente
molhada, tentando se agarrar a sua boca, mas Dante, não deixou, mantendo o
controle.

O prazer ficou mais quente, deixando ele tão duro que mal se aguentava.
E Dante precisava disso. Dar prazer a ela. Fazer ela gozar.

Logo, ela estava resfolegando, mas ele não parou. Continuou chupando e
usando a língua, saboreando-a, bem no fundo. Ela estremecia. Gemia. Ele
adorava o fato de Kara não falar, em para implorar.

Quando ele soltou um lado do quadril para pressionar o grelo, ela se
desintegrou. Ele não sabia descrever o acontecido de outra forma. A boceta
apertou sua língua e as ancas pulavam, por mais que Dante tentasse segurá-
las. Ela gemeu um som primitivo, nascido no fundo da garganta. E com a
mesma intensidade com que ela gozou, seu pau latejou. Duro e doloroso.

Mas ele não queria parar. Queria fazer ela gozar de novo. Precisava
disso. Ele manteve o ritmo, agora lambendo o clitóris e fodendo ela com os
dedos. Ela arfava, sem fôlego. Dante adorava.

E enquanto enfiava os dedos, retirava e volta a meter, ele chupava o
clitóris. Enrolava a língua na pontinha.

Simplesmente precisava ouvi-la gozando outra vez.


Ele precisava provar com a língua aquela torrente doce e salgada.

Sim...

Era uma necessidade propulsora, maior até do que seu próprio desejo.
Senti-la se afogando nele. Submetida.

Em pouco tempo, ela gozava novamente, desta vez gritando, berrando
até a rouquidão. E foi bonito pra cacete.

Ela era bonita pra cacete.

Ele precisava possuí-la. Agora.

Dante recuou, percebendo o rosto corado, os peitos maravilhosos
tingindo-se de rosa iguaizinhos as bochechas. Ele se esticou e beliscou os
mamilos – não conseguiu se conter -, e o gemido dela se espalhou como um
rastilho prestes a explodir dentro dele.

- Não saia daí – ele mandou, subindo para pegar uma camisinha da caixa
na mesa de cabeceira.

Dante voltou, se livrou da roupa o mais rápido que pôde. Ela o
observava, mantendo os olhos em seu corpo, observando o pau ser
embainhado. Até mesmo o olhar dela era sexo pro. Tão intenso que ele
precisou parar e se acariciar por um instante, com os dedos correndo para
cima e para baixo daquele membro. O prazer era doce e aguçado em seu
cacete, sua barriga. De boca aberta, a língua dela deslizava para banhar os
lábios de pelúcia. E não deu mais para segurar, era demais para ele.

Ele se baixou sobre ela. Ou quem sabe caiu sobre ela. Não sabia.
Aconteceu rápido demais. Descontrolado para estar dentro dela.

Úmido, apertado e bom pra cacete: demais para acreditar. Então ele
parou de pensar. Dante meteu sem parar, penetrando fundo. E a sensação era
a de uma rajada de trovões, repercutindo dentro dele: no pau, na barriga. Na
mente.

Teve a vaga impressão de ouvir Kara gritando. Da textura macia de seus
seios pressionados contra seu peito. Da delicadeza de sua pele ao mergulhar
os dentes na carne do pescoço.

Não existia mais nada além do prazer, a pele dela, seus membros
enganchados. E a sensação aumentando momento após momento. Estocada
após estocada.

O pau era o ponto central, mas se espalhava pelo corpo inteiro: pele,
músculos e ossos. Quando gozou, foi como uma luz brilhante jorrando nele.
Ofuscando-o, fazendo gritar.


- Kara!

Ele não conseguia parar. Continuou martelando os quadris. E ela se
erguia ao encontro dele, repetidas vezes. A seguir, Kara berrava, ofegante.
Soluçando seu nome.

- Dante... Meu Deus, Dante...

Ele ainda se mexia, com o quadril arqueado, dentro dela, dentro dela,
sem parar. O gozo já havia terminado, mas ele não conseguia penetrar fundo
o bastante.

Perto o bastante.

Teve uma sensação de rasgão no peito, na cabeça. Alguma coisa o estava
abrindo. Algo desconhecido e não inteiramente bem-vindo. Ainda que doce.
Algo que tinha tudo a ver com Kara.

O pau ainda estava latejando. O corpo dela pulsava, prendendo-o com
força: boceta, braços e pernas envoltos sobre Dante. E, de um jeito distante,
ele entendia estar envolto nela. Corpo. Mente. Teve medo de se perguntar o
que mais.




OITO



Quando Dante acordou ainda estava escuro lá fora. Uma olhada no
relógio lhe informou que eram cinco da manhã. Ainda faltava uma hora e
meia antes de ele se levantar para ir trabalhar.

Kara dormia ao seu lado. A luz que ele tinha acendido no hall continua
acesa, com um restinho de luminescência alcançando o quarto do loft, mas
era o suficiente para, após alguns momentos, ele ser capaz de identificar os
traços dela. Kara era delicada, com maçãs do rosto altas e curva. A boca,
inacreditavelmente convidativa. Maravilhosa. Seu cabelo sedoso estava caído
sobre o travesseiro. Ele adorava sua textura. Adorava o jeito como
emoldurava o rosto dela quando estava desperta. Adorava o abandono com
que estava esparramado agora. Ou durante o sexo.

Ele abaixou os olhos, conseguindo identificar a elevação sensual e a
curva de seu corpo debaixo do cobertor. E lembrou-se da sensação do corpo
dela nas mãos.

O corpo dela sempre foi atlético, gracioso, tonificado, mesmo no colegial.
Agora, ela contava com apenas algumas curvas a mais, um pouco mais de
abundancia. Feminilidade. E o rosto era praticamente o mesmo. Talvez mais
bonito agora. Mas antes ela já era bonita. Kara ainda trazia frescor em si. A
pele era perfeita. Suave como a de um neném.

Com o dedo, ele acariciou seu queixo, subindo pela bochecha e os olhos
se abriram.

- Oi. – A voz estava rouca de sono e, para ele, com um minúsculo tom de
desejo. Ou, quem sabe, ele quisesse se iludir. Dante se enrijecia só de olhá-la.

Loucura.

- Oi. Desculpe se te acordei. É que... sei lá. Queria te tocar.

Ele não conseguia acreditar que tinha falado aquilo em voz alta. Vai ver
ainda estava confuso de sono, mas ela sorriu; ele enxergava o brilho dos
dentes no quarto quase às escuras.

- Tudo bem – ela respondeu. – Eu gosto que você me toque. Que você
tenha me acordado. E ainda existe aquele silêncio do começo de manhã que
adoro tanto.

- Sim, mas... – O que ele queria dizer a ela? Dante não imaginava o que
estava acontecendo com ele. – Eu estava olhando e pensando como você
continua a mesma. Quase como se ainda tivesse dezesseis anos.


- Faz tempo que não tenho mais dezesseis.

- Eu sei. Mas é esquisito ver você depois de tantos anos. Não sei direito o
que aconteceu com você nesse meio-tempo. Só o básico. Faculdade. O lance
da carreira. – Por que era tão importante perguntar sobre a vida dela? Talvez
apenas para ficar a par, mas isso não explicava a necessidade de saber.

- Não me aconteceu muita coisa. – Ela fez uma pausa, passando os dedos
pelo cabelo longo. – Acho que só tava vivendo, como todo mundo. Faculdade
e trabalho. Amigos. Relacionamentos que não deram certo.

- E como acha que isso te afetou?

Ela ficou em silêncio por um momento. – Meu ultimo relacionamento
terminou muito mal. Acho que... fiquei abalada de verdade. Não que eu
tivesse loucamente apaixonada por ele porque, olhando para trás, não estava.
Vai ver... Envolvi muito meu ego nisso. Ele era um cara bonitão, bem-
sucedido. Genial, na teoria. Para mim, ficar com ele era o caminho a ser
seguido. Meus pais se encantaram com ele. Ou com a ideia dele, afinal. Eles
nunca reservaram um tempinho para conhecê-lo. Meu Deus, não sei por que
tô te contando isto.

- Porque eu perguntei – ele respondeu baixinho. – Costumo ficar
filosófico tão cedo pela manhã, quando ainda não clareou o dia.

Ela sabia que era bobagem. Uma desculpa mal dada.

Kara se deitou de lado, encarando-o. – Mas é esse tipo de coisa que
queria saber?

- Tudo que você quiser contar.

Era verdade. Ele queria.

- Muito bem. – Ela ajeitou o cabelo, afastando-o para trás do ouvido e
desnudando o ombro. Ele deslizou a mão sobre a pele, sem conseguir se
conter.

- Não sei bem por que tô contando isso, em particular – ela disse. –
Talvez porque ainda não tenha acordado direito. Ou porque ainda tá escuro,
como você falou, e dá uma sensação de... segurança.

- Quer me contar mais? Não precisa.

Ela fez que sim.

- Quando Jake terminou comigo, fiquei devastada. Pior, foi um golpe no
meu ego. Na minha autoestima. E fiquei chocada, pois nunca fui uma dessas
garotas. Alguém cujo amor-próprio está completamente ligado a um homem.
Pelo menos, nunca me vi assim. Mas ele me julgou tão duramente, tão de


imediato. Digo, quando ele descobriu que eu queria apanhar, fazer algo
diferente do mundo do sexo com que estava familiarizado, no qual se sentia à
vontade, acho eu, acabou. Assim, sem mais nem menos. E levou um tempo
ate eu entender que minha reação ao rompimento não tinha tanto a ver com
ele... Era uma reminiscência dos meu pais. De nunca estar à altura e o fato de
ele me deixar por esse motivo fez com que me sentisse suja, quando isso
nunca me pareceu sujo. Nada ligado ao sexo já me pareceu intrinsecamente
errado antes, desde que fosse entre dois adultos em comum acordo,
entendeu?

- Eu me sinto exatamente assim. Desse jeito.

Ele adorou o fato de ela entender, de ambos terem a mesma visão a
respeito do sexo. Mas Dante já suspeitava disso, de cara.

- Eu fiquei tão irritada – Kara continuou. – Com ele. Comigo mesma. Mas
eu também estava... arrasada. E vendo agora, teve muito mais a ver com todo
o lance com meus pais, com a maneira com que eles sempre me olharam e me
consideravam carente. A forma como me sentia por dentro, por trás da
máscara de confiança que construí e em que quase acreditei. Não quero
parecer chorona nem patética, mas foi desse jeito que eu cresci, com essa
sensação constante de ser rejeitada por eles.

- Não te considero chorona nem patética – ele falou.

- Tenho vinte e nove anos. Sinto que já deveria ter vencido isso agora. Já
se sentiu assim, Dante? Meu Deus, me diz que não tenho a única história
triste por aqui.

Dante deu os ombros. – Eu tive um montão de problemas com meu pai.
Ainda tenho. Não tenho uma ligação de verdade com ele. Meu pai sempre foi
muito severo. Exigente. Um perfeccionista. Nunca perdoa uma fraqueza.
Sabe, minha mãe sempre foi meio doente, e ele a condena por isso, creio eu,
mesmo quanto mantinha a pose para mim, pro meu irmão. Ele sabe fazer
você se sentir culpado como ninguém. Se não fazíamos a lição de casa ou não
cortássemos a grama, coisa normal de moleque, ele pegava no nosso pé. A
gente tinha que ser responsável, a gente tava desapontando nossa mãe. E,
Deus me livre, se mostrássemos um ponto fraco. Nem quando tínhamos cinco
ou seis anos podíamos chorar se nos machucássemos. Quebrei o braço ao cair
da bicicleta aos dez anos, eu rangi os dentes quando o colocaram no lugar. Os
enfermeiros me chamaram de corajoso, mas não era isso. Eu não ousava
chorar. Não me atrevia a reclamar.


Ele se lembrava claramente. Do cheiro forte e enjoado dos remédios no
pronto-socorro. Do olhar do pai. Da mãe ao lado do pai, olhando sobre seu
ombro, com medo de falar alguma coisa. Temendo reconfortar o filho. Um
arrepio de asco o percorreu. Ele engoliu seco, como sempre.

Por que ele queira que Kara soubesse disso? Ele não conseguia
compreender. Dante somente sabia que confiava nela como não confiava em
ninguém mais, além do irmão, Renzo, em muito tempo. Ele nunca discutira
seus problemas de família com Alec com tamanha profundidade, e ele era seu
melhor amigo.

Seus olhos haviam se acostumado à escuridão e conseguiam ver Kara a
observá-lo. Não havia pena em seu olhar. Somente franqueza.

- Não costumo ver meus pais com frequência porque, pra falar a
verdade, mal suporto... – ele continuou. – Eu me sinto mal porque minha mãe
tá tão... acabada. Como se o meu pai tivesse sugado sua força vital. Sempre
odiei isso, e a coisa só piorou com o passar dos anos. Odeio não poder
protegê-la dele. Mas ela não me deixaria, a exemplo dele.

- Sinto muito, Dante – Kara falou, com voz suave.

- Caramba, não devia ter te contado isso. Não importa. – Ele correu a
mão sobre o queixo, sobre a barba rala pontuda

- É claro que importa. As coisas que acontecem com a gente enquanto
crescemos nos transformam em quem somos, para o bem ou para o mal. E,
obviamente, essas coisas te transformaram num homem responsável.

- É. Talvez. Vivo lutando para ser responsável, mas conheço meus
limites.

Ele não estava tão chocado por ter se aberto tanto. O fato se devia a Kara
ser a interlocutora. A isso e à camada de escuridão que servia como uma
colcha protetora. Um casulo. Ele não estava acostumado com aquilo.

- Dante...

- O que foi?

- Sinto que você ficou todo tenso.

- Ei, esse é o meu trabalho – ele tentou brincar, mas soou esquisito.

- Eu não tô te observando. Não desse jeito. Mas... no que mais está
pensando?

Ele não queria contar, mas se abriria.

- Estou pensando nos meus limites. Em... Numa namorada que tive na
época da faculdade.


- Ouvi algo a respeito – Kara disse, com voz baixa e suave. – Que ela
morreu num acidente.

- A culpa foi minha.

- Não entendi.

- Foi minha culpa – ele repetiu, com o maxilar tão apertado que doía.
Contudo, Dante iria contar o resto da história. – Fiquei de levá-la para casa
naquela noite. Rolou uma festa, e eu fiquei estudando... Quando cheguei lá,
todo mundo tava bêbado, menos eu. Eu deveria ter levado ela, mas não quis
ir embora. Deixei uma de suas amigas dar carona, e elas só estavam um
pouquinho bêbadas por causa da cerveja. E ela se aborreceu por eu não
querer ficar com ela. Era verdade, eu não queria. Eu preferi ficar com meus
amigos.

- Dante, você era um universitário. Todos nós éramos meio bobos nessa
época.

Ele suspirou. – Agora eu que tô soando patético.

- Mais do que eu? – ela provocou, tentando desanuviar o ambiente.

***

Enquanto Dante falava, Kara percebeu que talvez eles pudessem ter se
aprofundado demais. Ainda que a sensação fosse boa, ficar deitada na cama
dele, com a alvorada iluminando o céu e mudando a cor das nuvens de preto
para cinza. A sensação era boa, até ela não parar de pensar naquilo tudo. Até
esse lance de um se abrir para o outro ficar assustador demais para os dois.
Ela sentia nele. E notava o próprio medo como alguma coisa comprimindo o
fundo da garganta.

Se eles fossem capazes de parar com esta parte, se conseguissem manter
as coisas como estavam – sexo fantástico entre velhos amigos -, então ela
aguentaria as pontas.

- Não precisamos mais falar disso – ele afirmou.

- Está bem. Sem problemas. Vamos mudar de assunto.

Sem sombra de dúvida, os dois se sentiam da mesma forma, como se
tivessem ido fundo demais. O que era bom. Não era?

Ele a fez ficar de costas e deitou o corpo sobre o dela.

- Prefiro fazer outras coisinhas com nosso tempo antes de trabalhar. – A
voz estava cheia de segundas intenções. Cheia de vontade.

Kara se excitou na hora, o desejo fluía através dela graças à pressão do
corpo dele, duro, sobre o dela. O aroma de Dante, sombrio como o céu do


inverno. A mente dela desligou como que puxada de uma tomada. Estava
grata por isso.

Ela abriu as pernas para ele e, num segundo, o pau duro estava
encamisado e deslizando para dentro dela. As mãos dominavam seus seios,
os lábios suculentos atacavam o pescoço. A sensação a dominou quando ele
arqueou o quadril e se lançou dentro dela. Gostoso, voraz e doce a um só
tempo.

Então ela deixou tudo para trás, esqueceu as lembranças antigas e
amargas, as dele e as dela. Esqueceu o medo que fazia o coração disparar de
preocupação ao se permitir ficar próxima demais dele. E ela se deixou perder
em Dante mais uma vez.

Os dedos de Kara tamborilavam na beirada do teclado enquanto ela
olhava o relógio de sua sala pela décima vez naquela tarde. Ela esperava dar
seis horas. O tempo não passava.

Ela encontraria Dante as seis. Iria à sala dele, como ele tinha mandado.
Dante também lhe dera outras instruções.

E, obedecendo, tirou a calcinha depois do almoço. Passou o dia inteiro
muito consciente daquela nudez debaixo do vestido-suéter preto.

Eles já estavam naquela há três semanas. Encontravam-se na sala de
Dante quanto todos os outros haviam ido embora. A ideia de estar num local
quase público era tão emocionante quanto o toque dele, seu comando sobre
ela. Kara pegou uma caneta e a deixou rolar entre os dedos, lembrando da
sensação. De sentir as mãos dele nela. Da cara que Dante fazia...

Ela começou a rabiscar no bloco de notas ao lado do telefone,
desenhando um olho. Mas não bastava. Ela rasgou a folha, amassou e
recomeçou, delineando o rosto dele, os ombros largos.

Como desenhar direitinho o ângulo harmonioso do seu queixo, das
maçãs do rosto? E aquela boca carnuda, sua expressão... Ela tinha perdido a
prática, mas foi bom desenhar.

Quem sabe até melhor do que pintar.

Ela não pensava nisso há muito tempo, mas Dante era tão bonito. Um
homem como ele deveria ser retratado, ter a imagem preservada.

Meu Deus, ele realmente estava mexendo com ela. Sua aparência
trigueira. Seu toque. Tudo que faziam juntos.

Ela deixou a caneta cair dos dedos. Suspirou.

Sabia que eles corriam um pequeno risco com os empregos, embora ele


tenha começado a trancar a porta da sala depois daquela primeira vez. E ela
compreendia agora que aquilo era para pôr à prova sua confiança nele. Dante
não precisava repetir a dose, correr aquele tipo de risco. Ela sabia que tudo
aquilo era meio doido, mas não conseguia evitar.

Kara começava a ficar molhada só de pensar nisso. Os quinze minutos
que teria de esperar seriam excruciantes. Ela ansiava, desejosa.

Meu Deus, Kara tinha se transformado numa espécie de ninfomaníaca, o
que a divertia mais do que a aborrecia. Na maioria das vezes, afinal.

Dante nunca fodia no trabalho, mas jogava ela sobre a mesa ou a
colocava no colo, sentando na cadeira, e batia nela. Os tapas nunca eram
pesados, nunca brutos o bastante para fazê-la gritar. Ele não estava disposto a
correr esse tipo de risco com Kara, atitude que ela apreciava. No entanto, era
o bastante para lhe levar àquele limiar de dor misturado ao prazer. Dante
batia nela, beliscava, fazia ela gozar com as mãos. Ela adorava. Adorava
quando ele a deitava sobre o sofá de couro da sala dele e se reclinava sobre
ela, mantendo o corpo parado, forçando o peso dela sobre as almofadas,
fazendo-a se sentir completamente dominada.

Kara ainda se surpreendia com o quanto adorava a dominação. Com a
facilidade com que se entregava ao domínio. A ele. E quando Dante a levava
para sua casa era ainda melhor. Ele era mais implacável, e ela se acostumou
ao jogo BDSM. Kara podia encarar mais. Desejava mais. Eles até conversaram
em ir ao clube que ele frequentava, o Pleasure Dome. Ela estava meio nervosa
com aquilo, mas a ideia também a excitava. Principalmente o pensamento de
levar a cabo o que faziam a sós com outras pessoas observando.

Ela estremeceu e olhou para o relógio novamente. Mais cinco minutos.
Kara pegou o espelho da gaveta da escrivaninha e deu uma conferida. Seus
olhos castanhos cintilavam, as bochechas estavam meio coradas. Passou a
escova pelos cabelos, aplicou um pouco de gloss labial. Nada escuro demais,
afinal, ele provavelmente o tiraria com o beijo. Ela sorriu para si mesma antes
de fechar o espelho e levantar da cadeira.

Ajeitou o vestido sobre o quadril, a barriga, ajeitou o cabelo. Hora de ir.
Até ele.

Dante.

Quando abriu a porta do seu escritório, Dante estava ali de pé, mal
deixando espaço para ela passar. Ele esticou a mão e fechou a porta. Kara
sentiu seu perfume quase imediatamente, aquele almíscar sexy e sombrio.


- Você chegou atrasada – ele disse.

- Quê? São seis em ponto – ela protestou.

Dante fez que não, com o olhar sombrio, brilhando de desejo e com uma
pitada de safadeza. – Quase se passou um minuto. Terei de encontrar uma
punição apropriada.

- Ah, tomara que sim – ela se viu ronronando.

Ele nunca tinha feito o jogo de punição com ela. Kara ficou surpresa com
o quanto gostou da ideia. Como seu corpo reagiu. Porém, ela provavelmente
reagia a Dante assim, com o desejo estremecendo na pele feito uma longa
onda depois da outra, independentemente do que Dante falasse. Do que
fizesse.

Ele a agarrou e a segurou entre os braços, prendendo seu corpo com
força contra o dele. Kara adorava como Dante era forte. Como ficava
diminuída diante dele. Ele a abraçou com tanta força que ela mal conseguia
respirar. E a punição teve inicio com eles parados ali, a meio metro da porta.
Ele a agarrou com um braço ao redor da cintura, enquanto a mão livre
castigava sua bunda. Só algumas vezes; depois levantou o vestido e começou
a beliscá-la, pequenos beliscões, cada vez mais fortes.

Ela ouvia sua respiração arquejante. Dava pra sentir o pau duro contra a
barriga. E ela estava completamente molhada.

Ele desceu a mão pela bunda, beliscando, beliscando.

- Abre pra mim – ele ordenou.

Ela afastou as coxas. Ofegou quando seus dedos espremeram os lábios
de seu sexo. Era bom demais. Prazer e dor se digladiando, invadindo-a por
baixo. Os mamilos se transformaram em dois botões rijos contra a renda do
sutiã. Ela desejava senti-los contra o peito dele, queria os dedos castigadores
beliscando-os mais forte.

- Dante, por favor...

- Adoro quando você implora – ele disse, dando outro apertão forte com
os dedos na carne dela.

- Me toca, Dante. Eu preciso de você. Eu preciso gozar.

- Acha que gozar é uma punição adequada? – ele indagou. Ela, no
entanto, percebeu o tom provocador em sua voz.

- Sim.

Ele riu, caminhando com ela ainda agarrada ao seu corpo grande.
Largou-a brutamente sobre o sofá. E ela adorou ser tratada dessa maneira.


Depois, ele estava sobre ela, a pressioná-la contra as almofadas, o couro frio
contra o corpo nu. Ele abriu as coxas e mergulhou direto, usando as mãos
para mantê-la completamente aberta enquanto lambia a boceta em pinceladas
longas e adoráveis.

- Ai, meu Deus, Dante...

Ele enfiou dois dedos dentro dela, fazendo-a ofegar. Ela tentou se
movimentar no sofá, mas ele não deixou, indo mais fundo no corpo dela.
Chupando com força o clitóris, mordiscando-o com os dentes. E ela gozou
num estremecer de puro prazer. Um calor ardente, brilhante. Ela mordeu o
lábio para não gritar o nome dele.

Ele se sentou e olhou pra ela, a observou, como sempre fazia.

Havia algo meio diferente na forma como ele a olhava. Algo sombrio nos
olhos, como se realmente pensasse em alguma coisa. Avaliando alguma coisa.
Enquanto o olhava, ela pôde jurar ter visto algo mudar, um raio de emoção,
mas este desaparecera rápido demais para ter certeza. E Kara estava muito
distraída pelo último clímax reverberando pelo organismo. Por sua beleza
masculina.

Ele estava tão lindo que ela mal conseguia suportar. Pro mais que
desejasse tocá-lo, ela sabia manter os braços imóveis. Para deixá-lo ditar o
ritmo. E até mesmo isso a empolgava.

- Você está pronta, Kara.

- Sim – ela sussurrou. – Preciso sentir você dentro de mim, Dante.

- Também pra isso. Quis dizer que você está pronta pra mais. Está pronta
pro clube. Vou levá-la ao Pleasure Dome neste fim de semana.

- Ah.

A cabeça dela se agitou, cheia de imagens faiscantes de como o clube
deveria ser. Corpos nus, o estalo de chicotes, uma antecipação sensual pesada
no ar.

- Gostou da ideia? Seu rosto acabou de corar. Lindamente. Do mesmo
jeito que enrubesce quando escorrego a mão entre suas coxas. Desse jeito.

E ele avançou, os dedos tateando a abertura, que pulsava. Ele sorriu. –
Nossa, adoro te ver assim. Eu poderia ficar aqui e te torturar a noite inteira,
mas antes preciso jantar. Depois, preciso comer você. Te bater novamente.
Mas agora vamos a um restaurante. Comer alguma coisa. E enquanto
estivermos jantando, você pensará a respeito do clube. Sobre o que farei com
você por lá.


- Sim, Dante. – Ela mal conseguia raciocinar, todo pensamento era
voltado ao clube, ao Pleasure Dome. De estar lá com Dante. Submetendo-se a
ele de uma forma inédita para ela.

- E, Kara...

- Sim? – ela respirou ruidosamente. O corpo inteiro tremia. Com a última
gosta do clímax. Com a necessidade de repetir a dose.

- Nada de calcinha no jantar. Talvez eu precise de você nua embaixo
desse vestido lindo. – Ele pôs a mão sobre o quadril dela e se levantou,
estendendo a mão para ajudá-la a ficar de pé. – Vamos andando?

O local era uma grande restaurante italiano perto da baía. Boa comida,
excelente carta de vinhos, mas Dante não pretendia beber hoje. Ele desejava
permanecer concentrado em Kara. No que tinha em mente para ela naquela
noite.

Eles estavam sentados ao fundo, em um canto tranquilo, como ele pediu.
Era um daqueles boxes com estofamento vermelho e toalha de mesa
comprida. Perfeito.

Kara estava um tanto reclinada sobre ele. Ainda relaxada por causa do
orgasmo. Ele adorava vê-la desse jeito. Sem sua reserva habitual. Sossegada.

Ele pediu o jantar – uma massa leve para ambos – depois a trouxe para
mais perto.

- Como vai, menina bonita? – ele foi perguntando.

- Maravilhosa.

- Você parece um tanto tensa.

- Não. Bem. Só tô imaginando o que você esconde na manga – Kara
sorriu para ele. Estonteante. Sorriso divino. Rosto divino.

- Ah. Você vai logo descobrir.

- Você gosta de me fazer esperar. Por tudo e qualquer coisa.

- Existe algo no esperar que forja a antecipação como nada mais.

Ele concordou. – Sim. Na verdade, é.

- Você tem um problema com o controle, Dante.

- E você gosta disso em mim.

- Gosto.

Ela abriu um sorriso largo. E ele também. Dante gostava dessas
brincadeiras confortáveis entre os dois. Do fato de ela encarar tão bem a
provocação. De às vezes também entrar na onda.

- Então, o que tá acontecendo dentro dessa mente perversa hoje? – ela


questionou, enrolando-se um pouco nele. O corpo dela estava quente, seu
perfume estava no ar, num tom fresco e floral, em contraste direto com a
força de sua personalidade, exibida para o mundo externo.

Ele se aproximou e cochichou no ouvido dela: - Vou fazer você gozar
aqui na mesa. E quero que goze antes da refeição chegar.

- Dante?

- Vai reclamar?

Ele a ouviu soltar um longo suspiro. – Não.

Dante se afastou e sorriu para Kara. Ela não devolveu o sorriso, mas o
desejo tremeluzia em seus olhos. Na total vermelhidão da boca. Ele
continuou sorrindo ao colocar a mão debaixo da toalha da mesa, sob a bainha
do vestido. E encontrou o calor úmido entre suas coxas.

- Ah, perfeito- murmurou para ela. – Abre pra mim, Kara. Isso.

Ela abriu as pernas, os olhos se arregalaram quando ele meteu os dedos
dentro dela. A seguir as pestanas estremeceram, o olhar vitrificou enquanto
ele começava a bombear suavemente.

- Fique olhando para mim – ele disse baixinho. – Não preciso pedir para
não deixar sua expressão entregar o que está acontecendo aqui.

- Não, Dante – ela respondeu, arqueando um pouco o quadril na sua
direção.

- Nem mesmo agora – ele ordenou, apertando o grelo com o polegar.

Ela mordeu o lábio. Ele arreganhou um sorriso. Dante estava duro como
aço por ela, mas isso poderia esperar.

O garçom trouxe as bebidas e Dante parou um instante, acenando com a
cabeça. E retomou o ritmo assim que o garçom virou as costas.

- Isso te excita, Kara? Ser tocada desse jeito diante de todas as essas
pessoas?

- Sim. Meu Deus...

- É capaz de gozar aqui, na frente delas? Ou isso é demais para você?

- Eu não sei... Sim. É perfeito.

Ele riu. – Você é perfeita – ele falou, metendo mais fundo os dedos,
pressionando com força e circulando com o polegar.

Kara tentava não ter contrações. Ele sentiu a tensão em seus músculos.
Dante sentiu o apertar do sexo dela. Aqueles primeiros espasmos anteriores
ao clímax. Ele acelerou o ritmo, mantendo a cabeça perto da dela.

- Fique quieta, menina bonita – ele ordenou. – Pode encostar o rosto no


meu ombro enquanto gozar. Goza agora.

Nada além de um ofegar suave enquanto ela pressionava a face no
ombro dele, justamente como ordenado. Mas ele podia sentir a gozada forte
no corpo dela, naquele estremecer intenso, no agarrão apertado do sexo ao
redor dos dedos ao chegar ao clímax.

Nossa, ele estava duro feito rocha. O pau doía enquanto ela gozava na
sua mão. Ele continuou a penetrá-la até ter certeza de que tinha acabado.
Depois, removeu os dedos de dentro dela e inclinou seu queixo para que
pudesse vê-la. As bochechas pegavam fogo, os olhos brilhavam, com as
pupilas dilatada. E enquanto ela observava, ele passou a ponta do dedo nos
lábios e lambeu.

- Seu gosto é melhor do que qualquer coisa servida aqui – ele afirmou
baixinho. – Você sabe o quanto adoro seu sabor. Não me farto.

Ela sorriu, derrubando a cabeça sobre o ombro dele.

Era verdade. Ele não se fartava dela. De seu gosto. De sua pele macia. De
tudo.

Loucura.

Ele estava ficando louco. Louco por essa menina. Tão louco quanto fora
por ela nos tempos do colegial. Muito pior agora, que conhecia seu sabor.
Conhecia seu corpo. E a sentira estremecer de desejo nos seus braços.
Despedaçando-se de prazer.

Ele precisava conter essa maluquice. Com certeza antes de levá-la ao
Pleasure Dome. Possuí-la lá seria a realização de uma fantasia ardente. Muito
mais do que com qualquer mulher. Porque era Kara.

Ah, sim. Ele estava enlouquecendo. Perdendo a cabeça por ela. Dante
não sabia como aquilo iria terminar. Ele nem sequer conseguia pensar
naquilo agora. Tão somente podia pensar em Kara. Em possuí-la. Hoje. No
fim de semana no clube.

Ele precisava se recompor. E assim o faria. Bastava comer ela primeiro...

O jogo dele se chamava controle. Sempre fora assim. E sempre seria.

Ela levantou a cabeça para olhar para ele, dentro daqueles olhos
metálicos – dourados, prateados e esverdeados – brilhando e cintilando na
luz abafada. Nossa, ela era linda. Inteligente. Elegante.

E ele se achava o máximo. Porque, pela primeira vez na vida, estava
acontecendo uma coisa sobre a qual ele não tinha o controle completo. E essa
coisa era Kara Crawford.


NOVE



Kara estava de volta á sua mesa no dia seguinte como se a noite com
Dante nunca tivesse acontecido. Tirando os arranhões na bunda e nas coxas,
que a faziam a sorrir. Aquela sensação de ter ido até o limite no sexo. Ela
adorava.

Por que, então, Kara estava se sentindo tão agitada?

Viu que estava tamborilando as unhas na beirada do teclado e parou.
Kara estava no escritório, há uma hora, mas não havia feito nada. Nem
sequer respondeu aos e-mails. Tudo que fez foi ficar sentada remoendo
pensamentos.

Ela girou a cadeira para olhar a janela atrás de si. O céu estava carregado,
a chuva caía num borrifo suave, prometendo ficar mais pesada ao longo do
dia. Geralmente, a chuva e as nuvens lhe traziam um certo aconchego, mas
hoje aquilo somente a deixava...sozinha. Solitária.

O que estava havendo? Tinha acabado de passar outra noite maravilhosa
com Dante. Na sala dele, no restaurante e, mais tarde, no apartamento dele.
Eles não pegaram muito pesado; ele preferia resguardar as forças dela para a
noite de sábado no clube. E Kara estava excitada com ainda. A ideia a
empolgava. Por que, então, estava tão prostrada?

Tinha acordado assim, uma hora antes de tocar o despertador de Dante.
Como sempre, ele deixou em casa para que pudesse se aprontar para o
trabalho. E, como costumava fazer quando ficavam juntos durante a semana,
ela deixou o carro estacionando na frente do escritório, depois pegou um táxi
pela manhã. Contudo, caminhar pelas ruas úmidas e cinzentas a deixou mal-
humorada.

Pensando bem, ela ficou aborrecida na hora em que acordou. Dante
ainda dormia ao seu lado, com seu grande corpo imóvel e em silêncio. Ela se
aproximou somente para ouvir sua respiração. E se sentiu meio triste.

Será que era algum resquício das profundezas de que tinha saído?

Ela fez que não e voltou a colocar a cadeira voltada para a mesa.
Precisava parar de pensar, botar esses sentimentos estranhos de lado e
trabalhar. Kara nunca foi de ficar sentada se remoendo por causa de um
homem e não era ali que iria começar a ser. Caso aquilo que estava sentindo
tivesse como ficar pior, ela daria um jeito como deu em tudo que a vida lhe
fez. Ser submissa não significava ser fraca. O próprio Dante lhe afirmara


aquilo.

Será que ela deveria ligar para ele e perguntar? Kara esticou a mão até o
telefone, sem tocá-lo.

Suspirou e tirou a mão dali.

Dante. Tudo girava em torno dele ultimamente. E ela não gostava disso.

Mordendo o lábio, Kara pegou novamente o telefone, mas desta vez
ligou para Lucie.

- Luscious.

- Lucie, sou eu.

- Oi, Kara. Como tem passado? Vivo pensando em você, mas tô muito
ocupada com a reforma da cozinha. Quase terminou, e o bicho tá pegando
por aqui.

- Eu também tava pensando em te ligar, Lucie. Desculpe não ter ligado.
Andei muito...absorvida.

- Hum, por que tenho certeza de que você não tá se referindo ao
trabalho?

- Não mesmo. Tô saindo com Dante. Sei que falei que não iria, mas tenho
passado muito tempo com ele, e isso tá ficando...confuso. Podemos almoçar
juntas? Preciso muito falar com alguém.

- Tá tudo bem com ele?

- Sim. E não. Tô questionando tudo hoje. E ficando meio pirada. Tem
tempo pra me encontrar?

- Os operários vêm hoje finalizar um trabalho hoje e preciso ficar aqui.
Não pode dar uma passada? Eu preparo uns sanduíches ou algo assim.

- Por mim, ótimo. À uma hora está bem?

- Perfeito. A gente se vê.

- Obrigada, Lucie.

Kara desligou. Ela não sabia ao certo contara Lucie sobre todas as coisas
que vinha fazendo com Dante. As coisas que planejavam fazer. Mas ela não
tinha outra forma de explicar seus sentimentos. Caramba, ela não conseguia
explicar a si mesma. Todavia, esperava que se colocasse todas as cartas na
mesa, Lucie talvez fosse capaz de ajudá-la a descobrir como agir se sentir.
Como recuperar a força, voltar a ser ela mesma.

Quem sabe aquele ego fosse fechado demais. Vai ver assim seja mais saudável.

Por que, então, ela não se sentia melhor? Era horrível. Assustador.

Kara olhou para o relógio. Ela precisava fazer muito disso ultimamente,


ficar contando as horas. Ainda faltavam quatro horas antes de conseguir ver
Lucie. Como outro suspiro, ela resolveu se recompor e trabalhar um pouco.
Haveria tempo de sombra para ficar se remoendo mais tarde.

Faltando vinte para uma, Kara se levantou da mesa, não tinha rendido
quase nada no trabalho. Vestiu o casaco e chapéu, pegou a bolsa e se
encaminhou para a nova cozinha do bufê de Lucie. Não ficava longe, mas ela
teria de enfrentar o trânsito do centro da cidade.

Por fim, Kara estacionou na rua diante do depósito de tijolos reformado
recentemente e alugado por Lucie. O novo letreiro estava pendurado sobre a
grande porta de metal escovado, a palavra .Luscious. belamente escrita em
letra cursiva- rosa-escuro, contornada por preto e dourado. Saindo do carro,
Kara correu pela chuva, empurrou a porta pesada e entrou.

Tirou o chapéu, removeu o cabelo do rosto e se livrou do casaco.
Olhando ao redor, ela encontrou Lucie atrás do balcão de madeira comprido
e pintado com um branco imaculado.

- Kara - Lucie a saudou com um sorriso -, que bom ver você. – A pequena
loura deu a volta no balcão e lhe deu um abraço. – Então, o que acha?

Kara examinou o teto abobado, as paredes rosa e brancas, os dois antigos
armários franceses caiados ladeando três sofás baixos de veludo dourado.

Sei que não é muito grande – Lucie comentou -, mas a cozinha nos
fundos é enorme. Posso preparar centenas de cup cakes por dia. E também tô
pronta para fazer bolos de casamento, o que deve ajudar a estabelecer minha
firma. É muito melhor do que tentar fazer tudo na minha casa.

- É fantástico – Kara afirmou, aproximando-se do balcão e passando a
mão sobre a superfície lisa. – Você fez um ótimo trabalho aqui. Adoro essa
mistura de antiguidades num espaço industrial. E, você sabe, não entendo
nada de cozinha, mas garanto que tá perfeito. Seus cup cakes são os melhores
do mundo; você precisa disso pras coisas decolarem.

Lucie sorriu, os olhos castanho-escuros brilhavam ao pegar o casaco de
Kara e jogá-los sobre o balcão. – Estou cheia de orgulho dele. É como se
tivesse feito minha primeira pintura com os dedos no jardim de infância. –
Ela tomou a mão da amiga e a levou aonde pudesse sentar.

- Venha e fique à vontade enquanto busco o almoço. Pedi numa
delicatéssen excelente aqui do lado, pois ainda não tenho nada estocado aqui.
Tomara que esteja com fome.

- Nunca deixo de comer, aconteça o que acontecer.


- Que bom. Eu já volto.

O celular de Kara produziu um bipe enquanto ela se sentava, avisando
que tinha chegado uma mensagem.

Do Dante.

Lucie voltou, carregando uma bandeja com sanduíches e duas garrafas
de chá verde gelado que adoravam. Ela apoiou na mesa de centro e ocupou
um dos sofás.

- É do seu namorado?

Kara suspirou, confirmando com a cabeça. – Sim.

- Por que não tá feliz com isso?

Ela deu de ombros. – Sinceramente, não sei. Tudo tem sido ótimo entre
nós.

Lucie entregou a Kara seu sanduíche num prato de porcelana. – Tomara
que goste. É de presunto de Parma e queijo brie. Então, qual é o problema?
Não precisa se preocupar se os operários vão ouvir. Eles estão lá no fundo
almoçando.

- Espero que você me ajude a entender direito. – Kara pegou o prato,
esperando um pouco até organizar os pensamentos. – É...complicado. E acho
que em parte são resíduos do Jake. Um pouco é afinal. Mas principalmente se
deve ao que tá acontecendo agora entre mim e Dante. – Ela parou e bebeu o
chá. – Lucie esperava em silêncio, dando-lhe tempo para pensar. – Tá bem.
Eu preciso contar uma coisa a respeito da...dinâmica entre nós. Não é um
namoro casual comum. O Dante é...um dominador sexual. E nós
estamos...fazendo uns lanches bem radicais juntos, tornando as coisas muito
intensas.

- Ah

- Só isso? .Ah.?

- Kara, querida, nenhuma de nós é virgem.. E eu também curto uma
sacanagem de vez em quando.

- Você nunca me disse isso. – Mas Kara não se surpreende por completo.
Lucie era uma dessas mulheres que transpiravam sexo.

A amiga deu de ombros. – O assunto surgiu. Tô contando agora pra você
entender que não precisa se preocupar se vou julgá-la.

- Isso ajuda. Eu tava preocupada em revelar essa parte da história pra
você. Não devia ter me preocupado.

- Não te culpo por ser cautelosa, nem mesmo comigo. Sem problemas.


Kara mordeu o sanduíche, tentando decidir por onde começar. Tanta coisa
acontecera nas últimas semanas. Ela engoliu e pôs o prato na mesa.

- Então...- ela começou – nas últimas semanas tudo sem sido genial.. O
sexo é incrível. Ele me mostrou coisas, facetas minhas que nem pensava
existir. Quer dizer, tenho tudo desejos que nunca explorei antes e, desde o
começo de nosso lance, eu me abri de maneiras inesperadas, E isso é bom.
Mas também tá ficando meio assustador. E não consigo entender o que tá me
assustando.

- Ele é muito exigente: Ele te obriga a fazer coisas que não deseja?

- Não. Ele nunca faria isso. É completamente responsável e consciente
dos seus atos. Sempre tá no controle, abrindo caminho para eu estar,
provavelmente pela primeira vez na vida. Quando estamos nesses papéis, ele
me trata como se eu fosse...preciosa,

As bochechas se incendiaram ao falar aquilo em voz alta. E com a
lembrança da sensação de ser tratada bem. Valorizada. Por que, de repente,
ela ficou com vontade de chorar?

- É assim que deveria ser – Lucie falou, com os olhos castanhos
ganhando contornos carinhosos. – Então, qual é a parte errada?

- Talvez eu esteja errada – Kara respondeu. Foi dando um aperto no
peito, na garganta, falar foi ficando difícil. Ela respirou fundo e soltou o ar. –
Nunca quis relacionamento, Lucie. Não tô a procura disso. A burrada que
aconteceu com Jake já me fez perder muito tempo. Como Dante também não
quer, estamos de acordo. Ou estávamos. Mas de repente as coisas estão
parecendo tão...sérias. Eu sei lá, vai ver não foi tão repentino. Alguma coisa tá
tomando forma entre nós. A gente tá se conhecendo, e ele é uma pessoa
incrível. É realmente...nobre. E gentil. Maravilhoso. Não consigo achar nada
de errado nele, para falar a verdade.

- E por isso você tá se culpando? Por ele ser tão .perfeito., na falta de
uma a palavra melhor? Porque, e não falo isso pra parecer cruel, você tem a
tendência de levar toda a culpa por tudo, Kara. Do que aconteceu com Jake.
De nunca ter a aprovação dos pais. Nesses dois casos, você não fez nada de
errado. E como você se sente em relação ao Dante não tá necessariamente
errado.

- Para mim, está – Kara insistiu. – Eu não queria ter sentimentos por ele.
Não preciso disso agora. E não consigo separar o quanto disso é
uma...vulnerabilidade, pelas coisas que a gente tem experimentado, e o


quanto é para valer. De verdade.

- Deixa eu te contar um pouco do que sei sobre relacionamentos com esse
tipo de sacanagem. Essas coisas abrem você. Mas essa abertura traz à tona a
sua verdade, aquela que tá no seu interior. Isso não te faz imaginar coisas que
já não existissem.

- Mesmo sendo verdade, Lucie, eu não quero. – As lágrimas ameaçavam
rolar novamente. Ela as controlou. – Não quero sentir alguma coisa por outro
cara que, no fim das contas, vai terminar me rejeitando.

- Querida, por que ele te rejeitaria?

- Porque ele não deseja um relacionamento sério, justamente como eu.

- Pois é. Merda. – Kara tirou o cabelo do rosto, dando um longo suspiro.
– Falar em voz alta só piora.

- Em algum momento você terá de escolher seu desejo, Kara. Caso
pretenda ter um relacionamento e Dante não, então deve terminar com ele.
Não quero te ver magoada.

- Nem eu.

- Mas – Lucie continuou -, talvez ainda seja cedo demais pra saber. Existe
alguma chance de ele estar sentindo o mesmo por você?

- Eu não sei. Acho que não. Ele parece bastante decidido. Eu não passo
da puta dele do momento. Nem imagino se já me viu de outra forma. E a
gente nem sequer tá namorando. Ele não me leva ao cinema ou pra comer.
Tirando o almoço no dia quando soube que ele trabalharia na minha firma. E
ele só queria falar disso. E... ele me levou pra jantar na noite passada, mas ir
ao restaurante foi...um lance sexual.. Não foi pra namorar. Não foi romântico.
– Ela fez uma pausa, lembrando as palavras ditas por Dante. Da maneira
como a olhava. Ela suspirou. – Só no fim do jantar foi romântico. Por uns
momentos. Meu Deus, eu sei lá. Tô andando em círculos.

Lucie se inclinou para frente, tocando a mão de Kara do outro lado da
mesa. – Se você tiver sentimentos de verdade por ele, Kara, e existir uma
mínima chance de funcionar então, talvez devesse se permitir essa chance.
Espere mais um pouco, afinal. Não tenho como te ajudar a tomar uma
decisão, mas me parece que há algo a ser explorado nisso tudo. Não tô
conseguindo de ele não ver nada além da putaria. Se fosse assim, ele seria um
idiota.

- Obrigada, Lucie. – Kara apertou sua mão. – Obrigada por me ouvir. Eu
só preciso tomar uma decisão.


E precisava ser logo. Eles pretendiam ir ao Pleasure Dome em poucos
dias. E ela pressentiu que o jogo iria ficar muito mais sério. Ou seja, os
sentimentos dela também poderiam ficar mais sérios.

Kara queria ir ao clube. Desejava experimentar aquilo com Dante. Não
havia a menor dúvida quando isso. A questão era saber se ela conseguiria
controlar as emoções.

Isso nunca tinha sido problema para ela antes. A relação com Jake tomou
aquele caminho porque ela escolheu escancarar o coração para ele, mesmo
nunca tendo se aberto por inteiro para o namorado antes. Foi um erro, sim,
mas cometido por sua escolha.

Será que continuar com Dante, correndo esse risco com o coração, iria
valer a pena no fim das contas? Ela não sabia. Porém, estava envolvida o
bastante para aceitar o fato de não dar as costas para ele, Independentemente
de quanto medo sentisse.

Ela continuaria a vê-lo. E iria ao Pleasure Dome na sua companhia.
Mesmo sabendo que, com ele, estava arriscando tudo.

Dante de um lado para o outro diante da longa fileira de janelas da sala
de estar, olhando o céu noturno. Não chovia, para variar, e as estrelas
cintilavam, pontinhos minúsculos de luz contra um pano de fundo de
aveludado negro.

Ele aguardava Kara chegar para a noite do Pleasure Dome. Dante
mandou que tomasse um táxi para sua casa. Ela deveria estar chegando, mas
ele mal se aguentava.

Não era apenas a empolgação de sempre causada pela antecipação de
uma noitada no clube. Ele sentiu um frio no estômago. Ansioso por tocá-la.
Estar com ela.

Chega. Se acalma cara.

Ele não queria pensar nela dessa forma. Nem uma mulher nenhuma.
Com uma necessidade tão forte.

Dante sempre conseguia manter uma distância confortável em relação às
mulheres com que saía. Era algo consciente uma escolha. Ele tinha motivos e
deles estava ciente. Entretanto, com Kara, a escolha fugia de suas mãos,
pouco a pouco. Ele estava perdendo o controle. Ainda era difícil de acreditar,
e mais difícil ainda aceitar.

Será que ele conseguiria continuar a vê-la e manter algum controle
aparente, além dos papéis desempenhados nos jogos de dominação? Ao


menos ali, ele sabia que estava no comando.

Na maioria das vezes.

Droga.

Forçou-se a parar de caminhar, olhando para a baía de Elliot abaixo dele.
Estava escuro demais para realmente ver a água, mas tremeluziam as luzes
dos barcos atracados. Era uma vista impressionante. Uma vista de um milhão
de dólares. Nos raros dias claros, o horizonte parecia não ter fim, com a água
cintilando brilhando. E a visão noturna parecia um colar de joias – os barcos
na água de um lado, a cidade de Seattle esparramada no panorama do outro.
Contudo, ele não podia se importar menos naquela hora. Virou-se, passando
a mão no queixo.

Não pense tanto, caramba.

Ele precisava manter a cabeça no lugar. Principalmente hoje. A primeira
visita de Kara ao clube de BDSM poderia ser impressionante demais. Dante
precisava ter controle total.

Concentre-se no clube. No seu papel de dominador.

Ele se sentia bem nessa posição. Sempre se sentiu. Concentrado. Forte. E
tinha de ser assim hoje. Porque havia algo diferente em levar Kara até lá, ao
Pleasure Dome. Na ideia de tirar a roupa e brincar com ela na frente de tanta
gente. Excitante pra caralho. Devia parar de pensar no que mais espreitava
sob a superfície da emoção sexual, da vibração do jogo do poder.

Ele respirou fundo, forçando mente e corpo a se acalmarem.

A campainha disparou, e ele deu um pulo, assustado.

Ela tinha chegado.

Kara

Ele abriu a porta.

Ela estava linda pra cacete. O longo cabelo castanho, uma mistura de
chocolate e caramelo, estava solto sobre os ombros, à vista por causa do
vestido que acompanhava um corselete de couro branco. Pintados de
vermelho, os lábios o deixaram logo de pau duro; boca de mulher fatal num
rostinho adorável, sempre com ar de inocência.

Nossa.

- Dante?

- Quê? Desculpe. – Ele não havia percebido que a mantivera parada no
corredor enquanto a olhava. – Entre.

Ele tomou sua mão e a trouxe para dentro do apartamento. Fixou


estático, olhando novamente para ela, absorvendo tudo.

O vestido curto, deixando à mostra um pedaço aveludado da coxa entre
a barra e aparte de cima da bota branca de salto agulha. As pernas pareciam
não ter fim quando ela usava botas. Nossa, eram infindáveis mesmo quando
descalça. Mas as botas ficam fantásticas nela. Impecáveis.

Ela estava em silêncio, parada na frente dele, com as mãos suspensas ao
lado do corpo. Dante via que ela já caminhava apara aquele subespaço, um
lugar nevoento dentro de sua mente onde submissa começava a se entregar.
Ele a levaria muito fundo antes de a noite terminar.

Dante sentiu um latejo agudo no pau ao pensar nisso. Era melhor chegar
ao clube o mais rápido possível. Se ficassem mais um pouquinho no
apartamento, ele rasgaria aquele vestidinho e comeria ela no chão do hall de
entrada. E isso sem tirar aquelas botas brancas, tão sensuais...

Ele pestanejou, percebendo que ela esperava uma atitude dele. Kara
tinha casaco nas mãos. Ele o tomou e colocou sobre os ombros dela, depois
vestiu sua jaqueta de couro.

- Está pronta, Kara?

- Sim. Pronta. Excitada. E meio nervosa. Eu sabia que ficaria, mas...É um
pouco além da conta. Não sei direito o que esperar.

É normal. – Ele também poderia dizer o mesmo pra si naquela noite. –
Vai correr tudo bem, eu prometo. E se alguma coisa te deixar pouco à
vontade, se começar a entrar em pânico, me avisa, e daí vamos embora. Eu
nunca forçaria o ambiente do clube a ninguém. Mas também não te levaria lá
se não estivesse convencido de que iria tirar de letra. Acho que vai adorar.

Ela consentiu, com um pequeno sorriso no rostinho amável. – Eu
também acho. Estou pronta de verdade.

- Boa menina. Vamos andando.

Do lado de fora, ele parou um táxi, sem saber o quanto estaria exaltado
no fim da noite. Adrenalina. Endorfinas. Ele não achava que fosse uma boa
ideia dirigir.

No curto trajeto ao clube, Kara ficou em silêncio ao lado dele, mas foi se
recostando nele, o corpo exalando calor através do pequeno vestido de couro,
do casaco. Quando ele pôs a mão na coxa, ela estava pegando fogo.

Aquela carne sedosa e quente era boa demais. Porém o que aconteceria a
seguir seria ainda melhor.

Eles saltaram na frente do clube, um armazém antigo de tijolos cinza e


porta vermelha pesada. Ele acenou para o porteiro, que, ao reconhecê-lo por
conta das visitas frequentes, os deixou entrar. O interior do piso principal do
clube estava levemente iluminado em tons de vermelho e âmbar, as paredes,
escuras. Ao redor do recinto viam-se grandes equipamentos: as altas cruzes
de Santo André, as mesas para bondage, os enormes frames de madeira para
apoio, em que as pessoas bolavam padrões intrincados com corda, mantendo
seus bottoms bem presos. O trabalho com as cordas era bonito, mas não
estimulavam. Ele curtia mais o jogo da sensação.

Mantendo um braço ao redor da cintura de Kara, os dois foram em
direção a uma fileira de bancadas para espancamentos. Sim, era isso que ele
adorava. E também sabia que ela iria adorar. Aquele calor sensual de sua
mão deslizando sobre a pele. Ele adorava um brinquedo ocasional: chibata,
chicote, pregadores. Com ela, porém, Dante simplesmente não conseguia
extrair o bastante da carne sob as mãos.

A cabeça de Kara estava girando. Ela vinha mergulhando no subespaço
desde que iniciara o ritual de se vestir, preparando-se para Dante. Era algo a
que tinha se acostumado, o que acontecia sempre que se aprontava para
encontrá-lo, mesmo quando estava na sala dele no fim do expediente.
Contudo, estar no clube era diferente. Agora que estavam mesmo ali, no
Pleasure Dome, a suave sensação de mergulhar ameaçava arrebatá-la por
completo.

Era maravilhoso e assustador ao mesmo tempo, e ela estava feliz pela
estabilidade sólida do grande corpo de Dante ao seu lado. Com a firmeza que
se prendia nela. Havia controle em seu aprisionamento, fazia com que se
sentisse muito mais a vontade de estar ali.

O clube era muito maior do que esperava, um depósito enorme com teto
abobadado. Dezenas de pessoas já estavam ali, usando os equipamentos ou
sentados em grupos nos sofás e cadeiras nos cantos de recinto. Tudo era
escuro: as paredes, os móveis, a iluminação. De alguma forma parecia
apropriado para aquele lugar. Havia uma música de fundo, uma batida
consistente e sensual, que ajudava a criar uma atmosfera de tensão e
expectativa.

Mas ela notava todas essas coisas no limite da consciência. A mente e o
corpo estavam realmente tomados pelo pensamento de Dante tocá-la,
Espancá-la. Dominá-la.

Ele a levou a uma parede em que amplas cadeiras revestidas de veludo


vermelho escuro pontuavam uma fileira de spanking benches de couro. Ela
compreendeu aonde iam, para que serviam; tinha pesquisado na internet
muito tempo atrás e, novamente, nos últimos tempos. Como Dante soube de
sua maior fantasia?

Porém, quando ele a levou à cadeira e apoiou a maleta de couro que
trazia consigo, os nervos a dominarem fazendo-a tremer. Ela iria mesmo
fazer aquilo?

- Dante...

- Psiu, vai ficar tudo bem – ele falou, acariciando seu cabelo.

Ele ajudou a tirar o casaco, tirou o dele, e deixou ambos sobre o encosto
da cadeira. Cada movimento era preciso, controlando.

Kara respirou fundo, tentou se acalmar se concentrando em sei controle
absoluto. Lembrando-se, ao pé da letra, de estar em boas mãos com ele.

Ele pôs as mãos nos ombros dela e a encarou. As feições eram fortes, tão
puramente masculinas. Lindas.

- Kara – ele falou baixinho. Ela sentia o calor emanando dele, e se
desesperou por um beijo. - Eu vou tirar sai roupa.

- Ah...

De alguma maneira, ela se sentiu chocada, sem saber por quê. Havia
várias pessoas nuas no clube. Ela esperava por isso. Porém, a ideia a fez
tremer num equilíbrio de nervosismo e uma pura e estimulante luxúria.

Preciso dele. Preciso disso.

Dante aproximou a boca de sua orelha. – Kara, respire fundo. Você só
precisa me obedecer. Simplesmente faça como eu mandar. Eu vou tomar
conta do resto.

Ela concordou, sabendo que ele cuidaria dela no clube. A mente foi
esvaziando e, a seguir, se enchendo com uma camada de ruído branco suave.
Ela se deixou cair naquilo quando Dante começou a despi-la.

Ele colocou as mãos nas suas costas e abriu o zíper do vestido. Ela sentiu
o toque frio do couro enquanto ele removia sobre a cabeça. Por baixo, ela
vestia apenas uma tanga rendada.

- Bonita – ele sussurrou antes de também arrancá-la por cima das botas
de cano alto. Por fim, ele também as tirou, ajudando-a a se livrar delas.

O ar estava quente em sua carne nua. Ela nunca tinha se sentido tão nua
na vida inteira como agora neste salão cheio de gente. A sensação a levava a
estremecer de vontade, carência. Com uma forma estranha de orgulho. Os


mamilos se apresentavam como dois picos duros.

Dante esfregou novamente as palmas das mãos sobre os ombros,
parando para pressionar o suficiente para ela saber que ele estava no
comando. A mente se esvaziou um pouco mais, o sexo umedeceu.

- Kara, fique de joelhos – ele mandou, com a voz ainda mantendo aquele
tom baixo e reconfortante. – Sei que ainda não fizemos isso antes, mas é um
belo símbolo da sua submissão. Você não é uma escrava. Não tô interessado
nisso. Sua submissão tem a ver com o que tá acontecendo agora. Entendeu?

- Sim, Dante...mas é que... Não sei se consigo. – Havia um nó inexplicável
dentro do peito.

- Você consegue. Vai ficar surpresa com o quanto isso pode ser
libertador. Simplesmente deixe tudo em minhas mãos. Confia em mim, Kara?

- Sim, eu confio.

- Então, ajoelhe menina bonita.

Meu Deus, ela iria mesmo fazer aquilo? A cabeça estava girando,
rodando a cem quilômetros por hora, porém, por mais rápida que estivesse, a
mente se encontrava praticamente vazia.

Dante pegou na mão dela e, após um instante de hesitação, ela se
ajoelhou no chão.

As bochechas queimavam, mas não de vergonha. Era um calor
emanando lá do fundo de seu corpo, Desejo. Intensidade. Ela não decifrava
qual deles. Somente sabia que iria liberar tudo, o nó no peito se desfazendo, o
corpo dando mostras de sua entrega. A ele.

Dante.

As mãos de ele novamente tomavam seus ombros, ficando atrás dela,
pressionando para baixo. Mantendo-a parada, segura.

Ele se inclinou e disse baixinho: - Boa menina, Kara. Respire. Solte o ar. E
abandone. O controle. O medo. Estou bem aqui. Respire novamente. Isso
mesmo.

Dante ficou com ela, acompanhando-a durante a respiração, auxiliando-a
a relaxar. A confiar. A cabeça dela zunia.

- Vou soltá-la uns minutinhos para preparar as coisas. Quero que
permaneça como está. Você ficará bem?

- Sim, vou ficar bem.

- Muito bom.

Ela o sentiu se afastar, vagamente consciente do zíper de sua bolsa de


couro se abrindo, sons baixinhos e abafados enquanto ele tirava coisas de
dentro dela. Havia suspense em imaginar a respeito, no que ele poderia fazer,
qual instrumento aplicaria nela. Essa combinação de desejo margeava o
medo. Ela respirou profundamente, concentrando-se ao ritmo da música,
sentindo ela pulsar no ventre. Na sôfrega expectativa em seu sexo ansioso,
em seus seios.

Dante voltou passado um minuto ou dois e a ajudou a se levantar.

- Venha, Kara. Vamos apara a spanking bench agora.

Ela fez uma pausa, tendo de apertar o maxilar apara não arrancar a mão.
Por que ela tinha a ânsia de sair correndo quando aquilo era o que mais
queria, a experiência com a qual tinha fantasiado?

Talvez fosse por isso mesmo. Mas não conseguia racionalizar a ponto de
entender. Ela tremia dos pés à cabeça.

- Dante... não. – Ela balançava a cabeça lentamente. Não conseguia
evitar.

Ele ficou em silêncio um instante, tocou a nuca dela com uma das mãos e
a massageou com suavidade.

- Está mesmo dizendo não, Kara? Se for realmente um não, então
podemos parar. Me diz o que você deseja.

- Eu...não sei. Não consigo parar de tremer.

Ele a trouxe até ele, o braço firme ao redor da cintura. O rosto perto do
dela. Dante falou bem calmamente: - Esta na sua mão, Kara. Você decide. É aí
que está seu poder nisso tudo. Assim, me diz. Sim? Não?

Ela se sentia à beira de um precipício. Deus uma parada. Esperando para
cair na escuridão. No desconhecido. Ela desejava aquilo. Demais. Estava
morta de medo.

Sim.

Não.

A cabeça girava tanto que perdeu o fôlego. Naquele instante, ela nem
imaginava qual seria sua resposta.




DEZ



A mão de Dante apertou a nuca de Kara. E de novo ela teve aquela
sensação instantânea de segurança fluindo através do corpo. E alívio intenso.

- Kara, você está em minhas mãos – ele disse, com a voz naquele
adorável tom baixo que a reconfortava feito um bálsamo na pele. – Você vai
ficar maravilhosa.

Ele passou a outra mão por sua barriga, e ela sentiu um tremor de
luxúria no sexo. Pulsando, pulsando. Ela olhou o aparelho, assustador e
incrivelmente sedutor a um só tempo.

Kara desejava que Dante se orgulhasse dela. Queria se orgulhar de si
mesma.

- Dante ... eu ... não quero deixar o medo atrapalhar. Eu quero isso. Sem
sombra de dúvida. Eu só preciso ... respirar um pouquinho.

- Está certo. Então, respire novamente. Pronto.

Ele se inclinou e a beijou na bochecha. E quando ela levantou o rosto em
sua direção, ele girou seu queixo e a beijou nos lábios.

Ela estava inundada de calor. Com o gosto dele, a textura suave de sua
boca. Quando ele varreu por dentro com a língua, o calor e a vontade se
inflamaram dentro dela.

Ah ... quero isso ...

Ele se afastou para sussurrar colado aos lábios dela: - Você é bonita
demais. Vai ser tão bom. Vou fazer ser bom pra você, Kara.

Ela consentiu, a maior parte do medo foi embora levada pelo desejo a
inundá-la.

- Está pronta? – ele quis saber.

- Sim. Sim.

- Vai correr tudo bem. Basta seguir minhas ordens, Kara. Entregue-se a
mim.

Ela concordou novamente, relaxando os ombros, e o acompanhou.

A spanking bench parecia um cavalete para serrar madeira, mas ela era
coberta de couro vermelho e tinha dois níveis. O de cima era uma coluna
comprida, estreita e acolchoada, com braços dos dois lados. A parte baixa era
composta de abas laterais estreitas, que Kara sabia servir para apoiar os
joelhos e cotovelos. Espalhados aqui e ali existiam olhais para prender
algemas ou cordas. Ou correntes.


Ela estremeceu.

- Suba, menina bonita. Eu te ajudo.

Dante a segurou pela mão, mantendo a outra em sua cintura. E mesmo
que uma parte dela não conseguisse acreditar que estivesse fazendo aquilo,
ela trepou na bancada, deitando o corpo no nível superior e apoiando os
cotovelos nos braços do móvel antes de colocar os joelhos nas abas inferiores.

Kara percebeu de imediato que nessa posição a bunda ficava empinada.
O púbis pressionava o couro macio. E logo ela sentiu o impulso de pressionar
com mais força, para amenizar um pouco aquele desejo. Mas não pretendia
fazer nada sem que Dante pedisse. Ela pretendia apenas obedecê-lo.

Dante se inclinou para ela. – Como é sua primeira vez, não vou vendá-la.
Mas não deve se mexer se eu não mandar. Entendeu?

- Sim. Eu entendi, Dante.

As mãos dele estavam nas costas dela, varrendo a pele nua: ombros,
descendo espinha abaixo até aquele ponto sensível na região lombar. Ela
fechou os olhos. Kara estava extremamente consciente de cada toque, do
ritmo das mãos deslizando sobre seu corpo, acompanhando a batida da
música ao fundo. Pareceu demorar uma eternidade aquele toque. Enquanto
isso, o sexo foi se esquentando mais e mais, até ela ficar completamente
molhada.

Kara queria apanhar dele. Queria pedir isso, mas permaneceu em
silêncio. Deleitando-se em meio ao tremeluzente desejo abrasador ressoando
pelo organismo, acendendo cada terminação nervosa.

Uma das mãos de Dante desceu sobre a bunda e a parte de trás das
coxas. A outra permaneceu naquela região, pressionando com gentileza, a
medida que ela adorava. Kara sentia a estranha sensação de ter o corpo
inteiro tocado por ele ao mesmo tempo. Menos onde mais precisava.

Ficou mais e mais difícil permanecer parada, com o sexo palpitando.
Necessitando. Os mamilos enrijeceram contra a superfície lustrosa de couro do
aparelho. E justamente quando ela pensou que não aguentava mais, sentiu o
primeiro toque deslizando entre as pregas.

- Ah ... – ela gemeu, se mexendo.

- Não, Kara. Fique paradinha.

Ela mordeu o lábio forçando o corpo a se aquietar. Segurou o fôlego
enquanto os dedos se movimentavam, escorregando pela umidade, subindo e
descendo ao longo da boceta.


O prazer era composto de longos fios líquidos sinuosos se entrelaçando
pelos membros, pelos músculos, pela pele. Quando ele a penetrou com os
dedos, ela suspirou. E quando mergulhou fundo dentro dela, ela gemeu, e os
olhos se abriram.

Do lado oposto a ela havia um homem. Jovem, dono de um rosto bonito.
Um corpo incrível. Ele usava apenas jeans escuro e uma coleira de couro.
Quando ela entendeu a situação, este homem lindo observando o que Dante
fazia com ela, o sexo se inundou, quente e úmido, carente e numa intensidade
nunca experimentada antes.

Ela levantou o olhar. E enquanto um sorriso lento se abria em seu rosto,
a mão de Dante desceu num tapa forte na bunda.

- Ah!

A palma da mão acariciou a pela em chamas, a reconfortá-la. Ele bateu
novamente, seguido por outro doce golpe, e mais um. As sensações duplas
tornavam tudo ainda mais agudo. Os dedos de Kara agarravam os braços
almofadados do aparelho. O olhar penetrante do rapaz no prazer dela era
quase impossível de suportar.

Dante enfiou mais profundamente os dedos nela.

- Nossa, você tá toda molhada, minha menina. E ta adorando ser
observada, né? Adora apanhar. Ficar vulnerável desse jeito. Eu também
adoro. Ver você assim. Com platéia. Dividir com os outros o quanto você é
linda na sua submissão. No seu desejo.

Ela estremeceu com essas palavras, com o prazer no tom da voz.

Dante deu outro tapa, de novo, e de novo, criando um ritmo rápido,
acentuado. Ele mantinha os dedos bombeando dentro dela. E ela estava
tomada pelo desejo e pela dor, tudo de uma só vez. A sensação se fundiu até
se tornar apenas uma coisa: necessidade. Pura. Capital.

O prazer cresceu, prazer sobre a dor. A cabeça e o corpo se elevavam. Os
tapas quentes da mão de Dante mesclados com os ataques dos dedos. O sexo
inchou, e ela pressionou o púbis contra a bancada de couro; ela não conseguia
se controlar. Pressionou até a força no clitóris se mostrar suficiente. Ela
gozou, se fazendo em pedaços, gritando. Ele continuou com os tapas e
metendo os dedos. A boceta era apertada como uma luva perfeita, precisando
de mais, mais. E o rapaz bonito não tirava o olhar fixo dela, estimulando seu
gozo de um jeito inexplicável.

- Meu Deus, Dante!


Ela não conseguia parar de gozar. Estava tremendo, os abalos
secundários do orgasmo pareciam durar para sempre.

Enfim, o corpo começou a se acalmar. O estranho deu um último sorriso
e foi embora. Ela sentiu as mãos de Dante no cabelo, acariciando as
bochechas, os lábios. Ele estava ajoelhando na frente dela, inclinando seu
rosto até ver os olhos. Eles brilharam dourados na luz abafada.

- Foi excelente – ele disse, com a voz baixa cheia de desejo. – Foi perfeito,
Kara. Menina bonita.

Ele a beijou. E aqueles lábios macios, seu gosto, o fato de saber ser Dante
fizeram o desejo renascer dentro dela.

- Minha menina – ele sussurrou contra a boca de Kara.

Dele.

Sim.

Dante a beijou novamente, com mais força desta vez. Os lábios dele
pressionavam os dela com força, a língua invadindo, mergulhando em sua
boca da mesma maneira que os dedos penetraram seu corpo minutos atrás.
Ela estava completamente relaxada, a pele queimava onde ele tinha batido,
feito um lembrete amável dos tapas que levou. De como ele a tornara dele.

Ele se afastou.

- Venha, vamos tirar você daí.

Ele ficou novamente atrás dela, e Kara esperou por ele. Dante a agarrou
pela cintura e a levantou, até ela ficar de joelhos sobre a bancada. As mãos
dele cobriram os seios, ela suspirou, arqueando em resposta a toque. O corpo
dele quente atrás do dela, as mãos ardiam na carne. Os mamilos estavam tão
duros que até doíam. Ele os puxou, girando, esticando. Não tão forte, o
suficiente para penetrar fragmentos da nova sensação no corpo dela.
Deixando-a consciente do quanto estava molhada, do ar frio entre as coxas
abertas.

- Gosta de ter plateia, não é, Kara? Ninguém tá te observando
especificamente agora, mas consegue sentir? A energia no ar? Sua presença?

- Consigo – ela sussurrou. O simples fato de saber que não estavam
sozinhos era empolgante em si. Porém, não tanto como quando o estranho a
observou. Ah, não. Aquela tinha sido a experiência mais intensa da sua vida.

Queria repetir a dose, mas também desejava estar a sós com Dante. Era
como se precisasse receber dele uma sensação de segurança. Ela não
compreendia.


De imediato, estava tremendo, sacudindo.

- Dante ...?

- Sim, eu tô sentindo. Deixa comigo, meu bem.

Ele a tirou da bancada e se sentou com ela no colo na grande poltrona de
veludo. Pôs um cobertor sobre seus ombros e a fez beber água da garrafa que
encostou nos seus lábios.

- Dante, eu ...

Ele esfregou os braços dela por cima do cobertor. – Quietinha, sim. Você
me satisfez bastante. Você foi maravilhosa. Perfeita.

Como ele sabia que era exatamente aquilo que ela precisava escutar tão
desesperadamente?

- Dante, não me sinto... eu mesma.

- Não, é claro que não. É normal. É um pouco daquele lance das
.profundezas.. Você vai ficar bem. Vou tomar conta de você.

Quando foi que outra pessoa lhe disse aquilo? Quando foi que outra
pessoa falou aquilo a sério? Lágrimas brotaram nos seus olhos.

Eu o amo...

Não. Era apenas a voz d experiência recentemente concluída. A leveza
na cabeça. As profundezas.

Por que, então, o corpo inteiro vibrou com a correção da ideia? Por que
ela precisou morder o lábio para não lhe dizer?

Meu Deus, Kara não podia falar aquilo. Não para ele.

Não ela.

Engoliu as lágrimas. Prometeu a si mesma lidar com aquilo – examinaria
tudo – mais tarde, quando a cabeça voltasse a ficar no lugar.

- Kara, você está tensa. Vamos respirar um pouco, tentar fazer você
relaxar novamente.

- Não consigo.

Ele a abraçou mais forte, ate ela conseguir sentir o bater forte e constante
do coração dele contra seu peito. – você consegue. Vamos juntos. Respire bem
fundo.

Com algum esforço ela obedeceu. Por fim, o pulso disparado se
aquietou; a mente parou de girar. O exercício respiratório ajudou. Mas o que
tinha ajudado mesmo foi o corpo dele perto dela. Seus braços ao redor dela.
Seu aroma a envolvê-la, aquele aspecto masculino elementar e sombrio.

Ele correu a mão pelas costas, os dedos acariciavam, golpeavam. Quando


chegou na parte antes da bunda, fez círculos de leve na pele. E, exatamente
como antes, o toque começou a acender o corpo dela com desejo.

Como Kara era capaz de sentir aquilo naquele momento, logo após essa
pequena crise? Ela estava tão confusa. Mas era muito mais fácil simplesmente
se entregar. Ao seu toque. Ao prazer inundando o corpo mais uma vez. Ao
Dante.

Ele cochichou para ela: - Eu preciso te levar para casa. Pra te comer na
minha cama. Vem, minha menina bonita.

Outra pequena onda de calor a perpassou.

Sim, na cama dele. Nos seus braços.

Ela topava qualquer coisa que ele quisesse. Até mesmo se fosse ainda
mais intenso do que antes, quando tinham usado o aparelho. Ela queria –
precisava – estar mais perto possível dele.

Dante a colocou de pé e a vestiu. Cuidadosamente. Gentilmente. E Kara
sentiu novamente a sensação de ser querida, de ser apreciada por ele.

De forma inconsciente, ela sabia que tudo se resumia as dinâmicas do
jogo de poder. Do papel dele como dominador. Mas aceitaria qualquer coisa
que pudesse obter agora. Deixando para pensar mais tarde, quando ele
terminasse com ela, como inevitavelmente aconteceria. No fundo do coração,
ela sabia que nada bom assim poderia durar.

A cabeça de Dante estava girando enquanto rodavam num táxi pelas
ruas molhadas de volta à sua casa.

Levar Kara ao clube foi quase um exagero para ele. Estava até
desconcentrado. Chegou perto de perder o controle com ela. De girá-la
naquele aparelho e foder ali mesmo.

Ela ficou incrivelmente excitada com aquele homem submisso a observá-
los. Nossa, ele também tinha ficado. Não que gostasse de homens, mas
adorava o exibicionismo. Tinha tanto orgulho da beleza e das reações de
Kara.

Ele ficou tão duro que mal se aguentava. Teve que dar tudo de si para
não apertar aquela bunda belamente rosada, abaixar as calças e meter direto
nela. No entanto, Dante tinha prometido a si mesmo não agir dessa forma.
Não na primeira vez dela no clube. E alguma coisa mudou quando Kara
mostrou sinais de seu prazer mais profundo. Mesmo quando ela estava
montada sobre o aparelho e ele teve a ereção de sua vida, ao pressionar as
costas dela. Dante se tornou um quase protetor dela. E com isso nasceu a


necessidade de tê-la por inteira para si mesmo. Uma sensação de posse e um
desejo que mal podia controlar, cada elemento fazendo o outro entrar em
espiral, se elevando.

Minha.

Ele gemeu. Ainda estava duro feito uma pedra, o pau doía. E o lindo
corpo dela coladinho ao seu, ainda relaxado por causa do orgasmo, ainda
mergulhado no subspace. Era bom demais. Eles não conseguiam voltar a sua
casa rápido o bastante.

Dante olhou para Kara. Seus olhos estavam semicerrados, um breve
vislumbre de ouro e calor vindo dos longos cílios. A boca vermelha, os lábios
carnudos. Nossa, ela era linda.

Ele se esticou e tocou um dos lábios suculentos. E sentiu um choque de
luxúria atravessá-lo quando ela chupou o dedo para dentro da boca.

Como se o interior da boca fosse feito de veludo macio e calor. Ele
gemeu. A boceta dela era quase igual, só que mais apertada. Igualmente
molhada.

Ele deslizou a mão entre as coxas dela, sorriu quando seus olhos se
abriram, se arregalando quando ele correu os dedos pela abertura úmida.

Ah, sim, ela estava toda molhada, como ele supunha. Pronta para ele.

- Fique parada – ele afirmou, mantendo a voz suave, mas incapaz de
resistir.

O motorista não prestava atenção neles, ouvindo alguma música cheia
de interferências no rádio. Dante olhou de novo para Kara, observou os
dentes se fecharem sobre o lábio inferior quando ele deslizou os dedos mais
fundo e começou a bombear.

Ela arqueou os quadris, mas ele fez que não. Kara relaxou
imediatamente.

Ah, ela era perfeita, essa garota. Não era a primeira vez que pensava
nisso.

Dante ouviu sua respiração rouca enquanto a castigava com a mão. Ele
foi ficando cada vez mais duro. Pronto para explodir.

- Tenho que te comer logo, minha menina – ele falou, num cochicho
suave ao pé do ouvido dela.

Ela piscou para ele, mas talvez tivesse ido longe demais para responder.
Ele não se importou. Na verdade, adorou.

O táxi parou diante da casa dele, e Dante tirou a mão de dentro dela. Ela


deu um suspiro baixinho, resignado. Ele pagou o taxista, dando uma gorjeta
para lá de generosa. Não importava. Ele simplesmente precisava levar Kara
para o apartamento.

Quando subiram, rapidamente ele tirou a roupa dela. Dante teve de
fazer uma pausa, para olhar para Kara, absorver o conjunto completo: as
bochechas rosadas, os seios meio que cheios e pesados, os mamilos inchados
num tom vermelho maravilhoso. Deliciosos. Ele mal conseguia esperar para
vê-la completamente molhada. Ele começou a tirar as próprias roupas,
desabotoando a camisa, e parou.

Melhor ainda vê-la com sua camisa, com a água escorrendo sobre o
tecido branco. Ele grunhiu.

Num chute, se livrou dos sapatos, tirando tudo menos a camisa. Até
mesmo a bainha no tecido de algodão fino roçando o pau duro era
estimulante, enviando um pequeno choque de prazer através do corpo. Mas
ficou melhor ainda quando tirou a camisa e a ajudou a vesti-la.

Ela ainda não estava sob a água, mas seu pau pulsava na expectativa.
Pronto para gozar a qualquer momento.

Ele entrou no chuveiro, levando-a com ele. Dante não a possuíra ali
ultimamente. E por que ainda não a tinha feito vestir uma de suas camisas?
Vendo a água empapando o algodão sobre a pele dela, como acontecia agora.

Ele gemeu.

- Nossa, Kara. Você tá linda demais, gostos demais desse jeito. Adoro ver
sua pele debaixo do tecido molhado. A silhueta do seu corpo. Existe algo
muito especial nisso pra mim. Nem sei explicar o que me leva a querer fazer
com você.

Ela estava calada, complacente, enquanto ele corria as mãos sobre os
ombros, os seios, lindamente delineados sob o algodão branco molhado.
Estava quase transparente agora, tão molhado, justamente como ele gostava.

Dante correu as mãos embaixo da camisa, ao redor da barriga.
Estremecendo junto com ela. Quando ele se inclinou e chupou um mamilo
rijo através do tecido, o pau parecia prestes a explodir como um vulcão. Ele
precisou se afastar, respirar fundo algumas vezes, obrigando-se a se acalmar.

- Meu Deus, Dante! Isso é ... Nunca senti nada assim antes.

- Que bom que você tá gostando, meu bem – ele sussurrou, novamente
cobrindo os seios com as mãos, envolvendo-os, amassando os mamilos.
Ouvindo a respiração arfante dela. E a dele.


Ele fez pressão contra ela, a sensação do algodão molhado e a curva da
barriga quase a deixa-lo no limiar a todo tempo. Ele precisou interromper,
respirar novamente, trincar os dentes para se prender a algum controle.

Acalme-se. Preciso me acalmar.

Ele deu um passo para trás. Nossa, ela estava maravilhosa assim, mas ele
precisava reduzir o ritmo ou tudo terminaria cedo demais.

Dante apanhou a esponja grande e o sabonete preferido, uma mistura de
aroma cítrico com almíscar, e a cobriu de espuma – apenas as coxas, a barriga
debaixo da bainha da camisa. Ele adorava que ela ficasse com o cheiro dele.
Sem saber por quê. Mas não importava. Importante era como os mamilos
escureceram, enrijeceram sob o tecido molhado. Os pequenos suspiros de
Kara. A forma como ela o observava com desejo puro no rosto enquanto ele
se lavava, deslizando a esponja ao longo do pau duro.

Estava se ensaboando quando ela falou: - Dante, por favor. Me deixa ...
me deixa tocar você.

Ele sorriu para ela, consentiu, e Kara tirou o chuveirinho dele, se
ajoelhou e mirou água em sua barriga, depois logo abaixo.

A água quente produzia a sensação de mil agulhas suaves sobre a carne
carente. Ele gemeu.

Ela moveu o jato para o meio de suas coxas, e ele as abriu. Kara
movimentou o chuveirinho, para a água atingir as bolas.

- Ah, caralho, que gostoso – ele sussurrou, com o prazer o levando a se
arquear numa corrente forte. Travou a mandíbula, tentando resistir.

Ela envolveu o saco com a mão, massageando gentilmente, e ele achou
que poderia morrer de prazer. As coisas que Kara fazia com ele, a visão dela
na sua camisa, o tecido molhado grudando na pele. Dante colocou as mãos
nos ombros dela, o cabelo molhado de Kara deslizava pelas costas. Ele
começou a mexer um pouco o quadril, era impossível evitar. Ela olhou para
ele, tinha as bochechas rosadas, o olhar em chamas. E, sem desviar o olhar,
Kara segurou o pau na mão e esfregou a ponta entre os lábios.

- Ai, meu Deus, Kara ...

O prazer penetrava agudamente pelo corpo. E quando ela chupou a
cabeça com a boca aveludada e quente, os joelhos bambearam como se ele
fosse cair.

Dante se agarrou à parede de granito do boxe, tentando respirar. Mas foi
ficando mais e mais difícil enquanto ela girava a língua sobre a ponta,


passando ela no buraquinho, depois engolindo tudo, levando-o para o fundo.

- Kara, eu vou gozar se você continuar assim. Vou gozar agora mesmo,
meu bem ...

Só que ele perdeu o controle da situação. Ela chupou com mais força,
puxando-o para a garganta, depois deslizando para a cabecinha, depois
engolindo de novo. A mão segurava o pau na base, sem soltar. E ela ainda
mantinha o jato nos testículos firmes.

Ele estava perdendo a cabeça. Bombeando em sua boca. Provavelmente,
bruto demais, mas ela aceitava.

Perfeito ...

O prazer aumentou, aguçado e quase doloroso. Ela o manipulava sem
pena nem dó, justamente como ele fazia com ela. Em instantes ele ficou
naquele limiar, seu tênue domínio. Sobre tudo: controle. Seu orgasmo. O dela.

Ao gozar, ele disse o nome dela várias vezes. Os quadris ondulavam
contra a boca de Kara. Ela o chupava com tanta força que doía. Era fantástico.
Ele nunca tinha gozado com tanta intensidade na vida.

A seguir, ele tremia por inteiro. Kara se levantou e, na verdade, o ajudou
a se sentar no banco dentro do boxe. Ele estava arquejante, esforçando-se ao
máximo para recuperar o fôlego.

E era Kara quem o reconfortava, sentada ao seu lado no banquinho
enquanto a água caía sobre eles. Enquanto descia pela camisa de algodão
grudada no corpo, sobre sua pele nua, formando regatos quentes e suaves.

Ela o acariciava com as mãos, nos ombros, na bochecha. O toque dela era
... terno.

Levou um tempo até ele reconhecer carinho. Era muito estranho uma
mulher tocá-lo desta forma. Ele não costumava permitir. Era íntimo demais,
longe dos limites dos papéis de dominador e submissa. Os limites do jogo de
poder. O jogo de poder no qual ele era o dominador. Não que ela bancasse a
dominadora, mas de alguma forma ele tinha baixado a guarda. Por causa de
Kara. Ela o tinha levado a isso. E não se resumia ao prazer abrasador que
sentia ao toque dela, ao simplesmente olhá-la. Era ... apenas ela.

Isso nunca acontecera antes. Uma mulher o reduzindo a ... isso. Um
homem sem controle sobre o próprio desejo. Sobre o próprio prazer.

Emoção.

Ele teve um pouco de pânico. Entretanto, mesmo este era uma sombra
vaga no limite da consciência, além do puro prazer que ainda sentia


oscilando pelo organismo.

Dante era incapaz de acreditar. Estava exausto demais para pensar. E a
sensação, boa pra cacete, o impedia de se importar depois daqueles primeiros
momentos surpreendentes.

Nada o tinha feito sentir melhor do que Kara. Nada. Ela era tudo em que
Dante conseguia pensar. O resumo dos seus desejos. E tudo era bom demais
para ele avaliar por que esse tipo de pensamento nunca lhe ocorrera antes.

Kara.

Pela primeira vez, ele não queria mais nada – nem ninguém.




ONZE



Kara acordou no escuro, com o coração disparado. Demorou um tempo
até ela se localizar. Lembrar onde estava. E quando recordou, o motivo que
fazia seu coração palpitar voltou numa enxurrada, deixando-a em pânico.

Ela o amava.

Impossível, mas verdade.

Droga.

Ela se sentou, enfiando as mãos no cabelo.

Aquilo não podia estar acontecendo. Não com ela. E, certamente, não
com ele.

Dante era o cara inalcançável. Ela devia ter se ligado. Ela havia se ligado.
Simplesmente foi longe demais na noite anterior para fazer algo a respeito.

Para ele, não passavam de diversão e joguinhos. Um jogo sério, mas
ainda assim um jogo. Dante tinha sido claro desde o começo. E ela supôs que
também seria clara. Chega de relacionamentos. Chega de abrir o coração.
Chega de riscos com as emoções. E, agora, as emoções afloravam, penetrando
extremamente fundo no coração.

Como ela pôde pensar que poderia fazer aquilo, embarcar nesta
aventura sexual radial sem se envolver?

Ela era uma idiota.

Ela o amava.

Ele perceberia que algo estava acontecendo com ela. Dante era muito
perceptivo, o que em parte explicava por que ele era tão bom como
dominador. Contudo, isso não a reconfortava naquele instante.

Largou as mãos no colo e olhou pelas janelas altas e o céu noturno. A luz
subia das ruas, um débil brilho de âmbar e prateado, iluminando as nuvens a
encobrir a Lua. Pareceu tão solitário para ela o mero pensamento de
caminhar pela rua noturna, na escura e molhada Seattle. Intoleravelmente
solitário. Porém, ela sentia um impulso terrível de ir embora. De
simplesmente se levantar, se vestir e cair fora. Antes de Dante acordar e
perceber a existência de algo terrivelmente errado com ela.

Era assim que parecia. Como se ela estivesse... doente.

Ela gemeu e abraçou o próprio corpo.

- Kara?

Droga.


A voz dele ainda estava grogue de sono. Ela não queria olhar para ele,
sabendo que tudo acabaria ali. Kara sentiria com intensidade excessiva. E
nem contaria a ele, o que seria um desastre completo. Ou ela teria de ir
embora. Tem de. Partir e talvez nunca mais voltar.

Ela sentiu uma dor aguda no peito com esse pensamento.

- Kara – ele repetiu – O que foi? Não consegue dormir?

- Não – ela disse, apenas. Não sabia o que mais falar. Não confiava na
firmeza da voz.

- Venha cá – ele falou, sentado e esticando-se na sua direção.

Ela o repeliu.

- Kara? – Ela percebeu a confusão em sua voz. – O que está havendo?

Sacudiu a cabeça. Estava estragando tudo. Já tinha estragado tudo com
Dante ao se apaixonar por ele.

Ela estava com raiva de si mesma. Com raiva dele, por motivos que nem
sequer conseguia compreender. Dentro de si reinava apenas uma confusão
sombria.

- Vamos lá. Conte – ele insistiu.

- Para você poder fazer seu serviço? – ela perguntou, num tom de voz
amargo. Kara não conseguia evitar. Ela não iria se virar e olhar para ele.

- Quê? Não! Eu... me diz o que tá acontecendo aqui.

- Eu não sei. Só isso. Merda. Ou talvez eu saiba. Vai ver estou consciente
demais de tudo isso ser em função de você desempenhar seu papel de
dominante e eu representar a dócil garota submissa.

- Nunca te vi dessa maneira. Sabe disso. Pensei que soubesse.

- Tá bem. Talvez não. Mas você se vê assim. E o que eu preciso saber é...
existe algo mais além disso, Dante?

Ela engoliu em seco. Será que tinha mesmo falado essas coisas para ele?

Dante ficou em silêncio por tanto tempo que ela começou a sentir medo.
Quem sabe ela o havia pressionado demais. Mas qual seria a reação dele?
Pedir que fosse embora? Uma parte dela desejava isso. O rosto queria que ele
a tomasse nos braços e pedisse para ficar com ele.

Para sempre.

Não seja idiota.

A barriga dela doía. O coração doía.

- Nossa, Kara...

Chegou a hora. Ela jogou as cobertas e começou a se levantar, mas ele


agarrou seu braço, forçando-a a encará-lo.

- Aonde você vai? O que tá acontecendo aqui?

Ela se encheu de uma raiva quente e poderosa. Raiva, medo e perda.

Ela não conseguia entender.

- Vou embora, Dante.

Mesmo no escuro ela pôde ver sua boca se abrir enquanto a soltava. Ele
não conseguia entender.

- Não vou mantê-la aqui contra a sua vontade – ele afirmou, num tom
calmo, cuidadoso.

- É claro que não, pois o abominável Dante De Matteo nunca faria nada
para violar sua crença segura, sadia e consensual, mas também nunca faria
nada para permitir a entrada de alguém, né?

Ele a encarou, chocado. Ela também estava chocada. Então, suas
sobrancelhas escuras se juntaram e ele falou muito baixinho, ela mal
conseguiu escutar: - Não

Ela balançou a cabeça. – O que quer dizer com isso?

- Que você tá certa. – Ele fez uma pausa, passando a mão pelo cabelo. – E
isso é... nunca havia percebido antes... é uma fraqueza minha. Simplesmente
encaro isso como necessário. E ainda penso que é assim. Na maioria das
vezes. Talvez. Nossa, eu não sei mais, não, Kara.

Ela abaixou um pouco a bola ao ouvir aquele tom autodepreciativo na
voz dele. Ao perceber a verdadeira confusão.

- Não sei o que tá acontecendo comigo – ele admitiu – Mas tem a ver com
você. E não gosto disso, posso garantir. Eu não entendo. Hoje, depois de
voltarmos aqui... aconteceu alguma coisa comigo. – Ele parou de falar,
balançando a cabeça negativamente. – Foi diferente. Novo. Não sei se quero
pensar muito nisso. Eu tinha certeza de não queria pensar quando fomos
dormir. Mas se a contrapartida é você ir embora daqui agora, então vou
pensar a respeito. Farei o possível para entender melhor.

- Dante... me desculpe.

- Por que?

- Por reclamar desse jeito sinto a mesma coisa. Tem alguma coisa
mudando, e eu tô assustada. Era por isso que queria ir embora.

- Ainda quer?

- Não, pois sei que me quer aqui. Apesar de tudo... isso, seja lá o que for.

- Está bem.


Ele se esticou até Kara novamente, e desta vez ela aceitou o abraço. O
coração dela parecia um pequeno martelo doendo dentro do peito, mas ela
simplesmente deixaria estar, deixaria para lá. Era mais fácil, sabendo que ele
estava tão confuso quanto ela com aquilo rolando entre os dois.

Eles ficaram sentados em silêncio por tanto tempo que ela começou a se
perguntar se ele não havia pegado no sono, mas, então, Dante mudou de
posição, deslizando até ficar deitado de costas, arrastando-a até ficar deitada
sobre ele. Os seios foram pressionados contra a parede sólida do seu peito, a
barriga nua dela contra a dele. Kara sentia a musculatura dali. Um pequeno
espasmo em sua ereção no ponto de junção das coxas. E ela precisou respirar
fundo para conter o desejo a varrê-la, feito uma onda. Tão líquido, tão
poderoso.

- Dante...

- Shhh. Apenas me beije – ele falou, mansamente.

O jeito como ele falou parecia uma onda de calor alvoroçando sua pele,
espiralando no coração. Dante puxou a cabeça dela junto à dele com as mãos
nas bochechas. Quando ele a beijou foi surpreendentemente tenro. Os lábios
alisavam os dela, suaves, mal a tocando. Um tremor leve a percorreu, criando
uma nova camada de desejo sob aquela primeira onda aguda. Esta era
diferente. Igualmente intensa, mas de uma maneira muito diversa.

As coisas estavam diferentes entre eles. Ambos admitiram alguma coisa.
Ambos se abriram. Contudo, com sua boca na dela, sua língua deslizando
para explorar, para exigir de forma nova e terna, Kara não conseguia pensar
no quanto aquilo assustador. Ela tão somente era capaz de se entregar. Ao
seu beijo. A ele. A ainda tênue e frágil ligação que existia entre os dois.

Ela suspirou em sua boca, ouviu a respiração arfante dele em resposta
enquanto o quadril se arqueava, pressionando a ereção contra o púbis a se
umedecer.

Ela abriu as coxas, permitindo que a ponta do pau deslizasse ao longo da
sua abertura.

Prazer puro, aquela sensação escorregadia. O toque aveludado do pau
sobre o clitóris latejante. E sabia que era o dele.

Dante.

Ele começou a se mexer, arqueando, recuando para que o pau
escorregasse entre as dobras úmidas da carne, avançasse sobre o clitóris e
descesse novamente. Ele ainda segurava o rosto dela ao beijá-la envolvendo


as bochechas. E, esticando a mão, alisou a lateral do seio, produzindo uma
nova sensação com o toque. Kara se movimentou para ele poder envolvê-lo
com a mão, e esfregou o mamilo com os dedos. E mesmo que o resto dos
movimentos, das ancas, do pau e da boca, fossem gentis ao extremo, ele
beliscou seu mamilo.

Ela arfou. Sugando o ar dele. Mergulhou na dor que, de alguma maneira,
nem sequer era dor, simplesmente um prazer profundo. Prazer a se combinar
com a ternura de tudo aquilo que acontecia entre eles. Da sua boca na dela. O
suave remexer dos quadris, pressionando o pênis contra ela. O contraste.
Adorável.

Ela pressionou o quadril contra o dele, fazendo força sobre a dura flecha
de sua ereção. Ele não parou de beijá-la, de beijá-la, a língua dançando contra
a dela. E a deliciosa tortura do mamilo provocava choques adoráveis através
dela. O prazer cresceu, um enrijecer do seu sexo, do seu ventre, dos seios. Ela
continuou se movimentando, com o quadril serpenteando contra o dele.

Ele desencostou sua boca da dela o suficiente para cochichar: - Goza pra
mim, minha menina bonita.

E ela gozou. Simplesmente desmoronando, estremecendo por inteiro
enquanto o clímax fluía pelo corpo. Estimulado pela pressão forte de seu pau
contra o clitóris. Ela gozou nele, se esfregando contra sua adorável carne rija,
arfando em sua boca.

Então, suas mãos a percorreram por inteiro, apalpando as costas, a
bunda, as coxas. E cada toque irradiava uma nova onda deliciosa dentro dela.
Ela ainda tremia com os espasmos do orgasmo quando Dante pegou uma
camisinha, de alguma forma a vestiu e levantou o corpo dela sobre o dele.

- Vamos lá, Kara – ele falou, com a voz grave de desejo.

Dante manteve o corpo dela suspenso sobre o dele com as mãos fazendo
força na cintura. Ela olhou em seus olhos. Eles eram dois pontos negros
cintilantes no quarto escuro. Kara aguardou um sinal. Seu comando. E
quando ele consentiu com o queixo, ela se derreteu um pouquinho ao se
abaixar sobre ele.

- Ah...

Ela só pôde gemer enquanto ele a preenchia. Carne dura, quente dentro
dela, avançando mais e mais fundo. Ele a segurou, fazendo seu corpo subir e
descer com os braços fortes. Trazendo-a para baixo, sem parar, sobre seu pau.

Kara adorava perceber que, mesmo ficando em cima de Dante, ele ainda


estava firmemente no controle. Ele definia o ritmo. Dante lhe propiciou
prazer e obteve o dele. E, enquanto bombava os quadris, mais e mais forte, o
clima passou de carinhoso a selvagem.

- Nossa, Kara – ele estava ofegante. – Eu preciso ficar bem no fundo de
você.

- Sim, Dante...

- Preciso ver você gozando de novo. Dá um jeito de gozar pra mim.

Ela esticou a mão e apertou o clitóris duro, e a sensação a inundou.

- Ai, Deus – ela sussurrou, tomada pela sensação: o pau, os dedos dela, a
autoridade dele.

- Vamos lá, menina bonita – ele arquejava, movimentando o quadril, o
pau duro entrando e saindo dela. – Anda. Faz acontecer.

Ela circulava os dedos, levantava o quadril para o pau atingir o ponto G.
E, com um grito, gozou novamente.

- Dante! Ah!

Ela estava tremendo, esmagando o pênis com a própria mão. Seu sexo
prendia com força aquela carne espessa em movimento.

- Ah, Kara... – Ele metia nela, de novo e de novo, apertando seus quadris
com mais força. – Caralho...

Ele a puxou para baixo com brutalidade. Manteve-se perto.

- Tão bom... bom demais... – ele murmurou junto ao cabelo dela.

E, de repente, a ternura tinha voltado, mais intensa do que nunca,
enquanto Dante a abraçava.

Os dois ofegavam bastante, cobertos de suor. Ele ainda estava
amolecendo dentro dela. Ela não queria que saísse. Não queria a separação de
seus corpos. Dante beijou a bochecha, o pescoço, os lábios, fazendo uma
carícia suave na pele, e, para ela, cada toque parecia uma confirmação do que
existia entre eles. Kara não pretendia pôr um nome naquilo, mas era alguma
coisa.

Ficaram deitados durante um bom tempo, e ela dormiu um pouquinho,
deitada sobre ele, os corpos pressionados. Era adorável dormir um pouco,
acordar tão perto dele.

O sol estava começando a nascer, deixando as nuvens do lado de fora
das janelas laranja, rosa e douradas, feito uma aquarela do céu. Ela suspirou,
feliz, se virou para ele, pressionando o rosto em seu pescoço, sentindo seu
cheiro.


Ele acordou, os braços a agarraram e, somente então, ela percebeu que
mesmo adormecido, Dante não a soltou.

Outra onda tomou conta de seu peito, com o coração batendo,
esvoaçando com algo além do prazer.

- Meu bem – Dante segredou. – Minha menina...

E num segundo o desejo se ativou novamente dentro dela. O pau
endureceu sob o corpo, e Kara abriu as coxas outra vez para ele.

Ele mudou de posição o suficiente para pegar outra camisinha da caixa
laqueada ao lado da cama e coloca-la. Depois, estava dentro dela.

E desta vez rolou um adorável sexo matinal. O suave requebrar do
quadril dos dois. Os gemidos dele, os suspiros dela. A sensação lenta,
flamejando, e enfim chegaram ao clímax juntos, gritando e tombando
novamente.

Ele a beijou, no rosto, no cabelo, no queixo. Beijos suaves, adoráveis. Ao
respirar, ela sentiu o aroma de sua pele. Do sexo. Deles dois juntos.

Kara enlaçou os braços ao redor do pescoço dele, sentindo o calor de seu
corpo contra o dela. O ritmo constante do coração. O sentimento de conexão.

Uma parte dela ainda queria estar assustada, mas a sensação era boa
demais. Isso era bom demais, e ela não podia negar aquele momento a si
mesma.

Apenas deixe rolar.

Kara simplesmente não conseguia fazer nada, de verdade. Ela se sentia
indefesa diante das sensações no corpo, no coração. O sinal de alarme foi
silenciado por aquele sentimento. Por enquanto, afinal. E ela se permitia
aquela entrega. À autoridade de Dante. Ao prazer de estar com ele. Até
mesmo ao medo esmagador de estar apaixonada por ele.

Não que ela devesse fazer algo a respeito. Ela nem sequer tinha de contar
os sentimentos. Independentemente do quanto fossem fortes. Era um segredo
delicioso que poderia esconder.

Há duas semanas Kara sabia que estava apaixonada por Dante. Tornava-
se mais e mais difícil esconder o segredo. Ela não contara a Lucie, nem sequer
dissera as palavras em voz alta, nem para si mesma. Kara temia deixar tudo
ainda mais real caso fizesse. E o simples fato de permitir esse pensamento
passar por sua cabeça já era o máximo de realidade que poderia suportar;

Isso e o simples fato de estar com ele.

Ela vinha desenhando Dante. E a cidade. As nuvens pairando sobre a


vista da baía de Elliott tal qual a via das janelas do apartamento dele. As
montanhas a distância. Uma fruteira na sua pequena mesa na cozinha.

Ela tinha encontrado alguns lápis de carvão e um velho caderno para
desenho. Kara ainda não ousara desenterrar as tintas. Era cedo demais. Ela se
sentia insegura em relação a isso. De se entregar àquela necessidade. Àquele
desejo. Parecia... indulgente demais.

Entretanto, Kara sabia ser por causa do Dante. Pela maneira com que ele
a fazia se sentir. Em relação a ele. A si mesma. Ele começava a fazê-la
questionar as ideias antigas, conceitos agora obsoletos, como havia percebido,
em relação à vida e ao que deveria fazer. Em relação às escolhas tomadas. À
forma como se restringira por temer demais o que poderiam achar dela.

Principalmente seus pais. O que era ridículo. Ela era uma mulher adulta,
mas o relacionamento com Jake não tinha ajudado nem um pouco. E ela
permitiu que fosse assim. Deixou Jake e seu julgamento afetarem sua maneira
de pensar.

Vai ver ela não era uma mulher tão forte quanto imaginava.

Ou quem sabe simplesmente não conseguia pensar claramente sobre
nada disso. Talvez devesse deixar os lápis de lado. Esquecer a pintura...

Ficou na frente das janelas de sua sala, olhando a cidade chuvosa,
tranquilizando os pensamentos confusos. Automóveis espalhavam água na
rua, uns poucos guarda-chuvas pontilhavam as calçadas. Um pedaço dela
queria estar lá fora, sentindo o ar úmido de Seattle, sempre salpicando com
um pouquinho de sal marinho da baía. Existia algo no aroma da cidade
durante a chuva que a fazia se sentir em casa. Aconchegada, mesmo em meio
a uma tempestade. Ela adorava a sensação de estar aquecida dentro do
casaco, o ar úmido gelando os pés através das botas.

Kara tremeu. Estar lá fora no familiar clima de fevereiro não era seu
único anseio. Também havia Dante.

Era sempre ele.

Ela deixou a janela, voltou a se sentar em sua cadeira e pegou o celular.
Haveria algum recado dele? Ele costumava mandar mensagens sensuais
durante o dia quando não estava no tribunal. Ou, às vezes, quando estava, o
que era uma atitude bem sacana. Algumas palavras dele bastavam para
excitá-la toda num segundo. Dante sabia aquecer seu coração carente.

Meu Deus, ela detestava se sentir assim. Ela não era assim, nunca tinha
sido, mas com Dante ela não conseguia evitar.


As últimas semanas foram maravilhosas e difíceis, tudo ao mesmo
tempo, um tipo delicioso de tortura nunca experimentado antes. Eles ficavam
juntos quase toda noite e nos fins de semana. Nas noites em que não o via, ela
tentava se ocupar. Às vezes levava trabalho para casa, saiu para jantar com
Lucie uma vez, passeou sem pressa pela livraria preferida. No entanto, todo
momento sem Dante acontecia de longe. Ela se sentia afastada de tudo,
menos dele.

Lucie percebeu que estava rolando alguma coisa na noite do jantar, mas
não forçou a barra. E Kara não ligava mais para ela com frequência. Tinha
consciência de que Lucie não iria esperar para sempre até ela entregar o jogo,
então parecia melhor evita-la por enquanto.

Mas ela não sabia por quanto tempo poderia guardar segredo. Toda
noite com Dante ela temia o aparecimento da verdade. Kara tinha ficado
desapontada e aliviada por ele não a ter levado mais ao Pleasure Dome. O
lugar era muito intenso; ela tinha certeza de que, se fossem lá, mergulharia
demais no subspace para manter o controle, e as palavras escapariam,
revelando o segredo.

Kara não podia fazer isso. Caso lhe contasse, eles teriam de encarar os
fatos e estaria tudo acabado. E era impossível não se lembrar da última vez
em que revelou um segredo para um homem, ao contar ao Jake seus desejos
mais pervertidos. Aquilo foi o fim de tudo. E assim foi melhor, pois ele era
totalmente errado para ela. Ainda assim, o problema era a ideia de divulgar o
segredo, principalmente quando sabia que não devia revela-lo.

Ela suspirou, largou o telefone e abriu uma pasta na qual estava
trabalhando na tela do computador. Era sexta-feira, e Kara devia entregar
aquilo na segunda à tarde. Caso não se concentrasse para trabalhar, segunda-
feira seria um inferno. Ela se forçou para se aplicar. Por fim o cérebro mudou
de ritmo, e Kara acabou mergulhando no trabalho.

Eram quase cinco da tarde quando ouviu um bipe no celular, avisando a
chegada de uma mensagem. Ela alisou o cabelo com a palma da mão, o
coração disparado. Kara precisava se acalmar. Não era necessariamente uma
mensagem dele.

Mas era.



Na minha casa hoje à noite. Às sete horas.




Kara sorriu para si mesma. Eles não haviam combinado se encontrar
naquela noite, Para ela, Dante havia planejado sair com o amigo Alec.
Contudo, antes de conseguir responder, outro torpedo chegou.



Deixa pra lá. Não consigo esperar. Venha à minha sala às seis.



O sorriso se abriu, o corpo se esquentou. Os mamilos enrijeceram sob a
renda do sutiã.

Uma hora. Uma hora inteira antes de poder vê-lo. E, então, quem sabe o
que poderia acontecer?

Ela adorava aquilo, de ele não largar do pé dela. Ela se maravilhava por
não se ressentir com a marcação cerrada. E provavelmente a antiga Kara teria
se ofendido. Porém, Dante lhe mostrava que abrir mão do poder por escolha
própria não era um sinal de fraqueza. Era uma revelação para ela. Libertador.
Exatamente como ele tinha sugerido no primeiro encontro. Na hora, Kara não
conseguiu acreditar. Mas aquelas semanas ao seu lado a haviam modificado
bastante.

Ela não esperava que o caso com Dante levasse a alguma descoberta
sobre si mesma. Olhando pra trás, Kara não sabia o que esperava. Quem sabe
uma aventura breve com uma paixão antiga. Uma incursão nas fantasias mais
safadas. Ela nunca pensou em se apaixonar tanto, a ponto de todos os
momentos de seu dia serem consumidos pensando nele.

Sexo com Dante. A grande cama de Dante. No corpo lindo de Dante. No
veludo de sua pele. No comando de suas mãos, sua voz.

Dante.

Somente mais uma hora...




DOZE



DANTE CONFERIU O RELÓGIO PELA DÉCIMA VEZ NA ÚLTIMA
hora. Cinco para as seis. Somente mais alguns minutos até Kara estar com ele.

Ele tinha parado de questionar o anseio constante por ele. Apenas
decidiu que não precisava entender aquele desejo para desfrutá-lo. Em algum
nível profundo da mente, ele sabia muito bem que estava evitando alguma
coisa. Entretanto, simplesmente escolheu não examinar o sentimento mais de
perto.

E Kara era uma mulher fantástica; por que ele não deveria curti-la? Ela
era sexy pra cacete. Tão inteligente quanto ele, provavelmente até mais, algo
que não acontecia sempre. E o sexo... A sacanagem sempre se fazia presente,
a troca de poder. Mesmo quando apenas transavam, sem nada radical, aquela
dinâmica sempre existia.

Sem dúvida, esse aspecto sempre se faria presente por ele ser quem era.
Por quem tinha sido durante a maior parte da vida adulta. Mas parte também
se devia a Kara. Ao jeito como ela reagia. Sua vontade de se entregar era
muito profunda. E Dante adorava essa faceta, só que já não era tão
importante como costumava ser.

Ela estava certa quando o acusou de usar a perversão para manter as
pessoas a certa distância. Ele podia admitir aquilo. E até mesmo o fato de
continuar se portando daquela forma com ela, de alguma maneira. Porém,
Kara tinha rompido aquelas barreiras e encontrado um jeito de entrar sob sua
pele. Existiam diversas coisas boas entre eles. O sexo, até uma mera conversa
com ela. Eles podiam conversar durante horas. E costumavam agir assim,
ficando acordados até tarde da noite depois de transarem. Ou numa manhã
preguiçosa de domingo. Às vezes até ficavam sentados juntos numa espécie
de cumplicidade silenciosa, algo ainda mais estranho.

Assustador, na verdade, se Dante se permitisse pensar a respeito, por
isso, ele não costumava fazer análises. Não muito, afinal, mas agora,
enquanto a esperava entrar pela porta, não havia como evitar.

Ela deveria chegar a qualquer momento. Um tremor de expectativa o
percorreu. E isso não se resumia a simplesmente ficar de pau duro. Pensava
em dobrá-la novamente sobre sua mesa.

Apenas concentre-se no sexo. No jogo de poder.

Ele correu a mão pelo queixo, deixando o dedo se arranhar com a barba


rala de fim de dia. Dante precisava se fixar numa sensação pungente.

Estou perdendo a cabeça.

Perdendo a cabeça por causa de uma mulher. Por causa da Kara. Às
vezes, essa era a única coisa que conseguia fazer para manter a distância.

Um bater suave na porta; a seguir, ela deslizou para dentro. Divina
numa das saias justas que costumava vestir, que caíam feito uma luva. Esta
era de um algodão vermelho fino. Ele adorava não ser o pretinho básico nem
os tons neutros escolhidos pela maioria das pessoas na empresa. E ela
geralmente se vestia dessa maneira. Como se soubesse que ele iria requisitá-la
hoje. Como se escolhesse a saia mais safada de todas por sua causa.

Talvez fosse isso mesmo.

Ela sorriu, e ele se sentou na cadeira, sinalizando com o queixo para Kara
se aproximar.

Ele já estava duro.

Mantenha o controle, cara.

No entanto, enquanto ela atravessava a sala, Dante se fascinava com seu
rebolado. Com o contraste entre a saia sexy, colada, e a blusa branca formal
que estava usando. Com o quanto as pernas pareciam longas na meia-calça
preta e no salto alto igualmente preto.

— Dante...

— Kara. — Ele parou para dar uma boa olhada nela. Adorava como ela
se contorcia um pouco sob seus olhos. Adorava tudo nela.

— Legal — ele murmurou antes de esticar o braço e pegar sua mão.

Pense apenas no sexo. Em como ela sente...

Ele a colocou no colo. A bunda era macia em suas coxas. Havia tecido
demais atrapalhando, mas eles estavam na firma, e ele preferia nunca tirar
todas as roupas dela ali. Era menos arriscado para ele, mesmo com a porta
trancada. Se batessem, eles poderiam se recompor em questão de segundos.
Dante nunca a despiu em sua sala. Embora seu maior desejo fosse arrancar
suas roupas, abrir as coxas para cair de boca e chupá-la até o orgasmo.

Uma onda de calor fez seu pau latejar pensando nessa imagem.

Sim, concentre-se apenas nisso.

Ele adorava chupá-la. Não conseguia se fartar do gosto doce de sua
carne. Fazê-la gozar com a boca. Era uma de suas atividades preferidas. E
também parecia ser dela, esquentando ainda mais as coisas.

— Como foi seu dia? — ele indagou, envolvendo a cintura com força


suficiente para ela sentir um pouco de sua autoridade. Ele sentia seu poder
novamente, com seu corpinho quente no colo, deixando ele ainda mais duro.

— Foi... bom.

— Bom?

— Até você me mandar àquela mensagem.

— Ah? Não se importou com ela? — Dante abaixou a outra mão e deu
um beliscãozinho na parte interna da coxa.

— Ah! É que... não conseguia esperar pra estar aqui com você. Não
conseguia me concentrar em mais nada.

Dante sorriu para ela. — Boa resposta. E o que desejava comigo, Kara?

Ela suspirou suavemente. — Tudo.

Ele sentiu outra pontada de prazer no ventre, no pau.

— Ah, você é perfeita.

Era verdade. Ela era perfeita.

Kara se voltou sobre ele, a curva dos seios cobertos de seda pressionando
seu peito. Ele jurou poder sentir o sexo dela se incendiando, até mesmo
através das camadas de pregas, da saia, da sua calça. Que puta tortura. Ele
não podia esperar mais um segundo sequer.

— Levanta pra mim, Kara.

Ela se levantou, sem pestanejar. Se ao menos soubesse o quanto se
tornava submissa na hora em que ele sinalizou estarem nos papéis. Agora era
automático para ela. Dante adorava aquilo.

— Dá uma viradinha — ele ordenou e ela obedeceu. — Tira os sapatos.
Boa menina.

Ele avançou as mãos debaixo da saia e abaixou a meia-calça, enrolou a
saia ao redor da cintura e a viu nua dali para baixo.

— Ah, ótimo. Incline-se e segure-se contra a mesa. E abre essas coxas
lindas pra mim.

Ela atendeu ao pedido, agarrando-se à mesa, reclinando-se para ele
conseguir ver os lábios rosados da boceta, brilhando com a umidade. A boca
dele se encheu de água.

Dante estapeou aquela bunda nua. Sentiu Kara estremecer. Quando
deslizou os dedos por entre as pregas macias do sexo, viu que ela estava toda
molhada. O pau latejou.

— Vira mais, assim, desse jeito.

A bunda dela estava empinada, o sexo aberto para ele. E ele se inclinou


na cadeira, mantendo-a aberta com a mão, para poder degustá-la.

Doce salgado, como o mar e o puro néctar do desejo. Ele lambeu, numa
longa pincelada ao longo da abertura, e ela arfou de imediato.

Dante se afastou.

— Fique quietinha, Kara.

Ele se aproximou e lambeu novamente. As coxas dela ficaram rígidas, ele
podia sentir o retesamento, o que também significava que ela já estava prestes
a gozar.

Dante se entregou ao trabalho, lambendo, lambendo. Usando os
polegares para mergulhar dentro dela, depois subindo os dedos para
pressionar o botão duro do grelo. Ela ofegava baixinho, fazendo força contra
o rosto dele.

— Dante...

Ele continuou a lambê-la, enfiando a língua profundamente nela.

— Eu vou gozar — ela sussurrou.

Ele se afastou, parando para colocar a mão na bunda. Ela se arrebitou,
sabendo o que ele iria fazer, e abriu ainda mais as pernas. E com os dedos
encharcados com os sucos dela, Dante enfiou um deles em seu ânus apertado.

— Ah... — Ela mantinha a voz baixa enquanto ele a penetrava. — Que
gostoso...

Ele recuou, mantendo o dedo dentro do ânus enquanto se agachava para
cair novamente de boca nela, lambendo, chupando os lábios macios, um por
vez. Quando pressionou o clitóris com a outra mão, Kara explodiu, a boceta
se inundou. O ânus apertou seu dedo com força. As pernas sacudiram.

Ele estava tão duro que quase podia gozar, só por sentir o clímax dela.
Sentindo a textura aveludada do ânus e da vagina ao mesmo tempo.

Nossa. Acalme-se.

Porém, o coração disparava, a cem quilômetros por hora. Ele estava
prestes a perder o controle do qual se orgulhava tanto.

Se não parasse de tocá-la, ele iria gozar naquela hora, feito um
adolescente com a primeira garota.

E se afastou dela, ousando manter apenas a palma da mão sobre a
bunda. Sua respiração estava tão ofegante quanto a dela.

— Vista-se — ele lhe falou secamente, ficando de pé e pegando a meia-
calça no chão.

Kara se virou para olhá-lo, mostrando confusão nos olhos castanho-


claros que ainda mantinham o fitar do orgasmo. Ele não conseguiria se
explicar.

Em segundos ela vestiu a meia, os sapatos e ajeitou a saia ao redor do
quadril. As bochechas estavam rosadas.

— Dante, tá... tudo bem?

— Sim. Não. Preciso tirar você daqui. Cacete, eu não me aguento, Kara.
Preciso entrar em você. Não consigo esperar até voltar para casa. — Ele a
puxou, pegou sua mão e a manteve um instante sobre o pau pulsante. Dante
cochichou sobre sua face quente: — Vou comer você no meu carro. Pegue o
casaco.

Dante a ouviu engolir em seco. Ela não respondeu, mas, quando a
encarou nos olhos, viu o desejo, quase tão forte quanto o dele. Kara consentiu
em silêncio.

Pareceu demorar uma eternidade até eles pegarem os casacos, as pastas.
Depois descer as escadas e sair do edifício, entrar no estacionamento ao lado
e tomar outro elevador para chegar até seu veículo.

Dante estacionou no quarto andar, que não estava totalmente vazio.
Havia alguns carros deixando o edifício, a maioria tomando seu rumo após o
expediente. E escurecia a cada minuto. Ele não se importava. Simplesmente
precisava possuí-la.

Abriu a porta do passageiro de seu BMW prata e ela entrou.

— Recline todo o banco pra trás — ele instruiu, inclinando-se sobre ela
para pegar um pacote de camisinhas no porta-luvas. — E tire a meia de novo.

Kara foi fazendo tudo o que ele pedia. Aquela complacência tornava
tudo ainda melhor. Sua submissão. Sua confiança.

Parado ao lado do carro, ele tirou o casaco e jogou no banco traseiro,
dando outra espiada na garagem. Não havia ninguém. Não agora, ao menos.
Ele estava duro demais para se incomodar. E também havia a emoção extra
do exibicionismo, embora não houvesse ninguém ao redor no momento, com
a qual estava acostumado a jogar no Pleasure Dome.

Dante caminhou até a porta do motorista e entrou, pressionou uma
alavanca e esperou o banco deslizar todo para trás, depois abaixou o
respaldar até reclinar por completo. Ele abriu o zíper da calça e tirou o pau
para fora, colocando rapidamente a camisinha. Até mesmo aquele toque
breve lhe parecia demais para aguentar.

— Vem cá, meu bem.


Ele se esticou na direção de Kara. Enquanto montava sobre ele, Dante
viu seus olhos num mirar enevoado, metálico, brilhante. Ela estava no
subspace. Impedi-la de falar a deixava assim. Mesmo que Dante mal a tivesse
reclinado sobre a mesa. Aquilo tomava conta dela, a arrebatava. Kara
mergulhara mais e mais fundo a cada momento. Era lindo.

Entretanto, Dante mal podia pensar a respeito naquele instante.
Praticamente não conseguia raciocinar enquanto ela se atarraxava nele, com a
saia arregaçada ao redor da cintura.

— Pare quietinha, Kara. Quero apenas... foder você. — Ele arqueou os
quadris e deslizou para dentro dela, enquanto o prazer invadia seu corpo. —
Ai, cacete, como você é gostosa! Nossa, Kara... fique paradinha, senão eu vou
gozar.

Ele segurou a respiração; o pau pulsando dentro dela.

Depois de alguns instantes e algumas respirações profundas para se
acalmar, ela perguntou: — Dante?

— O que foi, meu bem?

— Eu quero... pode me deixar comer você?

Era muito bom o fato de ela perguntar aquilo, mesmo vindo do fundo da
consciência. Ela ainda estava no subspace, apesar de ter acabado de fazer a
pergunta.

— Ah, assim você me mata, menina bonita. Mas, sim, pode me comer.

Kara sorriu para Dante, mordendo o lábio ao apertar o pau dele.

— Ah...

O prazer era como uma corrente elétrica. Chocante. Aguçada.
Ricocheteando no fundo de seu ventre. Dante precisou morder o lábio para
não gozar.

— Espere — ele ordenou, segurando sua cintura esguia ao respirar uma
vez, depois de novo. Tentou se acalmar novamente. — Muito bem — Dante
terminou falando.

Ela começou a se movimentar, a bombear com as ancas. A vagina era
uma bainha quente em volta dele, agarrando o pênis. Escorregando para
cima e para baixo até ele ficar tonto com a sensação, cego.

O prazer cresceu tanto que doía; no pau, no saco, no peito.

— Kara...

Ela se mexeu mais rápido, cavalgando com força. E ela era tão bonita que
ele mal se aguentava. Seu rosto rosado, os lábios vermelhos. O cheiro de seu


orgasmo anterior.

Dante segurou o fôlego, impediu o orgasmo e esticou a mão entre os dois
para beliscar o clitóris.

— Aí, Dante!

Então, Kara gozou de novo. E ele gozava com ela, não dava para
aguentar aquele apertão da boceta.

— Kara... nossa!

Ele gozou tão intensamente a ponto de ficar tremendo. O corpo inteiro
foi tomado por um prazer agudo, cortante. O peito cheio de... O quê?

Dante não conseguia pensar. Entorpecido pela sensação. Pela percepção
de Kara caindo nos seus braços.

Alguma coisa tinha acabado de acontecer, mas ele não sabia que diabos
era aquilo. Algo novo sempre lhe acontecia quando se tratava da Kara. De
suas experiências com aquela mulher. Seus... sentimentos por ela.

Dante a envolveu nos braços e a abraçou. Ela era quente contra ele, a
respiração arfante pressionando os seios macios contra seu peito. Abraçá-la
era delicioso. Até mesmo depois do orgasmo. Kara era mais gostosa do que
tudo que tivera na vida.

Havia alguma coisa no sexo... Não, não era o sexo.

O sexo era incrível e os aproximou ainda mais, mas era incrível, em
parte, por causa do que estava acontecendo entre eles em meio ao sexo.

A cabeça de Dante girava. Ele tentava entender o que acontecia dentro
dele. Algo novo, estranho; tinha problemas para compreender. Apenas tinha
a consciência de que estar com ela era a coisa certa.

Por ora, cara.

Sim, por ora. E quem sabe por um tempinho adiante.

Dante já havia pensado em outra mulher nesses termos? Ele já esteve
com alguém quando seus pensamentos e planos duraram mais de uma
semana? Mais de, talvez, um mês?

Tentou manter relacionamentos algumas vezes, mas nunca deu certo.
Porque ele não estava disposto a pensar num futuro. Nada além de planejar
uma fugidinha de fim de semana com dias de antecedência. Ou uma noite no
Pleasure Dome.

Ele tinha trinta e um anos. Quem sabe estivesse na hora. Até mesmo para
ele.

— Dante?


— Hum? Desculpe. Minha cabeça tava vagando. Você tá desconfortável,
meu bem? Precisa se mexer?

— Um pouco desconfortável, mas não quero me mexer.

Os braços dela se enrolaram em seu pescoço e algo surgiu dentro do seu
peito.

— Ei. Vamos jantar em algum lugar? — ele perguntou, sem estar pronto
para levá-la para casa.

— Sim. Na verdade, estou morrendo de fome.

— Tá certo. Ótimo. Vamos te vestir novamente.

— Dante?

— O que foi?

— Foi... maravilhoso.

Ele se voltou para olhá-la. Kara esboçava um sorriso pequeno, incerto, no
rosto. Os olhos cintilavam.

— Foi, sim — ele falou.

Dante se esticou e tirou o cabelo do rosto dela. Ele era macio e liso feito
cetim. O desamparo dentro do peito cresceu mais um pouquinho.

Kara estremeceu. Ele estava sendo tão carinhoso. E continuou a acariciar
a bochecha. E ela estava estupefata com isso. Com seu toque. Com ele.

Mas mesmo dentro dos limites de outra experiência sexual sem pudores,
algo novo e diferente estava acontecendo. Ele se sentia diferente. Os dois
chegaram a uma espécie de novo patamar. Kara não conseguia pensar em
tudo naquela hora. A cabeça e o corpo ainda zumbiam com o clímax. Ela
sabia que ainda estava no subspace. Pensar, concentrar-se em qualquer coisa,
era complicado demais.

Mas ele a convidava para jantar, e parecia um encontro de verdade. Bem,
para eles, afinal. Talvez a maioria das outras pessoas não desse início a um
encontro com sexo oral na mesa de trabalho, acompanhado de uma trepada
gloriosa no banco da frente do carro. No entanto, Dante era um homem
singular. E Kara começava a aceitar ser uma mulher singular. Até gostava da
ideia.

Ela saiu do colo dele, sentando-se no couro macio do banco do
passageiro, e eles se ajeitaram.

— Comida tailandesa tá bom para você? — ele interpelou.

— Sim, claro. Mas, Dante, você não ia encontrar o Alec hoje?

— Merda. Sim. Espere aí, vou mandar uma mensagem pra ele. Era só um


cineminha. Ele não vai reclamar se eu cancelar.

Aquilo era diferente; Dante cancelando outros planos para ficar com ela.
E isso a deixou ainda mais consciente de alguma coisa ter mudado.

Impossível ter acontecido enquanto transavam. Era somente sexo. O que
estava ocorrendo com ele?

Dante terminou a mensagem, deu a partida no motor e saiu do
estacionamento. O Wild Ginger não ficava longe, e logo os dois estavam
sendo conduzidos a uma aconchegante e isolada mesa com bancos nos
fundos do restaurante. Kara se surpreendeu quando Dante se sentou ao seu
lado e não do outro lado da mesa.

Será que ele pretendia leva-la ao orgasmo, como naquele italiano?

O coração dela disparou. Por ela, tudo bem. Mas parecia...
desimportante.

Contudo, em vez de colocar sua mão sobre a coxa, Dante a jogou sobre o
ombro de Kara, trazendo-a para perto de sim.

— Tudo bem com você? — ele quis saber.

— Sim, tudo. Por quê?

— Só pra saber. É minha obrigação depois de coloca-la no subspace.

Ela deu de ombros. — Certamente eu cheguei lá. Ainda antes de entrar
na sua sala.

— Adoro esse seu lado.

Dante sorria com as covinhas à mostra.

— Mas... hoje não foi apenas isso.

O sorriso dele se desfez, os ombros ficaram mais tensos sob o algodão
enrugado da camisa azul leve, mas ele concordou. — Pois é, não foi. Existe
alguma coisa diferente acontecendo entre nós.

— Dante... eu gosto do que tá rolando entre nós. Tá mudando. E talvez
seja bom, mas... quando me permito pensar demais nisso, eu fico... confusa.
Meu Deus, eu nem deveria tocar nesse assunto. Tô sendo uma menininha
novamente.

— Não, sem problemas. Também andei pensando nisso.

Ela mordeu o lábio, meditativa. — Você sabe que não tô procurando um
relacionamento. Não depois do último.

— Sim...

— E também sei que você não tá procurando. Saiba apenas que entendo
isso.


— Tá certo. — Porém, ainda havia questionamento em sua voz, como se
não soubesse direito aonde aquela conversa iria terminar. Talvez nem ela
soubesse.

— Acho que tô perguntando se tá bem pra você se nós apenas... formos
tocando desse jeito. Porque eu acho bom. Muito bom, do jeito que está.

— É, sim. E, logicamente, não vejo problemas nas coisas ficarem como
estão. É ótimo saber que pensamos do mesmo jeito. Em todos os aspectos.

— Tá certo. Bom.

Kara sorriu para ele, mas por dentro, o coração disparava, pois a
conversa tinha um tom de mentira. Ela afirmava a Dante o que ele queria
ouvir, não a verdade em si. Porém, o que mais ela temia: ele não segurar a
onda ou ela própria não segurar?

Enquanto Dante pedia as bebidas, Kara percebeu a necessidade de entrar
num assunto menos sério. Pensar era complicado demais naquele instante.

— Então, que filme você ia assistir com o Alec?

— Um de ação. Um lance de homem. — Ele sorriu, as covinhas surgiram
novamente nas bochechas. — A namorada dele, Dylan, chama de .encontro
de homem..

Kara riu. — Essa foi boa.

— A gente não sai mais como antes. É estranho me acostumar ao fato do
Alec ter namorada, mas eles combinam bem. Ela tem sido boa para ele. E o
Alec é um desses caras de quem nunca pensei falar isso. Ou, vai ver, era. —
Ele fez uma pausa, correndo os dedos pelo guardanapo de linho sobre a
mesa, com o olhar fixo por um momento. — Ele era... como eu.

Dante se voltou novamente para ela, os olhos escureceram, as
sobrancelhas se aproximaram. O coração se acelerava dentro do peito dela.

Isso não significa nada. Ele não está dizendo que também poderia mudar.

— Ah, nossas bebidas chegaram. Saúde! — Ele pegou o uísque com gelo
e bebeu. — Então, suponho que não seja uma grande fã de filmes de ação,
certo?

Kara estava certa, não tinha significado nada. Ela suspirou por dentro.
Será que desejava mesmo estar certa?

— Dante, seu canalha.

Os dois levantaram os olhos para um homem grandalhão de cavanhaque
escuro — quase tão bonito quanto Dante — com a mão na cintura de uma
mulher esbelta e um maravilhoso cabelo ruivo cacheado.


— Alec. O que está fazendo aqui?

— Quando você escreveu que não podia ir ao cinema, nós decidimos sair
para jantar.

— Ah. Eu fui... pego. — Dante se virou e sorriu para Kara.

— Vai nos apresentar? — Alec perguntou, oferecendo a mão para Kara.
Ela se sentiu baixinha perto dele. Um tanto assustada.

— Sim, é claro. Kara, Alec e sua namorada, Dylan. Esta é Kara Crawford.

Então, este era Alec. O melhor amigo de Dante. E Dante, aparentemente,
nunca pensou em mencionar seu nome para ele. O coração dela se entristeceu
um pouco. Entretanto, Kara tentou esconder o pesar ao apertar a mão de Alec
e, depois, a de Dylan.

— Muito prazer. — Dylan sorriu. Ela era uma mulher bonita, com traços
delicados e pele branca, translúcida.

— Juntem-se a nós. — Dante apontou o banco vazio do outro lado da
mesa.

Alec concordou. — Boa ideia!

Ele ajudou Dylan a tirar o casaco e a se sentar no boxe. A garçonete
chegou sem demora, anotou as bebidas e levou os casacos. Kara observou
que Alec fez o pedido por Dylan, da mesma forma que Dante agia com ela.
Dylan nunca piscava os tranquilos olhos acinzentados.

— Kara, no que você trabalha? — Dylan questionou.

— Sou advogada. Dante e eu trabalhamos juntos na Kelleher, Landers &
Tate.

— Você nunca deveria sair com uma mulher tão inteligente quanto você
— Alec disse a Dante, dando uma piscada. — Pode terminar tendo tudo
quanto é tipo de problema.

Dylan se virou para sorrir para ele. — Você está muito encrencado agora
— ela afirmou, com um tom provocador na voz.

— Há!

Ela elevou uma sobrancelha para ele, que se inclinou e a beijou no rosto,
deixando-a radiante.

A garçonete trouxe as bebidas e anotou os pedidos dos homens. Havia
algo estranhamente natural nesse aspecto para os dois e, novamente, Dylan
não reagiu a nada. Então, Dante mencionou que ele e Alec se conheceram no
Pleasure Dome, o que provavelmente significava que Dylan também curtia
esse tipo de sacanagem. BDSM. As bochechas de Kara se esquentaram um


pouco. Será que Alec e Dylan também ficariam sabendo disso a seu respeito?
Dante, entretanto, nunca a havia mencionado para o casal. Ela poderia muito
bem ser apenas outra mulher com quem estivesse envolvido.

Não importa. Aja com naturalidade.

— E você, Dylan? — Kara perguntou — E Alec?

— Nós dois somos escritores — a outra mulher respondeu. — Eu escrevo
literatura erótica e Alec, suspenses.

— Ah! Você é Dylan Ivory. Eu li seus livros. Adorei A arte do desejo.

Dylan enrubesceu. — Obrigada. É muita gentileza sua.

— É verdade!

Dylan sorriu calorosamente. Kara tinha a sensação de que gostaria dessa
mulher, se tivesse a chance de conhecê-la.

Mas eles eram amigos de Dante. Assim, era improvável que tivesse essa
oportunidade. Seria um namorinho demais para ela e Dante.

Kara não havia acabado de lhe dizer que não estava interessada num
relacionamento, pretendendo manter as coisas coo estavam?

Ela sentiu um nó na barriga, o pulso disparou. Tomou a bebida — uma
taça de saquê gelado —, mas não bastou para acalmá-la. Por que estava tão
assustada?

— Poderiam me dar licença? Eu já volto. — Dante a deixou sair do boxe
e ela se levantou, se sentindo boba.

— Eu te acompanho — Dylan anunciou, também se levantando, e não
restou alternativa a Kara além de aguardá-la.

Elas caminharam para o banheiro feminino no fundo do restaurante. Lá
dentro, Dylan pôs a mão no braço dela.

— Você tá bem, Kara?

— Quê? Sim, claro.

— Espero que não se importe de eu falar isso, pois acabamos de nos
conhecer, mas você parece meio pálida. E agitada.

— Ah, eu só... — Ela abanou a cabeça. — Nem sequer consigo inventar
uma resposta... — ela terminou dando uma risadinha nervosa. — E agora tô
terrivelmente envergonhada.

— Por causa do Dante?

Kara fez que não, infeliz. Depois concordou. Era o Dante. Entretanto, ela
nem sequer conhecia essa mulher, a namorada do melhor amigo de Dante.

— Kara, provavelmente eu não deveria me meter, mas eu preciso dizer


que nunca vi o Dante olhar pra alguém como olha para você.

— Como assim?

Dylan mordeu o lábio. — Não que eu o tenha visto com muitas
mulheres, mas já topamos com ele algumas vezes. E ele costuma ser bastante
reservado. Mas você... ele olha para você com como um olhar de cão sem
dono.

— Olha nada.

— Olha sim! — Os olhos acinzentados de Dylan brilharam quando um
sorriso iluminou sua face. — O cara tá apaixonado.

— Quê? Ah, não. Garanto que não tá... apaixonado. — Kara correu a mão
pelo cabelo. — A gente tá apenas... saindo. Mais ou menos.

— Esse costuma ser o estilo dele. Você deve saber disso. Não sabe?

— Sim, é claro. Dante foi bastante franco ao falar sobre sua visão de
namoro e relacionamentos.

— Meu Deus, me desculpe. Eu falei demais. Não é da minha conta.

— Não, sem problemas — Kara falou, e não havia mesmo. Dylan estava
sendo muito bacana com ela.

Dylan sorriu, inclinando-se sobre a pia para lavar as mãos. — Tenho a
tendência de ser abelhuda. Por favor, me desculpa, Kara.

— Tá tudo bem. E foi muita gentileza me acompanhar até aqui. Ver se eu
estava bem.

Dylan enxugou as mãos. — Vou voltar à mesa e dar um tempo pra você.

Kara sorriu para ela, aliviada pelo fato de Dylan parecer saber
instintivamente que ela precisava se recompor.

— Obrigada.

Dylan acenou com a cabeça e saiu.

Kara olhou o reflexo no espelho. Os olhos estavam arregalados, as
bochechas, ainda um tanto pálidas. O que estava errado com ela?

Você está apaixonada por um homem que não vai corresponder.

O coração bateu forte, um trovão doloroso dentro do peito.

Mas Dylan falou que ele estava apaixonado...

Não vá se encher de esperanças.

Não, quanto mais esperança tivesse, mais arrasada se sentiria no final.
Ela não estava disposta a correr esse riso.

Pena que agora era tarde demais.




TREZE



DANTE REDUZIU A MARCHA ENQUANTO ESTACIONAVA NA
FRENTE DO PRÉDIO de Kara. Ele não sabia por que tinha decidido não levá-
la para sua casa. Não era por já terem transado. Ele nunca se cansava daquilo,
não com ela. Ele nunca se fartava dela. De simplesmente estar com Kara...

Talvez fosse esse o motivo.

Dante estava fascinado demais por ela. Obcecado demais. E a ficha só foi
cair com Alec e Dylan, uma enchendo a bola da outra. A maneira como se
olhavam. A forma como se sentiu ao observá-las. Sua felicidade.

A maneira como um pequeno pedaço de si ansiou por tudo aquilo pela
primeira vez.

Era hora de terminar com tudo.

- Obrigada pelo jantar - Kara falou, pegando o casaco, a pasta.

- Ora, de nada.

- Foi ótimo conhecer Alec e Dylan. Eles parecem gente boa.

Ele concordou. - E são.

Kara ficou sentada um pouquinho, a observá-lo. Ela mordeu o lábio.

- Dante? Tá tudo bem?

- Sim, é lógico. Por que pergunta? - ele não pretendeu soar tão vago. Tão
indiferente. Frio. Mas sentia aquela velha muralha crescendo, como se feita
de concreto armado.

- Sei que não planejamos nos encontrar hoje, mas é... - Ela fez uma pausa,
dando de ombros. - Bem, nós geralmente passamos o fim de semana juntos
e... Deixa pra lá. Não é importante. - Ela fez que não, depois de virou e
procurou a maçaneta da porta.

Dante agarrou sua mão. - Kara.

Ela se virou para ele. Os olhos dela brilhavam sob a luz pálida do poste
de luz, num dourado e prata abafados. As longas pestanas emoldurando os
olhos arregalados. Eles estavam confusos. Ele não a culpava. Dante não
explicara por que a estava deixando em casa numa sexta à noite. Nem ele
sabia ao certo.

- Não vá - ele disse baixinho.

- Como assim? Você... me trouxe pra casa e pensei que...

- Eu sei - ele interrompeu - Eu estava... Eu não sei no que estava
pensando. Volte comigo pra minha casa.


Kara mordia o lábio novamente, os dentes marcando a carne rosa
suculenta. - Eu acho... talvez fosse melhor eu ficar aqui hoje. Talvez seja uma
boa ideia. Sim. É, sim. Eu posso aproveitar pra botar um trabalho em ordem.
Fiquei de entregar na segunda-feira e praticamente ignorei esse fato hoje.

- Ah. Tudo bem. Não sabia que tinha trabalho a fazer.

Por que ele estava se sentindo um bundão?

- Tá certo, então.

Ela ficou sentada e olhou por mais um instante. Ele levou a mão dela até
os lábios, beijou as costas da mão, provocando um pequeno sorriso.

- Eu ligo, Kara.

Ah, sim. Ele era um bundão.

Dante percebia a dor no rosto dela. Ele se odiou um pouquinho. Ela
acenou a cabeça, saindo do carro.

Ele a observou até que estivesse em segurança dentro do prédio, depois
ficou ali parado mais um pouquinho.

Dante nunca se preocupou antes quando precisava de espaço com uma
mulher com quem estivesse saindo. Nunca tinha sido um problema. Não
para ele, afinal. Por que agora? Por que com Kara?

Ele pensou na conversa com Alec durante o jantar, quando as mulheres
deixaram a mesa. Alec o acusou de estar perdidamente apaixonado. Dante
rebatera, é claro. E, Alec, sendo quem era, não falou mais nada, apenas
manteve a sobrancelha levantada para enfatizar o argumento.

Alec tinha razão.

Cacete.

Ele ligou o carro e embicou na rua, acelerando um pouco forte demais ao
dobrar a esquina.

Isso não poderia estar acontecendo. Não com ele. Dante não era um cara
de relacionamentos. Não tinha responsabilidade para tanto. Era óbvio. Olha
só o que aconteceu quando desapontou uma mulher pela última vez. Erin
estava morta, Deus do céu.

Dante nem sabia como lidar com aquilo, decepcionando a própria mãe.
Diabos, ele passou a vida inteira desapontando a mãe. Primeiro não sabendo
como agir, depois porque desistira da esperança de um dia ser capaz de fazer
alguma coisa.

Ele era um covarde.

Pisou fundo no acelerador e a BMW voou sobre as ruas de Seattle.


Dante não arrastaria Kara com ele.

Ele pegou a estrada cinco e seguiu rumo ao norte, saindo da cidade.
Dante precisava de um pouco de espaço aberto do interior ao seu redor.
Necessitava parar e pensar. Havia uma pousadinha sossegada em Warm
Beach. Quanto tempo demoraria até chegar lá? Dante podia muito bem pegar
um quarto e passar o fim de semana.

E fazer o quê? Ficar remoendo a dor de cotovelo?

Ele respirou fundo.

Estava sendo ridículo, novamente caindo na covardia.

Teria de encarar Kara mais cedo ou mais tarde. E não só isso, seria
preciso encarar o fato de ter sentimentos por ela. Dante ainda não estava
pronto para lhes dar um nome. Talvez não fosse necessário, mas não poderia
fugir deles. Porque, independentemente de Kara estar com ele ou não, o seu
sentimento por ela continuaria ali, como um peso quente no peito, um peso
que não iria embora.

Caramba.

Ele entrou na primeira saída e deu meia-volta, voltando para a cidade.
Estava dirigindo rápido demais. Não parecia importar. A única coisa
importante era voltar para Kara.

Dante não conseguia acreditar que estava passando por aquilo. Não era
do seu feitio. Ele não queria.

Nem conseguia evitar.

Ele gostava dela. Desejava estar ao seu lado, porra. E por que não
estaria? Tão somente... estar com Kara.

Quando retornou à rua dela, ele estava bastante perturbado. Achou uma
vaga bem na frente do prédio e olhou para cima.

As luzes estavam acesas, ela ainda estava acordada. Ele tentou imaginá-
la, quentinha e segura dentro do apartamento, mas se tocou de que não o
conhecia. Nem imaginava como era o lugar.

Dante sempre preferiu levar as mulheres para a sua casa. Sempre. Para
estar no controle de tudo, inclusive do ambiente. Talvez fosse hora de abrir
mão de um pouco daquilo. De um pouquinho, afinal.

Ele precisava vê-la. Precisava.

Desceu do carro quando São Pedro abriu as torneiras. A chuva o atingiu
em cheio enquanto corria pela rua. A porta dela ficava ao lado da entrada de
uma delicatéssen no velho prédio de tijolos. Ele apertou a campainha.


Silêncio. Tocou novamente. Onde ela estava?

A porta de madeira estalou ao ser aberta.

- Dante? O que faz aqui?

Ela parecia surpresa. Na verdade, chocada. E linda pra caramba. Com
um quê de inocente. Talvez pelo fato de o cabelo estar puxado para trás no
rosto recém-lavado. Kara tinha tirado a maquiagem. Vestia a calça baixa do
pijama de algodão e uma camisola fina, ambos num tom verde-claro, e, sob a
luz fraca, aquele conjunto deixava seus olhos mais verdes do que nunca.
Curiosamente, ela nunca se mostrou mais sensual.

Ele encostou a mão na porta.

- Posso entrar, Kara?

- Eu... pode.

Ela se afastou e ele passou, esperando para ela subir na frente pela
escadaria estreita. Ele ficou olhando o gingado sensual da bunda ao escalar os
degraus. Não conseguia evitar. Mas não era por isso que ele estava ali. Não
inteiramente.

Por que, então, viera? Ele sabia que Kara desejaria ouvir uma resposta
àquela pergunta. E merecia uma.

No topo da escada, ela o levou por uma outra porta, entrando no
apartamento.

A casa era ela em estado puro, por algum motivo. Simplesmente parecia
combinar, uma mistura de velho e novo, tradicional e moderno. Como o
apartamento dele, na verdade, mas combinado num estilo mais feminino.
Antiguidades talhadas e pesadas sobre as tábuas de madeira antiga e escura,
um sofá branco, moderno e elegante, enfeitado com luxuosas almofadas de
brocado. A mesa de centro era um velho forno coberto por uma folha de
vidro. Havia uma coleção de fotografias P&B nas paredes, a maioria de
detalhes arquitetônicos de prédios antigos. Provavelmente europeus. Mas ele
estava se distraindo. Em relação ao que girava dentro da cabeça. Do corpo.

Foi então que reparou em duas pinturas penduradas sobre um aparador
antigo. Ele deu alguns passos em sua direção. Eram naturezas mortas, feitas
com as grossas tintas a óleo que Dante se lembrava de Kara usar no colegial,
mas a técnica tinha se refinado desde então. Ele vislumbrou as iniciais no
canto inferior direito: .KC., numa graciosa letra cursiva.

Ele esticou a mão, quase tocando uma delas. - Nossa. São suas. São boas.
Muito boas. Você deveria pintar, Kara.


Ela suspirou, sem responder nada.

Ele se virou para encará-la, se sentindo grande demais para a
aconchegante sala de estar. Desajeitado, como se fosse o gigante que iria
derrubar e quebrar tudo, caso se mexesse rápido demais.

- Kara...

Ela ficou parada, de pé, a observá-lo, com os braços cruzados no peito.
Ele podia ver o contorno de sua compleição firme, os mamilos, um tanto
duros com o ar frio da noite. Dante não deveria reparar nessas coisas agora.
Mas era inevitável. Kara era puro sexo pra ele. Quando ela não era... todo o
resto.

Engoliu em seco. Tentou clarear as ideias.

Diga alguma coisa, cara. Não seja tão idiota.

Ele pigarreou. A cabeça zumbia. Por onde começar?

Kara falou antes de ele conseguir. - É para isso que veio aqui? Para me
dizer o que eu deveria fazer, Dante? Você é muito bom nisso, eu reconheço.
Mas é por isso mesmo que está aqui? - Ela esboçou um risinho ferino. - Já
percebeu que nunca entrou aqui, no meu apartamento?

Havia raiva na voz dela. Ele não a culpava.

Ela deu de ombros de um jeito tão impotente que doeu de ver. - Você
simplesmente... me larga na porta como se eu fosse uma ficante barata de
uma noite só? Por que, Dante? Será que entrar na minha casa te deixa perto
demais de mim? Não quer me conhecer tão bem assim? Isso é... insultante.
Ou vai ver sua rota de fuga é mais fácil se tudo acontecer na sua casa. Você
pode decidir quando tá na hora de eu ir embora. Quando já se fartou de mim.

- Esse é o problema, Kara. - Ele de um passo na direção dela, mas quando
seus ombros se retesaram, as feições endureceram, parou onde estava. Ele
falou baixinho: - Nunca me farto de você. E morro de medo por causa disso.

A respiração ficou tensa. Era doloroso falar aquilo em voz alta. Admitir o
fato para alguém, até para si mesmo.

Os olhos de Kara brilhavam de emoção, e ela estava mordendo o lábio,
abraçando o próprio corpo. Contudo, parte da tensão nos ombros sumiu. Mas
ele permaneceu onde estava, não ousando assustá-la.

- Também estou assustada - ela terminou falando. - Nunca estive tão
assustada na minha vida. E eu não sou assim, uma mulher... enfraquecida
pelo que sinto.

- Comigo está acontecendo a mesma coisa – ele admitiu, odiando ter de


ser assim. Entretanto, Dante tinha de falar. - E não tenho a menor ideia do
que fazer com isso. Eu não posso... gostar de alguém dessa forma. Não eu.

- Por que não? - ela o questionou, revelando novamente raiva na voz.

Do lado de fora, um trovão ressoava, grave e poderoso.

Ele coçou o queixo. - Porque vou meter os pés pelas mãos. Como
aconteceu com a Erin. Aquilo foi devastador. E eu nem sequer a amava.
Quanto pior teria sido se eu a amasse? Não posso assumir tanta
responsabilidade por ninguém.

- Você assume responsabilidade pelas pessoas todo dia. No trabalho.
Como dominador.

- Eu consigo me desligar nessas situações. Eu não consigo... - Ele parou,
sacudiu a cabeça. - Eu não consigo me desligar do que diz respeito a você,
Kara. Como o poderoso caiu de quatro, né?

Nessa hora, ela quase sorriu. - Sim. Eu também.

Aquilo facilitou as coisas. Saber que ela se sentia do mesmo jeito. O fato
de também ser complicado para ela. O corpo relaxou, e ele sorriu para ela.

- Então, que merda a gente tá fazendo aqui? - ele perguntou,
completamente perdido. Talvez pela primeira vez na vida desde a morte de
Erin.

- Eu sei lá. Acho que... você precisa me falar. E a questão não se resume a
você ser o dominador. É que apenas... bem, sinceramente, Dante, em se
tratando disso, você está em situação pior do que eu. É mais fechado. Não se
ofenda.

- Não. Você tá certa. É verdade. Eu reconheço. Só não sei como duas
pessoas como nós, e, sim, como eu em particular, lidam com esses assuntos.
Nós já tocamos nesse assunto...

- De um jeito bem superficial - ela cortou.

Ele passou a mão novamente sobre o queixo, reconhecendo ser um gesto
que fazia quando estava estressado ou pensando demais, e se forçou a tirá-la
dali. - Não sei como ter uma discussão por inteiro sobre essa questão. Sobre
como ficamos. Nós simplesmente fomos deixando tudo rolar, mas não deu
muito certo.

- O que você tá me pedindo, Dante?

- Tô pedindo... Nossa, Kara, eu não posso manter esta conversa a dois
metros de distância. - Ele andou na direção dela, observando se fugiria, mas
ela não arredou o pé.


Num instante, ela estava nos braços dele. Ela recendia a flores, aquele
aroma único de Kara. A pele estava quente ao seu toque. Ele a puxou para
perto, e não soltou. Respirou fundo.

- Me diz o que você deseja, Dante - ela exigiu, num tom suave, mas
insistente.

- Desejo que seja a minha garota – ele respondeu.

O coração de Kara acelerava a cem por hora.

- Sua... como?

Ela se afastou o suficiente para elevar os olhos até ele. Os olhos castanhos
estavam mais escuros, queimando com um fogo que ela não sabia se
entendia.

- Eu não quero que a gente saia com outras pessoas - ele respondeu num
tom feroz. - Nem que namore alguém. Transe com outro. Brinque com outro
além de nós dois no clube.

O coração de Kara batia forte, deixando-a com falta de ar. - Tá certo.
Mais alguma coisa?

- Eu não sei. Eu não sei o que mais isso vai significar. Nunca pedi algo
semelhante a uma mulher antes. Podemos começar daí? Pode concordar com
isso?

Se ela poderia? A ideia era quase um alívio. Por mais que soubesse que
queria mais – e queria tudo -, ela não estava tão certa de conseguir lidar com
toda aquela situação de um jeito melhor do que Dante. Era um cego
conduzindo outro cego, e ela se sentia incapaz de ver muito mais claramente
do que ele. Talvez dar um passo por vez fosse o mais indicado.

Ela concordou, soltando uma respiração profunda que não percebia estar
segurando praticamente desde que Dante apareceu na sua porta. - Eu consigo
fazer isso.

Dante a apertou com mais força, segurando-a nos braços de um jeito
reconfortante e absurdamente sexy ao mesmo tempo. Sua autoridade
representava essas duas coisas para ela. E embora ele tenha demonstrado
incerteza no rosto pela primeira vez, o ar de segurança estava de volta.
Confiança absoluta.

- Kara - ele falou, com voz baixa. - Eu preciso te levar pra cama.

O corpo dela se acendeu imediatamente, o sexo ficou úmido,
simplesmente de ouvir aquelas palavras. Esse era um aspecto que nunca
tiveram de questionar.


Ela se apertou contra ele, deixando-o saber em silêncio que também
necessitava da mesma coisa: ficar nua junto dele. Senti-lo dentro dela,
perceber suas mãos sobre a carne.

Ele gemeu ao se curvar para beijá-la, esmagando os lábios nos dela. A
língua deslizou para dentro, e ela sentiu o gosto do uísque que tinha bebido
no jantar de forma vaga, doce, picante e masculina. Ou quem sabe aquilo fosse
apenas ele.

As mãos a percorriam por inteiro, arrancando o pijama, e, em segundos,
ela estava pelada. Ela pressionou o corpo no dele, os mamilos raspavam sua
camisa. Kara sentiu o cheiro da chuva nela, sentindo seu aroma misturado ao
sabonete cítrico e de almíscar.

Ela já tinha conhecido um homem tão cheiroso quanto ele?

Um trovão estrondou do lado de fora, estremecendo as janelas, seguido
pelo estalo agudo do relâmpago. O odor de ozônio chegou ao apartamento,
misturando-se ao perfume dele. Era o aroma do poder. Combinando-se à
perfeição com ele.

Dante se afastou para murmurar: - Vamos lá, minha menina bonita.
Onde é a sua cama?

As mãos serpenteavam por ela, deslizando pela bunda, e ele a levantou.
Kara entrelaçou as pernas ao redor da cintura dele e o beijou na boca, no
pescoço, enquanto era transportada pelo corredor até o quarto, fracamente
iluminado por um pequeno abajur na mesa de cabeceira.

Ele a deitou na cama. Ela estava se preparando para deitar quando Dante
tocou a campainha e teve de puxar a colcha estampada, branca e violeta,
revelando os lençóis que se mostravam frios em sua pele. Dante se esticou
para ligar o abajur do outro lado da cama.

- Eu preciso ver você – ele falou, a voz rouca de desejo.

Kara também queria vê-lo. Ela o observou tirar a camisa, descartando os
sapatos e a calça. O corpo era composto de músculo rígido, delgado. Barriga
de tanquinho e ombros largos. A ereção impressionante marcava o tecido da
cueca boxer escura. O sexo dela se contraiu com força. Ela já estava molhada,
só de olhar para ele, uma beleza masculina bruta. Tão molhada quanto as
ruas lá de fora enquanto a chuva caía numa torrente, batendo nas janelas.

Ele a observava, mantendo as feições completamente imóveis, mas
estava duro feito pedra – o pau, os mamilos, duros e escuros contra a pele
dourada. Ela lambeu os lábios e viu o pau latejando. O sexo dela reagiu, se


contorcendo.

Preciso dele dentro de mim...

Ela abriu as pernas, movendo-se na sua direção, e ele sorriu, parando
durante um respirar, seguido de outro. A seguir, ele estava sobre Kara,
cobrindo o corpo dela com o dele, as mãos tocando o cabelo e o segurando
com força. Ele a beijou de forma violenta, a língua deslizando para dentro,
girando em torno dela, saboreando, exigente. Ela enlaçou as pernas em torno
da cintura dele e se pendurou.

Dante mexeu os quadris, o pau entre as coxas dela, pressionando a
entrada. Escorregando nos sucos dela. Logo um arfava sua vontade na boca
do outro.

Meu Deus, ela poderia gozar apenas com aquilo, o adorável escorregar
de carne contra carne. Ela contorcia o quadril, até o pau deslizar para dentro
da boceta e subir sobre o clitóris, descendo e subindo novamente. O prazer
serpenteava, uma pulsação acelerada marcando dentro dela. Mais alguns
movimentos dos quadris de Dante e ela gozaria, gritando na boca dele.
Tremendo por inteira.

Quando Kara terminou, ele murmurou novamente: - Camisinha.

Ela apontou para a mesa de cabeceira, e ele se esticou para abrir a gaveta
de cima, encontrando as camisinhas e pegando uma. Dante rasgou a
embalagem com os dentes e, juntos, os dois a deslizaram sobre o pau duro.

Ele se ergueu sobre ela, olhando de cima para baixo. E, enquanto
escorregava pra dentro dela, Kara fitava a intensa agonia no seu rosto, o
prazer puro enquanto a preenchia e ela o agarrava dentro do corpo.

- Meu bem, você é deliciosa. Gostosa demais. Nunca senti algo melhor
do que você.

Ele bombou, metendo mais e mais fundo, ainda se equilibrando sobre
ela. Kara mantinha o fitar naqueles olhos tão escuros, cintilando dourado em
suas profundezas. E uma expressão que ela não conseguia compreender
direito. Prazer e algo mais...

Não importa...

Não, a única coisa importante era ele ao seu lado, o desejo crescendo
novamente, a elevá-la mais e mais. O pau enchendo ela, levando o prazer
para o fundo de seu organismo. O rosto bonito ao gozar, gritando o seu
nome.

- Kara!


E então seu próprio clímax, o prazer rugindo dentro dela feito uma luz
branca. Brilhante. Deslumbrante.

A seguir, ele a levantou, até ambos ficarem sentados eretos, as pernas
dela apoiadas sobre as coxas dele enquanto Dante se ajoelhava na cama. Ele a
segurou juntinho, com a parede sólida de seu peito pressionando os seios. A
respiração de Dante era um arfar entrecortado ao ouvido dela.

- Nossa, Kara - ele sussurrou.

O corpo dela ainda tremia por causa do gozo, da emoção, quando ele a
virou com as mãos fortes, deitando-a sobre o colo.

Ele começou a bater nela, com força e velocidade. A mente se apagou
rapidamente e Kara nem precisou pensar naquilo. Apenas a dor seguindo tão
de perto o auge do prazer que tudo se mesclava numa coisa só. Numa só
sensação. Calor, necessidade e amor por ele, tudo misturado.

Eu o amo...

Ela mordeu o lábio. Kara não falaria. Não se deixaria proferir nada além
do resmungar abafado.

Dante estendeu a mão sobre ela, debaixo dela, e a enfiou entre as coxas,
pressionando o clitóris. E, inexplicavelmente, ela gozava outra vez.
Contorcendo-se no colo dele, o prazer trovejando dentro dela feito a
tempestade lá fora.

Ele a manteve assim com a mão na sua lombar, permitindo surfar as
últimas ondas de prazer. Por fim os tremores cessaram, e ela ficou quieta.
Kara ouvia a chuva caindo assim como sua respiração, ainda ofegante.

Em silêncio, Dante a levantou em seus braços. Ela encostou a cabeça no
ombro dele, inalando seu perfume novamente.

Ela era dele. Dante havia acabado de lhe mostrar aquilo, de um jeito que
talvez ninguém mais compreendesse. Mas eles sabiam. E somente aquilo
importava.

Kara respirou profundamente e soltou o ar. Pelo menos, era isso que
diria para si mesma por enquanto.

Dante sentiu o corpo de Kara ficar flácido em seus braços. Ela estava tão
linda deste jeito que ele mal suportava olhá-la: as bochechas rosadas, cabelo
desgrenhado, os lábios rosa-cereja separados. Os cílios descansavam sobre o
rosto feito longos ferrões de seda escura.

Nossa. Quando ele pensou numa mulher em termos tão poéticos?
Contudo, esse era o efeito de Kara sobre ele.


A poesia fodendo completamente com sua cabeça.

De um jeito bom, no entanto. De um jeito desejado, pelo qual suspirava.

Ela gemeu baixinho e se mexeu, virando o rosto para o peito dele, o
fazendo sentir a bochecha, lisa e quentinha.

Dante a desejava. O tempo todo. Em seus braços. Ele queria estar dentro
dela. Comandá-la e ver sua reação. Era incrível. A emoção mais incrível já
experimentada, sem contar as motocicletas e os mergulhos de penhascos.
Suas outras aventuras com BDSM, com uma miríade de mulheres. Todas sem
rosto agora. Talvez nunca tivessem tido um. Mas Kara ele via, transformando
o jogo de poder numa experiência nova.

- Kara?

- Hum? - ela levantou a cabeça, os olhos apresentavam um brilho
sonolento por baixo das pálpebras semicerradas. Verde, dourado e prateado.
Deslumbrantes.

- Você é bonita pra caramba.

Ela sorriu preguiçosa. - Era isso que queria me falar?

- Sim. - Ele sorriu para ela. - E inteligente. Criativa.

Ela não conseguia impedir o sorriso, quase inconsciente. - Já tô transando
com você, Dante. Não precisa tentar me convencer.

Ele riu, colocando-a na cama de modo que ambos ficassem deitados de
lado, um de frente para o outro. - Se já te convenci, vou encontrar outras
maneiras. Seja lá o que fiz antes, funcionou, aparentemente, mas eu falo sério,
Kara.

- Obrigada. - Ela ficou em silêncio um instante. - Infelizmente, não sou
mais criativa.

Ele tirou o cabelo do rosto dela, curtindo a textura macia e lisa. Como
ela. - Por que diz isso? E a sua arte? - ele a interrogou, realmente interessado.

- Quê? Eu não pinto mais. Não de verdade.

- Por que não?

Ela deu de ombros, mas ele viu as bochechas enrubescerem. - Troquei
por coisas mais... maduras. Como meu diploma de direito.

- Entendo que você precise ganhar a vida. É difícil viver de arte, mas,
Kara, você sabe pintar de verdade. É realmente talentosa. Não é uma picareta
fazendo qualquer coisa por dinheiro e se chamando de artista.

- Eu não me chamo de artista de jeito nenhum - ela retrucou baixinho.

- Por que não? – Ele não sabia por que a questionava tanto sobre esse


tema. Vai ver acreditava de verdade no talento dela, pois a queria ver feliz.

- Nunca vi motivo para isso – ela respondeu. – E não tem mais
relevância, Dante. Eu praticamente parei com essas coisas

- Praticamente, mas não por inteiro.

- Bem, não. Não por inteiro.

- Isso não lhe diz algo?

- Sim. Tenho um passatempo legal de vez em quando. Isso não faz de
mim uma artista.

- Não se você não tentar. Você já tentou pra valer, Kara?

Ela suspirou. – Não, não tentei. Conseguir o diploma de direito não foi
moleza. Construir uma carreira.

Ele deu de ombros. – Eu encontro tempo para andar de moto e viajar.

Ela desviou o olhar. – Podemos mudar de assunto, por favor?

- Tá bem. Por enquanto. Só odeio ver um talento assim ser desperdiçado.
Eu invejo quem consegue pintar desse jeito, ter esse tipo de paixão por algo.

- Você é apaixonado pela sua moto. Ao menos parece ser.

- Não é a mesma coisa.

- Não é? E, além disso, não tenho mais essa paixão. Esse fogo. Sem fogo,
não se corre atrás da arte, Dante. Abri mão dele quando entrei na faculdade
de direito. Quando decidi encarar a vida mais seriamente.

- A arte pode ser séria. Quem falou que não era?

Ela o encarou. Piscando os olhos, um monte de emoções passando pelo
rosto dele. – Dante, não íamos mudar de assunto?

- Certo, claro. - Ele levantou a mão dela, beijando os nós dos dedos. –
Que tal isso... Pensei em algo essa semana. Quero te levar novamente ao
Pleasure Dome.

- Eu gostaria de ir.

- Gostaria? – Por que ele se sentia um cachorrinho inseguro, pedindo seu
consentimento? Precisando ouvir o sim de sua boca.

- Andei pensando nisso, querendo voltar. Gostei de lá. Do que rola por
lá. Da energia.

- A energia é incrível. Tantas pessoas num só lugar. Desejando a mesma
coisa.

- Existe uma sensualidade nisso. Por mais que a atividade seja... explícita.

Ele concordou. Ela assentiu. – Sim, exatamente.

- Eu quero voltar – ela repetiu. – Com você. Somente com você, Dante.


Ele sentiu um nó na barriga, mas foi uma sensação extraordinariamente
agradável. Uma espécie de tensão requintada. A expectativa, ele percebeu.

- Ótimo. Vamos amanhã à noite.

Dante queria ir ao clube, não para se distanciar dela, agora percebia, mas
para ficar mais perto. Aquele sentimento era outra novidade para ele.

Tanta coisa era nova com Kara. Ele chegava a ficar tonto. Era quase a
mesma sensação sentida ao mergulhar pela primeira vez de um penhasco no
México, voando no ar em direção à água. Perguntando-se se sobreviveria. Se
iria se afogar.

Dante estava se afogando agora. E voando. De toda a forma, ele iria bater
em algum momento, mas quer fosse um baque macio na água ou o impacto
esmagador de atingir o chão sólido, ainda não sabia. Contudo, pela primeira
vez, ele estava disposto a se arriscar.




CATORZE



O PLEASURE DOME ESTAVA MAIS LOTADO DO QUE QUANDO
DANTE A tinha levado pela última vez, e isso a assustou e animou ao mesmo
tempo. Havia a mesma iluminação vermelha e roxa, os cantos escurecidos.
Gemidos abafados, o estalar de um chicote, o tinido metálico do deslizar de
correntes sobre a música de fundo. Ela adorou tudo do cara, como da
primeira vez. Contudo, por já ter ido lá antes, ela conhecia a vibração.
Conhecia o medo. Tinha uma idéia do que esperar, tornando tudo melhor e
mais difícil. Enquanto atravessavam o salão principal e seguiam para as
escadas, o coração de Kara começou a disparar feito um martelo pequeno
ressoando dentro do peito.

Ela olhou para Dante, e ele pareceu perceber o que acontecia. O braço fez
mais força ao redor de sua cintura.

Tá tudo bem. - O tom da voz era baixo, reconfortada Ele inclinou a
cabeça um pouco. - Eles já te amam, Kara. E nós nem sequer começamos.
Estão observando você comigo lá do outro lado da sala.

Esperando. Vê quantas cabeças se viram por sua causa? Esse vestidinho
preto ajuda, mas, na verdade, é você. Não conseguem desgrudar os olhos de
você, igualzinho a mim.

Ele olhou ao redor enquanto passavam pelos vários ambientes. Homens
e mulheres em estágios diferentes de nudez ou vestindo couro. Foi encarada
daqui a ali, o que lhe provocou um ondular de excitação nas veias, agudo e
quente. Kara tinha de desviar o olhar.

O melhor era manter os olhos em Dante, deslumbrantes e sólidos ao seu
lado, vestindo calça de couro e camisa preta, que marcava os ombros largos.
Reconfortante, pela mera presença.

Kara se virou para ele, - Não consigo olhar, Dante. Eu... gosto de saber,
mas, agora, olhar é um exagero. Chega a ser opressor.

- Então, orgulhe-se por saber, menina bonita.

Ele a apertou na cintura, e ela se deixou derreter nele, se deixou levar por
inteiro, ficando toda menininha, de um jeito que somente a submissão a
Dante lhe permitia.

As paredes se fechavam; isso vinha acontecendo desde que entraram no
clube. Antes até, na verdade, enquanto ela estava se vestindo em casa,
preparando-se para a noite que estava por vir. O que havia naquele pequeno


ritual – tomar banho, passar loção e se perfumar, vestir-se para ele – para
deixá-lo no primeiro nível do subspace?

Mas não dava para pensar nisso naquele momento. Eles estavam
subindo as escadas, cruzando a primeira sala com a pista de dança e as barras
de pole dance. Kara olhou para elas com desejo. Adoraria dançar para ele.
Mexer o corpo no ritmo da batida pesada da música que tocava em todos os
cantos do clube.

Havia uma mulher numa das barras naquele instante, e Dante,
novamente como que por instinto, parecia ter ciência de sua vontade de parar
e assistir.

A mulher era magnífica, pele de ébano, cabelo escuro ondulado, vestida
apenas com um top feito de fita para bondage roxa brilhante e uma saia curta,
justa feito uma segunda pele. Ela usava sapatos de salto alto finos no mesmo
tom roxo. Agarrando o poste com as duas mãos, requebrava os quadris, a
cabeça para trás, o cabelo caindo feito uma cortina negra. Enquanto a música
tocava, ela a acompanhava, os quadris rebolando como a escrever um
número oito. Ela se voltou, apoiando a cabeça contra a barra, e a deixou
escorregar, os braços formando um arco gracioso acima do corpo, as mãos
unidas. A dançarina olhou diretamente para Kara e sorriu, abrindo de forma
lenta e sensual os lábios inteiramente vermelhos.

Kara nunca tinha se interessado sexualmente por mulheres. Nem estava
necessariamente interessada agora. Mas aquela criatura transpirava
sexualidade. E ela não conseguiu se controlar, reagindo de um jeito primitivo,
o pulso se aquecendo, a respiração se acentuando ao assistir à dança sensual
da mulher.

- Dante...

- Que foi, meu bem?

- Acabei de perceber... o que acontece aqui é tudo... hipersensualizado.
Talvez, hipersexualizado, mas não de um jeito ruim. – Ela mal conseguia
acreditar no fato de ter sido capaz de juntar duas sentenças já estando
parcialmente no subspace. Com tudo aquilo acontecendo ao redor, levando-a
mais e mais para o fundo. – Não é isso? Não é o que aqui? Tô assistindo a
essa mulher e vendo o que os outros talvez vejam quando me assistem. E isso
é... excitante. Pensar por essa perspectiva. Faz algum sentido para você?

- Sem sombra de dúvida.

Ele sorriu para ela, que se concentrou nele. Nos olhos escuros, dourados,


no ângulo acentuado das maçãs do rosto. Na curvatura suculenta da boca,
generosa e excitante ao mesmo tempo.

Ela também sorriu, e Dante não desviou o olhar do dela. Instigante.
Autoritário. E ainda que ele apenas a estivesse fitando, o sorriso se
desfazendo aos poucos, o rosto tomado pelo mesmo desejo a se formar
dentro dela, Kara sentiu sua autoridade absoluta até o fundo dos osso.

Ela estremeceu.

- Quer subir lá naquela barra, Kara? – ele perguntou baixinho. De forma
íntima. – Pra se apresentar pra mim? Pras outras pessoas daqui?

Houve um silêncio antes de ela conseguir responder. – Adoro a idéia de
ser observada, ser vista, mas não é bem isso que desejo.

- Ah. – Ele fez uma pausa, sem deixar de olhá-la. – Acho que dá pra
entender isso.

Dante a conduziu a uma das grandes cadeiras aveludadas distribuídas
nos cantos do cômodo, deixando a bolsa com brinquedos no chão ao lado
deles, ele se sentou numa grande otomana a talvez meio metro da cadeira.
Esticando o braço, Dante a empurrou, até Kara ficar entre ele e a cadeira. Ela
sentia a maciez do couro na parte de trás dos joelhos.

Usando das mãos, Dante segurou as duas delas. – Quero que faça uma
coisa por mim, Kara. Por mim. Os outros também vão ver, eles vã estar
assistindo, mas isso é por mim. Entendeu?

- Sempre por você Dante, é sempre por você.

Por que o fato de falar para ele tornava a frase ainda mais verdadeira?

- Boa menina, não saia daí.

Ele esticou a mão e puxou o zíper na frente do vestido de couro preto
tipo espartilho, deslizando para cima de forma a mostrar parcialmente a
parte anterior das coxas. O desejo cintilou pelo seu corpo, deixando-a meio
tonta.

Kara adorava o fato de não ter certeza do que aconteceria com e1a. Do
que ele faria com ela. Do mistério. Da sensação de ele estar no controle.

Dante deslizou a mão sob a barra do vestido, abrindo mais o zíper
revelando mais do corpo dela até ficar aberto por completo na cintura.

As coxas e a barriga pareciam maravilhosamente nuas. E ele começou a
alisá-la com a mão, a esfregar sua pele.

- Abre um pouco pra mim, menina bonita - ele lhe falou.

Ela atendeu ao pedido. A palma da mão acariciou a face interna das


coxas, umedecendo o sexo. Dante acompanhou com os dedos a renda da
tanga preta e ela estremeceu. Quando enfiou a mão por baixo, encontrando a
boceta úmida, Kara gemeu baixinho.

- Ah, Você gosta disso. Me diz, Kara.

- Sim, eu gosto. Adoro quando me toca.

Ele sorriu, concentrando o olhar no alto das coxas. Dante se inclinou,
pressionou os lábios na renda já molhada, e ela gemeu.

Você gosta mesmo disso, né? Sabe do que eu gosto? De te ver em ação.
Quero que Você se toque. Até gozar.

- Aqui?

Ele deu uma risadinha baixa. - Sim, aqui. Pra mim, Kara. Pra mim.

Dante elevou os olhos até ela, com o fitar escuro a penetrá-la, fazendo o
corpo se esquentar com a necessidade de agradá-lo.

- Meu Deus... - a voz saiu num suspiro ofegante, curto.

Ele riu novamente. - Sei que Você tá nervosa, mas vai me atender, não
vai?

- Sim – ela responde, a palavra grudando na garganta, comprimida pelo
nervosismo e pelo desejo puro, latejante.

- vamos nos livrar disso. – Ele arrancou a tanga rendada num gesto ágil,
deixando-a nua ao olhar aguçado, o vestido aberto da cintura para baixo. –
Sente-se, Kara – Dante ordenou, empurrando-a com firme suavidade para a
cadeira atrás dela.

Ele a observava atentamente enquanto ela se reclinou na cadeira. Dante
autorizou com o queixo e ela soube exatamente qual era o desejo. Kara abriu
as coxas.

Ele sorriu. – Perfeito, minha menina. Linda. Dá pra ver como você tá
molhadinha. – Dante esticou a mão, alisou a boceta com os dedos, trouxe a
mão á boca e a língua se projetou para lambê-los. – Seu gosto é delicioso.
Adoro seu sabor, mas quero te assistir agora. Vamos lá, Kara. Mostra pra
mim como você gosta, Como prefere. Me mostra o seu prazer.

Ele se sentou, observando-a em silêncio. Era como se o olhar dele a
compelisse, a obrigasse a fazer aas mãos acariciarem a parte interna das
coxas, abrindo-a mais. Kara olhava o rosto dele, observava o prazer suavizar
suas feições enquanto ela tocava o clitóris duro com a ponta do dedo.

- Ah, é assim – ele disse baixinho.

Ela abaixou o dedo sobre os grandes lábios, e Dante suavemente. O som


a atingiu como uma rajada de calor puro.

Mais.

Ela empregou as duas mãos para separar as pregas rechonchudas e,
mantendo-se aberta para ele com a mão, enterrou dois dedos dentro de si.

O prazer foi instantâneo, quente e aguçado. Adorável. Mais adorável
ainda era o olhar de Dante sobre ela, a concentração vista neles. Kara abaixou
os olhos e viu a saliência da ereção de distendendo sob a calça de couro preto.

Ah, sim...

Ela parou, ficando completamente parada, permitindo ao corpo absorver
o choque daquela necessidade. Depois, tirou os dedos e começou a acariciar,
correndo-os para cima e para baixo da boceta, escorregando no próprio mel.
Ela se provocava ao não tocar o clitóris, nem se penetrar. Provocava seu
espectador. Os quadris começaram a se mexer num ritmo próprio enquanto
Kara se arqueava contra a mão.

- Olha pra eles Kara – Dante falou, a voz baixa, num tom gutural. – As
pessoas te assistindo. Elas estão tão excitadas quanto eu pelo que você tá
fazendo. Posso sentir.

Ela olhou ao redor e viu vários homens e mulheres a observá-la de
pontos diferentes. Uma dezena de pares de olhos brilhantes. Ela sentia o
prazer desses indivíduos, quase tão pesado no próprio corpo quanto o dela.

- Pra mim, Kara.

A mão de Dante se projetou e ele a agarrou pelo pulso, forçando-a se
acariciar com maior rapidez, controlando o movimento da mão.

- Ai, meu deus, Dante...

- Você vai gozar?

- Vou.

- Ainda não – ele ordenou, afastando a mão e agarrando o rosto. – Não
para Kara, mas olha pra mim. Somente pra mim, agora.

- Sim – ela cochichou, a necessidade de satisfazê-lo era mais poderosa do
que a sensação a esquentar o organismo enquanto afagava sua carne ansiosa.

O olhar dele queimava o dela. – Somos apenas nós, Kara. Somente você e
eu. Nada mais importa.

- Sim, Dante.

Ele soltou o rosto e a mão desceu novamente entre as coxas, enfiando os
dedos dentro dela.

Ah!


Ele tirou e meteu novamente,

- Você tem de fazer assim, minha menina.

Ele se sentou afastando a mão.

Ela enterrou dois dedos dentro de si novamente, mordendo os lábios
enquanto a sensação a golpeava profundamente.

- Mais fundo – ele ordenou.

Ela apertou com força, afastou os dedos e os cravou novamente. A
respiração era um arfar entrecortado. O prazer, um líquido quente fluindo
pelas veias. O olhar ainda mais cálido, deixando-a toda mole e débil.

- Vamos lá Kara, pode gozar pra mim meu bem. Goza!

Ela fincou os dedos no fundo do sexo e com a outra mão pressionou o
grelo, em círculos. O clímax foi rápido e forte, fez com que ela gritasse,
mexendo os quadris de forma selvagem.

- Ah, que lindo meu bem – Dante murmurou enquanto Kara estremecia
onda após onda.

Ela mal tinha terminado quando ele a pegou nos braços e começou a
beijá-la, invadindo sua boca com a língua. Ela cravou os dedos no sexo ainda
a latejar e os curvou para atingir o ponto g. e outro orgasmo trovejou, numa
onda poderosa de puro e nítido prazer.

- Ai, Deus!

Dante a abraçou com firmeza enquanto ela sacudia com a força do
clímax.

- Meu bem... isso é... tão bom – ele sussurrou contra a boca de Kara.

- Dante...

- O que foi menina bonita?

- Somente você e eu aqui... – Ela arfou.

- Sim. Somente eu e você.

Kara nem sabia ao certo o que estava pedindo, mas ele realizava.
Falando exatamente o que ela precisava escutar.

Os braços a seguraram com força.

- Foi perfeito, Kara. Perfeito – ele disse, com a voz cheia de névoa e
desejo. – Mas preciso mais de você agora.

- Sim. Qualquer coisa.

Ele a mudou de posição no colo até ela ficar amontoada sobre ele na
ampla otomana, cada coxa pendendo sobre a lateral das pernas longas
cobertas de couro, mantendo os braços ao redor do pescoço de Dante.


- Incline-se pra mim. Boa menina. Vou te encher de porrada agora.

Ela só conseguiu gemer baixinho enquanto ele arregaçava o vestido.
Bastou um tapa ardido na carne nua para Kara se contorcer. O pau duro
apertava diretamente o seu púbis, e ela o pressionava com igual intensidade.

Dante bateu de novo e de novo, numa sequência cortante de tapas na
carne ardente. Era tão bom, o prazer e a dor se formando com tanta
velocidade que, em segundos, ela voltava a ficar sem fôlego.

Kara se contorcia, arrojada, lasciva, e precisando gozar novamente. Ela
precisava daquele pau grande e grosso dentro do seu corpo. Das suas mãos
sobre a pele. Da boca. Tudo ao mesmo tempo.

Kara estava arrebatada pela vontade, com o prazer negado, as pancadas
adoráveis e torturantes na bunda.

- Goza de novo, meu bem. Goza pra mim. Você consegue.

Ele mantinha os tapas com uma das mãos, a outra tateava entre os
corpos invadia o vestido e beliscava com força o mamilo.

- Ah!

Ela esfregou a boceta na dura protuberância do colo, cavalgando aquela
lança dura feito pedra, precisando de mais. E quando Dante esfregou o
mamilo entre os dedos, a dor queimou dentro dela, marcando em brasa. E
Kara gozou novamente num frenesi intenso.

- Dante!

Novamente, antes de acabar, ele a mudou de posição, deixando-a de pé
desta vez e a tomando nos braços.

Ela tremia. Frágil em seus braços.

- Tenho que te comer agora, minha menina. Tenho que entrar em você.

Em segundos, eles passaram a uma das alcovas acortinadas dispostas em
todo canto do clube, e ele a deitava numa mesa almofadada alta. Às cegas,
Dante procurou uma camisinha na tigela de uma prateleira alta, abrindo a
calça de couro. O pau era uma peça bonita de carne, dourado r duro, mais
escuro na cabeça. Ela mal se aguentava para senti-lo dentro de si.

Dante a puxou com força para a ponta da mesa, abrindo suas coxas. E
num tranco brutal, ele se enterrou fundo no sexo molhado.

- Nossa, Kara, meu bem...

Ele manteve os braços dela sobre a cabeça segurando os pulsos com a
mão. Dante a vigiava, o peito inchando a cada ofegar. Depois ele começou a
se mexer, as mãos investindo com força contra as dela. Tão forte que doía,


mas ela precisava disso, precisava dele.

- Dante... por favor...

Lágrimas marejaram seus olhos. Kara não entendia. Ela apenas sentia o
prazer delicioso do corpo dele dentro dela. Da necessidade latejante por mais,
de alguma forma.

- Dante – ela soluçou.

Ele puxou o corpo dela para cima, mantendo-a apertada nos braços
enquanto metia com tudo. E enquanto Dante se retesava, finalmente,
gritando o nome dela, o corpo estremeceu com outro clímax cortante e
devastador, ela gritou no ombro dele, berrou.

- Dante, Deus! Por favor, por favor, Dante...

Ela se agarrava a ele. E Dante se agarrava a ela com a mesma
intensidade. O mundo dela girou, descontrolado. Kara só sabia do corpo
deles. Juntos. Apenas os dois. O resto do mundo havia desaparecido.

Ela não se recordava com muita clareza da viagem de volta a casa dele –
era um borrão de postes de luz e chuva fina caindo, fazendo as cores se
fundirem no para-brisa. Do cheiro de couro nos bancos do carro de Dante. Do
aroma adorável, misterioso dele, misturado ao cheiro penetrante de prazer
desgastado, moído. Contudo, enquanto Dante a tirava do carro, praticamente
a carregando ao elevador, ela sentiu uma onda turbulenta de pânico
crescente.

Não fazia o menos sentido aquilo acontecer com Kara naquele instante,
mas ela estava tomada de carência. Cheia de um medo intenso, trêmulo.

- Dante... por favor, não se vá.

- Quê? Não vou a lugar nenhum, meu bem. Só to te levando pra dentro.
Pronto, espere um segundo até eu abrir a porta da frente.

Ela se vergou contra ele enquanto Dante fechava a porta do
apartamento. Kara simplesmente se sentiu completamente enfraquecida.
Talvez de alívio.

Ele a amparou, com os braços sólidos ao seu redor.

- Tá tudo bem – Dante garantiu, num tom reconfortante, calmo. – É
apenas outra reação química ao jogo de hoje. Endorfinas. Talvez até uma
sobrecarga. Você vai ficar bem. Vou tirar sua roupa e vamos nos deitar. Tudo
bem?

Ela assentiu em silêncio. Não conseguia raciocinar direito. Somente
conseguia pensar na única coisa de que tinha certeza naquele instante, no fato


de amá-lo. Depois dessa noite no clube, ela sentia próxima dele como nunca.
E não sabia por quanto tempo poderia esconder o sentimento.

Kara se sentiu tonta com aquilo. Com o amor. Com sua necessidade por
Dante – uma carência nítida e absoluta, como nunca antes sentida na vida.

Em segundos, assim pareceu, ela estava nua e na cama dele, os lençóis
frios e macios contra a pele nua.

- Dante?

- Shh, meu bem, to aqui.

E ele estava mesmo, deslizando ao lado dela, passando o braço sobre seu
pescoço. Ela girou e se apoiou de lado, pressionando seu corpo grande. Não
era por sexo. Ela simples necessitava senti-lo.

Ele removeu o cabelo do rosto dela, beijou a bochecha, os lábios,
rapidamente. E Kara se derreteu toda. Com a sensação adorável de ser
cuidada por Dante.

Era o sentimento mais maravilhoso já sentido. Ela desejava pensar nisso,
no seu possível significado. Deleitar-se com aquilo tudo, mas os olhos
estavam pesados demais.

- Dante – ela sussurrou -, eu tenho que te contar uma coisa.

Não conte.

- O que foi?

Preciso falar.

- É importante...

Ele ficou em silêncio. Esperando por ela, Kara percebeu, mas não
conseguia manter os olhos aberto. Era incapaz de fazer a boca funcionar.
Como se o corpo pesasse quinhentos quilos.

- hum...

- Kara?

Ela lutou para se manter acordada e revelar o que desesperadamente
precisava contar, em segundos, estava adormecida.

Dante a vigiava, a velava, como uma espécie de guardião do seu sono.
Ele mal conseguia decifrar a silhueta das maçã do rosto, do queixo, na
escuridão. Ainda assim, sabia o quanto Kara era bonita.

Uma parte dele a queria acordada, sem nem saber por quê. ele estava
esgotado demais para a atividade sexual naquele momento. Ou, talvez, não.
Seu desejo não tinha fim quando se tratava de Kara. Mas não era só isso.

Por outro lado, Dante precisava de um tempo para pensar. Para pôr em


ordem todas as idéias estranhas que estavam em sua mente. As coisas
bizarras que vinha sentindo a noite inteira, que foram se desenvolvendo ao
longo das últimas semanas.

A cena com ela no Pleasure Dome tinha sido intensa. Para lá de intensa.
Não houve nenhum jogo de dor pesado, nada além de tapas usuais, o
máximo aonde a tinha levado. Ele não precisava ir além para jogar duro com
Kara. A questão não era mais essa. Embora sempre adorasse a troca de poder,
o jogo de sensação, de observar a reação dela, Dante simplesmente não tinha
a necessidade de algo mais extremo, mais radical. Mas alguma outra coisa
tinha acontecido naquela noite...

Alguma coisa inédita sempre estava a acontecer entre os dois. Havia um
progresso constante nas coisas. Demais para pensar a respeito.

Contudo, talvez fosse hora de pensar.

Seria possível estar apaixonado por essa mulher?

O pensamento atravessou sua cabeça, seu coração, como um raio
brilhante de luz. Deslumbrante. Puro.

O pulso acelerou, num baque firme e veloz dentro do peito.

Não.

Mas negar o sentimento não seria nada além da força do hábito?

Ele coçou a barba rala do queixo. Tentou clarear a mente, mas não
conseguia se acalmar.

Dante desceu a mão sobre o peito, pressionando ali, como se aquele
gesto pudesse reduzir a batida errática, acalmá-lo.

Nossa. Ele não conseguia acreditar. Não estava pronto para crer.

Dante sabia que estava sentindo alguma coisa por ela. Algo novo.
Especial. Mas isso?

Impossível.

Aparentemente não.

Ele trouxe o corpo adormecido dela para mais perto de si.

Bastava apenas se acalmar. Estava tarde, e ele, cansado. Na verdade, não
tinha de fazer nada a respeito. Podia muito bem dar um tempo para descobrir
o que pensava daquilo tudo. Daquele todo... amor.

Ele era um idiota. Comportando-se com um adolescente estúpido, um
fato corriqueiro ao lado de kara.

Porra, ele a amava.

Nossa.


O pulso acelerou e, sem pensar a respeito, ele virou o rosto para sentir o
cheiro do cabelo dela. Era reconfortante.

Dante estava pirando.

Tinha pirado.

Já era.

Ele não sabia como aquilo havia acontecido, mas, finalmente, estava
apaixonado. Apesar de si mesmo. Apesar de todo o seu conhecimento a
respeito do que era ou não capaz de fazer. Ele não tinha a menor idéia de
como se comportar em relação a isso.

Dante ficou deitado, a cabeça apoiada no peito, ouvindo sua respiração.
O som da chuva contra a janela. Um ou outro trovejar distante. Ele desejava
permanecer acordado. Tirar aquilo a limpo. Por fim, no entanto, o ritmo
suave da respiração dela o tranqüilizou. Esse som e a chuva caindo foram
criando uma espécie de casulo ao redor deles. O corpo relaxou, a mente
zumbia pela sobrecarga sensorial. Em determinado momento, com a luz
envolvendo um grupo de nuvens e as estrelas começando a desaparecer, ele
dormiu.

Somente algumas horas depois, aos primeiros raios de sol, eles
acordaram. Em silêncio, ela se aconchegou ente seus braços. Ele rolou seu
corpo composto de curvas macias contra si: os seios, a barriga, as doces coxas.
Kara se abriu para ele, que a penetrou fácil como seda. Tão fluido, tão suave.

De Kara.

Ambos se mexeram em conjunto, todo movimento de seus corpos era
líquido, um ritmo perfeito sem envolver raciocínio. Nem esforço. Eles
escorregaram rumo ao prazer. Ou este fluiu sobre eles. Dante não sabia.
Logo, porém, ela o estreitou com o sexo quente e caloroso. Incrível. Kara
ofegou. O clímax foi tão suave quanto a primeira luz matinal.

Depois ele gozou, estremecendo dentro dela, Dante a abraçou mais forte,
os braços ao redor do corpo dela. E não pretendia soltá-la.

Por fim, lhe ocorreu que ele poderia a estar esmagando. Dante ficou de
lado e Kara se enrolou nele. Sua mão invadiu o cabelo dela. A respiração se
acalmou ao flexionar os dedos nas mechas finas, como um tecido macio.

- Kara – ele sussurrou. – Meu bem...

O que ele queria dizer? Estava tão sonolento...

E caiu novamente no sono.




QUINZE



Era tarde quando Kara acordou. Ela sabia a hora por causa da posição do
sol nas janelas. Ainda estava um tanto entorpecida, com corpo e mente
zumbindo.

Ela se virou e encontrou Dante a observá-la.

- Oi. – A voz dele estava baixa, fumegante.

- Oi.

Kara não sabia ao certo o que sentir. Em relação ao que houve na noite
anterior. A respeito de como aquilo afetava seus sentimentos. Algo tinha
acontecido entre eles. Novamente. As coisas passaram para um estágio
completamente novo. Não apenas no clube, mas ali, na cama dele, no meio da
noite. Kara lembrava como uma espécie de sonho adorável, mas tinha
acontecido de verdade. Ela sentiu. Percebeu a profunda mudança dentro
dele. Na forma como ele a tocava.

Dante tinha sido tão, tão gentil. Tão carinhoso. Havia emoção de
verdade, e ela sabia que não era a única a sentir aquilo. Ele se sentia...
Completamente aberto para ela, pela primeira vez. Agora, no entanto, ela
estava... Confusa. Quantos aos sentimentos de Dante. Se poderia acreditar no
que havia percebido nele. Se ela podia confiar naquilo.

- Você tá bem, Kara?

- Ah, eu... To, to bem.

Ele se apoiou no cotovelo. Kara notou seu cabelo desalinhado, o que o
deixava com cara de menino.

- Você não parece bem.

Ela deu de ombros, puxando o lençol sobre o peito. – Eu... – interrompeu
a fala, mordeu os lábios, depois olhou em seus olhos. – Dante, sinto que,
novamente, alguma coisa se modificou.

- Sim – ele falou baixinho.

- Sim?

- Pra mim também.

- Então, o que isso significa?

Ele ficou quieto por um bom tempo e ela prendeu a respiração. Não
poderia respirar até ouvi-lo, embora parte de si estivesse com medo de saber.

Dante exalou o ar profundamente. – Significa, pra mim, afinal, eu to... Eu
tenho sentimentos com que não sei como lidar. E, acho, nem você.


Kara mordeu o lábio com mais força. – Eu... – Por que o coração batia tão
forte? Ela desejava lhe contar exatamente como se sentia, mas não conseguia.
– Estou pensando coisas parecidas. E não tá fácil lidar com isso.

- Então, novamente estamos no mesmo lugar – ele falou, juntando as
sobrancelhas escuras com cara de dúvida, mesmo tendo falado de forma
decisiva.

Dante esperava a garantia, a certeza dela, Kara percebeu com um
pequeno choque. Contudo, dizer a ele ainda parecia muito arriscado. Ela não
seria a primeira a confessar o amor.

Então, onde aquilo os deixava, se ele não falasse? Ou se não fosse capaz
de reconhecer? Se, talvez, não fosse exatamente isso que ele estivesse
sentindo?

O coração dela martelava o peito, batendo dolorosamente. Kara sentia o
medo se infiltrando nela, como uma espécie de tóxico. De veneno.
Transformando o medo em pânico.

Ela tinha de sair.

Kate se sentou na cama, rápido a ponto de ficar tonta. Depois, jogou a
coberta para trás e pôs as pernas para o lado de fora da cama.

- Kara? O que você tá fazendo?

- Eu preciso ir embora.

- Quê? Você não pode ir agora.

- Posso, sim. Eu preciso Dante. – Ela se pôs de pé, o ar do inverno
arrepiou a pele nua. A tontura a atingiu novamente, e Kara necessitou fazer
uma pausa, cobrindo os olhos com a mão. A luz que entrava pela janela
parecia brilhante demais. Iluminando em excesso. Ela sentia o sangue
estrondando com força nas veias.

Num estante, Dante estava ao seu lado – O que está acontecendo aqui?

- Eu não sei – ela respondeu sem encará-lo, sem reconhecer a pressão no
braço – E talvez esse seja o problema. Eu não sei o que tá acontecendo, como
agir. Não sei como você se sente em relação a nada. Você é tão vago, Dante.
Eu não vou pedir explicações porque não tenho nem pra mim. Mas acho...
Que eu não aguento mais. Agora não. Eu preciso pensar. Preciso... de um
tempo para mim.

- Não faz isso, Kara. Você tá surtando! Deve ficar onde eu possa cuidar
de você, garantir seu bem-estar.

Ela deu meia volta para encará-lo. A raiva a possuía, num fluxo furioso e


quente percorrendo o organismo.

Ele era bonito demais, a luz do fim da manhã tingia o cabelo escuro,
tingindo-o de dourado. Contudo, ela não se permitiu a distração.

- Isso é tudo o que tem a me dizer, Dante? Se for, então, eu vou embora
daqui. To indo embora. Não quero nem pensar nessa coisa de surto. Não
acho que seja isso. No fundo, não é.

- Então, o que é?

Ele fez cara de confusão, mas ela não podia explicar mais sem revelar
além do que pretendia.

Kara balançou a cabeça. – To indo, Dante. Não tente me impedir. Agora,
não.

Ela começou a se vestir, se sentindo mais vulnerável com o vestido de
couro usado no clube do que nua na frente de Dante. Ele não se mexeu,
fechando as feições, nu e bonito de doer.

Ele continuou a observá-la quando Kara calçou os sapatos, caminhando
na direção da porta da frente, perto de onde o casaco descansava sobre um
parador. Ela deslizou os braços dentro dele, sentindo frio como nunca.

Dante não se mexeu nem abriu a boca, o que a deixou irada.
Completamente confusa. Mais um sinal de que deveria ir embora.

Kara lhe deu mais um minuto, esperando com a mão na maçaneta da
porta. Mas Dante permaneceu parado, silencioso e lindo como uma estátua, a
boca traçando uma linha amarga.

Ela balançou a cabeça novamente. E saiu.

Na rua, Kara logo parou um táxi, deu seu endereço ao motorista e
sentou-se no banco pouco confortável. O queixo estava retesado, remoendo
as lagrimas querendo aflorar, mas ela não permitiria o choro.

Kara odiava o fato de que ser mulher muitas vezes significava reagir à
raiva com lágrimas; ela se sentia frágil.

Ela cerrou as mãos, até as unhas cravarem na carne. A dor deu firmeza,
ajudou-a a não perder as estribeiras.

Logo o táxi chegou ao destino. Kara pegou dinheiro do bolso do casaco
para pagar o taxista, saiu e entrou no edifício. As escadas pareciam
infindáveis.

Basta entrar, onde é seguro.

Abriu a porta da frente, entrou e a fechou. Depois caiu contra a porta,
pressionando as costas na madeira, enquanto as lágrimas começavam a


brotar.

Droga.

Ela não queria aquilo. Chorar por um homem. Ela não tinha chorado
pelo Jake. Apenas ficou presa num poço de autopiedade, julgando a si
mesma, coisa que não ocorria desta vez. Ficar com Dante nunca a fez sentir
necessidade de julgar-se.

- Merda! – ela falou entre dentes.

Kara se afastou da porta, pendurando o casaco. Ele caiu no chão, mas ela
não deu a mínima. Continuou andando até o quarto, onde tirou a roupa e,
nua, se jogou na cama.

Na sua cama. Seu porto seguro.

Contudo, nada lhe parecia seguro agora. Nada lhe era familiar o
bastante. Não tanto quanto a cama de Dante. Quanto o seu corpo.

Mas ele não a amaria. Então, qual a segurança de ficar ao seu lado? Ela
teria de deixar toda essa coisa de amor para trás. Simplesmente se livrar dele.
A situação era impossível.

Kara pegou um lenço na caixa sobre a mesa de cabeceira; assuou o nariz,
limpou os olhos. Não adiantava, as lágrimas continuavam rolando. Lavando
o rosto. E logo ela soluçava, soluços longos, arrastados, um queixume
horrível vindo do fundo do peito, do corpo.

Encolheu-se, com força. Mas somente os braços de Dante a
reconfortariam. Ela estava perdida sem ele. E nunca o teria. Nunca. Não de
verdade. Não da forma verdadeira e permanente como pretendia, pela
primeira vez na vida.

Os velhos sentimentos de não ser boa o bastante, de não ser merecedora
o suficiente daquele amor voltaram a tomar conta dela. Todos os velhos
problemas criados pelos pais frios e distantes. Kara nunca foi capaz de
satisfazê-los, de fazê-los repararem nela, somente quando não aprovavam. E
independentemente do caminho seguido, até estudar direito como eles
desejavam, abrindo mão de sua arte – tirando uma ou duas pinturas às quais
se permitia por ano -, nada era suficiente.

Obviamente, ela não bastava para Dante.

Mas, não, aquele era seu antigo .eu. falando. A raiva voltou a tomar
conta de Kara.

Ele não era o bastante para ela. Não se recusasse admitir os sentimentos
por Kara. Não se não conseguisse amá-la. Ela não merecia isso, caramba?


Mas a dor se alastrava pelo corpo como um peso enorme, sentido nos
pulmões, nos braços e nas pernas. Kara não conseguia se mexer.

Nem pensar direito. Somente pensava no rosto de Dante, nos olhos
escuros fechados, nas feições tensas enquanto ela aguardava sua resposta.

Enquanto aguardava que a impedisse de ir embora, mesmo que
afirmasse o contrário. Kara somente conseguia sentir perda e raiva, e aquela
dor cortante, horrível, dentro do coração.

Ela nunca tinha vivenciado o sentimento de ter o coração partido. Nunca
tinha deixado ninguém chegar perto o bastante para magoá-la de verdade.
Kara nem imaginava que doeria tanto assim, como se o coração fosse de
vidro e tivesse se estilhaçado em mil pedaços, cada um deles a perfurá-la, a
penetrá-la.

As lagrimas se transformaram novamente em soluços. Com violência
eles brotavam de dentro dela, serpenteando dentro do peito antes de saírem
rasgando pela boca aberta. Uma dor inacreditável, uma tristeza inacreditável.

O sol já estava se ponto do lado de fora da janela quando ela recobrou
alguma consciência. Fim de tarde. Kara jazia ali por horas, estava exausta.
Esgotada, enjoada. Sabia que era preciso sair da cama, beber um pouco de
água. Lavar o rosto.

Os olhos e as bochechas estavam inchados, sensíveis ao toque. Kara
suspirou. Como ela foi deixar acontecer aquilo?

Nunca mais deixaria aquilo voltar a ocorrer. Ela não sabia como iria
sobreviver depois de tudo, mas seria a última vez.

As lagrimas retornaram. Seu calor intenso era insuportável nas
bochechas, os pequenos soluços a explodir dentro do peito dolorido. Como
uma pessoa podia ter tantas lágrimas dentro de si? Mas até mesmo esse
raciocínio pairou muito a distância, a mente obscurecida pela dor.

Ela tentou engolir as lágrimas, lutar contra elas, mas não conseguiu. Kara
se enrolou feito uma bola, deixando que minassem insensíveis à angústia. Por
fim, adormeceu.

Sonhou com Dante. Seu apartamento. Ele estava iluminado pela luz do
sol, que parecia vir de todo lugar, dourada e suave. Dante apareceu atrás
dela, Kara mais o sentiu do que viu. Ela conhecia a sensação dos seus braços
em sua cintura, conhecia sua força adorável ao trazê-la ao encontro de seu
corpo.

- Isso é o que você deveria estar fazendo, Kara.


- Sim, ela pensou. Estar com ele...

Diante dela havia um cavalete com uma pintura pela metade, e ela
segurava um pincel. Era a imagem da baía de Elliott da janela dele, azuis e
verdes, luz do sol rasgando a cerração. A vista era da janela deles.

Adorável.

Porém, ela não pintava mais. Não de verdade. Muito menos estava com
Dante, não é?

Tudo ficou escuro, vazio, como se caísse num espaço em que não havia
nada.

O escuro, o nada, cresceu ao seu redor, se aproximando. Embebendo-se
dela. Kara gritou por ele: - Dante!

Mas ele não estava lá.

Nem nunca estaria.

- Não – ela sussurrou quando a dor tinha passado.

- não!

Kara acordou no escuro, tremendo por causa da umidade na pele,
sentindo-a no fundo dos ossos.

Estava acabado.

Dante ficou de pé fitando a longa fileira de janelas, observando o
tremeluzir dos barcos ancorados na baía de Elliott abaixo do apartamento. Ele
estava praticamente entorpecido. E assim permanecia desde a partida de
Kara naquela manhã.

Está bem, isso é mentira. Talvez parte dele estivesse entorpecida. Já o
restante estava destruído, como se tivesse passado por uma fragmentadora
de papel. Em chagas, e doendo pra cacete. E essa parte estava totalmente
desesperada.

Dante passou os dedos pela barba rala e pontiaguda do queixo, pela
nuca enrijecida.

Estava todo teso. Tentou se deitar no sofá, exausto, mas estava nervoso
demais para permanecer parado por muito tempo. Ele não dormiu um
minuto sequer depois que ela tinha ido embora, e restavam poucas horas à
frente antes de o dia começar. O pior, porém, não era a falta de sono, não era
isso o que mais doía, mas a falta de Kara. Ter consciência de sua ausência.

Ele estava... desolado. Exasperado. Irritado por ela ter ido embora.
Revoltado por se importar pra cacete com aquilo. Indignado com a sensação
amarga de importância a se mover por dentro dele feito uma lama escura nas


veias. Estava sem ação para mudar as coisas por Kara. Para modificar a parte
básica de si mesmo da forma necessária para lhe dar o que ela merecia.
Estava impotente de amor por ela.

Não havia absolutamente nada a ser feito em relação a isso. Impotente
pra cacete.

Dante odiava essa parte acima de tudo. Sempre odiou. Odiava quando se
mostrava incapaz de fazer alguma coisa para melhorar a vida da mãe. Odiou
quando se sentiu completamente assim depois da morte de Erin.

Muito tempo atrás, Dante havia concluído que a melhor maneira para
não sentir essa impotência horrível era estar sempre no controle. Sendo o
responsável. Estar no comando o fazia sentir parte de sua força pessoal.
Como se seus atos tivessem importância no mundo, mesmo sendo apenas no
trabalho ou no mundo BDSM. Como se nada inesperado pudesse acontecer,
pois sua vida estava completamente imobilizada, firme no lugar.

Porém, em algum lugar no fundo da consciência, ele reconhecia que isso
era uma mentira conveniente. Que todo o controle do mundo, a mentira em
si, nunca o faria se sentir por inteiro. E por não saber como agir a respeito,
Dante deixou tudo por isso mesmo, permitindo-se viver em seu próprio
engano.

Kara o tinha desmascarado. Para si mesmo, como for. Ele não conseguiu
revelar sua verdade para ela. A verdade de que ele a amava, pois a única
coisa que o fazia sentir completo era amá-la.

Simplesmente, a ideia era grande demais para ser encarada. Ainda mais
depois de ela deixar tão claro que não queria estar ao seu lado, por ele ter
fodido tudo, justamente como esperava.

Dante começou a andar de um lado para o outro, o céu escuro, a
incandescência dos postes na rua passavam pelo limite da visão como um
borrão.

Ele se sentiu... esmagado por aquilo. Pela primeira vez na vida adulta,
não sabia se conseguiria arcar com tudo isso sozinho.

A única pessoa com quem gostaria de conversar a respeito era Kara, mas
era impossível. Ele sabia que ela não o veria; Kara não o queria nem pintado
de ouro, e Dante não podia culpá-la.

Hora de recorrer ao amigo mais próximo. Ele e Alec não costumavam
tocar em assuntos emocionais com frequência. Nunca chegaram tão longe. O
mais perto disso foi quando Alec estava pirando por causa de Dylan, mas


aquilo foi o máximo que Alec já tinha revelado de si mesmo. Dante nunca se
abriu. E não tinha certeza de saber como aquilo funcionava.

Mas, porra, se abrir com alguém deveria ser melhor do que esse
caminhar sem-fim, esse ciclo infinito de pensamentos circulando pela cabeça
apenas para deixá-lo do mesmo jeito lamentável.

Quem sabe Alec pudesse lhe dar alguma perspectiva. Ajudá-lo a colocar
a cabeça de volta no lugar.

Ele se aproximou do aparador no hall de entrada, onde o celular estava
carregando. Soltou o fio e digitou o número de Alec.

- Alô?

- Alec, é o Dante.

- Oi, e aí? Quase não tenho notícias suas. Imaginei que daria as caras
depois de toparmos com vocês naquela noite.

- Pois é, falando nisso...

Nossa, por onde começar? Como fazem isso?

- O que tá acontecendo, Dante? – Alec perguntou – não me diz que não é
nada, porque dá pra sentir no seu tom de voz.

- Sempre o dominador intuitivo.

- Isso aí. Então, pode ir falando.

Ele suspirou, voltando a andar em círculos. – Escuta, vamos tomar
alguma coisa?

- Agora? Dylan e eu estamos terminando de jantar.

- Sim, agora. Sinto muito pelo jantar, mas eu... porra, dá ou não?

- Sim. É claro. Sem dúvida. Onde te encontro?

- Que tal no Black Room? Sabe onde é? – era um boteco perto do seu
prédio. Ele sabia que o lugar estaria tranquilo. Provavelmente não
encontraria ninguém do serviço por lá nem um conhecido do clube.

- Te vejo lá. Chego daqui a uns quarenta e cinco minutos.

- Combinado.

Eles desligaram, e Dante foi tomar uma ducha, algo que não tinha feito o
dia inteiro. Havia lembranças demais de Kara por ali, seu corpo macio
cercado de vapor. Kara usando a sua camisa branca, a pele quase tão pálida
quanto a camisa, mas com as bochechas rosadas, os olhos faiscando em tons
de prata e ouro, tomados de desejo. Linda. Estonteante. Dante tinha levado
um monte de mulheres ali. Mas apenas Kara importava.

Ele não entendia o significado daquilo. Não gostava muito de suas


implicações.

Pouco depois, Dante saída porta afora. Decidiu caminhar as seis quadras
até o bar. Precisava esfriar a cabeça, esticar as pernas. Descarregar um pouco
dessa tensão insuportável.

Tinha chovido novamente. As ruas estavam molhadas, refletindo
imagens aquosas dos postes, do neon de restaurantes e vitrines.

Ele se sentia assim. Borrado. Distorcido. E não gostava nem um pouco.

Alec já estava no bar quando ele entrou, e Dante se sentir grato por não
ter de ficar ali sozinho, embalando uma bebida e seus pensamentos. Ele não
suportaria ficar dentro da própria cabeça por nem mais uma merda de
minuto sequer.

-Oi, Alec.

- Oi. Pedi Chivas com gelo para você. Pensei em deixar o melhor quando
você voltar a ser você mesmo.

Dante ocupou o banco ao lado de Alec. – É tão obvio assim?

- É gritante. Pra mim, ao menos.

Dante envolveu o copo com as mãos, bebeu e pôs de volta no balcão. E
não tirou os olhos dele.

Alec estava em silencio ao seu lado, tomando a bebida. Dante conhecia o
amigo bem o bastante para saber que ele ficaria ali a noite inteira se fosse
necessário.

Ele engoliu outro trago do uísque gelado, tentando saborear a ardência
enquanto a bebida descia garganta abaixo. Mas Alec estava certo: ele não
conseguia curtir. Não hoje.

- Então... – Dante começou. – Nossa, eu não sei como fazer isso.
Conversar. Falar de verdade.

- É um pouco esquisito, mas você acaba se acostumando – retrucou Alec,
com um quê de provocação na voz.

- É melhor não.

Alec deu de ombros – eu também pensava assim. Antes da Dylan.

- Como ela tá?

-Ótima. Surpreendente. Mas você tá mudando de assunto. – Dante
concordou, sorrindo com gravidade. – Pois é.

Ele mandou para dentro o restinho da bebida, as pedras de gelo bateram
nos dentes. Acenando para o barman, pediu outra dose.

- Deve ser sério – Alec falou baixinho.


- E é – ele fez uma pausa – Então... acho que tô apaixonado pela Alec.

- Isso é sério.

Dante inspirou, segurando o ar nos pulmões um bom tempo, ainda
olhando o copo. – É, sim. E é uma bobagem. Eu não penso que to apaixonado
por ela. Eu to mesmo. Então, que merda que eu faço, Alec?

Ele levantou os olhos para o amigo, querendo, desejando uma resposta.

- O que você quer fazer?

- Estar com ela. Mesmo me cagando de medo. Mesmo estando
convencido de não conseguir fazer justiça ao relacionamento.

- Eu também pensava assim.

- Não sei se você tinha tantos motivos quanto eu. – replicou Dante.

- Talvez sim, talvez não. – Alec tomou um gole da bebida, baixou o copo
no balcão e olhou para Dante. Seu olhar era direto. Mas, até aí, Alec era
sempre direto. E Dante contava com isso. – Será que você me procurou para
eu te convencer a não correr atrás dela?

As entranhas se contraíram – é possível.

- Não vou dizer isso.

- Não vai?

- Não. E vou explicar por quê. Eu te conheço, Dante. Você precisa dar um
tempo, esperar a poeira abaixar. Se acalmar. Dar um tempo para aceitar seus
sentimentos por ela, pois sei que ainda não acredita nisso totalmente. E será
preciso acreditar antes de vê-la.

- Se ela aceitar me ver.

- Ah. Bem. Mais um motivo para dar um tempo. Kara provavelmente
precisa esfriar a cabeça em relação ao que aconteceu entre vocês.

Dante concordou. – Você tem razão.

- Tomara que sim. Só Deus sabe o quanto pisei na bola com a Dylan, mas
to aprendendo. Ela me falou isso.

Aquilo fez Dante sorrir. Um pouco. Ele não conseguiu evitar. Alec
Walker não deixava que lhe dissessem nada. Não até a Dyaln aparecer.

Dante era igualzinho, mas desejava dar uma chance para essa coisa com
a Kara. Ele esperaria uns dias, como Alec sugeriu. E se fosse preciso levar
uma bela surra por causa do seu comportamento, sabia que merecia. Dante
aceitaria. Enquanto isso, ia tentar respirar um pouco. Para deixar Kara
respirar também.

- Parece um bom plano – ele falou a Alec. – Valeu.


- Claro. Quer ir pra outro lugar, quem sabe acompanhar o fim da
temporada esportiva?

- Não precisa. Sei que quer voltar para a Dylan.

- Sabe? – Alec pareceu meio chocado.

- Tá na sua cara, Alec.

- Ah, porra...

- Não, isso é bom. É legal ver você contente.

Alec concordou, sorrindo. – Também gostaria de vê-lo feliz.

- Eu não me importaria.

Alec se levantou, jogando algumas notas de vinte no balcão. – Fique e
beba mais se desejar.

- Talvez eu fique.

- E me avisa das novidades.

- Pode deixar. Obrigado, Alec.

- De nada.

Alec partiu sem precisar dizer mais nada.




DEZESSEIS



ERA MANHÃ DE QUINTA-FEIRA, OU SEJA, DIA DE COMER
DONUTS NA FIRMA; era a idéia dos funcionários de manter o moral lá em
cima no fim de cada semana. Kara não conseguia se imaginar engolindo
outra coisa além do chá com que vinha vivendo a semana inteira.

Disse que estava doente e faltou na segunda-feira, cansada e chorosa
demais para voltar. Na terça, Kara reuniu a coragem para ir ao escritório e
descobriu, toda alegre, que Dante passaria o dia no tribunal. O mesmo
aconteceu na quarta-feira. Talvez hoje ela tivesse a mesma sorte. Ainda não
estava a fim de encará-lo. Nem sabia se um dia estaria.

É nisso que dá se envolver com alguém do trabalho...

Kara suspirou baixinho assim que saiu do elevador, entrando no saguão
da firma. A recepcionista a cumprimentou, e ela ensaiou um olá com a cabeça
aos colegas enquanto avançava cautelosamente pelo corredor na direção da
sua sala. Ruby, a secretária que ela dividia com vários outros advogados,
incluindo Dante, também entrou enquanto Kara tirava o casaco.

- Oi, Kara. Os três bambambãs marcaram uma reunião para agora. Quem
não estiver no tribunal precisa comparecer.

- Ah. Quanto tempo eu tenho? – Ela olhou o relógio, divagando se
acharia uma desculpa para não ir.

Dante estaria lá? Ou passaria o dia outra vez no tribunal? Não havia algo
urgente para fazer?

- Está marcada para as 8h 15, então você tem uns quinze minutos. Quer
um donut? Guardei um daqueles bolinhos que você gosta.

A barriga se revirou. – Obrigada, Ruby. É muita gentileza sua, mas eu
tô... tentando cortar o açúcar.

- Eu faria o mesmo, mas já comi dois donuts com geléia. Ruby deu um
sorriso. – A gente se vê na sala de reunião daqui a uns minutinhos.

- Obrigada, Ruby.

Meu Deus, ele estaria lá? Ela não se julgava capaz de aguentar.

Kara respirou fundo, soltando o ar devagarzinho, tentando se lembrar da
série de respiração para se acalmar que aprendeu nas aulas de ioga. Mas o
coração estava disparado. Ela não conseguia fazer nada; era necessário ir à
reunião. Simplesmente teria de lidar com isso.

Onde foi parar toda sua força? Ela costumava ser tão forte, t ão pé no


chão.

Desanimada, Kara balançou a cabeça enquanto colocava a bolsa e a pasta
debaixo da escrivaninha, ligava o computador e o esperava terminar de
carregar. E suspirou ao perceber que torcia por encontrar uma mensagem de
Dante na caixa de entrada.

Ele não tinha tentado falar com ela desde que deixou sua casa no
domingo. Kara sabia que Dante teria uma semana puxada no tribunal, mas
certamente poderia ter telefonado, mandado um e-mail ou até mesmo uma
mensagem se quisesse conversar.

Resumindo, ele não queria.

Ela não desejava falar com ele. Ainda estava com raiva. Continuava
arrasada. Queria, necessitava vê-lo com tanta intensidade que a pele doía.
Kara odiava isso.

Recomponha-se.

Ela olhou outra vez para o relógio. Estava na hora de ir à reunião.
Respirou fundo mais algumas vezes, o que pouco ajudou a acalmá-la, e se
levantou. Arrepiada, Kara pegou o suéter jogado no encosto da cadeira
durante aquela semana. Vivia sentindo frio ultimamente. Na verdade, desde
que tinha deixado Dante, chocada e de lábios cerrados no domingo passado.

Nu, lindo e com algo espreitando seus olhos que muito bem poderia ser
dor...

Não pense nisso agora. Sobreviva até o final do dia.

Ela chegou ao corredor e Ruby já estava ali, primeiro a recebendo com
um sorriso. Depois, a alegria se desfez.

- Cruzes, Kara, você tá branca como papel. Tudo bem?

- Vai ver ainda não me curei completamente da virose que me atacou na
segunda-feira.

- Vai ver... – Falou Ruby, levantando uma sobrancelha.

- O que foi? – Kara perguntou de forma defensiva.

Ruby olhou para frente enquanto caminhavam pelo corredor. – Nada.
Talvez. Só que Dante De Matteo tinha essa mesma cara toda manhã antes de
sair para o tribunal. E sei que ele não está preocupado com o caso.

- Ruby...

-Tudo bem, Kara. Não vou dizer nada a ninguém, mas trabalho pra
vocês dois, então eu vejo coisas...

Kara suspirou. – E?


- Bem, tá na cara que tá rolando alguma coisa. Sei que não é da minha
conta. – Ela parou, sacudindo a cabeça. – Desculpe. Eu deveria ter ficado de
boca fechada. É que gosto muito de você. Eu te admiro. E odeio te ver tão...
fatigada. Tão abatida.

Kara teve de engolir em seco para segurar as lágrimas ardendo por trás
dos olhos. Depois fungou. – Tá tudo bem, Ruby.

- Ai, caramba, agora sim meti os pés pelas mãos. Sinto muito mesmo. –
Ruby colocou a mão no braço de Kara.

- Tá tudo bem. De verdade. É que... alguém mostrar simpatia faz tudo
aflorar. Nem sequer falei com minha melhor amiga por causa disso.

- Vou fechar minha boquinha, eu juro. Mas... me avise se precisar de
alguma coisa, tá?

Kara fez que sim com a cabeça.

- Por que não dá um tempinho no banheiro antes da reunião? Eu dou um
jeito.

- Obrigada, Ruby. Vou fazer isso. E, Ruby... sabe se o Dante tá aqui hoje
ou se vai ficar no tribunal?

- Não tenho certeza. Não consegui conferir a agenda antes de receber o
memorando do Sr. Kelleher e, depois disso, não parei mais de correr. Quer
que eu verifique e avise antes de entrar na reunião?

- Não, não dá tempo. Afinal, ou ele vai estar lá ou não. E eu
simplesmente preciso... encarar os fatos, não é?

- Tá certo. A gente se vê lá dentro.

Ruby apertou novamente o braço dela antes de deixá-la no corredor.

Kara entrou rapidinho no banheiro e lavou as mãos, deixando a água
quente acalmá-la. Ela tinha consciência de que não podia demorar demais,
mas estava feliz por contar com um tempinho para recuperar o fôlego.

Olhou seu reflexo no espelho. Ela estava um pouco pálida. Com tapinhas
no rosto, tentou recuperar um pouco da cor, depois deu de ombros. Não
havia muito a fazer. Precisava ir.

A sala de reunião estava lotada, a maior parte da firma se espremia lá
dentro, ombro a ombro ao redor da grande mesa, os funcionários
administrativos e assistentes ocupavam o perímetro. A mesa estava cheia,
então Kara ficou ao lado de Ruby, que lhe deu um pequeno sorriso
encorajador.

Charles Landers estava em pé na frente da sala, sorrindo e


cumprimentando com a cabeça. Depois de um instante, a ele se juntaram Lyle
Kelleher e Edward Tate. Lá estavam os três, como sempre, em perfeita
harmonia, elegantes e serenos, trajando ternos escuros e gravatas coloridas,
vibrantes, com os cabelos em tons diversos de grisalho.

Lyle Kelleher pigarreou e Kara olhou ao redor aliviada. Dante não estava
ali.

- Temos um anúncio a fazer hoje, a um só tempo feliz e triste – afirmou o
Sr. Kelleher. Ele fez um gesto apontando para uma das advogadas sentadas à
mesa grande. – Infelizmente, Julie Dillard vai nos deixar mês que vem, mas
por um bom motivo. Julie vai se mudar para Washington, DC. Ela trabalhou
arduamente e foi um prazer contar com Julie desde a formatura na faculdade
de direito, primeiro como assistente e, depois, como advogada. Nós
queremos lhe agradecer, Julie, por toda sua contribuição a esta empresa e
desejar boa sorte em seus desafios.

Todos aplaudiram, e Julie, morena e baixinha, agradeceu com a cabeça e
sorriu.

- Julie, você vai trabalhar no ramo em DC? – alguém perguntou.

- Na verdade, to indo lá pra me casar. E... vou abrir uma loja de
antiguidades, algo com que sonho há anos. Já achei o lugar onde abrir.

Houve uma nova salva de palmas.

- Não se entusiasmem tanto com a perspectiva de ela abandonar a nobre
profissão de advogado – protestou Charles Landers, os olhos azuis cintilavam
com falsa indignação.

O coração de Kara disparou. Estava feliz por Julie, de verdade, mas
também se encheu de inveja. Julie iria atrás da felicidade: casamento, abrir
um negócio. Ela corria atrás dos sonhos.

Julie ousava persegui-los.

Naquela hora, Dante entrou na sala lotada. Kara captou seu olhar. Sem
intenção. Mas, como sempre, ela era imediatamente atraída por ele. Dante
começou a sorrir, mas se conteve. E Kara ficou chocada ao perceber o quanto
doía simplesmente permanecer no mesmo recinto que ele. Por ele nem sequer
poder sorrir para ela. Por ela estar fisicamente incapaz de sorrir para ele.

Ruby apertou rapidamente seu pulso e Kara ficou grata com aquela
pequena demonstração de apoio.

O resto da reunião parecia um borrão enquanto Kara tentava não olhar
para ele, mas sabia que Dante estava ali, sentindo profundamente sua


presença.

Dante.

Não pare de respirar. Sobreviva a isto.

Enfim terminou, e todos saíram porta afora. Infelizmente, um dos outros
advogados precisava da ajuda de Ruby, então Kara ficou sozinha, rezando
para Dane ter deixado a sala antes de precisar encará-lo.

Ela o observou sair pela porta e ficou aliviada. Kara acompanhou os
colegas pelo corredor, depois todos se separaram, cada um adentrando sua
sala. Ela mal tinha chegado à porta da sua quando ele surgiu ao seu lado.

- Kara, podemos conversar?

Para ela, foi como receber um soco no estômago. O mero fato de ouvir
sua voz era demais para ela. E não conseguia suportar o calor do corpo dele a
seu lado, seu perfume.

- É melhor não – ela respondeu com severidade.

- Eu entendo – ele disse, mantendo a voz baixa. – Mas trabalhamos no
mesmo prédio, isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde.

Ela respirou fundo. – Sei disso.

Dante ficou em silêncio. Kara se virou para olhá-lo.

Ah, aquilo foi um erro. Ele estava bonito demais com aquele terno prata,
a camisa cinza-escura e a gravata cor de carvão. Sofisticado. Ela se lembrou
de como se sentiu na primeira vez em que o viu. Simplesmente... perplexa.
Agora, não estava menos arrebatada.

Kara tinha de se lembrar da raiva. Da dor que a acompanhou.

- Podemos entrar na sua sala? – ele indagou.

- Pode falar tudo que for preciso em relação ao trabalho aqui mesmo.

- Qual é, Kara? Não tem a ver com trabalho. Não mesmo.

Céus, ela não queria aquilo. Não queria falar com ele.

- Dante, não consigo conversar com você aqui. Não tem como. Não é
uma boa idéia e... simplesmente não dá.

- Onde, então?

Ela fez que não com a cabeça, mantendo os olhos fixos no chão. – Em
lugar nenhum, Dante, porque nossa conversa não vai dar em nada. A gente já
não tá se encaminhando pra isso mesmo?

- Precisamos discutir isso. Conversar sobre por que você foi embora
daquele jeito.

Ela elevou o queixo, olhando para ele. A raiva aflorou, quente e brutal. –


Sério, Dante? Se tava tão preocupado com isso, por que esperou a semana
inteira para me falar?

Ele coçou o queixo, soltando o ar. – Por que... não sei por quê. Nossa,
Kara...

- Boa resposta, Dante. – Ela abaixou a cabeça, abriu a porta da sala e
fechou, tomando cuidado para não batê-la.

O coração disparava. O sangue fervia. E a mágoa era uma ferida em
carne viva, recém-aberta.

Ele não sabia? Aquilo era o melhor que podia fazer?

Com passos largos, ela atravessou a sala, deixando-se cair na cadeira,
passando as mãos no belo coque preparado naquela manhã. Kara não
conseguia acreditar naquilo, mas iria inventar uma doença e voltar para casa.
Tirando o telefone do gancho, discou o ramal de Ruby.

- Ruby, é a Kara. Não tô me sentindo bem. Por favor, cancele todos meus
compromissos de hoje.

- Aconteceu alguma coisa?

- Ah... mais ou menos. Preciso ir embora. Pode tomar conta disso para
mim?

- Sim, é claro. Eu seguro as pontas. Não se preocupe com nada. Faça o
que for preciso, Kara.

- Obrigada, Ruby. Por tudo.

Ela desligou e se inclinou para pegar a bolsa e a pasta da parte de baixo
da escrivaninha. Levantou-se e vestiu o casaco. Kara parou por um instante,
com a mão na maçaneta, torcendo para Dante não estar por perto. E abriu a
porta.

O corredor estava vazio e Kara ficou aliviada. E com raiva por Dante não
ter se esforçado mais para conversar com ela. Mas ela mesma o tinha
mandado embora. Por isso, não iria conversar com ele.

Talvez ela fosse uma idiota. Mas achava realmente que era uma questão
de sobrevivência. E ainda precisa ser.

Kara suspirou, caminhando pelo corredor até o elevador e entrou. Nessa
hora, viu Dante deixando a sala de Charles Landers. Ele a encarou, sério,
enquanto as portas do elevador se fechavam.

Ela continuou puxando ar para os pulmões com dificuldade até chegar
ao térreo, caminhar até o carro e ir para casa. Quando chegou ao
apartamento, o peito doía, numa dor tão aguda que quase não conseguia


mais respirar. E as lágrimas queimavam atrás das pálpebras, na garganta.

Kara se livrou do casaco, deixando este, a bolsa e a pasta no chão. No
piloto automático, entrou na cozinha e preparou a chaleira para fazer chá. Ela
não sabia que outra atitude tomar. O chá era um conforto antigo, familiar, e
ela necessitava de consolo agora.

Ela precisava de Dante.

Não.

Apoiou-se na beira da pia, o velho azulejo branco parecia frio ao contato
com os dedos. Servindo de apoio. Kara olhou os ladrilhos, a caixa de chá no
balcão. As imagens se misturavam, borradas graças às lágrimas que
marejavam os olhos.

Não faça isso.

Ela não podia mais chorar, não deveria se deixar vencer pelas lágrimas.
Caso se entregasse novamente ao choro, tinha medo de não conseguir parar.

A chaleira apitou e ela se deu um chacoalhão mental, derramou a água
fervente numa das canelas azul-cobalto, mergulhou um saquinho de chá Earl
Grey e esperou um pouco antes de tomar a caneca entre as mãos frias e levá-
la para o quarto.

Lá, ela tirou a saia feita sob medida, passando o suéter de gola rulê pela
cabeça. Kara estremeceu com o ar do inverno.

Precisava se esquentar. Entrar embaixo das cobertas com o chá e se
enroscar. Quem sabe dormir até a dor passar.

Puxou os cobertores, depois tirou o sutiã, a calcinha e estava pegando o
roupão de algodão branco pendurado no banheiro quando ouviu baterem na
porta da frente.

Ela vestiu o roupão, amarrando a faixa ao redor da cintura enquanto
caminhava pelo apartamento. O pulso disparava. De alguma forma, Kara
sabia que era Dante.

Como ele tinha passado pela portaria? Será que ela tinha deixado aberta
na pressa de entrar em casa? Mas não conseguia pensar nisso, ela mal
raciocinava.

Quando abriu a porta, o coração se encheu de dor. Necessidade. Pavor.

Dante.

- O que você está fazendo aqui? – ela exigiu saber com o máximo de
força possível. Estava ofegante. Atordoada. Pelo fato de ele ter vindo atrás
dela. Pela emoção estremecendo pelo corpo numa série de pequenos choques.


E, por baixo, de tudo aquilo, ainda estava furiosa pra cacete.

- Eu precisava conversar com você, Kara. Percebi que era melhor mesmo
não falar nada no trabalho.

- Mas me deitar na mesa e me bater podia, né?

Ele correu a mão sobre o cabelo escuro. – Aquilo era... diferente.

Ela deu uma risada curta, ferina. – Era, sim.

- Não te culpo por estar com tanta raiva de mim. Mas... deixa entrar. –
Ela começou a sacudir a cabeça, a fechar a porta, mas ele pôs a mão,
impedindo-a. – Por favor, Kara.

A voz dele saiu suave. Ela não conseguia resistir. A raiva dentro dela até
queria, desejava bater a porta na cara dele, berrar para ele cair fora e deixar
ela em paz.

Mas seu coração nunca desejou sua partida.

Kara deu um passo para trás, deixando-o entrar no apartamento. Fechou
a porta, apertando mais o roupão ao redor do corpo enquanto se virava para
fitá-lo.

Os olhos dele cintilavam de emoção, mas ela não sabia ao certo qual era.
E, sob os olhos, havia círculos escuros nunca dantes avistados.

Talvez fossem por causa do caso no tribunal. Vai ver ele estava
preocupado, pode ter ficado acordado até tarde para trabalhar.

Kara não desejava ter esperanças de que fosse por ela. De que ele, na
verdade, gostava dela na mesma intensidade. Kara não conseguia acreditar
que era verdade. Não ousava acreditar.

- Muito bem – ela terminou falando. – Você está aqui. O que precisava
tanto me falar que teve de vir até a minha casa durante o expediente?

- Credo, Kara. Dane-se o trabalho. Isso é importante.

- É? Por que, Dante? Você não conseguiu me contar lá na firma?

Ele alisou o queixo. – Eu não te culpo por estar tão fechada pra mim
agora. Eu não deveria ter te procurado no trabalho. E acho que sei por que
você saiu da minha casa no domingo. Acho que sei. Mas preciso ouvir da sua
boca. – Ele deu um passo na sua direção. – Na verdade, não confio em mim
mesmo quando tem a ver com você. Minha cabeça tá meio doida. Meus
instintos, também. Então posso estar muito errado.

Ela não conseguia fazer outra coisa além de questioná-lo. Ainda havia
raiva o bastante dentro de si. – Por que achava que fui embora, Dante?

- Porque eu não... não me abri com você. Não do mesmo jeito como pedi


para você se abrir comigo. E isso não é justo. Não tenho sido sincero com
você. E sinto muito.

Suas feições se suavizaram. Ela tremia. – Eu também me fechei para
você, Dante.

- Você se abriu totalmente para mim.

Ela fez que não. – Nada disso.

Era verdade, Kara não havia lhe dado a peça fundamental do quebra-
cabeça que era seu relacionamento. Uma relação construída sobre os segredos
que um guardava do outro, e sobre as confissões que se fizeram. Se fosse para
ser justa com aquilo, ela tinha de lhe contar a única verdade que faltava.

- Dante... – Ela olhou para ele, seu olhar capturando o dele, sem desviar.
Os olhos de Dante tinham aquele tom amarronzado do uísque que ela passou
a amar. Kara amava tantas coisas dele. Estava na hora de lhe falar. De ser
sincera. De revelar sua verdade.

Lembrar dos sentimentos por ele reduziu a resistência, relaxando-a por
completo, a raiva foi embora, junto com a dor. Tudo já estava tão abalado
entre os dois que talvez ela não tivesse nada a perder.

- Dante, a única coisa que escondi de você é... Eu amo você. – Ela se
rendeu, encolhendo os ombros, sem poder fazer nada. – De verdade. Eu amo
você.

Havia choques nos olhos dele. O coração dela se apavorou. Teria sido
um equívoco?

- Minha nossa, Kara...

- E tem mais, Dante... – ela afirmou, assim que percebeu pela expressão
totalmente destroçada no rosto dele que era verdade. – Você também me
ama.– Ela estava tremendo, um tremor forte bambeando as pernas, mas se
aproximou dele, até ficar a poucos centímetros de distância. O suficiente para
sentir seu perfume.

Kara esperou uma reação dele. Sem nada acontecer, tentou novamente
falando entre os dentes cerrados:

- Você me ama, caramba. Eu sei. Eu sinto. Eu amo você, apesar de mim
mesma. Então, sei como você tá se sentindo, mas tô colocando minhas cartas
na mesa. Tô correndo o risco, que me parece enorme. Porque já amei antes. E
perdi. Fui rejeitada. Pelos meus próprios pais. Pelo meu ex. E odiei como isso
me deixa fraca. Impotente. Então, me rejeite também, se for preciso. Mas não
vou fugir de novo até você me rejeitar. Porque isso realmente seria fraqueza.


E eu me recuso a ser essa pessoa. Eu me recuso.

Ele balançou a cabeça. O rosto estava sombrio, a expressão, muito bruta,
ela nem imaginava o que viria a seguir. O coração dela trovejava no peito, o
pulso batia a um milhão de quilômetros por hora. Mas era bom finalmente ter
falado. Ter contado a verdade. Ela se sentiu mais forte sendo sincera.
Verdadeira consigo mesma.

Enfim, ele mexeu a cabeça e falou tão baixinho que ela precisou se
esforçar para ouvir: - Você é muito mais corajosa do que eu, Kara.

Ela esperava mais. No entanto, ele estava ali parado, os braços pendendo
ao lado do corpo. Dante a observava, como tantas vezes anteriormente. E,
depois de um tempinho, a raiva foi voltando, ondulando pelas veias.

- Que merda, Dante! Diz alguma coisa! Como se sente a respeito? Em
relação ao que eu falei; Quanto a mim? Diz que me ama ou diz que não me
ama, mas não vou te deixar fugir dos seus sentimentos. Nem dos meus,
Principalmente dos meus. Eu mereço coisa melhor.

- Merece, sim. Merece mais do que posso dar a você, Kara.

- Você só pode estar de sacanagem. – Ele apareceu novamente chocado, a
boca se abria como se fosse falar, mas ela não deixava. – É essa merda de
sempre que vem repetindo há tanto tempo? Desde que perdeu a namorada
da faculdade? Não quero parecer insensível, pois posso imaginar como deve
ter sido horrível pra você, tendo ou não a amado. Mas por quanto tempo vai
usar isso como desculpa?

Aquilo pareceu congelá-lo. A boca se abriu, mas não conseguiu falar. Ele
fechou a boca e piscou. E enquanto ela não desgrudava os olhos dele, as
feições mudaram, se suavizaram, as sombras nos olhos desanuviaram.

- Nunca mais – ele falou, segurando e prendendo os braços dela nas
mãos, num aperto forte. – Cansei disso, você tá certa. É uma desculpa
esfarrapada, velha. É uma sacanagem. Usei o que aconteceu com a Erin
durante toda a minha vida adulta. Minhas próprias experiências familiares.
Minha culpa por nunca ter sido capaz de ajudar minha mãe. Na verdade, ela
nunca quis minha ajuda. Nem quando...

Ele parou, e ela o sentiu tremendo u pouco por causa do aperto nos
braços. E nos olhos havia aquela vulnerabilidade pura e simples, já observada
antes. Anos trás, quando ele bateu no Brady. E algumas vezes durante o sexo.
O que será que aconteceria a seguir?

- Kara, nunca mais falei isso antes pra outra pessoa, tirando meu irmão,


Lorenzo, mas eu preciso te contar agora... Quando eu tinha dez anos, vi meu
pai bater na minha mãe. Ele estapeou ela. Não lembro o motivo da discussão.
Só aconteceu daquela vez, até onde eu sei.

Kara assentiu com a cabeça. Não sabia o que falar. E ele não havia
terminado.

- Acho que meus pais acertaram as pontas. E, quando adulto, foram
tantas ocasiões em que quis falar a ela que a protegeria, mas não consegui.
Contei ao Lorenzo uns anos atrás, e ele achava que tava tudo bem entre eles.
E talvez esteja. Entendo esse aspecto da minha mãe desejar que meu pai tome
todas as decisões. Devia haver... sei lá, alguma segurança naquilo pra ela. Ou
talvez uma desculpa pra sua fraqueza. Eu sei lá. Mas eu me lembro da
sensação de impotência. Daquele medo. Eu odiava. Ainda detesto. Virou uma
força propulsora na minha vida. E meu pai... todas as porcarias que falava
pra mim e pro meu irmão sobre termos de ser homens. Sermos responsáveis.
Até mesmo quando tínhamos nove, dez anos. É muita pressão pra uma
criança, pelo amor de Deus! E, vai ver, sempre soube disso. Mas os pais
costumam ter esse estranho domínio sobre nós. E tudo isso me tornou, com a
minha permissão, um cara super-responsável. Não digo que ver aquele tapa
tenha me levado a ser um dominador, mesmo na minha sexualidade. Mas foi
uma forma de trabalhar aquela... impotência absoluta para ajudá-la. Minha
mãe. Erin. Até isso precisei esconder. E também sempre soube disso. Eu não
queria pensar nessa história, mas ficar com você, Kara... Mudou tudo, me fez
olhar mais no fundo de mim mesmo.

Ela o observava, mal acreditando no que tinha acabado de ouvir.
Querendo mais dele. Porém, Kara precisava reconhecer o fato de ele lhe dar
aquela perspectiva interna. – Tudo faz sentido pra mim, Dante. Tenho
pensando bastante nessas coisas ultimamente. Percebi o quanto que a
imagem que tenho de mim mesma sempre esteve ligada aos meus pais. E do
quanto precisei me afastar da opinião deles a meu respeito. Do que ganhei na
forma como fui criada, do que precisava e nunca tive.

- Ela fez uma pausa, mordendo o lábio, tentando raciocinar. – Eu preciso
parar de sentir tanta pena de mim mesma. É isso mesmo. Não posso voltar
atrás, não posso modificá-los. Só posso mudar a mim mesma. Meu
relacionamento com Jake enfatizou esses mesmos sentimentos de ser julgada
e me decepcionar, mas, sabe... ele que se foda. Ele não merece tanta energia
minha, cansei de alimentar isso.


Então, Dante sorriu para ela. – Ótimo. Que bom pra você, Kara, pois se
ele não te julga por quem você é, pelos seus anseios, então a opinião dele não
vale nada. E se ele não foi capaz de ver como você é uma mulher
maravilhosa, as opiniões dele valem menos ainda. Ele é um idiota. Só que eu
também fui um idiota. E não quero mais ser. Você é muito mais sensata do
que eu, Kara. Você está certa em relação a tudo que falou. Sobre você. Sobre
mim. Tudo. Porque eu amo você, Kara. Você está certa.

O coração dela disparou de vez. – Você acabou de falar que me ama?

- Falei. Eu amo você. E vou repetir. E dizer outra vez. Até acreditar em
mim. – Os olhos dele brilhavam. – Acho que vou ter que te falar centenas de
vezes para me redimir. Eu to disposto.

- Meu Deus, Dante... – Ela se viu tomada de alegria. Um fluxo absoluto
de emoção a bambear as pernas. Ainda bem que ele a segurava com tanta
força. E Kara necessitava do contato, do calor de seu toque. – Diga de novo.
Eu preciso escutar.

- Eu amo você, Kara. Foi isso que vim lhe dizer. – Ele se inclinou e roçou
a boca na dela. Ela nunca tinha sentido algo tão doce. – Eu amo você – ele
cochichou novamente contra os lábios dela. – Eu amo você, amo você...

Então, ela a beijou de verdade, co a boca tão exigente como sempre. Mas,
através daquele beijo, o que ele pedia era para ser amado.

Ela se afastou. – Repete, Dante – ela falou, rindo em meio às lágrimas
turvando sua visão.

Ele a fitou nos olhos, os dele possuíam um brilho castanho suave, feito
fumaça dourada. Havia mais emoção neles do que jamais vira. Dante
envolveu o rosto dela com as mãos, e Kara sentiu seu amor naquele simples
gesto.

- Amo você, Kara. Eu amo você mais do que jamais poderia amar
alguém.

Desta vez, quando a beijou, não havia apenas o calor do desejo. Havia
uma paixão tão pura e profunda que ela a sentia na alma. Dante a abraçou
com mais força, os corpos se juntaram. Pela primeira vez, ela conhecia o
amor. E embora isso a encantasse, também a assustava. Era impossível não
sentir medo. Kara não sabia como.

Por ora, ela apenas se derreteria nele. Simplesmente se deixaria levar.
Por ora, Kara havia parado de fazer questionamentos, de exigir respostas. De
Dante. De si mesma. Pelo menos uma vez ela iria se deleitar naquele


sentimento que fazia seus sentidos se elevarem de u jeito nunca
experimentado.

Ele me ama.

Ela engoliu o medo. E retribuiu o amor.




DEZESSETE



DANTE A ABRAÇOU COM FORÇA, A PONTO DE CONSEGUIR
SENTIR O CORAÇÃO dela batendo contra o seu. Sua boca era doce por
demais. Saber que era amado por ela era mais doce do que tudo que já sentiu.
Era algo milagroso.

Ele a trouxe para mais perto, precisando aperta-la contra si. Senti-la...
Nem sequer sabia o que queria dizer com aquilo. Somente que não conseguia
ficar perto o bastante.

- Dane – ela sussurrou contra sua boca, sua língua movendo-se
lentamente sobre seus lábios, um toque lento, sensual, deixando-o ardendo
de desejo.

Tenho de possuí-la. Pelada. Aberta.

Ele a ergueu e a carregou para o quarto, deitando-a na cama. Parado de
pé, simplesmente a olhou por algum tempo. Estava estupefato com a sua
beleza. Com sua pele cor de porcelana. O cabelo longo indomado contra os
lençóis verde-claros a fazer seu olhar metálico cintilar com pitadas de
esmeralda e musgo.

Havia uma inocência sedutora nessa imobilidade, naquele olhar a dizer
que precisava dele tanto quanto ele precisava dela, pois o desejo de Kara
queimava com a mesma intensidade. Tanto contraste contra as longas
pestanas.

Dante notava o rubor rosado, febril, nas bochechas, entre os seios onde o
roupão branco se abriu.

Ele se inclinou sobre ela, um joelho na beira da cama, e desamarrou o
robe. Afastou o tecido de algodão branco com a mão até o deixar cair,
mostrando o corpo nu que estava por baixo. Os mamilos eram duros e
escuros, suculentos ao extremo. Quando ela lambeu os lábios, reparou que
eram igualmente deliciosos. Dante não sabia por onde começar, nem por
onde terminar.

- Kara – ele falou, num sussurro bruto – me diz que temos o dia inteiro, a
noite inteira. Me diz que não vamos a lugar nenhum. Eu preciso... ter você
inteira só para mim.

- Não vou a lugar nenhum. Não quero estar em nenhum lugar além de
aqui ao seu lado.

O coração dele disparou ao ouvir aquilo. Ele ficou duro feito uma pedra.


Dante se abaixou e depositou um beijo nos seus lábios, abaixando-se
mais para beijar os seios, aquela delicada elevação de carne macia e
perfumada. Ele suspirou, num som suave de prazer, mais ele o assimilou
como uma corrente elétrica.

- Minha nossa, Kara...

Ela tocou a face dele com as mãos, deixando as palmas tenras sobre as
bochechas ao segurar a cabeça nos seios. Dante obedeceu a ordem silenciosa,
abocanhando e chupando um mamilo.

- Ai, Dante...

Ele segurou a carne tesa na boca, girando a língua sobre a ponta. Kara
gemeu, sem largá-lo, e ele sentiu que ela arqueava os quadris. A ideia de ela
estar molhada, querendo sexo, era tentadora quase por demais. Contudo, ele
pretendia prolongar aquilo, se demorar, para ser bom para ela.

Dante levantou a cabeça e olhou dentro dos olhos de Kara. – Me diz o
que você quer meu amor. Me diz suas necessidades.

- Eu preciso de você. Apenas... preciso que me toque. Que fique comigo.
Eu preciso de... tudo.

Ele sorriu, o corpo tomado de desejo, borbulhando calor nas veias.

- Também preciso de você, minha menina bonita. Não imaginei que
poderia precisar tanto assim de alguém.

- Tira a roupa para mim, Dante. – ela pediu baixinho.

Ele sorriu ao ficar de pé para atender seu pedido. Havia um sorrisinho
no rosto dela, e Dante sabia no que Kara estava pensando. Era uma pequena
virada de jogo, embora o poder não estivesse em questão momento. Eram
apenas eles dois. O amor era o denominador comum. E aquele momento se
resumia a isso. Não que os papeis de cada um não voltassem a ser
interpretados. Eles se representariam. Existia dentro deles o querer, a
necessidade. Agora, no entanto, aquilo se resumia as coisas ditas por eles, ás
personalidades puras que haviam acabado de revelar.

Enquanto tirava a jaqueta, a camisa, a calça, ele notou que aquilo vinha
acontecendo há semanas. Que não havia exigido o sexo radical com Kara,
aquele que empregava para se distanciar das outras mulheres. Ela era tudo
que ele exigia.

Quando ficou nu, Kara sorriu em aprovação. E ele se endureceu ainda
mais ao notar seu olhar. Luxuria. Amor. Dante se inclinou novamente sobre
ela, abocanhando o outro mamilo e a fazendo ofegar. Ela enfiou os dedos


pelos cabelos dele, segurando firme. E o aroma do desejo dela aumentava, a
cercá-lo, invadindo seu organismo até se fundir com o dele. Eles eram um só
pulso a troar. O dele. O dela. Em conjunto.

Dante continuou deslizando a língua sob a carne rígida, empregando as
mãos para envolver os seios por completo, enquanto o polegar atacava o
outro mamilo. Então, ele parou e olhou para Kara, para os olhos entreabertos.
Os dentes dela desciam para morder o rosa suculento do lábio inferior. O
vermelho escurecido dos mamilos. Depois, ele retomou o trabalho. Dante
desejava provocá-la, excitá-la ao Maximo possível simplesmente executando
aquela rotina: chupando os mamilos, lambendo, amassando os seios.

- Deus meu, Dante... é tão... Ah...

Ele sorriu e continuou chupando, lambendo, acariciando. Quando ela
arqueou o quadril com força, chegou até a pular da cama, a coxa raspou a
cabeça do pau e ele gemeu. Mais Dante não se entregaria à própria
necessidade. Não até satisfazer a dela.

Ele respirou, inalando seu perfume, aquela fragrância de flores e desejo
feminino. Dante ficava tonto com ela.

Kara

Finalmente, ela era dele. Verdadeiramente dele.

Kara se contorcia embaixo dele, descontrolada. Com o desejo queimando
feito lava pelo corpo. Concentrada nos seios ansiosos enquanto Dante os
torturava deliciosamente com sua boca de talento. Enviando ondas de prazer
ao sexo dela. Criando um forte padrão rítmico nele. Desejo puro. Um querer
que parecia vibrar na carne. E tudo aquilo por causa dele. Dante.

Dela.

O cabelo dele lembrava seda em suas mãos. A boca de Dante sobre ela
era uma labareda liquida. O amor dele era o afrodisíaco mais selvagem que
Kara poderia imaginar.

Ela envolveu a perna ao redor do seu corpo, aproximando-o, precisando
de mais. E quando a coxa dele se acomodou entre as delas, houve um choque
de prazer. E com nada além daquilo, se sua coxa musculosa pressionada
sobre a boceta úmida, a boca e as mãos no seio, ela gozou, gritando.

- Dante! Ai, meu Deus...

Ele se inclinou contra ela num espasmo. Kara estremecia com ondas
seguidas de prazer, como se fogos de artifício explodissem sobre as pálpebras
fechadas.


Quando Dante gemeu e pressionou seu pau inchado sobre seu ventre, foi
como gozar novamente sentindo sua excitação. Ela abriu as coxas, suas mãos
deslizaram até suas fortes nádegas para aproximá-lo.

- Nossa, minha menina, assim você acaba comigo. Espera um pouco.

- Agora, Dante. Agora!

Ele riu. – precisamos de camisinha, meu amor. Espera!

Iria demorar apenas alguns segundos, mais era demais para ela.

- Anda logo, Dante. Eu não posso esperar. É serio, não dá.

Ele sorria ao se segurar sobre ela. Os olhos cintilavam dourados no fim
da tarde. Tão lindos. E enquanto ela o observava, suas feições se suavizarão,
o sorriso se desfez. Seu rosto passou a expressar deslumbramento ao deslizar
para dentro dela.

- Meu amor – ele murmurou – Amo você, Kara. Amo você, minha
menina bonita. Você é minha.

A cabeça dela girava, o corpo se consumia em sensações: prazer, uma
carência por ele além de qualquer sensação física.

- Eu também amo você, Dante. Amo você.

Ele a envolveu nos braços e a deixou quase ereta, mantendo-a juntinho
ao seu corpo enquanto a penetrava fundo.

- Ah, Kara... – ele saiu, meteu novamente, provocando prazer nela em
ondas de trepidação. – Você é deliciosa, meu amor. Melhor do que tudo que
eu já senti na vida.

Os quadris dele se mexiam, pressionando com força, depois recuavam.
Kara era preenchida, sem parar, pela carne dura dentro dela. Pesada. Quente.
Ela fazia força contra Dante, desejando-o mais fundo. E o tempo todo o
prazer crescia outra vez, em espirais, encrespando-se.

- Kara – ele arfou contra seu cabelo. – Eu preciso gozar. Dentro de você...

Ele se retesou, invadindo-a novamente, ofegante, gritando o nome dela.

- Kara, meu amor... Kara!

Ela o sentiu gozando, sentiu o calor do gozo dentro dela, sentiu seu
prazer como se fosse o dela. E ela gozou com Dante, um milhão de luzes
explodindo pelo corpo, pela mente. Ela se sentiu ofuscada, cega.

Eles se abraçaram com força. Ela estremecia de prazer, com o espanto
vivenciado. Com o assombro do que Dante sentia por ela. Kara percebia o
sentimento dele a cada caricia, a cada sussurro.

O medo pretendia se reinstalar, mas ela não deixaria. Agora não. Agora


Kara se entregaria a primeira sensação verdadeira de segurança
experimentada com um homem, ou qualquer outra pessoa, em sua vida. Ela
se deixou relaxar com o abraço de Dante, fechou os olhos e adormeceu.

Eles acordaram mais tarde, gozando novamente. Desta vez não
aconteceram preliminares, Dante apenas se virou para olhá-la, levantou a
perna sobre ele e a penetrou. O encontro dos seus quadris era um movimento
suave, sua carne dura era socada dentro dela. E um calor latejante, lento, foi
se formando pouco a pouco.

Desta vez a sensação era uma ondulação adorável. O sol do entardecer
vazava inclinado pelas cortinas, lançando luz e sombra sobre a pele nua.
Calor. O corpo dele era lindo aos olhos dela, o rosto bonito quando a via
gozar novamente. Então, quando Dante gozou, uma expressão de deliciosa
agonia escureceu seus olhos.

Depois ele continuou dentro de Kara, beijando seu rosto e seus lábios. De
repente ela se mostrou ansiosa.

- Dante, me diz que não precisamos parar.

Ele deu uma risadinha. – Eu posso precisar de alguns minutos de
descanso, minha menina impaciente.

- Não, eu falo disso, de agente ficar junto.

Dante olhou para ela, beijando-a novamente. – É isso o que eu quero
Kara. Você é o que eu quero.

Os braços de Dante a enlaçaram, apertado, e ela encostou o rosto no seu
peito, deixando sua pulsação reconfortá-la.

Quando Kara acordou novamente, estava escuro do lado de fora,
somente se via a luz esmaecida dos postes de luz preta da janela. Dante ainda
dormia a seu lado, ela sentia o sobe e desce suave do seu peito.

Kara olhou para o céu, sem nuvens, repleto de estrelas.

Como seria possível ela ter isso? Daria par confiar? Kara nunca tinha
amado antes. Nunca se permitiu. E não sabia o que esperar.

- Oi. – a voz dele estava grave, sonolenta. – Dá pra ouvir você pensando.

Ela ficou quieta um instante, não sabia como lhe contar aquilo, caso fosse
possível abordar o tema.

- Será que eu... posso pensar um pouquinho?

- Humm... Só se você me der de comer. Tô morrendo de fome.

- Eu também to. – era a primeira vez que sentia fome em dias, mas, de
repente, ela estava esfomeada.


- Você tem ovos? – Dante perguntou. – Posso preparar uma omelete pra
gente.

- É mesmo?

- Sou o cozinheiro aqui, não lembra?

- Sim, eu me lembro, e também sabia que não era eu. Devo ter ovos. E,
talvez, um pouco de queijo.

- Só preciso disso. Vamos lá.

Dante se levantou e a tirou da cama, e ela sorriu ao vestir novamente o
roupão antes descartado, enquanto ele abotoava as calças. Estava um pouco
frio, mais Dante não quis saber de camisa, deixando o troço nu, para ela
admirar, como o fizera tantas vezes; seus ombros largos, o peito, os braços
musculosos, a bela barriga de tanquinho.

Eles entraram na pequena cozinha e Kara pegou os ingredientes
enquanto ele remexia o guarda-louça até encontrar a frigideira. Passaram-se
poucos minutos até a refeição ficar pronta; depois eles se sentaram a mesa
para comer, conversando ou mastigando em silencio. Era natural.
Confortável.

Novamente, ela teve de se perguntar se realmente poderia ter aquilo.
Esse companheirismo relaxado. E a emoção palpitando por baixo daquilo
tudo esquentava suas bochechas só de olhar para ele. Era uma mistura muito
estranha. Maravilhosa. Incrível.

Assustadora.

Ela abaixou o garfo e respirou fundo.

- O que foi meu amor? Já acabou de comer? – Dante quis saber.

Ela respondeu baixinho: - Ainda tô... meio assustada. Não tá com medo,
Dante? – ele também depositou o garfo no prato e a olhou nos olhos. A
sinceridade que ela constatou nos olhos era tão deslumbrante quanto o sexo,
aquilo a deixava sem fôlego.

- Tô morrendo de medo – ele admitiu. – Mais não quero deixar o medo
me controlar. Não posso deixá-lo vencer. Não vou deixar. É por isso que eu
estou aqui com você. O que fazemos aqui se não estamos dispostos a ter
medo e continuar mesmo assim?

As lagrimas arderam nos olhos dela. – E você ainda disse que eu era a
forte. Não é verdade.

- É, sim. Eu percebo em você Kara. Sempre percebi. Ter medo não
significa não ser forte. Apenas quer dizer que você é humana. Talvez nós não


sejamos grande coisa nesse lance de relacionamento. Eu provavelmente não
vou ser. Sabe disso né?

Ela precisou rir. – Sim, mas, provavelmente, eu também não.

- Tudo bem. Então, nos somos dois seres humanos falíveis e ficamos
juntos porque nos amamos. – ele chegou perto dela. – Amo você, Kara. É o
bastante para mim. Tomara que também seja para você.

Kara esticou a mão ao longo da mesa e a dele encontrou a dela no meio
do caminho, tomando-a por inteiro. O toque era quente. Reconfortante.

- É, sim, Dante. Amo você e isso é o bastante. Eu tenho que confiar nisso,
mas ainda estou aprendendo.

- Então somos dois. Nós podemos aprender juntos. Não consigo
imaginar de outra forma.

- Nem eu. Não quero mais ficar sozinha. Nem quero mais meus medos
determinando que eu sou. Como me permito sentir. Simplesmente quero
sentir. E... eu quero pintar novamente. Não vou abandonar a advocacia, mais
comecei a fazer uns rascunhos a pouco tempo e acho que tá na hora de pintar.

- Que ótimo! – ele sorriu para ela, o orgulho era visível no olhar castanho
e na mão grande segurando a dela.

- A pintura é uma parte disso. Desta transformação. E a outra parte é o
trabalho... Acho melhor procuramos os sócios e contar que estamos juntos.

- Sim, sem duvida, vamos lhes contar. E eles vão aceitar. Não precisamos
esconder mais nada. É amor de verdade, não um caso escandaloso. Tudo isso
mudou.

- Mudou. Nos dois. Eu. Tanta coisa se midificou dentro da minha cabeça.
A pintura é somente um sintoma disso. Dos bons. – ela sorriu. – Mas tudo
começou com você, Dante. Eu amo você – Kara repetiu. Ela nem sequer sabia
se conseguiria explicar o quanto.

- Minha menina bonita – ele sussurrou, trazendo-a pra perto.

Dante a beijou, e naquele beijo ela sentiu seu amor, bem no fundo de sua
alma. Kara sabia que ele a ajudaria naquilo. Que eles poderiam se ajudar.
Que era assim que deveria ser.

Ela se derreteu com aquele beijo, o calor, a necessidade, ambos voltando
com uma força impossível de ser negada, de ser enfrentada. E Kara nem mais
queria isso. Aquele antigo instinto de fugir tinha acabado. Dissolvido em
amor.

Dante resmungou, puxando suas mãos até ela estar no colo. Ele a beijou


com mais intensidade. Sua língua, a pressão do pau duro lá embaixo a
enchendo de calor, aquele calor adorável a invadi-la, produzido por uma
mistura de desejo e amor.

Ele se afastou. – Meu amor, preciso ficar com você no chuveiro. Sabe o
quanto adoro isso. E com você... tem de ser com você.

De algum jeito eles atravessaram o apartamento e entraram no pequeno
banheiro. Ele a soltou apenas o necessário para ligar a água quente.

- Não se mexa – ele falou. – eu já volto.

Dante voltou alguns instantes depois com um pacote de camisinhas na
mão e um sorrisinho no rosto. Ele se aproximou e a beijou novamente, com
gentileza, enquanto a livrava do roupão e tirava as calças.

O vapor tomava forma ao redor dos dois, feito um cobertor delicado ao
entrarem no boxe.

Ele enlaçou as mãos na cintura dela, trazendo-a para debaixo da água. E
beijou seu pescoço enquanto a água quente corria pelo seu corpo. Então,
pegou o frasco de sabonete líquido e, cuidadosamente, a ensaboou da cabeça
aos pés. As mãos eram escorregadias, incrivelmente suaves, ao deslizarem
sobre a pele dela. Ele passou aos seios, e a fome, o apetite, se revelou como o
vapor a cercá-los, tão brando, tão adorável. Os dedos desenhavam círculos ao
redor dos mamilos, que ficaram duros, rijo. Já a necessidade era um anseio
sussurrante, urgente e, no entanto doce.

Ela não conseguia tirar os olhos de suas mãos enquanto ele as abaixava,
sobre as coxas e, depois, entre elas.

- Ah, Dante...

Por causa do sabonete, o dedo deslizou facilmente ao longo de sua
boceta, acariciando os lábios inchados, e ela abriu as coxas para ele. Dante
massageou por ali, subindo até o clitóris, depois descendo. Sem parar, até ela
chegar ao limite do clímax.

Ele parou. Atrás dela, pegou o chuveirinho e tirou a espuma com o
mesmo cuidado utilizado para ensaboá-la. Por fim, Dante dirigiu o jato de
água quente entre suas coxas. O ritmo sutil do chuveirinho atingiu o clitóris e
ele o manteve assim com uma das mãos, enquanto a outra trazia o corpo dela
para perto. Sua boca se fechou sobre a dela e, ao gozar, Kara gemeu o prazer
contra seus lábios.

Ela ainda tremia quando ele colocou a camisinha e, envolvendo uma das
pernas de Kara ao redor da cintura, a penetrou.


- Dante – ela arfou, e o pau grosso latejou dentro dela, levando-a
novamente para aquele ápice. O prazer era estonteante. Feliz. Era
transcendente tê-lo dentro do corpo e saber que era amada por ele.
Percebendo seu amor de uma forma tão intensa que não podia duvidar dele.
Sentindo-o no âmago de si. – Eu nunca senti isso antes... isso... Deus...

Ele arqueou os quadris, mergulhando mais fundo. – Eu sei, meu amor.
Sei exatamente o que você quer dizer. É tão gostoso amar você desse jeito.
Você é tão boa para mim, Kara. – ele a beijou, pressionando os lábios nos dela
sem parar. – Nós estamos juntos, meu amor. Minha menina bonita.

Era verdade. Ela sabia. E, a cada momento ao seu lado, o medo se
tornava menor, até desaparecer. Enquanto o simples prazer de estar com o
homem amado, sendo correspondida, crescia dentro dela, em espirais, Kara
percebeu que o medo realmente tinha sumido.

- Eu amo você, Dante. – ela cochichou para ele enquanto o seu corpo
dava inicio aquela explosão adorável, como se todas as estrelas do céu
noturno se acendessem bem no centro do seu ser, a iluminá-la de prazer, de
amor.

- Amo você, minha menina. Minha menina.

Ela pertencia a ele. Verdadeira e completamente. Enfim, Kara conhecia o
amor. Sabia que deveria deixar-se embalar, mantendo seu coração a salvo.
Por fim a salvo, com Dante.







fim


 

No Limiar do Desejo – Eve Berlin

No Limiar do Desejo - Eve Berlin

No Limiar do Desejo – Eve Berlin
Kara Crawford é uma advogada que sabe como guardar um segredo, ainda mais depois de ter sido desprezada por um ex-namorado ao lhe ter revelado suas fantasias sexuais. Ela não esperava encontrar alguém que pudesse realizar seus desejos mais íntimos e extremos, até vivenciar uma das noites mais incríveis de sua vida ao lado de um homem que há muito admirava. O sexualmente dominante Dante de Matteo conhecia Kara dos tempos do colégio e jamais havia imaginado que as fantasias mais sombrias de uma mulher pudessem ser tão compatíveis com as suas. Mas nenhum dos dois acreditava que aquela paixão pudesse passar de uma noite. Quando Dante é contratado pelo escritório onde Kara trabalha, os dois são confrontados diariamente com as faíscas daquela química explosiva e não sabem como lidar com isso. À medida que o desejo intenso os aproxima, temores bem profundos ameaçam separá-los e eles precisam aprender a abraçar da mesma maneira o medo e o prazer do amor. Vão conseguir? No limiar do desejo é o segundo livro da trilogia de romance erótico, de Eve Berlin, iniciada com o sucesso Luxúria. Conheça a história de como Kara Crawford satisfaz todas as suas fantasias sexuais com o antigo colega de escola Dante de Matteo, com quem passa a trabalhar. Uma história cheia de erotismo, tensão e intensidade.

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